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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1998 Penny Jordan Partnership

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O amor da juventude, n.º 428 - dezembro 2018

Título original: One Night in His arms

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1307-169-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

– Não está a falar a sério…

Sylvie franziu a testa ao analisar a sinopse que o seu chefe acabara de lhe entregar.

Lloyd Kelmer IV era a espécie de bilionário excêntrico que apenas devia existir em contos de fadas. Ela fora-lhe apresentada numa festa, à qual comparecera por se sentir perdida e insignificante. Na altura, tinha deixado a faculdade e feito a mudança para Nova Iorque há muito pouco tempo. Começaram a conversar e Lloyd contou-lhe as dificuldades que experimentava ao gerir a gigantesca e lucrativa empresa criada pelo seu avô.

– O velho senhor tinha um gosto especial por casas sumptuosas e acho que eu herdei isso. Ele possuía diversas e podia visitá-las quando desejasse. Havia uma plantação em Carolina e alguns castelos em França. Também um palácio em Veneza. Então ele teve a ideia de usar os seus milhões para preservar e proteger grandes casas. Actualmente, a Trust tem muitas, pelo mundo, e procura possuir mais a cada dia que passa.

Sylvie ficara interessada, mas mesmo assim surpreendera-se ao receber, poucos dias depois, não apenas um telefonema dele como também a oferta de um emprego para que fosse sua assistente pessoal.

Ela já não tinha dezassete anos, nem era a rapariga ingénua e talvez superprotegida de outrora. Lloyd estava na casa dos sessenta anos e, embora não tivesse mencionado ou sugerido ter outros motivos para a contratar, o primeiro pensamento que lhe ocorreu foi consultar o irmão, que estava em Inglaterra, e pedir-lhe conselhos.

Sylvie acabou por aceitar o emprego. Após doze meses, com frequência congratulava-se pela boa escolha. Pelo menos até àquele momento.

O seu trabalho era variado e fascinante. Mal lhe dava tempo para respirar, quanto mais para relacionamentos afectivos. Mas aquilo não a preocupava. A experiência mostrara-lhe o quanto era limitada para julgar caracteres.

Primeiro, quando era adolescente, o seu confronto revoltante e humilhante com Ran e a rejeição. Mais tarde, com Wayne, veio o medo. Não se tornaram amantes. Sylvie sabia, desde o princípio, da ligação dele com o mundo das drogas. Mas acreditara que Wayne era simplesmente uma alma perdida a precisar de protecção e salvação.

Enganara-se em ambos os casos. Amor era a última emoção que Ran sentira por ela. Quanto a Wayne… Bem, felizmente, ele estava bastante afastado da sua vida.

O novo emprego tomava cada minuto do seu tempo e todas as suas energias. Cada propriedade que a Trust decidia «adoptar» tinha de ser inspeccionada, remodelada, para estar ao mesmo nível das outras propriedades financiadas pela Trust, e aberta ao público em geral.

Para Lloyd, cada imóvel tinha de possuir o que ele descrevia como «sensação correcta» e as suas excentricidades tendiam a tornar Sylvie quase maternal, para o proteger.

Pelo menos até ao momento.

Ela acabara de regressar de uma viagem de seis semanas a Praga, onde estivera a supervisionar a aquisição de um palácio do século XVIII particularmente belo, mas em estado deplorável.

Durante a sua ausência, Lloyd comprara Haverton Hall, uma enorme construção em estilo neoclássico situada numa ampla área campestre em Derbyshire. A descoberta deixara-a com o coração aos saltos.

– Mas este lugar é um achado, um exemplo perfeito do estilo neoclássico inglês! – protestou Lloyd, ao encarar a sua expressão de teimosia. – A menina vai adorar. Pedi a Gena que marcasse um voo para depois de amanhã. Pensei que ficaria satisfeita por ir a Londres. Tinha dito na Primavera que gostaria de passar mais tempo com o seu irmão, cunhada e sobrinho… – fez uma pausa para tomar fôlego e procurou avaliar o efeito das suas palavras no semblante de Sylvie. – Aquela casa… Eu disse-lhe, a propósito, que o herdeiro da propriedade parece conhecer o seu irmão e foi assim que ouviu falar a nosso respeito? Parece que contava os problemas que enfrentava por ter herdado inesperadamente o local e Alex sugeriu que entrasse em contacto comigo… – arqueou as sobrancelhas. – Fiquei indeciso ao princípio. Mas… bem, sinto que devo algo a Alex. Por isso, voei para a Grã-Bretanha.

Sylvie fechou os olhos ao ouvir Lloyd entoar as virtudes de Haverton Hall. Como é que podia dizer ao patrão que não era à casa que fazia objecções, mas sim ao dono?

Dono…

Aquilo estivera na primeira página do relatório. Proprietário de Haverton Hall: Sir Ranulf Carrington. Sir Ranulf não, Ran… Claro que Sylvie não se sentia impressionada com o título. Como poderia, quando o seu próprio irmão era um conde?

Sim, soubera da herança inesperada de Ran. Fora assunto para uma bela discussão, num Natal. Com uma propriedade para gerir, ele deixaria de administrar os negócios do seu irmão.

Ninguém, nem mesmo Ran, esperara receber a herança. Afinal, o seu primo estava na casa dos quarenta anos e parecia perfeitamente bem de saúde. Ninguém imaginou que fosse sofrer um ataque cardíaco fulminante.

Sylvie sorrira educadamente, mas sem interesse. A última coisa, a última pessoa sobre a qual gostaria de conversar e desperdiçar o seu tempo era Ran.

As suas lembranças da maneira como fora rejeitada podiam ter sido cuidadosamente enterradas, mas, cada vez que ela voltava à casa do irmão, relembrava o sofrimento dos seus dezassete anos.

Era inquestionável que devia ter aborrecido Ran com a sua indesejável adoração, mas ele podia ter lidado melhor com a situação, afastando-a com mais cuidado e gentileza em vez de…

Sylvie percebeu que Lloyd a fitava com expectativa.

Ao longo dos anos, ela desenvolvera uma força de vontade enorme e muita determinação. Amava o seu trabalho e acreditava que Lloyd e a Trust mereciam toda a sua dedicação.

Apreciava imenso observar as casas que Lloyd resgatava, para lhes devolver a formosura de outrora. Talvez fosse idealismo, uma tolice romântica da sua parte, mas havia algo especial naquele processo. Entendia o que motivava Lloyd.

Suspeitava que, ironicamente, o esquema de conservação em que trabalhara há tanto tempo atrás, sob a supervisão de Ran, despertara nela a constatação de quão importante era preservar, cuidar e proteger a arquitectura de uma região. Isso fazia com que partilhasse a paixão do chefe pela tarefa.

Entretanto, a sua responsabilidade, como funcionária da Trust, induzia-a não só a partilhar o entusiasmo de Lloyd, mas também a certificar-se de que as aquisições estavam bem fundamentadas e corriam de maneira profissional. Devia garantir que o dinheiro da companhia fosse usado da melhor maneira possível, em vez de ser desperdiçado. Uma responsabilidade que abraçava com muita seriedade.

Sylvie analisava tudo com cuidado, o que lhe assegurava a admiração dos contabilistas da empresa.

– A menina não aprova, não é? – indagou Lloyd, abanando a cabeça com tristeza. – Espere até que a veja. Vai adorar. É um perfeito exemplo de…

– Estamos muito próximo do limite do orçamento deste ano.

– E depois? Basta aumentar a verba.

– O senhor está a falar de um aumento de milhões de dólares! A Trust…

– Eu sou a Trust – Lloyd fê-la lembrar-se disso, com gentileza. – Estou a fazer o que sei que o velho homem gostaria que eu fizesse…

– Comprando uma construção neoclássica decadente no meio de Derbyshire?

– A menina vai adorar, prometo.

Sylvie estava tentada a dizer-lhe que andava demasiado ocupada e que ele teria de arranjar outra pessoa para se responsabilizar por aquele projecto. Mas o seu orgulho, o mesmo que a fizera manter a cabeça erguida e o espírito forte após a rejeição de Ran e no decorrer de tudo o que se seguira, recusava-se a permitir que ela fizesse isso.

Daquela vez ela e Ran estariam a encontrar-se em patamares iguais. Como adultos. E então…

E então o quê?

Bem, daquela vez não deixaria que ele a magoasse. A sua atitude seria fria, distante e totalmente profissional. Daquela vez…

Sylvie fechou os olhos ao sentir algumas pontadas de apreensão. Vira Ran pela última vez, quando ele aparecera inesperadamente no aeroporto, há três anos atrás. Na ocasião, ela estava a deixar a Inglaterra para terminar os estudos nos Estados Unidos.

Ainda se podia lembrar do espanto ao vê-lo ali, do choque e da sensação doce de prazer e carinho. Vulnerável e ingénua, imaginou que talvez Ran tivesse mudado de ideias. Mas não mudara. Fora até lá apenas para se certificar de que ela estava realmente a deixar o país e a sua vida.

Alex sabia que a irmã tivera um afecto adolescente e tolo pelo seu amigo e funcionário. Felizmente, isso era tudo o que ele sabia.

Não tinha conhecimento da vergonha e da dor. Nunca isso lhe fora dito. Jamais se importou em falar sobre o incidente que acontecera, quando ela ainda estava em Inglaterra.

Ninguém sabia disso. Apenas ela e Ran. Mas fazia tudo parte do passado e Sylvie estava determinada a fazer com que o encontro com Ran fosse diferente.

Estaria em posição superior. A ele caberiam as súplicas. Sylvie teria força para lhe recusar o que ele queria. Então Ran teria de lhe implorar para ser atendido.

Imediatamente Sylvie abriu os olhos. O que é que tinha bebido? Aquela espécie de pensamento vingativo era tão tolo e adolescente quanto fora a declaração que fizera a Ran.

Estava acima daquilo. Precisava de estar; era uma exigência do seu trabalho.

Não, não faria distinções entre Ran e os outros clientes. Não teria em conta o facto de ele ter um dia, com crueldade e desprezo, recusado o seu pedido de amor. Sylvie estava acima daquela espécie de atitude pequena. Com orgulho, ergueu a cabeça e continuou a ouvir o relato entusiasmado de Lloyd sobre as virtudes do seu mais recente «achado».

 

 

Ran contemplou a sala sem mobília, empoeirada e cheia de teias de aranha de Haverton Hall. O cheiro da negligência traduzia-se no aroma desagradável de mofo que pairava no ar de fim de tarde.

O grande ambiente, em comum com o resto da construção, tinha um clima de desolação que o fazia lembrar-se do tio-avô idoso que fora dono da propriedade, quando Ran era um menino.

Visitas para o ver eram sempre detestáveis. Ironicamente, podia lembrar-se de quão aliviado ficara ao descobrir que não fora ele mas sim o seu primo mais velho que herdara a responsabilidade pela casa enorme, vazia e maltratada.

Actualmente, entretanto, aquele primo estava morto e ele, Ran, era o dono de Haverton. Ou, pelo menos, fora até há uma semana atrás, quando finalmente assinara os papéis que tornaram legal a transferência da propriedade e de todos os problemas para as mãos de Lloyd Kelmer.

A sua reacção inicial, ao receber a indesejável herança, fora fazer uma pesquisa para ver se alguma instituição britânica podia ser persuadida a tomar conta do lugar. Mas, tal como os seus representantes lhe explicaram, isso seria impossível naquele momento. Encarar a possibilidade de observar a casa e as terras mergulhadas num processo maior de decadência seria horrível.

Então Alex mencionara a existência de um excêntrico bilionário norte-americano, cujo passatempo era comprar e restaurar velhas propriedades, para depois as abrir ao público. Ran nem sequer perdeu tempo a entrar em contacto com ele.

Para seu imenso alívio, Lloyd fora a Inglaterra analisar a casa e prontamente declarara que a tinha adorado.

O alívio transformou-se em algo muito diferente, entretanto, quando Ran recebeu um fax de Lloyd a avisar-lhe que a sua assistente, a menina Sylvie Bennett, iria até à Grã-Bretanha, para agir como sua representante no trabalho de restauro da propriedade.

Ele podia, como era óbvio, ter optado por lhe virar as costas, afastar-se e deixar que outra pessoa lidasse com Sylvie. Mas ele não era assim.

Se tinha um trabalho a ser feito, preferia tratar da tarefa sozinho, independentemente de quão indesejável ou potencialmente problemática ela pudesse ser.

Potencialmente problemática! Um sorriso amargurado curvou os seus lábios. Não havia nada de potencial nos problemas que Sylvie lhe causara. Absolutamente nada.

Ouvira algo a respeito dela ao longo dos anos, claro. A maior parte das informações vinham de Alex e Mollie. Sylvie completara a universidade e o mestrado com louvor… Sylvie estava a morar em Nova Iorque e a procurar emprego… Sylvie conseguira um emprego… Sylvie trabalhava em Veneza… Em Roma… Em Praga… Sylvie… Sylvie… Sylvie…

Alex e Mollie não eram as suas únicas fontes de informação. No Inverno anterior, em Londres, encontrara-se inesperadamente com a mãe de Sylvie, madrasta de Alex, do lado de fora da Harvey Nichols.

Belinda cumprimentara-o com entusiasmo pela recente ascensão à nobreza. Era a pessoa mais snobe que Ran conhecia.

Ele ainda se lembrava da forma amarga como a senhora se opusera ao pedido de Alex, após a morte do pai, para que Sylvie ficasse no Otel Place com ele, em vez de ser enviada para um colégio interno.

– A Sylvie não pode morar contigo, Alex – alegara. – Não seria apropriado. Afinal, não há laços de sangue entre vocês os dois. São irmãos apenas como consequência do meu casamento com o teu pai. Para além disso, ela tem passado demasiado tempo com as pessoas erradas.

Ran, que estivera em pé do lado de fora da biblioteca de Alex, enquanto a conversa decorria, virara-se e estava prestes a afastar-se quando, para seu desgosto, subitamente ouviu o seu próprio nome a ser mencionado.

Alex perguntara à madrasta:

– Que espécie de pessoas erradas?

– Bem, Ran, para começar. Oh, eu sei que ele é um dos teus amigos, mas é apenas um empregado e…

Alex imediatamente explodira, informando a madrasta:

– Ran, para além de meu amigo, descende de uma família muito mais tradicional do que a nossa.

– A sério? – indagara ela de forma cínica. – Talvez, mas mesmo assim não tem dinheiro. A Sylvie corre perigo ao ligar-se a ele. Isso pode arruinar a sua reputação e prejudicá-la quando for a altura de conseguir um casamento correcto.

– Um casamento correcto? – rebatera Alex furiosamente. – Em que século é que vive?

– A Sylvie é minha filha e eu não a quero misturada com empregados de forma nenhuma. Isso inclui Ran. E, já que estamos a falar deste assunto, Alex, acho que, como irmão por afinidade, tens a responsabilidade de a proteger de amigos… inadequados.

Ran ainda se recordava de como ficara amargurado e furioso e de como se sentira humilhado.

Depois daquilo, decidira manter-se distante de Sylvie, embora ela não tivesse tornado isso particularmente fácil. Ran tinha vinte e sete anos na ocasião, dez a mais do que ela. Um homem, enquanto Sylvie era apenas uma criança.

Uma criança… Uma criança que lhe dissera de modo apaixonado que o amava e que o queria. Uma criança que exigira de maneira ainda mais intensa que o seu amor fosse correspondido, que fizesse amor com ela… que lhe mostrasse, lhe ensinasse, que a dominasse…

Ainda se recordava da forma como Sylvie o desafiara, atirando-se para os seus braços, pressionando os lábios delicados contra os seus…

Nessa altura ele conseguira resistir, mas fora apenas daquela vez.

Sylvie sempre foi intensa em tudo o que fazia. Não era de estranhar que o amor que sentira por ele se tivesse tornado em algo tão avassalador.

Agora, ela estava prestes a regressar. Não apenas a Inglaterra, mas àquele lugar, Haverton, regressava ao seu lar… à sua vida.

Como estaria? Linda, claro. Belinda contara-lhe.

– Sabe, é claro, que Sylvie está a trabalhar em Nova Iorque, para um trilionário – dissera alegremente, sorrindo de satisfação. – Ele está totalmente embasbacado pela minha filha – acrescentara.

Embora não tivesse dito com todas as letras, Ran tivera a distinta impressão de que o relacionamento de Sylvie com Lloyd ultrapassava as convenções entre patrão e empregada.

Ficara chocado, mais tarde, quando conhecera Lloyd e constatara que era bastante mais velho do que Sylvie. Mas aconselhara-se a manter-se alheio. Se ela escolhera ter como amante um homem muito mais idoso, isso era problema dela e de mais ninguém.

Sylvie… Em breve, ela estaria ali.

– Eu desprezo-te, Ran, eu odeio-te – dissera-lhe ela, com os dentes cerrados, quando partira para Nova Iorque. – Eu odeio-te!

Dissera-lhe isso quase com a mesma paixão com que uma vez declarara o seu amor por ele. Quase com a mesma intensidade.