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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Kim Lawrence

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Duas noivas para dois irmãos, n.º 743 - Outubro 2014

Título original: At Playboy’s Pleasure

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2004

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5905-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Durante os primeiros vinte minutos da conversa telefónica, a contribuição total de Lucy consistiu numa série de interjeições e algum ocasional «a sério?».

A irmã Annie estava apaixonada, e Lucy sabia que aquilo significava aturá-la mais do que o normal, mas não fazia mal, Lucy era capaz, embora na vida houvesse limites para tudo.

Lucy Foster não era uma romântica desesperada e tinha de morder a língua para impedir que lhe saísse da boca qualquer coisa desagradável que pudesse ofender a irmã.

Nunca conheceu Connor Fitzgerald, mas odiava a simples menção.

Tal como Annie, houve tempos em que Lucy também pensava que havia um homem especial lá fora, à espera dela e, inclusivamente, em mais de uma ocasião, pensou que o tinha encontrado. Só tinham passado dois anos, desde que ela deixou de ser uma patética e inocente criatura.

Naquele momento, Lucy trabalhava no sentido de se convencer de que os homens eram umas criaturas superficiais, nos quais não se podiam fiar, e aquela filosofia estava a ajudá-la, pois em dois anos não teve nenhum problema emocional. Embora tivesse muito má publicidade, o celibato era altamente recomendável, mas naquela altura era inútil tentar recomendá-lo à irmã.

A natureza humana era o que era, e algumas coisas tinham de se aprender da maneira mais difícil, mas ela estava ali, para apanhar os bocados, quando o homem do momento, aquele Connor, destroçasse o coração da irmã, e isso era uma questão de tempo.

Havia a hipótese de aquele homem ser uma excepção, mas as possibilidades de a irmã ter essa sorte eram muito remotas.

Foi um alívio quando, finalmente, Annie parou de falar do comprimento das pestanas de Connor, do incrível sentido de humor dele e da sua superioridade em geral sobre o resto dos homens, e se concentrou no verdadeiro motivo do telefonema.

– Estou a telefonar para te dizer que simplesmente os derrotes, Lucy.

– Vou fazê-lo o melhor que puder – prometeu Lucy.

– Estás nervosa?

– Não muito – Lucy arrependeu-se de ter permitido que a irmã lhe tivesse conseguido uma entrevista de trabalho para um lugar para o qual, claramente, não estava qualificada. – Bom, de facto acho que estou um pouco nervosa – acrescentou Lucy.

Passou a língua pelos lábios ressequidos e sentiu o sabor do batom caro, vermelho forte, que Marcus lhe recomendou.

Lucy, ignorando completamente a fama daquele homem, fez um reboliço enorme no salão de beleza, frequentado por inúmeras celebridades, quando à frente de toda a gente lhe perguntou o apelido. Tinha dúvidas a respeito de Marcus, o solteiro de ouro do mundo do estilo e da moda, e dos seus conselhos de beleza, pois não confiava num homem que se vestia de couro preto, apertado da cabeça aos pés.

– A adrenalina faz bem – comentou Annie. – Tens de ser positiva.

– Sou positiva... a sério – respondeu Lucy um tanto irritada com o optimismo da irmã, porque continuava a pensar que a licenciatura em História Moderna e as viagens que fez pela Europa não eram requisitos suficientes para ser relações públicas no mundo da publicidade.

– Começo a pensar que não te estás a levar muito a sério. Queres ou não um trabalho decente? – disse a irmã, com um tom de crítica na voz.

– Decente? – gritou Lucy indignada. – O que é que achas que tenho estado a fazer até agora?

– Bom, deixa ver. Começo por onde? Por teres desperdiçado três anos da tua vida a fazeres gratuitamente investigação para um namorado, que te abandonou quando acabaste o projecto dele e que ficou com todo o mérito do teu trabalho?

Lucy fez uma careta, porque aquilo era verdade, mas tinha aprendido e amadurecido.

– Ou a apanhar uvas em Burgundy? – Annie continuava com o assunto. – Sem contar com as vezes que tomaste conta dos filhos mimados das famílias ricas de Lucerne, ou o teu episódio como empregada de mesa...

Lucy suspirou.

– Eram meninos encantadores, e eu queria conhecer a Europa.

– Chama-me superficial, querida, mas eu prefiro conhecer os sítios hospedada num hotel de cinco estrelas. Tem algum mal eu querer ver a minha irmã num trabalho proveitoso? Foste sempre muito esperta.

Foi o que Rupert lhe disse quando rompeu com ela, que era muito esperta, por isso procurou outra ajudante para a substituir, menos esperta, mas muito mais bonita.

Lucy tentou afastar aquela recordação tão dolorosa.

– Aprecio muito o que estás a fazer – disse Lucy.

– Bom, então diz-me, o que é que vais vestir, o creme?

– Eu não tenho um decote tão bonito como o teu.

– Não, acho que não – murmurou Annie, consciente de que tinha um peito muito melhor que o da irmã.

– Vou vestir o teu fato do casaco preto – disse Lucy.

A irmã deixou-lhe quase toda a roupa e o apartamento, enquanto durasse a estadia dela na capital.

– Bom, qualquer coisa é melhor do que o que vestes habitualmente – comentou Annie, que criticava sempre a irmã por usar calças de ganga. – Foste ao salão de Marcus?

– Quase que não me reconheço – replicou Lucy. – Se isto é um aspecto natural, não me atrevo a pensar como é que estaria se não fosse.

Puseram-lhe várias camadas de maquilhagem mate, acentuaram-lhe os olhos com sombras escuras, que lhe davam um ar misterioso, e pentearam-lhe o seu ousado cabelo ruivo, numa perfeita cabeleira deitada para trás.

– Se tivesse de fazer isto todas as manhãs, tinha de me levantar às quatro da manhã – acrescentou Lucy.

– Pensava que eras uma mulher madrugadora – comentou a irmã rindo. – Só precisas de um pouco de prática. Disse a Marcus para te fazer o tratamento completo, cabelo, maquilhagem, unhas... não porque tu precisasses...

– Além disso, deu-me uma bolsa cheia de produtos de beleza.

– Isso é um presente meu, pelo teu novo trabalho.

– Ainda não o consegui... – Lucy odiava ter de o recordar, infelizmente, a irmã ia ter uma decepção horrível.

– Oh, bom! Já deste de comer aos gatos e já regaste as plantas? Claro, se Derek, do andar de cima, te oferecer um café, não aceites. Adora fazer de solteiro quando a mulher vai visitar a mãe.

– Os gatos estão perfeitamente, tal como as tuas plantas e prometo que vou resistir aos cafés de Derek. Estão a bater à porta, tenho de desligar.

– Está bem, telefono-te mais tarde para me contares como é que correu.

Quando Lucy desligou o telefone, percebeu que se tinha esquecido de perguntar à irmã o número de telefone. A única coisa que sabia de Annie é que estava num hotel, num sítio qualquer de Lake District, num quarto com uma cama de dossel.

 

 

A porta abriu-se e Finn Fitzgerald viu que os seus piores temores se confirmavam. Ela era tudo o que ele não esperava encontrar.

Parecia que o irmão mais novo, no que se tratava de loiras, não aprendia com os erros do passado, e com os divórcios.

Era um recorde, tendo em conta que faltavam a Connor seis meses para fazer trinta anos, mas parecia que continuava a apaixonar-se pelo género de mulher errado.

Pouco depois de acabar a universidade, Con casou-se com Mia, uma loira de pernas espectaculares e oito anos mais velha do que ele. Doze meses depois, Mia deixou-o por causa de um trabalho como desenhadora de uma prestigiada marca de moda francesa.

Quatro anos depois, apareceu Jasmine, outra loira obcecada com o aspecto e muito ambiciosa profissionalmente, tanto que, um dia, quando Con chegou a casa a encontrou na cama com o chefe que tinha na altura.

A mulher que naquele momento tinha à frente, reunia todas as características típicas das namoradas do irmão. Pernas estilizadas e compridas, e uma figura espectacular. Finn não tinha dúvidas de que se tratava de uma mulher mal-educada e vaidosa, tal como foram as últimas senhoras Fitzgerald.

Acreditando absolutamente que um homem faz o seu próprio destino e que é responsável pelas suas próprias decisões, Finn resistia à tendência popular que responsabiliza os incidentes traumáticos ocorridos na infância, pelos defeitos de carácter, mas quando considerava a vida do irmão, não conseguia evitar pensar que talvez houvesse um pouco de razão naquilo.

Os pais divorciaram-se quando tinha dez anos e o irmão, Connor, tinha menos dois anos. Os pais tiveram a infeliz ideia de repartirem os filhos, tal como a casa e os outros bens. Ele, que era o mais velho, ficou com a mãe, uma mulher alta, bonita e loira. Mera coincidência? Não precisava de se ser Freud para perceber o problema. O irmão sentiu-se rejeitado pela mãe durante a infância, e estava a passar a vida adulta tentando encontrar o amor em mulheres que, curiosamente, eram muito parecidas com a loira... egoísta... e superficial mãe.

Finn gostava muito da mãe, mas tinha perfeita consciência das limitações do sue carácter.

– Posso ajudá-lo? – perguntou Lucy educadamente e com um sorriso.

Teve de levantar um pouco os olhos para poder ver os daquele homem, e pestanejou quando se encontrou com os olhos mais azuis que alguma vez vira.

Era como o capitão da equipa de futebol do liceu, um homem que, quando entrava numa sala, fazia todas as mulheres interromper as conversas para olharem para ele. Era o género de homem que todos os homens gostavam de ser e que todas as mulheres queriam. Por um instante, Lucy sentiu-se, novamente, como a alta, magra e infeliz adolescente, cheia de borbulhas, para a qual nenhum rapaz se dava ao trabalho de olhar.

Mas tinha mudado, ainda antes de acabar o liceu, ficando com a pele lisa e suave e um corpo espectacularmente desenvolvido. As notas magníficas que obteve, conseguiram-lhe uma bolsa de estudos para ir para a universidade, mas o melhor da adolescência dela foi quando recusou o convite para sair do capitão da equipa de futebol.

Estremeceu, quando olhou para aquele homem que lhe despertava todas aquelas recordações.

Media pelo menos um metro e oitenta, tinha os ombros quadrados e encaixavam perfeitamente na camisa azul que trazia, também tinha umas calças vestidas, castanhas, que não escondiam os músculos das pernas compridas e proporcionadas. A cara dele tinha uns traços marcados e angulosos, um queixo forte, um nariz recto e uma pele bronzeada. Podia ser considerado um espécime muito bonito e era óbvio que também era incrivelmente sensual., e em termos sexuais não se podia pedir mais.

– Menina Foster?

– Sim, mas... – antes de lhe poder explicar que ela era uma menina Foster, mas não a que ele procurava, e para assombro dela, o homem entrou decididamente para o vestíbulo do apartamento da irmã e passou directamente para a sala.

– Olá? – gritou ele, sem obter resposta.

– O que é que acha que está a fazer? – perguntou ela, ao mesmo tempo que ia atrás dele, mas parou para poder inalar a embriagadora fragrância dele.

– Ele está cá? – soltou aquela brusca pergunta por cima do ombro. Estava com os braços cruzados, olhando à sua volta de uma forma ofensivamente crítica.

– Quem é que está cá? – perguntou Lucy, tentando acalmar-se. Era um mal-educado e um arrogante, mas também era perigoso. O coração dela começou a bater com força, pois, até esse momento, não se tinha cruzado com ninguém que reunisse, tão perfeitamente, todos os elementos que tornavam um homem perigoso. Também não percebia porque é que o perigo excitava tantas mulheres. Ela humedeceu os lábios com a língua e tentou que a imaginação dela parasse de voar. Olhou de relance para a boca dele e viu que aquele homem era um animal intensamente sensual.

Sentiu um formigueiro na boca do estômago, ao mesmo tempo que percebia como ele a ignorava, continuando a esquadrinhar a pequena sala.

Voltou-se bruscamente.

– Estás sozinha?

Lucy tinha lido num lado qualquer que, a ultima coisa a fazer em frente a um animal perigoso, era demonstrar medo, e esperando que ele não notasse a apreensão dela, levantou um pouco o queixo antes de falar.

– O meu marido chega a qualquer momento – disse. Normalmente ficava corada quando mentia mas, surpreendentemente, dessa vez não aconteceu.

– Marido! – os fortes músculos da garganta dele abanaram visivelmente.

Aquela cara, que podia ser esculpida em pedra, ficou perplexa e os olhos, de um azul eléctrico, olharam-na fixamente. Ela achou aquilo muito incómodo, mas incapaz de afastar o olhar, involuntariamente retrocedeu um passo, ficando encostada à parede.

Ele passou as mãos pelo cabelo, frustrado e impotente.

– Isso é realmente necessário? – perguntou ela, enquanto ele continuava a estudá-la.

– Sim, é – soltou bruscamente.

– Bom, se não se importa, gostava que demonstrasse um pouco mais de controlo.

Ele olhou para ela como se não pudesse acre ditar no que acabava de ouvir.

– Gostavas? Bom, mas eu gostava que tirasses as mãos de cima do meu irmão.

– Do seu irmão? – repetiu ela atónita.

Ele pôs a cabeça para trás, expondo totalmente o pescoço.

– Meu Deus! Não posso acreditar que ele seja assim tão estúpido... porque é que não pode esperar? Eu mato-o – exclamou ele violentamente.

A expressão era inexplicavelmente acusadora e hostil, e Lucy sentiu uma necessidade irracional de se defender, mas o problema era que ela não fazia a minha ideia do que tinha feito.

Ele suspirou.

– Não, ele não pode tê-lo feito, estás a mentir – disse muito seguro de si.

– Não estou a mentir.

Ele sorriu maliciosamente.

– Nesse caso, espero por ele – respondeu, enquanto convertia o sorriso numa careta irónica. – Importas-te que me sente?

Lucy cerrou os dentes aborrecida.

– Sim, de facto importo-me e muito – gritou, pegando numa estatueta de bronze que estava em cima do aparador e levantando a mão.

Uma sobrancelha castanha arqueou-se, interrogativa e irónica e os olhos dele olharam-na fixamente.