Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2011 Barbara Dunlop. Todos os direitos reservados.

O DILEMA, N.º 1057 - Março 2012

Título original: Billionaire Baby Dilemma

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em portugués em 2012

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

I.S.B.N.: 978-84-9010-699-0

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

Capítulo Um

Lucas Demarco gostava das coisas claras, concretas, de ter o controlo… Mas o que o seu primo Steve estava a propor-lhe naquele momento não tinha nada de claro nem de concreto.

– Especialmente o Brasil – dizia Steve Foster. – Há uma zona de comércio livre para toda a América do sul. A Pacific Robots estaria no berço da alta tecnologia.

Lucas tirou o kayak da água, apoiou-o na cabeça e começou a andar em direção ao varadouro da mansão, que também tinha uma doca privada.

– A situação política é demasiado instável.

– Não vão nacionalizar o setor das altas tecnologias – disse Steve, seguindo o seu primo. – Isso seria um suicídio.

Lucas deixou cair o kayak sobre a relva mesmo à entrada do varadouro e desenrolou uma mangueira.

– Pois. Os tiranos lunáticos tomam sempre decisões muito racionais…

– Se não o fizermos nós, Lucas, outros vão fazer.

– Deixa-os fazer – disse Lucas, abrindo o fecho do colete salva-vidas.

Estavam a meio de maio, mas a temperatura do oceano ainda podia causar hipotermia.

– Não me importo de ser a segunda ou terceira empresa num mercado desses.

– A decisão não é tua.

– E também não é tua. E eu acho que é melhor deixar as coisas como estão – disse Lucas, pensando que era o melhor, pelo menos naquele caso.

Havia outras coisas, porém, que não eram tão fáceis de resolver. A sua sobrinha Amelia era apenas um bebé, mas ficara órfã, e naquele momento ela ocupava os seus pensamentos com muita frequência. Só que ainda não tinha sido capaz de encontrar uma solução e o tempo corria sem piedade.

Steve e ele eram donos de noventa por cento da Pacific Robots e os dez por cento restantes pertenciam à menina, o que a transformava numa peça fundamental para a empresa.

Lucas sabia disso e o seu primo também, por não falar de todos os advogados, executivos e inimigos da empresa. A partir daquele momento, quem ficasse com a custódia dela teria voz e voto em todas as decisões importantes da multinacional.

Tanto Lucas como o seu irmão Konrad tinham dado tudo por aquela empresa, mas a morte de Konrad deixara tudo num limbo. Lucas precisava de ficar com a custódia da menina. Era a única forma de protegê-la de todos os abutres corporativos que, sem dúvida, iam tentar usá-la para tomar o controlo. Era o futuro da Pacific Robots que estava em jogo.

– Maldito filho da… – disse Steve, quase a rosnar.

Lucas encolheu os ombros e virou a torneira, apontando a mangueira para o barco para lhe tirar o sal.

– Ainda bem que a minha mãe já não pode ouvir isso.

– Vou conseguir que revoguem o testamento do avô – disse Steve, levantando a voz. – Posso provar o que Konrad fez.

– O Konrad casou e teve uma filha – disse Lucas, aguentando a pontada de dor que sentia só de pronunciar o nome do seu irmão morto.

Graças a Amelia, Konrad cumprira os requisitos impostos pelo avô no seu testamento, garantindo assim a herança para a família Demarco em detrimento dos Foster, sempre tão temerários e irresponsáveis. Era verdade que Lucas sempre tivera reservas em relação àquele casamento repentino de Konrad com Monica Hartley, mas era um sentimento que jamais partilharia com Steve. Além disso, tinha a certeza de que o seu irmão devia amá-la muito para ter decidido casar com ela.

Amelia era a primogénita e isso transformava-a na herdeira da fortuna da família. Steve insistira em fazerem uma prova de ADN e as provas demonstraram que Konrad era o pai.

Lucas virou o kayak e começou a lavá-lo com a mangueira.

– Bom, quando é que é a audiência para a custódia temporária? – perguntou Steve de repente.

A mudança de atitude pôs Lucas em alerta.

Monica morrera num acidente aéreo com o seu marido, e a sua irmã, Devin Hartley, estava a enfrentar-se a Lucas nos tribunais pela custódia da menina.

– Para a semana – respondeu Lucas, levantando o olhar.

Steve assentiu com a cabeça e uma expressão calculista inundou os seus olhos.

– E se a Devin ganhar?

– Não tens nada a ver com essa questão – disse Lucas em tom de aviso.

Devin Hartley não tinha a mínima hipótese. Não era uma rival à altura de alguém como ele.

Steve olhou para o horizonte. O sol já se escondia atrás das montanhas de Bainbridge Island.

– Vivemos num país livre – disse ele num tom incisivo.

– Estou a falar muito a sério, Steve – disse Lucas, fechando a torneira. – Não te metas com a Devin Hartley.

Devin Hartley parecia uma rapariga decente, um tanto boémia e fugidia, talvez demasiado emotiva… Mas não era santo da sua devoção. No entanto, tinha que reconhecer que aquela jovem lhe deixara uma lembrança muito nítida. Havia qualquer coisa sensual nos seus movimentos, no seu sorriso… Na noite do casamento do Konrad, os seus olhos azuis brilhavam muito, como se escondesse algum segredo que Lucas queria descobrir.

Sabia que a sua reação fora, no mínimo, absurda, e aquela lembrança ficara esquecida num canto da sua mente. Até agora.

Não ia deixar que Steve tentasse conquistar Devin Hartley para provocar uma crise na Pacific Robots.

– Se ela ganhar… – disse Steve, esboçando um sorriso malicioso e confiante. – Nada me vai deter.

Lucas voltou a enrolar a mangueira.

– E és tu que me insultas a mim?

– Neste caso, só te estás a comportar como um cobarde sem imaginação.

– E tu és um temerário sem escrúpulos – disse Lucas, colocando a mangueira no lugar.

– Então, concordamos em que não há acordo?

– Afasta-te da Devin.

– A sério, Lucas. Quem é que morreu e te transformou em rei?

– O avô.

– Não. Ele morreu e transformou o Konrad em rei – Steve fez uma pausa intencionada. – E… sabes uma coisa? Eu não achei tão mal.

Sem perder a paciência, Lucas abriu o fecho do fato.

– Estás a querer dizer que preferias que tivesse sido eu a morrer?

– Estou a dizer que o Konrad era melhor do que tu. Ele era como eu. E sabia jogar este jogo.

– O Konrad não era como tu.

O seu irmão gostava de correr riscos, mas nunca fora calculista nem velhaco. Sempre fora honesto e tudo o que fazia era para o bem da família. Steve, pelo contrário, só pensava em si próprio e nos seus interesses.

Steve deu um passo em frente, inclinou-se sobre Lucas e semicerrou os olhos com um olhar intenso.

– Estamos na era da diversificação, Lucas. Temos de expandir o negócio. Os que o fizerem vão prosperar e os que não o fizerem vão ficar pelo caminho.

– E o que será dos que perderem todos os seus bens por causa do golpe de estado?

– Ao menos tiveram a coragem de tentar.

Lucas tirou o fato de neopreno e pendurou-o na parede.

– Há uma grande diferença entre a coragem e a estupidez temerária.

Steve abanou a cabeça e riu-se.

– Isso é o que os cobardes costumam dizer a si próprios.

Lucas engoliu a frustração que sentia. Se o seu irmão estivesse ali naquele momento as coisas seriam muito diferentes. Konrad sempre soubera como lidar com as impertinências do seu primo com sentido de humor.

Quase até à sua morte, Konrad tinha protegido a sua independência. Costumava passar muito tempo no seu apartamento de Bellevue e, durante o último ano, obcecara-se com a ideia de recuperar a esposa perdida. Konrad percebia muito bem as pressões e conflitos inerentes à gestão de uma grande empresa. Ele sempre soubera lidar com as loucuras dos familiares desmiolados que insistiam em pegar na batuta da gestão.

Essa era a pura verdade, mas Lucas não se apercebera disso até à morte dele.

– Abre a pestana – avisou-o Steve.

– E tu vê lá se começas a usar a cabeça em vez de te deixares levar por essa tua ambição desmedida.

– Muito bem. Então, vemo-nos no tribunal.

– Tu não foste convidado.

– Este é um país livre – disse Steve num tom desafiador.

Ao ver que Lucas não vergava, Steve abanou a cabeça e começou a andar para casa.

Lucas voltou a puxar a mangueira e dispôs-se a lavar o fato.

Passara metade da sua vida a aturar o seu primo e as suas impertinências. Konrad fora sempre o diplomata da família. Steve costumava dizer que não conseguiria ganhá-lo com os punhos, e agora que Konrad já lá não estava Lucas estava desejoso de tentar.

Devin aproveitou que Amelia tinha adormecido para arrumar. Percorreu a pequena casa junto ao lago de uma ponta à outra e foi apanhando todos os brinquedos, mantas e livros infantis que encontrou no caminho. A menina começara a gatinhar há um mês e já se apoiava nos móveis para tentar dar os seus primeiros passos. Àquela hora da sesta, a sala parecia sempre uma zona de guerra.

– Tudo calmo?

Era Lexi, a vizinha do lado. A mulher espreitou pela porta de correr que dava para a doca.

Devin sorriu e fez-lhe um sinal para entrar.

Lexi só tinha quarenta e poucos anos, mas era viúva. O seu marido morrera seis anos antes num acidente marítimo e os seus três filhos já tinham saído de casa para ir trabalhar ou para ir para a universidade.

Devin não teria sido capaz de ultrapassar o acidente de Konrad e Monica se não fosse Lexi e o seu valioso apoio, especialmente nas primeiras semanas depois do acidente.

– Conseguiste dormiste hoje à noite? – perguntou-lhe Lexi, fechando a porta atrás de si.

Os mosquitos já se tinham multiplicado e os besouros esvoaçavam entre as plantas.

– Seis horas seguidas – disse Devin, sorrindo de felicidade.

Dormir transformara-se num luxo ultimamente.

Lexi inclinou-se para apanhar uns brinquedos e colocou-os numa caixa de madeira colorida situada num canto da sala.

A casa de Devin não era nada do outro mundo. Dois cadeirões, um sofá e vários candeeiros e mesas… Nada combinava com nada, mas estava tudo limpo e a casa acabava por ser muito acolhedora.

– Tens tempo para beber um chá? – perguntou-lhe Lexi.

– Claro que sim – disse Devin, esperando que Amelia dormisse uma hora pelo menos.

– Alguma notícia do da custódia temporária?

– A única coisa que sei é que estou cheia de medo da audiência preliminar – disse Devin, colocando os últimos tijolos de cores num tubo e fechando-o. – Não sei porque é que não podem deixar as coisas como estão.

Só faltavam dois meses para o julgamento pela custódia permanente de Amelia mas, por alguma razão inexplicável, Lucas Demarco decidira lutar também pela custódia temporária. Os advogados dele tinham-lhe enviado uma carta ameaçadora e Devin não tinha outro remédio senão comparecer nos tribunais na manhã seguinte.

– Sabes porque é que está a fazer isto – Lexi arqueou uma sobrancelha enquanto dobrava uma pequena mantinha de flanela.

– Sim, sei.

– Quer aproximar-se da Amelia.

Devin assentiu.

– Neste momento, essa é a minha grande vantagem.

– Então, sorte para ele – disse Lexi, colocando a mantinha sobre outras que estavam nas costas do sofá. – Não me parece que tenha grande vocação paternal.

Lexi só tinha visto Lucas uma vez, no casamento de Monica, mas as histórias sobre as suas conquistas e façanhas no despiedado mundo dos negócios, por não falar da sua fama de solteirão de ouro e mulherengo empedernido, andava sempre nas bocas do mundo. E o facto de Lucas só estar interessado na menina porque ela herdara aquele dez por cento das ações da Pacific Robots era um segredo muito mal guardado.

Normalmente, Devin sentia-se segura quando pensava que qualquer juiz com um mínimo de juízo seria capaz de ver para além do seu tortuoso estratagema mas, às vezes, a meio da noite, os seus piores temores apoderavam-se dela.

Lexi foi para a cozinha e Devin afugentou os fantasmas. Pegou nas últimas bonecas, arrumou um monte de revistas e voltou a colocar o sofá no lugar.

De repente, alguém bateu à porta.

Lexi espreitou na porta da cozinha com expressão de surpresa. Ninguém batia à porta de Devin Hartley. Na pequena comunidade de Lake Westmire, os vizinhos dirigiam-se diretamente ao alpendre, deslizavam a porta de correr e entravam.

Devin olhou-se de cima a baixo. Uma camisola ruça e umas calças de ganga gastas não eram precisamente a melhor roupa para receber visitas, por não falar de que estava descalça. Hesitante, dirigiu-se à porta das traseiras, olhou pela pequena janela retangular e reconheceu vagamente o homem que estava do outro lado. Abriu a porta e tentou lembrar-se de onde o conhecia. Era muito alto, entre o loiro e o ruivo. Estava vestido com um fato escuro e uma camisa azul clara às riscas e uma gravata mais escura.

Parecia ter trinta e tantos anos, mas o seu rosto redondo dava-lhe uma expressão eternamente infantil. Além disso, as sobrancelhas claras também não ajudavam muito.

– Em que posso ajudar? – perguntou Devin, baixando a voz para não acordar Amelia.

O homem ofereceu-lhe a mão e esboçou um sorriso amigável, digno do melhor vendedor de seguros.

– Steve Foster. Conhecemo-nos no casamento do Konrad e da Monica – o sorriso esfumou-se. –Lamento muito a sua perda.

– Obrigada – disse Devin de forma automática, apertando-lhe a mão e tentando encaixar aquele rosto no puzzle das suas memórias.

Steve Foster…

De repente lembrou-se. Era o primo de Konrad.

Retirou a mão de imediato e cerrou os lábios.

– Eu também sinto muito a sua perda – disse, sem sentir nada. Era um mero formalismo.

Os Demarco eram os culpáveis pela morte da sua irmã. Se não tivessem sido tão gananciosos e desconfiados, muitas coisas se podiam ter evitado. Se não tivessem pressionado tanto Konrad por causa das ações de Amelia, ele não teria ido desesperadamente em busca da sua irmã e ela jamais teria entrado naquele avião.

– Espero não ter vindo em má altura – disse Steve.

– Em que posso ajudar? – disse Devim num tom frio.

Podia ouvir Lexi a aproximar-se um pouco para saber o que estava a acontecer.

– Vim pedir desculpa – disse Steve. – Em nome da minha família. Pelo que sei, o Lucas tem estado a assediá-la.

Devin não sabia o que dizer. Lucas transformara-se na sua cruz ultimamente, mas também não sabia muito bem por que estaria a desculpar-se Steve. Além do mais, de que estava ele a falar quando dizia que tinha estado a assediá-la?

De repente, ouviu-se o barulho da chaleira. Os passos de Lexi afastaram-se apressadamente.

– Acabei de saber da audiência por causa da custódia temporária.

Foi aí que as coisas começaram a fazer sentido. No entanto, Devin continuava sem saber exatamente por que estava ali.

– Importa-se que…? – disse Steve, apontando para o interior da casa. – Queria fazer-lhe uma proposta.

– Não estou interessada – disse Devin.

Não confiava nos Demarco, nem nos Foster, especialmente quando tentavam ser amáveis.

– Gostava de compensá-la pelo que o Lucas fez. Devin inclinou a cabeça e tentou decifrar a expressão daqueles olhos azuis quase transparentes.

– Porquê?

– Porque a tratou muito mal – disse num tom aparentemente sincero e envergonhado. – Tem cinco advogados caríssimos a trabalharem no caso. Conheço muito bem esses tipos, Devin, e francamente, não tem qualquer hipótese contra eles.

Um arrepio gélido percorreu as costas da jovem. Não havia razão alguma pela que Steve Foster pudesse querer avisá-la em relação a Lucas. A família Demarco queria ficar com Amelia e Steve era um deles.

– O que é que quer?

– Já lhe disse – respondeu, olhando-a fixamente, sem pestanejar.

Se aquilo era teatro, então merecia um Óscar.

– E porque é que se preocupa tanto?

Devin ouviu Lexi a aproximar-se um pouco.

– Preocupo-me porque a considero uma pessoa decente. E só estou a tentar avisá-la. Vim oferecer-lhe os serviços de um gabinete como o Bernard & Botlow. Pode solicitar os serviços deles para a audiência da próxima semana, se quiser. Não tem de pagar nada, obviamente.

Devin pestanejou, perplexa.

Lexi escancarou a porta.

– E onde está o gato?

Steve olhou para a mulher e a sua expressão mudou durante uma fração de segundo.

– Olá. E a senhora é…?

– Uma amiga da Devin.

Steve voltou a olhar para Devin.

– Importa-se que entre?

– A menina está a dormir – disse ela.

– Prometo que não faço barulho – disse então, e olhou para Lexi. – Estou aqui para oferecer-lhe serviços legais. Isso é tudo. Pode confirmar com o gabinete. Os advogados são muito conceituados e eu não tenho nada a ver com o caso – voltou a olhar para Devin. – O meu primo não está a ser correto consigo. Inclinou a balança a favor dele e eu só quero equilibrar as possibilidades.

A última coisa que Devin desejava naquele momento era pensar no primo de Steve Foster. Aquele homem era um Demarco dos pés à cabeça e isso significava que era incrivelmente sexy, prepotente e poderoso. Aquele cocktail de defeitos e qualidades era perturbador. E Lucas Demarco era o inimigo e essa era a única forma de pensar nele.

Nesse momento, lembrou-se da sua atarefada advogada. Hannah era muito trabalhadora e inteligente, tinha-se portado muito bem com ela. No entanto, não era especialista em direito familiar.

– Também pode dizer-me que não aí dentro –disse Steve num tom conciliador.

Devin olhou para Lexi.

Com um gesto quase impercetível, a mulher encolheu os ombros, e Devin decidiu dar uma oportunidade a Steve Foster. No fim de contas, tinha razão numa coisa: tanto lhe podia dizer que não na sala tanto como à porta, e não corria nenhum risco por ouvir o que tinha a dizer.

Lucas sabia que instalar um sistema de rastreio no carro de Steve era passar bastante dos limites, mas ao ver que o sinal parava em Lake Westmire durante mais de uma hora, soube que tinha sido uma decisão acertada. As suas suspeitas não eram infundadas.

Entrou no seu flamante carro desportivo e partiu a toda a velocidade, reduzindo a viagem de uma hora a metade. No caminho, pela interestatal a sul de Seattle, cruzou-se com o carro de Steve. O GPS guiou-o ao longo da sinuosa estrada de Lake Westmire até chegar a um caminho de terra batida que dava para uma casa de campo situada frente ao lago.

Lucas deteve-se bruscamente, puxou o travão de mão e saiu do carro sem perder um minuto.

Eram só uns quantos degraus e em segundos, chegou a um alpendre circular que contornava toda a casa. Ao lado do caminho estava uma porta azul.

Lucas bateu.

Minutos depois, Devin olhou por uma pequena janela. O seu rosto transfigurou-se assim que o viu.

– Lucas? – exclamou, abrindo parcialmente a porta.

Olhou para ambos os lados, surpreendida por vê-lo ali.

– O que é que ele queria? – perguntou-lhe sem rodeios.

– Desculpa?

– O Steve – disse ele, abrindo caminho bruscamente pela estreita ranhura que Devin deixara ao abrir a porta.

Ela deu um passo para trás, irritada.

– Não faço ideia do que estás a falar.

Lucas virou-se, ficando a poucos centímetros dela.

– O Steve esteve aqui.

Ela não respondeu.

– É assim que queres jogar este jogo? – disse ele. – Vais olhar-me nos olhos para mentir uma e outra vez?

Ela hesitou, mas então piscou os olhos várias vezes e conseguiu disfarçar o que sentia.

– O que é que estás aqui a fazer?

– Diz-me o que é que ele queria. Tentou chegar a um acordo? O que é que te contou?

– Não sei de que estás a falar.

– Vi o carro dele – disse Lucas fulminando-a com o olhar.

– Estiveste a espiar-me?

– Não, não te estive a espiar. Mas sei que esteve aqui e quero saber o que te disse.

Abrir uma fábrica na América do Sul não era uma decisão fácil. Steve podia pintar tudo cor-de-rosa e ocultar os riscos de forma deliberada. Só de pensar que talvez tivesse de justificar as suas decisões empresariais perante uma mulher cuja única experiência se reduzia a assinar os autógrafos dos seus patéticos livros de autoajuda, começava a sentir faíscas por todo o corpo.

Devin abanou a cabeça.

– Não tens nada a ver com isso.

– Então, esteve aqui – disse Lucas, em cólera.

– Também não tens nada a ver com isso.

– Raios, Devin! – gritou com fúria.

De repente ouviu-se o choro de um bebé.

Devin bateu na porta com a mão.

– Vês o que fizeste?