Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.
© 2011 Maureen Child. Todos os direitos reservados.
UMA MUDANÇA DE VIDA, N.º 1044 - Janeiro 2012
Título original: Have Baby, Need Billionaire
Publicado originalmente por Silhouette® Books.
Publicado em portugués em 2012
Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.
Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.
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I.S.B.N.: 978-84-9010-635-8
Editor responsável: Luis Pugni
ePub: Publidisa
Simon Bradley não gostava de surpresas.
A sua experiência indicava-lhe que se produzia um desastre cada vez que um homem era apanhado desprevenido.
Ordem. Regras. Era uma pessoa disciplinada, daí que lhe bastou olhar para a mulher que estava no seu escritório para saber que não era o seu tipo.
«Embora seja bonita», pensou enquanto a percorria com um olhar atento de alto a baixo. Media aproximadamente um metro e sessenta e cinco centímetros, mas parecia mais baixa dada a sua constituição delicada. Tinha o cabelo loiro e curto. Usava grandes argolas de prata nas orelhas e olhava-o, pensativa, com uns grandes olhos azuis. Tinha a boca curvada no que parecia um esboço de sorriso permanente e uma covinha na face esquerda. Vestia calças de ganga pretas, botas da mesma cor e uma camisola vermelha que se ajustava ao corpo esguio mas curvilíneo.
Simon ignorou o interesse que, como homem, despertava nele. Olhou-a nos olhos e pôs-se de pé atrás da secretária.
– Menina Barrons, não é? A minha secretária diz que faz questão de me ver por um motivo muito urgente.
– Sim, olá. E, faça o favor, chame-me Tula – respondeu ela. As palavras saíram depressa da sua deliciosa boca enquanto avançava para ele com a mão estendida.
Ele apertou-lhe a mão e, de repente, sentiu uma onda de calor intenso. Antes que pudesse perguntar pelo motivo, ela soltou-o e retrocedeu. Olhou para a janela que havia por trás dele e exclamou:
– Grande vista! Vê-se São Francisco inteiro.
Ele não deu meia volta, mas olhou-para ela. Ainda sentia cócegas nos dedos e esfregou as mãos para eliminar a sensação. Não, era óbvio que não era o seu tipo, apesar de gostar de olhar para ela.
– Não se vê tudo, mas boa parte sim.
– Por que não tem a secretária virada para a janela?
– Porque, se o fizesse, ficaria de costas para a porta.
– É verdade. De todos os modos, acho que valeria a pena.
«É bonita, mas desorganizada», pensou ele. Deu uma olhadela ao relógio.
– Menina Barrons…
– Tula.
– Menina Barrons – insistiu ele, – se veio falar da vista, temo não dispor de tempo. Tenho uma reunião dentro de um quarto de hora e…
– Pois, é um homem ocupado. Entendo. E não vim falar da vista. Distraí-me, mais nada.
«As distrações», pensou ele com ironia, «são provavelmente o que compõem a vida desta mulher». Ela tinha começado a observar o escritório em vez de ir direta ao assunto. Olhou-a enquanto ela contemplava os móveis de desenho funcional, os prémios autárquicos emoldurados e as fotos dos grandes armazéns Bradley disseminados por todo o país.
Sentiu-se orgulhoso ao olhar, também ele, para as fotos.
Há dez anos que trabalhava sem descanso para reconstruir uma dinastia familiar que o seu pai tinha estado a ponto de arruinar. Nessa década não só recuperara o terreno perdido por causa da falta de instinto para os negócios do seu pai, mas levara a cadeia familiar de centros comerciais bem mais longe do que nenhum outro.
E não o tinha conseguido com distrações, nem mesmo por causa de uma mulher bonita.
– Se não se importa – disse rodeando a secretária para a acompanhar à porta, – estou muito ocupado.
Ela sorriu-lhe abertamente e Simon sentiu um aperto no coração. Os olhos dela resplandeceram e a covinha da sua face ficou ainda mais marcada, de repente converteu-se no mais belo que alguma vez vira na vida. Tentou afastar esse pensamento da cabeça e pensou que tinha de se controlar.
– Desculpe, desculpe – disse Tula. – A sério que vim falar-lhe de algo muito importante.
– Muito bem, que é isso de tão importante que a fez jurar que passaria uma semana à minha espera se não a deixassem falar comigo imediatamente?
– Será melhor que se sente.
– Menina Barrons…
– Pronto, como quiser. Mas não diga que não avisei.
Ele olhou o relógio de forma assaz significativa.
– Já sei. É um homem ocupado. Pois aí vai. Parabéns, senhor Bradley, é pai.
Ele ficou rígido e perdeu toda a cortesia e a tolerância divertida que até então exibira.
– Os cinco minutos já se acabaram, Menina Barrons – agarrou-a pelo cotovelo e conduziu-a à porta com firmeza. Embora fosse bonita, não se ia sair com a sua. Ele não tinha filhos: sabia-o perfeitamente.
– Eh! Espere aí! Que forma de reagir!
– Não sou pai – declarou ele com os dentes apertados. – E acredite que se me tivesse deitado consigo me lembraria.
– Não disse que era eu a mãe.
Não a ouviu e continuou a puxá-la para a porta.
– Eu podia ter-lho dito mais devagar – balbuciou ela. – Foi você que quis que o fizesse direta e rapidamente.
– Estou a ver. Fê-lo em meu próprio benefício.
– Não, tolo, em benefício do seu filho.
Simon hesitou apesar de saber que mentia. Um filho? Impossível.
Ela aproveitou a sua momentânea dilação para se soltar e afastar dele. Olhou-o com amabilidade mas com determinação.
– Compreendo que esteja surpreendido. Qualquer um estaria.
Simon negou com a cabeça. Já estava bem. Não tinha nenhum filho e não ia aceitar o plano para enriquecer que ela teria urdido nas suas fantasias.
– Nunca a vi na minha vida, Menina Barrons, pelo que é evidente que não temos um filho. Da próxima vez que tratar de convencer alguém a pagar-lhe por uma criança que não existe, tente que seja um homem com o qual se tenha deitado.
Ela olhou-o momentaneamente confusa, mas depois desatou a rir.
– Não, não, já lhe disse que não sou a mãe. Sou a tia. Mas é evidente que você é o pai. O Nathan tem os seus olhos e esse seu queixo obstinado. O que não é um bom sinal, calculo. Mas a obstinação às vezes é uma qualidade, não acha? O Nathan…
A hipotética criança tinha nome.
Isso não implicava que aquela situação fosse real.
– Isto é uma loucura – afirmou ele. – É evidente que pretende alguma coisa, de modo que, por que não o solta e acabamos com isto de uma vez?
Ela dirigiu-se de novo para a secretária e ele viu-se obrigado a segui-la.
– Tinha preparado um discurso, mas você meteu-me pressa e agora está tudo confuso.
– Acho que a única confusa aqui é você – disse ele enquanto se dirigia ao telefone para chamar o pessoal de segurança para que a acompanhassem à rua e ele pudesse prosseguir o trabalho.
– Não estou confusa, nem louca – declarou ela ao ver a sua expressão. – Dê-me cinco minutos.
Simon desligou sem saber porquê, talvez pelo brilho dos seus olhos azuis. Mas tinha de averiguar se havia a mínima possibilidade de que estivesse a dizer a verdade.
– Muito bem – disse ele olhando o relógio. – Cinco minutos.
– Está bem – ela inspirou profundamente. – Lembra-se de namorar com a Sherry Taylor, há aproximadamente ano e meio?
– Sim – afirmou ele com cautela.
– Sou prima dela, Tula Barrons. Na realidade chamo-me Talullah, como a minha avó, mas é um nome tão horrível que prefiro que me chamem Tula.
Ele não a ouvia pois tinha-se concentrado na vaga lembrança de uma mulher do seu passado. Seria possível?
– Sei que custa admitir – continuou ela, – mas enquanto a Sherry e você estiveram juntos ela ficou grávida. Deu à luz o filho há seis meses em Long Beach.
– O quê?
– Bem sei. Tinha de lho ter comunicado. De facto, tentei convencê-la para que o fizesse, mas respondeu-me que não queria imiscuir-se na sua vida, por isso…
Imiscuir-se na sua vida.
Isso era pouco. Santo Deus, nem sequer recordava a feição daquela mulher! Coçou a testa como se quisesse clarificar as suas ténues lembranças, mas o único que logrou foi a vaga imagem de uma mulher que vira nalgumas ocasiões durante um período de duas semanas.
E tinha ficado grávida? Dele? E não se tinha dado ao trabalho de lho dizer?
– Porquê? Como?
– Boas perguntas – afirmou ela voltando a sorrir-lhe, desta vez compassivamente.
– A sério que lamento dar-lhe esta surpresa, mas…
Simon não queria a sua compaixão. Procurava respostas. Se realmente tinha um filho, tinha de saber tudo.
– Porquê agora? Por que razão a sua prima esperou tanto para mo dizer e por que não está aqui?
Ela ficou com os olhos embaciados e Simon pensou, horrorizado, que se ia começar a chorar. Não suportava ver uma mulher chorar, sentia-se totalmente impotente. Mas um instante depois, ela recuperou o controlo e conseguiu evitar as lágrimas, coisa que ele achou admirável.
– A Sherry morreu há duas semanas – disse ela.
Outro sobressalto numa manhã repleta deles.
– Sinto muito – disse ele, embora soubesse que o fazia sem convicção, mas que mais podia dizer?
– Obrigada. Foi num acidente de carro. Morreu instantaneamente.
– Olhe, Menina Barrons… Ela suspirou.
– Se lhe rogar, chama-me Tula?
– Muito bem, Tula – corrigiu ele pensando que era o mínimo que podia fazer tendo em conta as circunstâncias. Pela primeira vez em muito tempo tinham-no apanhado desprevenido.
Não sabia como agir. O seu instinto indicava-lhe que procurasse a criança e que, se fosse sua, a reclamasse. Mas o único com que contava era com a palavra daquela desconhecida e com as suas próprias lembranças, demasiado enevoadas para se fiar delas.
Por que motivo, se aquela mulher engravidara, não recorrera a ele?
– Olha, lamento dizer-lhe que não me lembro muito bem da sua prima. Não estivemos juntos muito tempo e não sei porque tem tanta certeza de que o filho é meu.
– Porque a Sherry deu o seu nome na certidão de nascimento do bebé.
– E não se deu ao trabalho de mo dizer? Podia ter posto o nome de qualquer um.
– A Sherry não mentia.
Simon desatou a rir perante a ridícula afirmação.
– Ah, não?
– Pronto, mentiu-lhe, mas não mentiu ao filho sobre o seu apelido.
– Por que tenho de acreditar que o menino é meu?
– Tiveram relações sexuais?
– Bom, sim, mas…
– E sabe como se faz uma criança, não sabe?
– Muito engraçada.
– Não tento ser. Só pretendo ser sincera. Olhe, pode fazer um teste da paternidade, mas asseguro-lhe que a Sherry não se teria referido a si como pai do Nathan no testamento se não tivesse a certeza.
– No testamento? – um sinal de alarme tocou na cabeça de Simon.
– Ainda não lhe contei isso?
– Não.
Ela fez um gesto negativo com a cabeça e deixou-se cair numa das cadeiras diante da secretária.
– Desculpe, mas há duas semanas que não paro, entre o acidente da Sherry, a organização do funeral, o fecho da sua casa e a mudança do menino para a minha, em Crystal Bay.
Ao aperceber-se de que aquilo ia ser bem mais longo que os cinco minutos que lhe tinha concedido, Simon sentou-se à secretária. Ao menos, dali dominava a situação.
– Estava a falar do testamento.
Tula meteu a mão no grande saco que lhe dependurava do ombro, tirou um envelope de papel Manila e deixou-o na secretária.
– É uma cópia do testamento da Sherry. Se o ler, verá que me nomeou tutora temporária do Nathan até estar convicta de que está preparado para ser o seu pai.
Simon leu-o rapidamente até encontrar referência ao menino: A custódia do menor, Nathan Taylor, é do pai do menino, Simon Bradley.
Recostou-se na cadeira e releu aquelas palavras até ter a certeza de que se lhe tinham gravado no cérebro. Eram verdade? Era ele o pai?
Alçou a vista e deparou-se com os grandes olhos azuis de Tula que o estudavam. Estava à espera que dissesse alguma coisa.
Mas ele não sabia o que dizer.
Sempre tivera cuidado nos relacionamentos com as mulheres. Não queria ser pai. Recordava vagamente ter estado com Sherry Taylor, mas lembrava-se com precisão da noite em que o preservativo se rasgara. Um homem não esquece essas coisas. Mas ela nunca lhe tinha dito nada de um bebé, de modo que esquecera o incidente.
Era possível.
Podia ter um filho.
Tula observava-o enquanto ele aceitava a nova situação. E o que viu fez com que ganhasse pontos aos seus olhos. Era verdade que ao princípio se mostrara algo tenso… bom, grosseiro. Mas era normal já que não é todos os dias que se descobre que se tem um filho.
Enquanto lia o testamento, Tula reconheceu que Simon não era absolutamente nada como esperava. Sherry e ela não eram muito unidas, mas Tula julgava saber que tipo de homens agradava à prima.
E não eram precisamente os altos, morenos, lindíssimos e resmungões. Normalmente Sherry inclinava-se para os tipos calmos e carinhosos. E Simon não encaixava de jeito nenhum naquela descrição. Desprendia energia e força. Desde que entrara no seu escritório tinha-se sentido atraída por ele, ao que não achava graça nenhuma, já que não queria complicar ainda mais a vida.
– O que é que quer exatamente de mim?
A voz de Simon interrompeu os seus pensamentos. Olhou-o nos olhos.
– Parece-me que é evidente.
– Pois não é – afirmou ele enquanto deixava os papéis sobre a secretária.
– Bom, que lhe parece o seguinte: por que não vem a minha casa e conhece o seu filho? Depois logo falamos para ver o que se faz.
Simon coçou a nuca.
Tula pensou que lhe tinha dado demasiada informação inesperadamente e que precisaria tempo para a assimilar.
– Muito bem – disse ele. – Qual é a morada?
Disse-lha e viu que se levantava, o que era uma clara indicação de que a estava a convidar a sair. Não se importou porque tinha coisas que fazer e, de momento, não tinha mais nada que dizer.
Pôs-se de pé e estendeu-lhe a mão.
Depois de um segundo de hesitação, ele apertou-lhe a mão. No momento em que as suas palmas se juntaram, ela sentiu uma descarga elétrica, tal como sucedera antes. Ele deve ter sentido o mesmo, já que a soltou rapidamente e meteu a mão no bolso.
Ela sorriu forçadamente.
– Então até logo à noite.
Enquanto saía, sentiu o olhar dele nas costas e o calor que lhe produziu durou todo o longo trajeto de volta a casa.
– Como foi?
Tula sorriu ao ouvir a voz da sua melhor amiga. Tinha a certeza de que Anna Cameron Hale era o único ser humano em que podia confiar, de modo que, assim que voltou de São Francisco, da visita a Simon Bradley, marcou o número de telefone da amiga.
– Como me tinhas dito.
– Não sabia nada do menino? – perguntou Anna.
– Não – Tula virou-se para Nathan, sentado na sua cadeirinha. A senhora Klein, a ama, tinha-lhe dito que o menino se tinha portado lindamente enquanto ela estava fora. Ao olhar para ele, sentiu um aperto no coração. Como era possível gostar tanto de alguém em apenas duas semanas?
– Há que dizer em sua defesa que deve ter sido um choque enfrentar algo assim sem estar à espera – afirmou Anna.
– É verdade. Eu, que sabia da existência do Nathan, fiquei chocada quando a Sherry morreu e tive de tomar conta dele – embora não tivesse levado mais de cinco minutos a aceitar a nova situação. – Mas quando o contei ao Simon foi como se o tivesse atropelado um camião.
– Lamento que não tenha corrido bem. O que vais fazer?
– O Simon vem cá esta noite conhecer o Nathan e depois falamos – recordou a sensação que experimentara ao apertar-lhe a mão e tentou apagar a lembrança.
– Vai a tua casa?
– Sim, porquê?
– Por nada, mas estava a pensar que podia passar por aí para te ajudar.
Tula sabia ao que Anna se referia e riu.
– Não vais limpar-me a casa. Não se trata de um membro da realeza nem nada parecido.
Anna também se riu.
– Muito bem, mas avisa-o ao entrar que olhe por onde pisa.
Tula afastou-se da bancada da cozinha e deu uma olhadela à sua minúscula sala. O chão estava cheio de brinquedos; o computador portátil estava aberto na mesa e o último manuscrito encontrava-se ao seu lado. Estava a revê-lo e, quando trabalhava, descurava outras coisas, como arrumar a casa.
Encolheu os ombros e reconheceu que, embora limpa, a casa estava desarrumada, sobretudo desde que Nathan vivia com ela.
– Para que te teria ligado! – exclamou Tula.
– Porque sou a tua melhor amiga e sabes que precisas de mim.
– Precisamente por isso – Tula sorriu enquanto alisava o cabelo a Nathan, que palrava alegremente.– É estranho, Anna. O Simon foi grosseiro e desdenhoso e, no entanto…
– O quê?
Sentia interesse por ele. Pensou-o, mas não o disse. Não o esperava nem queria que fosse assim, mas não podia ignorá-lo. Esse tipo de homem engravatado era precisamente o que menos lhe interessava.
E o único que lhe faltava era sentir-se atraída pelo pai de Nathan. A situação já era suficientemente complicada por si só. Não obstante, não podia negar o calor que sentira quando as suas mãos se tinham tocado.
O que não implicava que tivesse de fazer algo a esse respeito.
– Estás a ouvir? – perguntou Anna. – Acaba o que estavas a dizer. E no entanto…
– Nada – respondeu Tula com repentina determinação.
Não se ia permitir sentir atração por um homem com o qual não tinha nada em comum salvo um menino.
– E esperas que acredite?
– Peço-to como amiga.
Anna suspirou de forma dramática.
– Muito bem. Por enquanto. Então, que vais fazer esta noite?
– O Simon vem cá e vamos falar do Nathan. Engendraremos uma forma de ele conhecer o menino e eu poder observá-los juntos. Posso lidar com o Simon – afirmou sem saber se tratava de convencer Anna ou a si própria. – Lembra-te que me criei com homens como ele.
– Tula, nem todos os que usam fato e gravata são como o teu pai.
– Todos não, mas a maioria sim.
Não havia quem o pudesse saber melhor. Toda a sua família nascera praticamente com o fato vestido e levava uma vida isolada e stressante dedicada exclusivamente a ganhar dinheiro. Tula estava quase convencida de que os seus familiares não sabiam que havia um mundo para além da estreita parcela que constituía o deles.
Por exemplo, sabia o que Simon Bradley pensaria da sua minúscula casa porque sabia exatamente o que pensaria o seu pai caso se tivesse dignado a visitá-la: que era velha e pequena e que era uma vergonha que a sua filha vivesse ali.
– Olha, a verdade é que não importa o que o pai do Nathan pense de mim ou da minha casa. O nosso único vínculo é o menino, de modo que não vou fazer uma cena nem mudar a minha vida para tentar convencer um homem que não conheço de que sou aquilo que não sou.
– Entendo perfeitamente – disse Anna a rir suavemente.
– Há muito tempo que somos amigas.
– Provavelmente, e por isso sei que vais fazer frango ao alecrim esta noite.
Tula sorriu. Anna conhecia-a muito bem. Fazia sempre esse prato quando tinha companhia. E a não ser que Simon fosse vegetariano, tudo correria bem. Mas e se fosse? Não, os homens como ele iam comer carne com os clientes.
– Acertaste. E após o jantar definiremos um horário para que conheça o Nathan.
– Tu? Um horário?
– Posso ser uma pessoa organizada –defendeu-se Tula. – Mas prefiro não o ser.
– Pois. Como está o menino?
– É uma maravilha. A sério, é uma criança ótima. E muito esperto. Esta manhã perguntei-lhe onde tinha o nariz e ele apontou-o.
A realidade era que estava a agitar um coelhinho de peluche e tinha-lho esmagado contra a cara. Não era o mesmo, mas aproximava-se.
– Ou seja, irá para Harvard.
– Vou já amanhã inscrevê-lo na lista de espera – Tula riu-se. – Tenho de desligar. Tenho de preparar o frango, dar banho ao Nathan e talvez tomar banho eu também.
– Está bem, mas liga-me amanhã para me dizeres como foi tudo.
– Eu ligo – desligou e deu uma olhadela à cozinha, pequena mas alegre, com armários brancos, uma bancada azul e caçarolas de cobre penduradas sobre o fogão.
Adorava a sua casa. E adorava a sua vida.
E queria aquele menino.
Simon Bradley ia ter de se esforçar muito para a convencer de que era digno de ser o pai de Nathan.
Horas depois, o cheiro a alecrim flutuava na casinha ao lado da baía.