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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Kim Lawrence. Todos os direitos reservados.

PROMESSAS RENOVADAS, N.º 722 - Março 2013

Título original: The Greek Tycoon’s Wife.

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2003

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2578-9

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

Só alguns podiam aceder ao último andar do Lakis Building, e ainda eram menos os que tinham o privilégio de entrar na sala de reuniões. Por isso, a elite ali concentrada só pôde sobressaltar-se quando as grandes portas se abriram a meio de uma reunião.

Nikos Lakis abriu a boca para pronunciar uma furiosa reprimenda, mas voltou a fechá-la quando reconheceu a recém chegada.

A atraente morena cruzou a sala e parou, com as mãos sobre as suas voluptuosas pernas, justamente quando a secretária de Nikos aparecia atrás dela ofegante. A jovem encolheu os ombros a modo de desculpa e apressou-se a ir embora.

E então? – Exclamou Caitlin Lakis, e deixou passar um longo e dramático silêncio antes de continuar. – É verdade, Nik? Pensas mesmo casar-te com essa mulher? Perdeste o juízo?

Apesar da sua irritação, Caitlin não esperava que o seu enteado lhe desse nenhuma desculpa. Sabia por experiência própria que os gregos não eram muito dados a dar explicações sobre eles, e muito menos os Lakis.

As duras acusações eram dirigidas à única pessoa da mesa que não parecia perturbada com a interrupção. Na tensa pausa que se seguiu ao ataque da sua madrasta, Nikos permaneceu tranquilamente sentado, rodando a esferográfica entre os seus longos dedos.

– Se ninguém tem nada a dizer...

Qualquer um dos presentes teria preferido saltar pelas janelas do andar vinte e quatro antes de dizer alguma coisa. Dois tinham-se mostrado renitentes em aceitar Nikos, e quase ninguém acreditou que conseguisse permanecer no posto que o seu pai o colocara.

Mas com o tempo, todos tiveram que se render perante os dotes empresariais de Nikos Lakis. O playboy demonstrou uma dedicação total ao trabalho, ao contrário do que todos esperavam.

– Nesse caso, acho que é tudo por hoje. Obrigada a todos.

Os assistentes apressaram-se a levantar-se e começaram a recolher as suas pastas.

– Como está o pai?

– O teu pai está muito bem, mas não mudes de tema – replicou Caitlin. – Estou à espera da tua resposta.

Nikos olhou com uma sobrancelha arqueada os homens que saíam. Parecia mostrar mais vergonha que consternação perante a severidade da sua madrasta. E embora estivesse muito irritada, Caitlin conseguiu conter-se até que o último dos membros da direcção abandonou a sala. Entre as virtudes daquela bela mulher de quarenta e cinco anos não figurava precisamente a paciência, mas Nikos tinha que reconhecer que depois de casar-se com o seu pai tinha sabido ganhar a confiança dos seus receosos enteados.

Não se recordava do momento exacto em que conseguiu ganhar a sua, e continuava sem saber se a cara de pânico que Caitlin pôs ao contemplar a mesa com loiça de prata e porcelana foi sincera ou somente um estratagema.

– Não importa que garfo utilizes – tinha-lhe explicado ele. – Só tens que fazê-lo como tu sabes, e as pessoas pensarão que são elas que o fazem mal.

Caitlin tinha ficado a olhar o rapaz de doze anos durante um minuto, antes de negar com a cabeça.

– Falas como o teu pai.

Nikos tinha corado perante as palavras da sua madrasta.

– De certeza que te referes a Dimitri – Dimitri, o filho mais velho estava a ser instruído para assumir as funções do seu pai.

– Dimitri parece-se com Spyros – aceitou Caitlin. – Mas tu... – deu-lhe uma palmadita na cabeça, – pensas como ele.

 

 

Dezoito anos depois, e sendo proprietária de um lucrativo negócio de moda, Caitlin não parecia muito diferente daquilo que era.

– Bom, já se foram embora – disse quando as portas se fecharam. – Desde que cheguei a Atenas, a única coisa que ouvi à minha volta foi: «quando é o casamento?» – soltou um suspiro. – Não me digas que estás apaixonado por Livia Nikolaidis.

– O que é estar apaixonado?

Caitlin fez uma careta perante aquela provocação.

– Está bem, pode ser que tenhas tido algumas experiências infelizes... Mas, quem não teve? Peço-te que deixes o cinismo e que mudes de tema, Nik.

Nikos aceitou a reprimenda com um sorriso de arrependimento, o que suavizou um pouco a severa expressão da sua madrasta.

– Terias que sorrir mais vezes – disse-lhe, embora soubesse que a Nikos, pouco tempo lhe restava para sorrir, desde que o peso do império Lakis caíra sobre os seus ombros.

– Não estou apaixonado por Livia – reconheceu tranquilamente.

Estar apaixonado por ela teria sido um obstáculo para o êxito da união, porque se estivesse não teria podido ver que por trás da beleza de Livia escondia-se uma pessoa vaidosa e egoísta. Daquela maneira não albergaria esperanças vãs sobre ela, e Livia, tendo recebido uma educação semelhante à dele, não lhe exigiria demasiado tempo.

Caitlin soltou um suspiro de alívio.

– Então não a tens visto...

– Eu disse isso? Muitas mulheres fantasiam com a ideia de casar-se com um milionário.

– Não parece que tenhas uma opinião muito elevada sobre as mulheres...

– Só posso falar pela minha experiência – disse ele encolhendo os ombros.

– Uma experiência muito vasta e variada, certamente – disse-lhe ela, mas compreendia a opinião do seu enteado em relação às mulheres, que o acusavam desde a puberdade.

– Nem todas as mulheres podem sobreviver ao casamento com o responsável máximo da companhia Lakis.

– Eu fi-lo – recordou-lhe Caitlin. – Com a ajuda dos meus amigos.

– Tu és uma mulher excepcional, não és como a Livia. No entanto, acho que ela e eu vamos conseguir.

Caitlin olhou-o horrorizada.

– Oh, meu Deus...!

– Parece que não gostas muito da Livia – comentou Nikos com um sorriso de provocação.

– Isso não tem nada que ver com isto – Nikos arqueou uma sobrancelha. – Bom, pode ser que sim... Nik, querido, não é boa para ti. Não podes casar-te com ela.

– É verdade, não posso... Não enquanto estiver casado com outra mulher.

A sua madrasta caiu da cadeira.

 

 

– Céus, que pedra! – Exclamou Sadie sustendo a mão da sua amiga. O diamante parecia demasiado grande e pesado para o fino dedo da jovem. – É lindo... embora deva reconhecer que para ti não esperava algo tão...

– Ostentoso? – Perguntou Katie sem pensar.

– Tão... convencional – corrigiu Sadie. – Esperava algo mais parecido a essas bugigangas que vendes. Que injustiça! Numa semana gasto mais em roupa que tu num ano, e no entanto, olha-me – disse com tristeza. – Talvez se não comesse tanto, a roupa me ficasse tão bem como a ti – soltou um suspiro de inveja e contemplou a esbelta figura da sua amiga. – Não, não serviria de nada... Acabaria com uns peitos ainda mais pequenos que agora!

Fixou-se com ressentimento no voluptuoso busto da jovem, e deu uma mordida no último pastel de nata que restava no prato.

Katie ficou a olhar o diamante, pensando no anel de rubis com pérolas embutidas que tinha visto na montra de uma pequena loja de antiguidades. Tom também tinha gostado... até que o rejeitou com desprezo ao ver o baixo preço que estava marcado na etiqueta.

– Há que pagar pela melhor qualidade – explicara-lhe enquanto saíam da loja com as mãos vazias. – Quase todas as mulheres iriam em busca das jóias mais valiosas. Não sou um homem tacanho, querida.

– Eu sei. De facto, acho que és demasiado generoso, Tom – respondeu ela com a testa franzida. Tom não parecia entender que podia fazê-la feliz sem tantos presentes caros.

– Bom, terás que acostumar-te a isso quando nos casarmos – disse ele. – És uma mulher linda e mereces coisas lindas. E eu vou assegurar-me de que as tenhas, gostes ou não – declarou com um sorriso de determinação.

– Mas eu só te quero a ti, Tom – disse-lhe ela sinceramente.

Por um segundo, Tom pareceu assustado, mas em seguida mostrou-se compreensivo.

– A sério?

– Claro que sim – Katie pensou que tentava convencer-se a si mesma. – Embora suponha que não sou uma pessoa muito... expressiva.

– Já te disse que não me importa esperar – assegurou-lhe ele, abraçando-a. – Admiro os teus princípios, querida.

«Os meus princípios ou só um pobre instinto sexual?»

Katie ignorou a voz interior, e recordou-se a si mesma o incrivelmente feliz que era ao estar com um homem que a desejasse tanto... embora não pudesse afastar as mãos dela.

Fez um esforço e deu a Tom um suave beijo nos lábios.

«Por que queres estar com um homem que não pode reprimir os seus instintos primários?» A voz interior dizia-lhe sempre a última palavra.

– O Tom gostou muito deste anel – disse-lhe Sadie.

– Suponho que sim – disse a sua amiga mordendo o lábio. – Sinto muito, querida, mas tens que reconhecer que para Tom é impensável não mostrar o que tem.

– Eu sei – aceitou ela com um suspiro, – mas fá-lo com boa intenção, Sadie. É o melhor homem que conheci.

– De maneira que já é algo oficial – durante seis meses Tom Percival tinha perseguido Katie com total determinação. – Como reagiu quando lhe disseste?

Katie tomou um gole de chá, mas a careta que fez não a enganou.

– Bom, de facto... – começou a dizer sem olhar Sadie nos olhos.

– Não lhe disseste? – Interrompeu-a Sadie, horrorizada.

Katie encolheu os ombros, como se a surpresa de Sadie reforçasse o seu sentimento de culpa.

– Estava tão feliz... e eu esperava o momento adequado – era uma desculpa patética, inclusive para ela mesma.

Sadie soltou um gemido tão forte que metade da cafetaria voltou-se para olhá-la.

– E quando será o momento adequado? No altar? – olhou Katie com incredulidade. – Olha, eu sou a primeira a estar de acordo que o que se passou antes não é assunto seu, mas tu estás casada, querida. Não é algo que se possa ocultar.

– Eu sei... Eu sei! – Katie fechou os olhos. – Mas para mim é como se não estivesse. Ia dizer-lhe... E vou dizer-lhe, quando voltar a falar com Harvey.

– Harvey é o advogado do contrato matrimonial? – Katie concordou. – A mim parece-me um pouco suspeito. – Katie sorriu ao ouvir falar assim do famoso e prestigiado Harvey Reynolds.

– Bom, é um dos melhores advogados criminalistas do país. Conheço-o desde que era menina – disse mordendo o lábio inferior. – Não vejo qual é um problema que pode haver com um rápido divórcio...

– Acho que não sou a pessoa adequada para falar sobre divórcios amigáveis – respondeu Sadie secamente.

– Não é como um casamento de verdade – insistiu ela.

– A sério que não se vêem desde o casamento?

Katie negou com a cabeça. Não lhe era estranha a incredulidade da sua amiga. Além disso para quem poderia ser normal que estivesse casada com um desconhecido?

– Não, e já lá vão sete anos. O único contacto entre os dois é o Harvey.

Há sete anos atrás, o advogado tinha concordado em ajudá-la, apenas quando Katie o convencera de que levaria o seu plano em diante, com ou sem ele.

– Se estás a pensar procurar alguém que esteja a ponto de reformar-se e que queira permanecer no país, esquece – dissera-lhe Harvey no seu luxuoso gabinete. – A menos, claro, que queiras expor-te a uma acusação criminal.

– Não tinha pensado nisso – respondeu Katie com os olhos muito abertos.

– A mim parece-me que não pensaste em nada.

– Se tentas convencer-me para que não o faça...

– Se servisse de alguma coisa, fá-lo-ia – reconheceu o advogado. – Pelo bem da tua mãe quero assegurar-me de que pensaste bem na tua decisão... se isso é possível. Não te dás conta de que o mais provável é que um homem que se case contigo por dinheiro não se conforme com isso?

– O que queres dizer?

– Quero dizer que um homem assim não deve ter muitos escrúpulos. Poderia exigir-te mais, inclusive chantagear-te.

– Não haveria dinheiro para uma chantagem. Vou renunciar ao resto.

– Há outra questão... É razoável que renuncies também a toda a tua herança?

– Isso é inegociável – interrompeu-o ela bruscamente.

– Nesse caso... – Harvey suspirou. – Como pensas conseguir a quantidade que pagarias pelo noivo?

– De quanto dinheiro falamos? – Perguntou-lhe, e engoliu em seco ao ouvir a resposta. – Não podes estar a falar a sério.

– Sim, já sei que é muito, mas acho que a longo prazo é a tua melhor aposta. Acontece que conheço alguém que necessita de uma injecção de capital, e que, por razões que não posso citar, prefere não recorrer às fontes habituais...

– Meio milhão de libras é uma injecção mais que abundante – disse ela.

– Certo, mas o dinheiro que sobra continuaria a ser uma quantidade muito generosa para os Graham, e por parte deste homem não haveria nenhum problema no futuro. Isso posso assegurar-te.

– Por que necessita de tanto dinheiro?

– Não posso falar dele. O que posso dizer-te é que vou garantir pessoalmente a intimidade desta pessoa. A decisão depende de ti.

Embora a sua identidade fosse suspeita, que outra alternativa lhe restava para poder herdar a fortuna do seu avô grego? Pensou Katie. Poderia pôr um anúncio no jornal mas, que tipo de bichos raros responderiam a um anúncio à procura de um marido?

– De acordo.

– Perfeito. Tudo o que tenho que fazer agora é convencer o N... ele.

– Convencê-lo?

– Calma, querida. De certeza que aceitará – prometeu-lhe Harvey.

O homem tinha aceitado, e até ao momento, Katie não tinha tido razões para se arrepender da sua decisão.

– Assim, o homem com que te casaste pode estar em qualquer parte – a voz da sua amiga devolveu Katie ao presente. – Talvez esteja morto... Oh, isso sim é que seria conveniente.

– Sadie!

– Bom, só estou a ser prática – disse com um sorriso malicioso. – A única coisa que sabes dele é o seu nome?

Katie concordou.

– Nikos Lakis – sentia-se estranhamente esquisita a pronunciar o seu nome.

– É grego?

– Acho que sim.

– Nikos Lakis... humm! Era tão sexy como o seu nome? – Sadie soltou uma risada. – Ou era gordo, baixinho e calvo?

– Não me lembro – respondeu Katie, não muito segura por que razão estaria a mentir. Muitas recordações daquele dia tinham sido apagadas, mas recordava-se claramente do rosto do homem com quem se casara.

Não sabia o que tinha esperado encontrar, mas não era alguém como Nikos Lakis.

Harvey, que a contemplava ansioso quando apareceu o imponente grego, deve ter notar o espasmo que contraíram as suas expressões faciais.

– Acho que se parece um pouco com o teu irmão – murmurou-lhe. – Teria que ter dito...

– Não se parece nada com ele – interrompeu-o ela, negando com a cabeça.

Não o dizia só para aliviar Harvey. O seu irmão gémeo Peter era muito bonito, mas era insignificante ao pé daquele desconhecido de quase dois metros de poderosa musculatura, que se movia com a graça natural de um atleta. O seu rosto era duro e atraente, sem rasto de petulância nem o calor de Peter. De facto, aquele homem parecia esculpido em bronze.

Sete anos depois, Katie continuava sem conseguir reprimir o estremecimento que lhe produzia a recordação daqueles penetrantes olhos escuros. Uns olhos que tantas vezes a tinham trespassado nos seus sonhos eróticos.

– Está vivo – recalcou, com tanto ênfase que Sadie levantou as sobrancelhas. – De facto, nunca tinha visto ninguém tão cheio de vida – a sua vitalidade tinha sido como uma corrente eléctrica, e o breve tacto da sua mão fizera-a vibrar.

– Não acabaste de dizer que não te recordavas do seu aspecto? – Perguntou-lhe Sadie.

– E não recordo. É só uma impressão – apressou-se a replicar Katie, rejeitando admitir o impacto que lhe tinha causado o seu noivo comprado.

– Que casualidade que os dois sejam gregos.

– Eu só sou meio grega – recordou-lhe Katie com dureza.

A metade grega da sua origem revelava-se nos contornos do seu rosto oval, com a sua cara ampla, o seu nariz recto, lábios delicados e pescoço de cisne. Era a metade que Katie estava sempre disposta a negar. A metade pela qual uma filha tinha ofendido a prezada honra grega da sua família.

Depois da morte do seu pai, a sua mãe teve que manter os seus dois filhos trabalhando como secretária, mas nem sequer então a sua família se colocou em contacto com ela. Tinham-na rejeitado logo desde o dia do seu casamento, e desde então a relação fora inexistente.

Katie e o seu irmão gémeo tinham sido educados sem saberem nada sobre a cultura da sua mãe, o que sempre pareceu muito bem a Katie. Não queria relacionar-se com um povo que castigava uma mulher que se apaixonava por alguém alheio à sua classe e costumes. Não, quanto a ela, seria sempre uma britânica dos pés à cabeça.