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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 RaeAnne Thayne

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um verdadeiro sedutor, n.º 2219 - fevereiro 2017

Título original: Dalton’s Undoing

Publicada originalmente por Silhouette® Books.

Este título foi publicado originalmente em português em 2008

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.® Harlequin e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Dreamstime.com

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9385-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Epílogo

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Capítulo 1

 

Um vândalo estava a roubar-lhe o carro. Seth Dalton parou na calçada à frente da casa da sua mãe, esquecendo as trelas dos cachorrinhos que tinha na mão, a ver como três anos de suor, paixão e trabalho se afastavam pela estrada.

Filho da mãe.

Ficou a olhar para o carro durante uns quinze segundos, tentando compreender como alguém em Pine Gulch poderia ter a coragem de roubar o seu descapotável de 1969.

Quem naquela vila poderia ser suficientemente estúpido para pensar que poderia chegar muito longe sem que alguém se apercebesse de que não era Seth quem estava a conduzir o carro e desse o alarme?

Até onde pensaria que poderia chegar? Não muito longe, se dependesse de Seth. Trabalhara muito no seu querido carro para deixar que alguém o levasse.

– Vamos, rapazes. Acabou-se a diversão – puxou as trelas e arrastou os dois cachorrinhos pela calçada para a casa.

Lá dentro, os membros da sua família estavam reunidos à volta da mesa da sala de jantar a jogar a uma partida de Risk.

Parecia que Jake e Maggie estavam a ganhar. Não era de estranhar, tendo em conta o cérebro estratégico do seu irmão do meio e a experiência militar da sua mulher. O clã dos Dalton estava distribuído nas suas equipas habituais. Jake e Maggie contra a sua mãe e o seu padrasto e contra o seu irmão mais velho, Wade, e a sua mulher, Caroline, que compunham a terceira equipa.

Essa era a razão pela qual Seth se oferecera para levar os cães a passear. Era um pouco deprimente ser o jogador solitário. Normalmente fazia equipa com Natalie, porém, era um pouco triste descobrir que a sua sobrinha de nove anos jogava melhor do que ele. A menina estava na sala de estar a ver um vídeo com os seus irmãos.

A única pessoa que levantou a cabeça do tabuleiro foi a sua mãe.

– Já voltaram? Que rápido! – Marjorie dirigiu as palavras aos cachorrinhos, não a ele. A sua mãe levantou o cão que lhe oferecera no seu aniversário e acariciou-lhe a cabeça. – És tão bonzinho. Não és? Sim, claro que és. Dá um beijo de parabéns à mamã.

– Não há tempo, lamento – disse Seth secamente.

Ignorou a cara da sua mãe e foi buscar as chaves da carrinha de Wade.

– Vou levar a tua carrinha – disse, enquanto saía pela porta.

Wade levantou o olhar com o sobrolho franzido e disse:

– O quê?

– Não tenho tempo para explicar – acrescentou Seth, parando à porta, – mas preciso da tua carrinha. Já volto. Mamã, vigia Lucy por mim.

– Acabei de lavar a carrinha – resmungou o seu irmão. – Não ma devolvas cheia de lama.

Seth pôs a carrinha do seu irmão a trabalhar e saiu disparado na direcção em que o seu carro seguira.

Se ele roubasse um carro, por que estrada seguiria? Pine Gulch não oferecia muitos caminhos de fuga. Dirigir-se para sul conduzi-lo-ia através das casas e do pequeno distrito financeiro de Pine Gulch. Para este, encontravam-se as montanhas, o que lhe deixava o norte e o oeste.

Decidiu arriscar e ir para norte, onde a estrada atravessava os ranchos e as quintas com muito pouco trânsito para que alguém avistasse um descapotável vermelho.

Devia telefonar à polícia e denunciar o roubo. Perseguir o ladrão sozinho provavelmente era uma loucura, contudo, não estava de humor para ser sensato, não com um carro de trinta mil dólares em jogo.

Poucos segundos depois, ao virar na curva do lago de Sam Purdy, avistou um brilho vermelho mais à frente.

Com os seus trezentos e cinquenta cavalos, o seu carro podia alcançar os duzentos quilómetros por hora sem esforço. Curiosamente, fosse quem fosse que o roubara, não andara a mais de setenta.

O carro circulava a uns vinte quilómetros abaixo do limite de velocidade e Seth não teve problemas em alcançá-lo, perguntando-se se haveria algum bando de velhos ladrões de carros do qual não ouvira falar.

Manteve uma distância de dois carros entre eles. Conhecia aquela estrada e sabia que, mais à frente, havia uma linha recta durante três quilómetros sem casas.

Não via nenhum carro a aproximar-se de frente, portanto mudou para a outra faixa para se posicionar ao lado do seu carro e conseguir ver o ladrão.

Era um vândalo, mais nada. O rapaz atrás do volante era magro, de cabelo preto e devia ter uns quinze anos, talvez dezasseis. Olhou para a esquerda e, ao ver a enorme carrinha ao seu lado, pareceu morto de medo.

Seth desceu o vidro, desejando poder aproximar-se do rapaz e torcer-lhe o pescoço.

– Pára! – gritou através da janela, mesmo sabendo que o rapaz não conseguia ouvi-lo.

Mais tarde, apercebeu-se de que devia parecer Freddy Kruger e devia ter imaginado o que aconteceria depois. Se tivesse estado a pensar com clareza, teria enfrentado o assunto de outra forma e teria poupado muitos problemas.

Embora o ladrão não pudesse ouvir as palavras de Seth, a mensagem ficou clara. O rapaz dirigiu-lhe outro olhar assustadiço e virou o volante para a direita.

Seth praguejou em voz alta ao ouvir o som do metal quando o descapotável bateu num sinal que havia à direita. Como consequência, o rapaz entrou em pânico e virou de repente para a esquerda e atravessou a estrada, aterrando numa vala de rega.

Pelo menos, estava vazia naquela época do ano.

O ar frio de Novembro recebeu Seth quando saiu da carrinha e correu para se certificar de que o rapaz estava bem.

Abriu a porta de repente e desfrutou de um segundo ao ver como o pirralho se encolhia no assento, como se pensasse que Seth ia partir-lhe o pescoço com as mãos.

Tinha vontade de o fazer, tinha de o admitir. Sabia que a tinta do carro descascara ao bater no sinal e que o pára-choques do lado esquerdo estava amolgado por ter batido na estrutura de cimento da sarjeta.

Tentou controlar a sua raiva enquanto comprovava que o ladrãozinho não estava ferido.

– Estás bem? – perguntou.

– Sim. Acho que sim – a voz do rapaz tremia ligeiramente, mas deu a mão a Seth para sair do carro.

Seth observou-o de cima a baixo e pensou que não devia ter mais de catorze anos. Tinha idade suficiente para começar a barbear-se mais de uma vez por mês.

Tinha o cabelo mais comprido do que Hank Dalton teria permitido que algum dos seus filhos usasse e vestia umas calças de ganga e uma camisola cinzenta quatro tamanhos acima do seu e com o logótipo de um grupo de música que Seth não conhecia.

O rapaz era-lhe familiar, contudo, Seth não sabia quem era. Estranho, pois conhecia todos os rapazes da vila. Talvez fosse filho de algum dos magnatas de Hollywood que compravam terrenos para construírem os seus enormes ranchos. Costumavam manter-se afastados da população, talvez com medo de que os valores familiares e a amabilidade dos aldeãos se misturassem com eles.

– A minha mãe vai matar-me – disse o rapaz, pondo as mãos na cabeça.

– Pode pôr-se na fila – resmungou Seth. – Tens ideia da quantidade de trabalho que investi neste carro?

O rapaz deixou cair as mãos. Embora ainda parecesse aterrorizado, conseguiu disfarçá-lo com uma expressão de valentia.

– Arrepender-se-á se me fizer alguma coisa. O meu avô é advogado e fá-lo-á em pedacinhos se se atrever a pôr-me a mão em cima.

Seth não conseguiu evitar rir-se, mesmo ao encaixar as peças e imaginar quem devia ser o rapaz e por que razão lhe era familiar.

Com um avô advogado, tinha de ser o filho da nova directora da escola. Boylan. Boyer. Algo do género.

Ele não tinha uma relação muito próxima com as pessoas da escola, mas Natalie mostrara-lhe a sua nova directora e os seus dois filhos numa noite, pouco depois do início das aulas, quando Seth levara os seus sobrinhos ao Stoney’s, a pizaria da vila.

O seu avô devia ser Jason Chambers, um advogado que se mudara para Pine Gulch depois da reforma. A sua filha e os seus netos tinham-se mudado com ele quando o cargo da direcção da escola ficara vago.

– Esse advogado na família provavelmente vai ser de utilidade, miúdo – disse Seth.

– Estou morto – respondeu o rapaz, pondo as mãos na cabeça novamente.

Não tinha a certeza de porquê, contudo, Seth surpreendeu-se ao sentir compaixão pelo rapaz. Recordava muito bem o inferno daquela idade. As hormonas disparadas, as emoções de ser do contra. Demasiada energia e muito pouco que fazer com ela.

– Vou para a prisão?

– Roubaste um carro. É um crime muito sério. E és um péssimo condutor, o que é pior, do meu ponto de vista.

– Não ia levá-lo para longe. Tem de acreditar em mim. Ia só até ao pântano e depois voltava, juro. É só isso. Quando vi as chaves na ignição, não consegui resistir.

Realmente deixara as chaves na ignição? Seth olhou para dentro do carro e ali estavam elas.

Como acontecera? Recordava ter chegado a casa da sua mãe para o jantar de aniversário e depois ter saído a correr do carro ao ver que Lucy começava a levantar a perna sobre os tapetes do carro. Talvez com toda a confusão e com a pressa de encontrar um espaço de relva em que o seu cachorrinho pudesse fazer as suas necessidades, se tivesse esquecido das chaves.

– Como te chamas?

O rapaz apertou os dentes e Seth suspirou.

– É melhor dizeres. Sei que o teu apelido é Boyer e que Jason Chambers é o teu avô. Descobrirei o resto.

– Cole – murmurou o rapaz depois de uma longa pausa.

– Vamos, Cole. Vou levar-te a casa do teu avô e depois regressarei com um dos meus irmãos para vir buscar o meu carro.

– Posso ir a pé – disse Cole, esticando os ombros e pondo as mãos nos bolsos da camisola.

– Achas que vou deixar-te solto por aí? E se encontrares outro idiota que deixou as chaves na ignição? Entra.

Embora Cole ainda parecesse renitente, sentou-se no banco do passageiro da carrinha.

Seth começara a dar a volta à carrinha para se sentar atrás do volante quando observou umas luzes atrás dele.

Em vez de seguir o seu caminho, a ajudante do xerife diminuiu a velocidade e estacionou atrás do descapotável. Seth observou o rapaz e viu que ficara branco e que respirava entrecortadamente.

– Acalma-te, rapaz – murmurou.

– Estou calmo – Cole levantou o queixo e tentou parecer relaxado.

Seth suspirou e voltou a fechar a sua porta, observando a ajudante do xerife a sair do carro. Antes de lhe ver a cara, soube que a agente tinha de ser Polly Jardine, a única mulher do departamento de polícia da vila.

Polly observou-o. O seu aspecto não estava muito diferente de como era no liceu: atraente e vivaz, completamente longe da sua ideia de um agente da lei. Embora ainda parecesse que podia estar a abanar os seus pompons no jogo de futebol de sexta-feira à noite, Seth sabia que era uma polícia dura e com dedicação.

Imaginou que despertaria muitas fantasias na vila que implicariam as algemas penduradas no seu cinto. Contudo, dado que o seu marido era enorme e também estava no departamento de polícia, além de serem loucos um pelo outro, essas fantasias nunca seriam mais do que isso.

– Olá, Seth! Pareceu-me que este era o teu carro. Oh! O que aconteceu? Fizeste a curva com demasiada velocidade?

– Algo do género – respondeu Seth.

– Tens a certeza de que é só isso? – perguntou Polly, depois de ver o rapaz sentado na carrinha.

Seth apoiou-se contra a carrinha, inclinou a cabeça e esboçou um sorriso.

– Eu mentiria a um agente da lei, querida?

– Bom, é o teu carro, querido – disse ela com um sorriso, fazendo-o perceber que recordava as vezes em que se tinham envolvido num jogo de sedução debaixo das bancadas, antes de Match Jardine ter chegado à vila e ela ter deixado de olhar para outros homens. – Se é assim que queres fazê-lo, não discutirei contigo.

– Obrigado, Pol. Devo-te uma.

– Este é o filho da nova directora, não é verdade?

Seth assentiu.

– Tivemos alguns encontros com ele nos poucos meses que estão na vila – acrescentou Polly. – Nada sério. Infringir o silêncio à noite, essas coisas. Achas que deixá-lo solto é a atitude correcta? Hoje é um carro, amanhã pode ser um assalto a um banco.

Seth não sabia nada, excepto que não podia denunciá-lo.

– Por enquanto.

– Se mudares de opinião, diz-me. É suposto eu preencher um relatório por acidente, mas fingirei que não vi nada.

Seth assentiu, despediu-se dela e entrou na carrinha. Cole Boyer observou-o, com os seus olhos verdes em alerta.

– Vou para a prisão?

– Não. Pelo menos, hoje não.

– Incrível!

– Não te apresses a celebrar – avisou Seth. – Algumas semanas no reformatório não te parecerão assim tão más quando a tua mãe e o teu avô descobrirem o que aconteceu. E sem falar do que terás de fazer para acertar as coisas comigo.

 

 

Estava atrasada. Como era habitual.

Com um único movimento, Jenny Boyer calçou os sapatos e o seu casaco preferido.

– Ouve o avô enquanto eu não estou, está bem? – perguntou, enquanto punha uns brincos de ouro.

– Eu oiço-o sempre – disse Morgan, a sua filha de nove anos, que falava como uma mulher de cinquenta, com a elegância de uma dama da alta sociedade que acabava de encontrar algo desagradável no seu chá. – Cole é que tem problemas com a autoridade.

– Bom, pois certifica-te de que ele também obedece ao avô – disse Jenny com um suspiro.

Morgan cruzou os braços e arqueou o sobrolho.

– Tentarei, mas duvido que oiça o avô ou a mim.

Provavelmente não. Ninguém parecia ser capaz de tomar conta de Cole. Imaginara que mudar-se para Idaho para viver com o seu pai ajudaria a estabilizar o seu filho. Pelo menos assim, afastar-se-ia dos elementos indesejáveis de Seattle, que só o envolviam em problemas.

Mantivera a esperança de que o seu avô lhe proporcionaria o modelo de conduta masculino que perdera com a ausência do seu pai. No entanto, fora uma esperança em vão. Apesar de Jason tentar fazê-lo, Cole estava furioso com o mundo e mais furioso com ela por se ter mudado para aquela vila do que com o seu pai por ter ido para outro continente.

Jenny olhou para o relógio e emitiu um gemido. A reunião do Concelho Executivo da escola começava dentro de dez minutos e ela tinha de fazer uma apresentação em PowerPoint realçando os seus esforços por elevar os resultados da escola em relação aos exames padronizados. Era a sua primeira reunião e não podia permitir-se deitar tudo a perder.

O terapeuta que consultara depois do divórcio sugerira que a falta de pontualidade de Jenny indicava algum tipo de acção passivo-agressiva, que era a sua maneira de governar uma vida que, frequentemente, fugia ao seu controlo.

– Tenho de me despachar, querida. Prometo-te que estarei em casa antes de ires dormir – deu um beijo na testa da sua filha, perguntando-se enquanto saía do seu quarto se teria tempo de descer até à cave para se despedir de Cole. Decidiu que não. À excepção da sua falta de tempo, qualquer conversa entre eles ultimamente acabava numa discussão e não sabia se conseguiria suportar outra naquela noite.

– Adeus, papá – disse do corredor enquanto agarrava na pasta do seu portátil e na mala. – Obrigada por tomares conta deles!

– Não te preocupes com nada – Jason Chambers apareceu à porta com a sua camisola preferida e umas calças de ganga que lhe faziam aparentar muito menos do que os seus sessenta e cinco anos. – Arrasa-os.

Jenny sorriu distraidamente, sentindo-se mais uma vez agradecida por ter sido capaz de superar as discordâncias na sua relação no passado ao mudar-se para Pine Gulch.

Tentando equilibrar-se com a pasta, a mala e as chaves, abriu a porta e deu um salto ao deparar-se com um homem.

– Lamento muito. Não o tinha visto – disse, depois de conseguir não deixar cair nada.

Sabia quem era, é claro. Que mulher em Pine Gulch não saberia? Com aquele sorriso e aqueles olhos azuis que pareciam adivinhar os desejos mais profundos de uma mulher, era difícil não ver Seth Dalton.

Embora ela tentasse. O mais novo dos Dalton era precisamente o tipo de homem que Jenny tentava evitar a todo o custo. Já tivera mais do que homens suficientes que deslumbravam as mulheres com flores e champanhe, abandonando-as depois para ficarem com outra mais jovem.

Que razão teria Dalton para aparecer à sua porta? Não tinha filhos na escola, há anos que acabara a sua formação e não conseguia imaginá-lo a fazer biscoitos para angariar fundos para a Associação de Pais e Professores.

– Posso ajudá-lo, senhor Dalton?

– Só venho fazer uma entrega.

Jenny franziu o sobrolho, impaciente e confusa, enquanto ele se desviava para um lado para empurrar algo até à porta. Algo não, alguém. Alguém com o sobrolho franzido e uma camisola cinzenta.

– Cole!

Sob a aparência descarada do seu filho, viu que havia algo mais do que atitude. Algum nervosismo.

– O que se passa? Devias estar no teu quarto a fazer os trabalhos de casa de geometria! – exclamou ela.

– A geometria aborrece-me. Fugi.

– Fugiste – repetiu ela, sentindo-se frustrada e fracassada. Como conseguiria lidar com as crianças da escola se não conseguia encontrar a mínima ligação com o seu próprio filho? – Por onde? Não te ouvi sair.

– Alguma vez ouviste falar em janelas? – respondeu Cole. Nada de novo. Comportava-se de um modo arisco com ela, mesmo antes de se terem mudado para Pine Gulch. Culpava-a de tudo mau na sua vida, desde a sua baixa estatura até à aventura de Richard e o seu posterior abandono.

Jenny sentia-se envergonhada por um estranho ter de presenciar aquilo. Sentiu-se mais envergonhada ainda ao ver como Seth Dalton arqueava o sobrolho e punha uma mão no ombro do seu filho.

– Achas que essa é a maneira correcta de te dirigires à tua mãe?

Jenny esboçou um sorriso educado e disse:

– Obrigada por o trazer para casa, senhor Dalton, mas acho que posso ocupar-me do resto sozinha.

Por alguma razão, as suas palavras ou o seu tom pareceram surpreendê-lo.

– A sério? – perguntou. – Receio que haja mais alguns assuntos sobre os quais temos de falar. Posso entrar?

– Não é um bom momento. Estou atrasada para uma reunião.

– Lamento – acrescentou ele, – mas receio que tenha de arranjar tempo para isto.

Não esperou um convite, simplesmente entrou na sala, portanto, Jenny não teve outra opção senão segui-lo, apercebendo-se de que Jason e Morgan não estavam em lado nenhum.

– Cole, queres dizer-lhe o que fizeste?

O seu filho cruzou os braços e adoptou uma postura mais desafiante, embora, mais uma vez, Jenny visse medo nele. De repente, sentiu um aperto no estômago.

– O que se passa? Cole, o que significa isto?

Cole manteve a boca fechada, porém, mais uma vez, Seth Dalton pôs-lhe uma mão no ombro.

De repente, o seu filho pareceu considerar o tapete incrivelmente fascinante.

– Roubei-lhe o carro – murmurou em voz baixa e a olhar para o chão.

– O quê?

– Levei o carro dele, está bem? – perguntou Cole, olhando finalmente para os seus olhos. – O que esperavas? Deixou as malditas chaves na ignição. Só ia dar uma volta. Imaginei que o devolveria antes que se apercebesse. Mas então bati e…

– O quê? Estás ferido? Feriste alguém?

Cole abanou a cabeça. Pelo menos sentia-se suficientemente culpado para parecer envergonhado.

– Desviou-se de um sinal e embateu de frente contra uma vala de rega. A única coisa que sofreu danos foi o meu carro.

Jenny sentou-se na cadeira mais próxima que encontrou enquanto a sua carreira passava à frente dos seus olhos. Já podia ouvir os mexericos entre os carros de compras no supermercado, sob os secadores no cabeleireiro e sobre as cervejas na taberna.

Fechou os olhos desejando que fosse tudo um sonho, porém, quando os abriu, Seth Dalton ainda estava de pé à sua frente, tão perigoso e sexy como sempre.

– Lamento, senhor Dalton. Não sei o que dizer. Vai apresentar queixa?

– Vou ter muito trabalho para o arranjar.

– Nós pagaremos as despesas, é claro.

De repente, Seth sentou-se à frente dela no sofá, cruzando as pernas à altura dos tornozelos.

– Eu tinha outra coisa em mente.

– Sou a directora de uma escola primária, senhor Dalton. Se procura algum tipo de acordo económico exagerado, receio que se tenha enganado no sítio.

– Não procuro dinheiro. Mas precisarei de mais duas mãos enquanto o reparo. Pensei que o rapaz podia compensar os danos ajudando-me na reparação e no rancho com os cavalos.

– Não sou um cowboy estúpido – disse Cole de repente.

– Não, daqui pareces um vândalo estúpido que pensa que vive num jogo de vídeo. Isto não é o Grand Theft Auto, menino, onde podes sempre voltar a começar. Tu estragaste-o e agora tens de me ajudar a arranjá-lo. A não ser que queiras cumprir uma pena de prisão, claro.

Cole regressou à sua posição encurvada enquanto Jenny considerava a proposta. Queria dizer a Seth Dalton que esquecesse o assunto. Não queria que o seu filho tivesse nada a ver com o solteiro mais cobiçado de Pine Gulch.

Cole tivera péssimos modelos de conduta masculinos suficientes na sua vida e não queria que Seth lhe ensinasse as coisas más sobre como tratar uma mulher.

Por outro lado, o seu filho roubara-lhe o carro e batera com ele. O facto de não estar detido naquele momento era um milagre.

Que outra opção tinha realmente? Seth podia ter chamado a polícia. Talvez devesse tê-lo feito. Talvez uma dose de realidade fosse do que Cole precisava para acordar, por muito que odiasse a ideia de ver o seu filho num reformatório.

Seth Dalton estava a ser surpreendentemente decente com o assunto. Pelo pouco que sabia dele, teria esperado que estivesse furioso e petulante.

Em vez disso, achava-o calmo e racional.

E extremamente atraente.

Deixou escapar um suspiro. Seria essa a razão pela qual os seus instintos se opunham àquela proposta tão razoável? Porque era incrivelmente bonito com o seu cabelo escuro, os seus olhos azuis e os seus traços bronzeados?

Deixava-a nervosa e isso era suficiente para não querer ter nada a ver com ele. Estava em Pine Gulch para ajudar a sua família a encontrar paz e estabilidade, não para fantasiar com um cowboy atraente de olhos azuis e um sorriso incrivelmente sensual.

– Saberei melhor quando rebocar o carro até ao rancho e conseguir dar uma vista de olhos, porém, pelo que vi, diria que são prejuízos de uns seiscentos dólares – disse Seth. – Penso que se Cole trabalhar para mim algumas tardes por semana depois da escola e aos sábados de manhã, acabaremos em poucos meses. Parece-lhe bem?

Jenny olhou para Dalton e depois para Cole, que continuava com os braços cruzados sobre o peito, como se outra pessoa fosse responsável pelas suas acções.

Desprezava tudo sobre Idaho e provavelmente consideraria que trabalhar num rancho era um castigo semelhante a ter de ir para o reformatório.

– Sim. Parece-me mais do que justo. Não concordas, Cole?

O seu filho olhou para eles com ódio e, enquanto Jenny sentia que a sua raiva crescia, Seth fixou o olhar no menino e Cole baixou a cabeça imediatamente.

– Tanto faz – murmurou.

– Obrigada – disse Jenny, acompanhando Seth à porta. – Como amanhã é sábado, levarei Cole a Cold Creek de manhã. A que horas?

– Que tal às oito?

– Lá estaremos. Novamente, lamento muito tudo isto. Não sei no que ele estava a pensar.

Seth dirigiu-lhe um sorriso que lhe provocou um aperto no estômago.

– É um adolescente, portanto suponho que não estava a pensar em nada. Vemo-nos amanhã.

Jenny assentiu, perguntando-se por que razão aquela ideia lhe produzia uma mistura de medo e ansiedade.