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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

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© 2009 Ann Major

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Paixão obscura, n.º 975 - junho 2017

Título original: To Tame Her Tycoon Lover

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9874-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

«Algumas mulheres são impossíveis de esquecer, por mais que um homem tente».

 

Logan Claiborne franzia a testa enquanto conduzia a toda velocidade pela estreita e sinuosa estrada que levava à mansão sulista em que crescera.

Estava concentrado em Mitchell Butler e na fusão dos Estaleiros Butler com a empresa Energia Claiborne e em como ia lidar compassivamente com Grandpère quando chegasse a Belle Rose.

No entanto, as suas mãos tornavam-se tensas sobre o volante enquanto recordava os olhos escuros, grandes e confiantes da voluptuosa rapariga que seduzira e abandonara, nove anos antes, para salvar o seu irmão gémeo, Jake.

Até àquela manhã, Logan convencera-se de que o seu avô tivera razão ao dizer que Cici Bellefleur não pertencia ao seu mundo e que tinha que salvar Jake de um casamento tão desastroso como o do seu pai ao unir-se a uma rapariga pobre, a sua mãe, cujos extravagantes sonhos de grandeza e ostentação quase tinham acabado com a fortuna da família. Continuara a achar que agira bem mesmo depois de ficar à frente do império da família e de Cici se ter tornado famosa com a sua máquina fotográfica, demonstrando o seu talento e valor.

Mas o seu avô ligara-lhe naquela manhã e deixara-o de boca aberta ao contar-lhe, com o entusiasmo de uma criança com sapatos novos, que Cici regressara e que estavam a os dois a receber as visitas guiadas à plantação.

Perguntou-se porque motivo teria a famosa fotógrafa e escritora realmente voltado. O que pretenderia?

– Há nove anos opunhas-te radicalmente a ela por causa do seu tio – lembrara-lhe Logan. Grandpère desconfiara sempre do tio de Cici.

– Ao longo da vida, um homem comete erros. Lembra-te disso. Eu cometi bastantes. Se alguma vez sofreres uma apoplexia, terás tempo de sobra para reflectir sobre o passado e arrepender-te de algumas coisas. Eu arrependo-me de ter culpado Cici pelos actos do seu tio Bos. Não era ela que organizava lutas de galos, se relacionava com gente duvidosa e dirigia um bar.

– Lembras-te de há nove anos não quereres que se aproximasse de mim ou de Jake? Sobretudo de Jake, que era bastante rebelde naquela época.

– Se o fiz, arrependo-me disso.

– Se o fizeste? – Logan tinha dificuldade em reconciliar a atitude do seu avô com a do indivíduo dominador que o tinha criado.

– Está bem, enganei-me a respeito dela. E também ao ser tão duro contigo. É por minha causa que agora és tão inflexível.

Logan, sentindo-se culpado, passara a mão pelo cabelo castanho-escuro.

– Também fui muito duro com Jake.

– Talvez agora estejas a ser demasiado duro contigo mesmo – consolou-o Logan.

– Gostaria de voltar a ver Jake antes de morrer.

– Não vais morrer… pelo menos por enquanto.

– A Cici diz o mesmo. Acha que melhoro de dia para dia. Acha que talvez pudesse ficar aqui em vez de… – a sua voz desvaneceu-se.

A menção de Cici e a esperança que notou na voz do seu avô, convenceram Logan de que tinha que ir visitá-lo de imediato. Desde que sofrera uma apoplexia, o seu avô deixara de ser um homem forte e dominador para se transformar numa pessoa necessitada e deprimida que Logan mal reconhecia. Por isso decidira que o seu avô não podia continuar a viver de forma independente em Belle Rose e tinha que se mudar para Nova Orleães, para mais perto dele. O idoso precisava que cuidassem dele.

Infelizmente, a floresta, cheia de lianas e vegetação selvagem, era tão cerrada e exuberante, que Logan quase passou o desvio que conduzia à casa da sua infância. No último momento, girou o volante do Lexus à direita demasiado depressa e o carro derrapou. Acabava de endireitá-lo quando viu a casa no final do caminho ladeado de carvalhos. Como sempre, a mansão, com as suas graciosas colunas e galerias iluminadas pelo Sol, pareceu-lhe a mais bela do mundo, aquela que lhe enchia o seu coração como nenhuma outra.

Não podia culpar o Grandpère, que se tornara mais infantil e emocional desde a sua doença, por querer ficar ali. Logan recordou a primeira vez que mencionara a possibilidade de o levar para a cidade. Grandpère desaparecera durante várias horas, pregando-lhe um susto de morte.

«A Cici não devia dizer-lhe que está a melhorar e que talvez não tenha que se mudar».

A ideia de que o seu avô pudesse piorar inquietava-o. Era Logan, não Cici, quem queria o melhor para Grandpère. Não precisava que Cici interferisse e o fizesse sentir-se culpado por uma decisão que se vira obrigado a tomar. Não queria tornar Grandpère infeliz, mas não podia dirigir a Energia Claiborne e estar ao mesmo tempo com ele em Belle Rose.

Com a cabeça em água, Logan travou bruscamente. As rodas giraram na gravilha húmida quando parou sob a sombra do longo passeio de carvalhos que algum francês anónimo plantara cem anos antes de a mansão estar ali. Para além do edifício, os campos estendiam-se até uma fileira de ciprestes cobertos de musgo, que bordeavam o início das selvagens terras pantanosas.

Logan abriu a porta do seu luxuoso Lexus e saiu. Depois de passar duas horas ao volante, conduzindo por más estradas, soube-lhe bem estar de pé e esticar-se.

Apesar da sombra que ofereciam os frondosos carvalhos, estava demasiado calor para inícios de Março. Inspirou o ar pesado, húmido e adocicado, que para ele cheirava a lar.

As rãs coaxavam, as abelhas zumbiam nas azáleas e ouviam-se os patos na floresta. Sorriu.

Cici, quando era pequena, adorava a zona selvagem, escura e musgosa que rodeava a plantação. Sempre que ele estava em casa de visita, seguia-o para todo o lado com a devoção de um cachorrinho. A relação era muito simples nessa altura. Ela era oito anos mais nova que Jake e ele, portanto Logan não levara a sério a paixoneta dela pelo irmão até ao Verão em que regressou a casa, depois de terminar os seus estudos de Direito, e descobriu que o avô tinha razão ao dizer que Cici já não era uma criança.

Afastou aquelas agradáveis recordações de Cici e começou a lamentar a falta do ar condicionado do carro.

Talvez porque o angustiava ver Cici, Logan entreteve-se a tirar a gravata e a desabotoar os botões do colarinho da camisa. Abriu o carro, tirou o casaco e deixou-o, com a gravata, no banco de cabedal.

Desejou que Alicia Butler, a sua namorada há quatro meses, tivesse podido acompanhá-lo. Talvez então não se sentisse tão enfeitiçado pelo passado. Nem teria a tentação de pensar em Cici.

Ao contrário de Cici, Alicia era educada e elegante. Conhecera-a quando a ambição o levou a fundir a sua empresa com a do pai dela. Era morena, com cabelo comprido e liso que lhe caía até aos ombros e rosto de traços delicados. Sabia vestir-se e tinha bom porte. As pessoas viravam-se para olhá-la quando saíam juntos e não era apenas pela sua beleza e estilo, era também pela sua avultada fortuna.

Outros homens, também ambiciosos, invejavam-no. Isso fazia com que Logan se orgulhasse mais ainda de em breve vir a ser sua.

Sempre composta, enfrentava a vida com determinação, como ele. Era civilizada, culta e, portanto, uma esposa tão adequada para ele como o fora Noelle até ter falecido.

Alicia falava francês e italiano. Era uma anfitriã perfeita. Nunca comia nem bebia demais nem usava roupa inadequada. Não levantava a voz nem sequer quando se aborrecia.

Era igualmente controlada na cama.

Algo que Cici nunca fora. Durante um instante, ferveu-lhe o sangue ao recordar Cici a retorcer-se de prazer sob ele, como uma selvagem.

Mas Alicia tornar-se-ia mais ardente quando se casassem, ainda não tinha a confiança suficiente para se deixar levar. Seria paciente. Juntos construiriam uma vida que todos invejariam, tal como a que tivera com Noelle, a sua recentemente falecida esposa. Não discutiriam nem se destruiriam um ao outro levados por paixões desenfreadas.

Recordou os olhos tristes de Noelle na semana antes da sua morte. De imediato, apagou a imagem proibida da sua mente. Faria Alicia feliz, a história não se repetiria.

– Lamento não poder ir contigo e conhecer o teu avô, querido – dissera Alicia naquela manhã. – O papá precisa de mim no escritório.

– Está bem. Eu percebo.

Mitchell Butler, o pai de Alicia, era um tubarão dominador, pelo menos nos negócios, mas dado que Logan e ele tinham entre mãos a fusão das suas empresas, não queria aborrecê-lo por causa de um assunto pessoal. Veria Alicia nessa noite.

– Querido, tenho certeza de que saberás o que fazer e dizer para conseguir que o teu avô entenda que talvez não possa ficar em Belle Rose – dissera Alicia. – Afinal, é da tua família. Ama-lo e desejas o melhor para ele.

Logan pensou, com amargura, que Alicia não sabia até que ponto ele dificultara as coisas. Fizera todos infelizes e, consequentemente, a sua família continuava dividida.

Não queria pensar nos seus erros nem no seu terrível comportamento com Cici e nos nove anos que passara afastado do seu irmão gémeo.

Logan fora até ali, apesar da sua apertada agenda, pensando no bem do avô e para impedir males maiores. Queria enfrentar Cici antes que lhe desse esperança de que podia conseguir o impossível.

Recordou o quão pequena e perdida Cici parecera de pé no dique, depois de lhe ter dito que não a amava. Mentira para a proteger e a si mesmo. Mas, estranhamente, a mentira também o entristecera a ele.

«Não penses no passado. Nem no que sentiste. Limita-te a lidar com a Cici de agora».

Apesar da sua intenção de não reviver o passado, lembrou-se da jovem e vivaz Cici tentando aparentar que era forte, dura e tão boa como os ricos e poderosos Claiborne. Magoara-a. Magoara Jake. Magoara todos, ele incluído. Pensou que eram apenas danos colaterais, porque a família estava mais rica e poderosa que nunca.

Logan fechou o carro e tomou o caminho de gravilha que levava à casa. Parou em frente à escada que levava à galeria inferior e à enorme porta da frente.

Percorreu a mansão e o jardim com o olhar. Uma rampa de madeira, recém-construída, ziguezagueava até à porta, evitando a escada e permitindo o acesso em cadeira de rodas.

Observou a casa de hóspedes que Jake e ele tinham partilhado quando eram adolescentes, antes de discutirem por causa de Cici. Questionou-se de quem seria o Miata de dois lugares que estava estacionado em frente.

Franziu o sobrolho e subiu a escada. Levava a mão à maçaneta da porta quando alguém a abriu por dentro.

– Ena! Olá, senhor Logan – disse a familiar e suave voz, com sotaque francês, da sua antiga ama.

Noonoon, actualmente governanta do seu avô, observou-o do umbral. O seu rosto iluminou-se como uma vela.

Ele sentiu algo acolhedor. Aquela mulher generosa e de grande coração amara-o sempre, e também a Jake. Quando a mãe de ambos falecera, Noonoon tomara conta de Belle Rose praticamente sozinha.

– Ai, meu Deus, que calor que está hoje.

Ele assentiu e deu-lhe um abraço rápido.

– Entra, antes que derretas. Se está este calor agora, o que é que nos espera em Agosto?

– Não me faças pensar em Agosto – disse ele. Como a baía aquecia muito no Verão, Agosto era um mês de perigo de furacões.

– Posso preparar-te algo? Uma bebida, talvez? Chá gelado com um raminho de menta?

– Estou bem, obrigado – abanou a cabeça.

– Estou a ver. Trinta e cinco anos e continuas tão alto e bonito como sempre.

– Porque é que me lembras da minha idade sempre que podes?

– Talvez porque já seja altura de parares de chorar a querida senhora Noelle.

Ele ficou tenso.

– A vida é curta – disse ela, consciente de que não era um homem que gostasse de compaixão.

– Há alguém novo na minha vida – disse ele entrando no fresco vestíbulo central. – Chama-se Alicia Butler. Em breve irás conhecê-la. É uma autêntica senhora, alguém de quem a família se orgulhará.

– Fico muito contente – Noonoon fechou a porta. – O que é que te traz até aqui vindo de Nova Orleães?

– O meu avô. Está tão surdo que é difícil falar com ele ao telefone. Pensava que estava tudo resolvido, mas esta manhã disse-me que se sentia melhor e queria ficar aqui sozinho – Logan absteve-se de referir Cici.

– O senhor Pierre está lá em cima, a dormir uma sesta. Mas ficará muito feliz por estares aqui. Mal te vemos, agora que és um homem tão importante e ocupado e vives em Nova Orleães.

– Uma sesta? E onde está ela? – inquiriu Logan.

– A menina Cici? – perguntou Noonoon com um ar muito inocente.

– Quem mais podia ser?

– Sabia que não tardaria muito… para que soubesses da menina Cici. Não há nada como um idoso rico interessar-se por uma mulher jovem e bela para o resto da família ficar alerta, não é verdade?

– Não é por isso…

Noonoon examinou-o com os seus inteligentes olhos pretos e pousou as mãos nas ancas largas. Pelos vistos, Cici já a havia conquistado.

– Assim que ouves falar na menina Cici, vens a correr como a lebre daquele conto que vos lia em pequenos, que tentava apanhar a tartaruga no último segundo. Nunca esquecerei o último Verão que a menina Cici esteve aqui. Tinha dezoito anos e era a rapariga mais linda que vi na minha vida.

Logan desejou não se lembrar do modo como o Sol criava um jogo de luzes e sombras nos seios de Cici, quando a viu de pé na sua canoa no dia em que ele regressou a casa. Ao vê-lo, tinha saltado da barca e corrido para a floresta, graciosa como uma gazela. Ele seguiu-a e ela cumprimentou-o com os olhos escuros tão fulgurantes de júbilo que o tinham enfeitiçado. Depois disso, a timidez silenciara-a e, diabos, a ele também.

– A menina Cici só está aqui há uma semana e o senhor Pierre já está louco por ela.

– Ele disse-me – atestou Logan com frieza. Imaginou Cici a atormentar o vulnerável idoso.

– Melhorou muito. Sei que queres que se mude para Nova Orleães…

– Para um complexo residencial, perto da minha casa, com uma fabulosa assistência médica que poderei supervisionar pessoalmente.

– Mas esses sítios não são como a nossa casa, e já sabemos como estás ocupado. Com que frequência poderias ir vê-lo? O senhor Pierre é feliz aqui. Nessas residências os idosos passam o dia sentados a olhar para o vazio.

– Não podes cuidar dele dia e noite. Tens a tua própria família.

Desde que a mansão estava aberta ao público, a tarefa principal de Noonoon era a de governanta, não a de enfermeira do seu avô. Acedera a ajudá-lo temporariamente.

– Bom, agora que a menina Cici está aqui…

– Não vai ficar.

– Pois canta e toca piano para ele diariamente. Conversa com ele. Jantam juntos a maioria das noites. E cozinha. Deves lembrar-te do quanto gostava de cozinhar.

– Com a tendência que tem para viajar pelo mundo, não ficará aqui muito tempo.

– Achas? Parece querer assentar. Diz que está cansada de andar por aí, que viu dor suficiente para uma vida. E tem que escrever um livro.

– Outro livro não! Espero que desta vez se concentre em algo que não tenha nada a ver comigo.

– Não falou em ti.

Isso não o tranquilizou. O livro de Cici sobre a indústria petroleira no Louisiana, depois do Katrina, deixara a Energia Claiborne muito mal vista. Não mencionara sequer uma vez quantas pessoas tinham emprego graças a eles. O livro estava cheio de fotografias de canalizações oxidadas, fauna coberta de petróleo e navios a navegar em água roubada à terra. As legendas das fotos culpavam empresas como a Energia Claiborne pelo desaparecimento das zonas pantanosas do estado.

– E quer cuidar do seu tio Bos – dizia Noonoon. – Está bastante fragilizado após o seu tratamento, mas é teimoso como uma mula. Liga-lhe muitas vezes, mas continua a recusar-se a falar com ela. Passados tantos anos, seria de esperar que a perdoasse. Enfim, ela apenas se tornou amiga de ti e do Jake.

O arrependimento invadiu-o. Cici continuava afastada do seu tio. Tal como Jake e ele…, por causa daquele Verão. Apesar de as pessoas da zona não terem Bos em grande conta, continuava a ser tio dela e acolhera-a quando ficou órfã.

A animosidade entre Bos e Grandpère agravara-se devido às lutas de galos que Bos organizava. Quando finalmente foram proibidas, tinham ficado com menos motivos para discutirem.

– A Cici disse que queria viver num lugar tranquilo e sabes bem como a casa de hóspedes é tranquila.

– Instalaste-a na casa de hóspedes? Nos meus antigos aposentos? – Logan estava a gritar, e ele nunca gritava. Nem quando alguém tão duro como Mitchell Butler tentava arrancar milhões de dólares de lucros à Energia Claiborne.

– Foi o senhor Pierre quem decidiu alugá-la – defendeu-se ela.

Logan lembrou-se do chamativo Miata vermelho que vira estacionado junto ao edifício octogonal de dois andares e sentiu o seu pulso acelerar. Então o perigoso desportivo era dela. Não devia ter ficado surpreendido. Cici sempre fora atraída pelo risco. Nada de estranho, depois de viver com aquele seu tio, que organizava lutas de galos e a tinha criado, essencialmente, ignorando-a.

Se o seu avô estivesse em condições, teria sabido que Cici não podia cuidar dele de forma sincera. Devia ter um plano oculto.

– Lamento ter levantado a voz – sussurrou Logan, tentando recuperar o controlo. – Isto não é culpa tua. Nem dela. É minha, por não ter levado o Grandpère antes. Falarei com ela agora mesmo.

– A menina Cici não gosta que a incomodem de manhã, a não ser em caso de emergência. Escreve enquanto o senhor Pierre dorme. Às quatro, o senhor Pierre e ela fazem juntos a última visita guiada à plantação. Estará livre por volta das cinco.

– Como pode andar ele tanto, no seu estado?

O olhar cortante de Noonoon lembrou-lhe que fazia um mês que não via o seu avô.

– A menina Cici fê-lo deixar o andarilho. Comprou-lhe uma bengala e uma cadeira de rodas nova, mais leve. Contratou o senhor Buzz para construir rampas em todo o lado. Empurra o senhor Pierre quando ele se cansa.

Logan ficou ainda mais tenso. Não acreditava que Cici tivesse voltado a casa para cuidar do seu avô. Se nem sequer sabia cuidar de si mesma! Era impensável que pudesse tratar de Pierre. Não a longo prazo.

O seu avô precisava de enfermeiras profissionais e os melhores e mais modernos cuidados, e tê-los-ia.

Além disso, o seu avô era responsabilidade sua.

Quanto mais depressa enfrentasse Cici e a tirasse dali, melhor.