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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2014 Kim Lawrence

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

O príncipe herdeiro, n.º 1601 - Abril 2015

Título original: The Heartbreaker Prince

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-6607-2

Editor responsável: Luis Pugni

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

Hannah estava acordada, quando ouviu a chave na fechadura. Para além de alguns momentos isolados, não dormia há quarenta e oito horas, mas estava deitada com um tubo fluorescente por cima da cabeça. Deu um salto e sentou-se na beira da cama metálica. Afastou o cabelo da cara, entrelaçou as mãos no colo e conseguiu fazer uma expressão de serenidade, pois queria manter uma certa aparência de dignidade. Pestanejou para conter as lágrimas, mordeu o lábio inferior e endireitou as costas. Naquele momento, aqueles canalhas não teriam o prazer de a ver a chorar.

Era aquilo que acontecia quando queria demonstrar… O quê? A quem? À imprensa cor-de-rosa, sensacionalista? Ao pai? A ela própria? Respirou fundo. Na verdade, o problema era monumental. Devia ter aceitado aquilo que todos pensavam. Não estava preparada para pensamentos sérios ou para trabalhar no terreno. Tinha de se conformar com um trabalho de escritório, com as unhas perfeitas… Olhou para as unhas roídas e conteve um arrebatamento de histeria.

«Tens de engolir alguns sapos, Hannah». Sempre lhe parecera uma frase absurda, quase tão absurda como pensar que trabalhar no escritório de uma organização de beneficência a habilitava a trabalhar no terreno.

Baixou o olhar como se fosse um escudo e ficou tensa antes de a porta se abrir.

– Não tenho fome, mas quero pasta e uma escova de dentes. Quando poderei ver o cônsul britânico? – perguntou, pela enésima vez.

Não esperava obter resposta. Não tinham respondido a nada daquilo que perguntara, desde que a tinham detido no lado errado da fronteira. A geografia nunca fora o seu forte. Não lhe tinham dado uma resposta, mas tinham repetido as mesmas perguntas, várias vezes. Perguntas e silêncios incrédulos. A ajuda humanitária não entrava na linguagem militar de Quagani. Dissera-lhes que não era uma espia e que não pertencia a nenhum partido político. Além disso, rira-se, quando lhe tinham mostrado a sua fotografia, com um cartaz, contra o encerramento de uma escola, o que podia ter sido má ideia. Quando não a acusavam de ser uma espia, acusavam-na de ser traficante de droga e justificavam-no com as caixas de vacinas valiosas, que já deviam estar estragadas porque não as tinham mantido num lugar refrigerado.

No primeiro dia, agarrara-se à ideia de que não tinha nada a temer, se dissesse a verdade. Contudo, naquele momento, parecia incrível que tivesse sido tão ingénua.

Tinham passado trinta e seis horas, a notícia não chegara aos jornais e a engrenagem diplomática não começara a trabalhar, quando o rei de Surana ligara ao seu homólogo de um país vizinho, o xeque Malek Sa’idi.

Dois homens esperavam pelo resultado daquela conversa e ambos tinham um interesse pessoal. O mais velho tinha sessenta e poucos anos, uma barba desalinhada e cabelo grisalho, encaracolado, que lhe chegava ao colarinho da camisa. De estatura média, parecia um sábio distraído, com um casaco de tweed e meias de cores diferentes. No entanto, os óculos escondiam uns olhos duros e perspicazes, e o cabelo descuidado um cérebro que, misturado com a sua tendência para o risco e o seu caráter implacável, conseguira fazer com que tivesse perdido duas fortunas antes completar cinquenta anos de idade. Naquele momento, voltava a estar à beira do êxito ou da ruína económica, mas não estava a pensar nisso. Só havia uma coisa que importava mais a Charles Latimer. A sua única filha. Já não conseguia disfarçar, pois era um pai apavorado.

O outro homem tinha cabelo escuro, muito curto, media quase dois metros e as costas largas tinham-lhe permitido entrar na equipa de remo do colégio e da universidade. O remo não podia ser uma profissão, segundo o tio, por isso, os seus primeiros Jogos Olímpicos foram também os últimos. Tinha conquistado uma medalha de ouro, mas estava esquecida numa gaveta. Gostava de se esforçar, de ganhar, mas não se importava com os prémios. As idas e vindas de Charles Latimer contrastavam com a imobilidade daquele jovem que, mesmo assim, tinha algo que parecia estar prestes a rebentar. Era de uma geração diferente da daquele pai angustiado. Na verdade, nesse dia, fazia trinta anos de idade. Não tencionara celebrar assim, mas a sua atitude não deixava adivinhar o seu aborrecimento. Aceitara que o dever estava acima dos seus sentimentos.

Levantou-se repentinamente, com uma tensão que a sua expressão dissimulava. Alto e elegante, dirigiu-se em silêncio para a janela grande e abriu-a, pois sentia claustrofobia. O som da água no pátio amorteceu a voz do tio e o ar era húmido, e cheirava a jasmim. Mas não havia rasto da tempestade de areia que os recebera, quando tinham aterrado. Deviam estar mais vinte graus do que em Antibes. Semicerrou os olhos e viu Charlotte Denning, o seu corpo esbelto e bronzeado numa espreguiçadeira, junto da piscina, com uma garrafa de champanhe mergulhada em gelo, disposta a cumprir a promessa de lhe proporcionar um aniversário especial. Recém-divorciada, estava a recuperar o ano que perdera, ao estar casada com um homem que não tinha o mesmo apetite sexual que ela. Em suma, era a mulher ideal. No entanto, iria zangar-se quando ele não aparecesse e ficaria ainda mais zangada quando soubesse o motivo. Embora não descartasse a hipótese de casamento. Conhecendo Charlotte, o mais provável era que sentisse uma emoção especial e ilícita.

Já não haveria emoções. O casamento iria descartar todas as Charlottes do mundo, para ele. Tinha as lembranças, para se manter vivo. O sorriso irónico deu lugar a um ar de firmeza. Ia casar, porque era esse o seu dever. Para alguns, o dever e o desejo eram o mesmo, e chegara a considerar-se um desses afortunados.

Respirou fundo e fechou a janela grande. Não queria que o ressentimento e a compaixão se apropriassem dele. Se alguma vez pensava que saíra maltratado, recordava a si mesmo que estava vivo, ao contrário de Leila, a sua pequena sobrinha. Morrera quando o avião que a levava com os pais embatera numa montanha e causara uma avalanche de conjeturas, que mudara o seu futuro para sempre. Ele tinha um futuro, que herdara do pai de Leila. Desde que se tornara herdeiro, pensara no casamento como sendo algo que aconteceria mais cedo ou mais tarde. Visto que o tempo era limitado, decidira desfrutar e conseguira lavrar uma reputação. Alguém lhe chamara «o príncipe quebra-corações» e o título ficara para sempre.

Naquele momento, tinha surgido uma série de circunstâncias inusitadas, para lhe proporcionarem uma noiva com uma reputação à altura dele. Não seria um casamento de doze meses, seria uma prisão perpétua, com «Hannah, a Desumana».

– Resolvido – Kamel virou-se e assentiu com a cabeça. – Começaremos os preparativos.

O rei desligou o telefone e Charles Latimer chorou, para surpresa de todos e dele próprio.

Kamel demorou menos de uma hora a organizar as coisas e voltou para informar os dois homens mais velhos. Como cortesia, o tio apoiou o plano e dirigiu-se ao amigo dos tempos da universidade e sócio empresarial.

– Esta noite, vais tê-la contigo, Charlie.

Kamel podia ter dito que estaria com ele, mas conteve-se. Era uma questão de prioridades. Primeiro, libertaria a rapariga e depois lidaria com as consequências. Embora se sentisse obrigado a comentar uma possibilidade que não tivera em conta.

– Naturalmente, se estiver histérica ou…

– Não te preocupes. Hannah é dura e inteligente. Sairá sozinha.

Naquele momento, tinha de verificar se aquela confiança paternal era justificada. Duvidava. Parecia que o mais provável era que o pai não quisesse acreditar noutra coisa, pois mimara a filha durante toda a vida. Havia muito poucas possibilidades de uma rapariga inglesa, mal-educada, ter suportado umas horas num calabouço, sem perder as forças.

Por isso, tendo-se preparado para o pior, devia sentir-se aliviado ao verificar que o objeto da sua missão de resgate não era a histérica que previra. No entanto, por algum motivo, aquela mulher espantosamente bonita, que estava sentada numa cama, com as mãos entrelaçadas no colo, e que tinha a cabeça erguida com arrogância, não o encheu de alívio, nem de admiração, mas causou-lhe um arrebatamento de fúria. Era incrível! As pessoas estavam a fazer tudo o que podiam por ela e estava ali, sentada, como se tivesse entrado o mordomo, a quem nem sequer se dignava a dirigir-se. Era demasiado estúpida para não entender como a situação era perigosa ou estava tão habituada a deixar que o pai a salvasse de situações comprometedoras, pois pensava que era invulnerável?

Um pouco depois, ela virou a cabeça, ergueu o olhar e Kamel apercebeu-se de que estava assustada. Aproximou-se um pouco e quase conseguiu pressentir a tensão dos músculos e o suor na pele branca. Franziu o sobrolho. Tinha compaixão por quem a merecia. Hannah Latimer, aterrada ou não, não a merecia. Aquele problema fora causado por ela.

No entanto, era fácil ver que os homens iam atrás dela, mesmo sendo venenosa. Até ele sentira atração até, felizmente, abrir a boca. Tinha uma voz tão cortante como o seu perfil e uma atitude desdenhosa que não podia trazer-lhe muitos amigos.

– Exijo ver imediatamente…

Ficou calada, abriu os olhos num tom violeta e susteve a respiração, quando viu que o homem que entrara não trazia uma bandeja com uma beberagem indigesta.

Vira interrogadores diferentes, mas apenas dois guardas, que não tinham aberto a boca. Um deles era baixo e gordo e o outro alto, fedorento. Aquele homem também era alto, muito alto, mas para além da estatura não se parecia em nada com o carcereiro hediondo. Não usava o uniforme andrajoso dos guardas, nem o uniforme aparatoso do homem que estivera sentado diante dela durante os interrogatórios. Aquele homem estava perfeitamente barbeado e usava a roupa branca como a neve das pessoas do deserto. O tecido cheirava a ar puro, a homem limpo. Embora fosse estranho, tinha um cilindro de seda azul debaixo do braço. O seu olhar deslizou desse objeto incongruente para o rosto dele.

Se não fosse a pequena cicatriz que tinha na pele dourada e o nariz ligeiramente torto, seria magnífico. Contudo, devido a isso, era apenas bonito. Olhou para os lábios sensuais e desviou o olhar, antes de ele falar sem sotaque ou carinho.

– Tem de vestir isto, menina Latimer.

O medo embargou-a, perante a ordem delicada e implacável.

– Não… – sussurrou, com os lábios trémulos.

Aquele homem representava o pesadelo que conseguira afastar. Até esse momento, tinham-na tratado civilizadamente, embora sem amabilidade. Não vira uma mulher desde que a tinham detido e estava à mercê de homens que, às vezes, olhavam para ela… Lembrou-se do olhar do homem que presenciara, sentado, os interrogatórios. E tremeu. Pessoas na sua situação desapareciam sem mais nem menos.

Olhou fixamente para o tecido azul e para a mão que lha entregava, e levantou-se muito depressa. Tudo à sua volta começou a rodopiar, enquanto tentava concentrar-se na seda azul contra as paredes brancas. Azul, branco… Azul, branco… Perdeu a força nas pernas, sentou-se na cama e encostou a cabeça aos joelhos. Refugiou-se por detrás de um ar de desdém, gélido, como sempre fizera.

– Não preciso de mudar de roupa. Estou bem com esta.

Tocou na camisola que lhe chegava aos calcanhares e olhou para o peito dele. Ele pôs-lhe as mãos nos ombros e parou o leve balanço, mas não os espasmos de medo que sentia por todo o corpo.

Kamel estava a dominar a fúria e o rancor. Não queria estar ali, não queria estar a fazer aquilo e não queria sentir empatia por aquela menina mimada. Sentira remorsos por toda a destruição emocional que deixara pelo caminho? Sentira alguma coisa? No entanto, não saíra impune. Um jornalista relacionara o acidente de viação da sua primeira vítima com o casamento cancelado. «Levado ao limite», dizia o artigo. E os meios de comunicação social tinham crucificado Hannah, a Desumana. Se tivesse mostrado algum sentimento, talvez os meios de comunicação social se tivessem acalmado, quando se verificara que aquele homem conduzia bêbado, quando caíra da ponte. Mas ela limitara-se a levantar o seu nariz aristocrático e a não fazer caso das câmaras.

Estava em Londres, naquela época, e seguira a história porque conhecia o pai dela e porque, tal como o homem que destruíra o carro, sabia o que se sentia quando se perdia o amor com quem se tencionava passar o resto da vida. Embora Amira não o tivesse abandonado. Se não a tivesse deixado ir, teria casado com ele, em vez de o fazer sofrer. E ela era tudo o que aquela mulher não era.

No entanto, ao olhar para aquele rosto perfeito, era fácil sentir algo que se parecia perigosamente com pena. Sufocou esse sentimento. Merecia tudo o que lhe ia acontecer. Se havia uma vítima, era ele. Felizmente, não tinha ilusões românticas sobre o casamento, pelo menos, sobre o seu. Não seria um casamento por amor. Amara e perdera, e não acreditava, como todos faziam, que isso fosse preferível a nunca ter amado. Mesmo assim, era um erro que não iria repetir no futuro. Só um imbecil estaria disposto a expor-se a esse sofrimento, outra vez. Queria um casamento por conveniência mas, mesmo assim, esperava conseguir respeitar a esposa.

Porque é que aquele bombom sem cérebro não encontrara o sentido da vida a comprar sapatos? Tinha a certeza de que o querido pai, embora estivesse à beira do cataclismo económico, lhe teria comprado a loja inteira. No entanto, decidira transformar-se num anjo misericordioso. Embora conseguisse entender o delírio egoísta que a levara a fazer aquilo, não conseguia entender como uma organização de ajuda médica, humanitária, a tinha aceitado.

– Pedi-lhe para vestir isto e não para se despir.

Kamel deixou escapar um suspiro de aborrecimento, enquanto ela ficava sentada e o observava como uma virgem no altar dos sacrifícios, embora a menina Hannah Latimer não tivesse nada de remotamente virginal, algo que era o que menos o preocupava na sua futura esposa.

Hannah recorreu à energia que não sabia que tinha e levantou-se.

– Se me tocar, vou denunciá-lo. E, quando sair daqui… – se saísse. – Estou indisposta.

– Não – replicou Kamel. – Se quer sair daqui, faça o que lhe pedi e vista isto.

Ela recuou, com a respiração entrecortada, os olhos esbugalhados e os braços estendidos.

– Se me tocar…

O que faria? Ia gritar? Quem a ajudaria?

– Asseguro-lhe de que sexo é a última coisa que me passa pela cabeça e, se não fosse… – olhou para ela com desdém, dos pés à cabeça. – Não estou a pedir-lhe para se despir. Estou a pedir-lhe para se tapar.

Quase nem o ouviu. O pesadelo estava a apoderar-se dela.

Kamel vivera quase de tudo, mas era a primeira vez que uma mulher olhava para ele como se fosse um pesadelo tornado realidade. Dominou o impulso de a sacudir e conseguiu conferir um tom tranquilizador à sua voz, enquanto se aproximava.

– O seu pai pediu-me para lhe dizer que… – como se chamava aquele maldito cão? – Que Olive teve cinco cachorrinhos.

Pensara naquilo, no último momento. Precisava de ter um detalhe que um desconhecido não soubesse, algo que o identificasse como sendo um dos bons.

Hannah ficou petrificada e voltou a olhar para ele, quando ouviu falar do cão que salvara e adotara.

– Sim, sou «a cavalaria» – observou-a, enquanto ela suspirava e fechava os olhos. – Tape-se, por favor – fixou-se no cabelo loiro, sujo e emaranhado. – Além disso, agradeça por ter o cabelo despenteado.

Ela não ouvira nada depois de «cavalaria» e tinha a cabeça às voltas.

– Foi o meu pai que o enviou?

Sorriu. O pai ajudara-a! Respirou fundo e agradeceu em silêncio ao pai. Pegou no tecido e olhou para o estranho. O que esperava que fizesse com aquilo?

– Quem é você?

Era um ator, um mercenário, um funcionário corrupto? Alguém disposto a fazer qualquer coisa por dinheiro ou para descarregar a adrenalina?

– O seu bilhete de saída daqui – esclareceu.

Assentiu com a cabeça. O importante era que, fosse quem fosse, chegara ali e representava um vislumbre de liberdade. Cerrou os dentes e sentiu um otimismo que não sentira durante todo o tempo de encarceramento.

– O meu pai está…?

– Esqueça o seu pai – interrompeu, com firmeza. – Concentre-se e não se distraia.

O tom fez com que recuperasse o pouco domínio sobre si própria, que ainda tinha. Ele não ia oferecer-lhe um ombro para chorar, mas não se importava. Se depois de dois noivados falhados uma rapariga não tivesse aprendido que só podia confiar em si mesma, merecia tudo o que lhe acontecesse.

– Sim, claro.

Hannah agarrou no tecido azul com dedos trémulos e desenrolou-o até chegar ao chão. Respirou fundo, soltou-o, ergueu o queixo e olhou para ele com serenidade.

– O que quer que faça?

Involuntariamente, ele sentiu uma pontada de admiração.

– Quero que mantenha a boca fechada, que tape a cabeça e me siga.

Inclinou-se, tirou-lhe o tecido da mão, acabou de o desenrolar e embrulhou-a nele, tapando-lhe a cabeça e aquela camisola horrível. Depois, recuou, olhou para ela, assentiu com a cabeça e passou o tecido que restava por cima de um ombro. Deixou a mão no ombro dela e esse contacto tranquilizou-a mais do que o seu olhar inflexível.