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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Emilie Rose Cunningham

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Só tu importas, n.º 977 - junho 2017

Título original: Wed by Deception

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9876-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

– «E, por fim, a minha filha Nadia…» – Richards, o advogado da família, fez uma pausa na leitura do testamento de Everett Kincaid e procurou o olhar da jovem do outro lado da mesa.

Nadia engoliu em seco. Ela e o pai, agora defunto, tiveram sempre uma relação de amor-ódio, pelo que se temia o pior. As condições que o pouco ortodoxo testamento impunha aos seus irmãos iriam complicar-lhes bastante a vida ao longo do próximo ano e receava saber o que é que o seu «querido pai» tinha planeado para a enlouquecer.

Quando Richards se apercebeu de que estavam todos à espera que continuasse com a leitura, voltou a concentrar-se no documento:

– «O teu trabalho é admirável e a tua dedicação à Cruzeiros Kincaid sem mácula…»

Nadia ficou ainda mais tensa.

Aquilo não soava nada bem. Quando o pai começava com um elogio, terminava sempre com um insulto. Adorava criar expectativas para as destruir friamente logo a seguir.

– «Mas o teu trabalho e as tuas frívolas amizades são tudo o que te resta. Rodeaste-te de pessoas que não pensam no futuro, que dependem do dinheiro dos pais e jamais fazem planos para além da próxima festa.»

Nadia fez uma careta perante a precisão do comentário. O pai nunca tinha compreendido por que gostava dos seus amigos, precisamente por não terem mais interesses do que o seu próprio umbigo.

– «Tens vinte e nove anos, Nadia. Está na hora de cresceres, de te responsabilizares pelos teus actos e descobrires o que realmente queres da vida. Por isso, resolvi atirar-te do ninho.»

Nadia ouviu um alarme na sua cabeça.

– Atirar-me do ninho? Pode-se saber o que é que isso quer dizer?

– «A partir deste momento» – continuou Richards, – «está exonerada do teu cargo como directora do serviço da Cruzeiros Kincaid. Durante um ano, não poderás voltar ao escritório nem à mansão Kincaid.»

Nadia olhou para os irmãos, desconcertada. Não podia ir para a sua própria casa? E onde é que iria viver? Com um documento, o pai tinha-lhe tirado o emprego, a casa, qualquer refúgio que tivesse em Miami… e porquê?

– «Irás morar no meu apartamento em Dallas durante 365 dias consecutivos.»

– O papá tem… tinha um apartamento em Dallas?

Richards levantou a mão para pedir a sua atenção:

– «Não poderás procurar outro emprego remunerado nem dar festas nesse apartamento. Espero que te dediques a procurar outro tipo de amigos. E, para evitar que organizes festas todas as noites com algum grupo de foliões, deves estar em casa todos os dias entre a meia-noite e a seis da manhã.»

Nadia abriu a boca e voltou a fechá-la.

– À meia-noite, como a Cinderela?

– «Se não cumprires as condições deste testamento» – continuou Richards num tom monocórdico, – «perderás tudo. Não apenas tu, como também os teus irmãos.»

Os seus irmãos. Nadia olhou para Mitch, à sua direita, e para Rand, sentado na ponta da mesa do salão dos Kincaid.

– Vocês estão a ver isto? Está a castigar-me, fechando-me num quarto durante um ano como se fosse uma menina pequena! Isto é totalmente ridículo e, aviso já, não estou a pensar fazê-lo.

– Não tens alternativa – disse Mitch, tranquilamente.

Tão típico do Mitch, exibir a sua frieza numa momento de crise.

– Eu não posso abandonar o meu trabalho, a minha casa, os meus amigos…

– Sim, podes – Rand inclinou-se para a frente, colocando as mãos em cima da mesa. Como irmão mais velho, era a ele que Nadia sempre recorrera quando tinha problemas… até ao momento em que ele se foi embora de Miami, há cinco anos, deixando a empresa e a família sem olhar para trás.

– Ouviste o que o Richards acabou de ler, tens de cumprir a tua parte. Caso contrário, o Mitch e eu perdemos tudo. Mas não te preocupes, nós vamos ajudar-te.

– Como? Vocês os dois vão ter de ficar em Miami enquanto eu estou exilada em Dallas.

– Dallas não é exactamente o Ártico, mulher – Mitch colocou-lhe a mão no ombro. Ele tinha sido o seu apoio desde que Rand se tinha ido embora, a pessoa com quem poderia contar, acontecesse o que acontecesse. – Nós enviamos-te mantimentos.

– Mas isto é absurdo.

Richards pigarreou.

– Há mais.

Mais? Ainda podia ser pior? Nadia cravou as unhas nas palmas das mãos.

– «Deixei-te sempre fazer tudo. Ao contrário dos teus irmãos, tu nunca tentaste viver no mundo real, fora da mansão Kincaid, nem sequer quando foste para a universidade. Chegou a hora de aprenderes a cuidar de ti mesma, Nadia, porque os teus irmãos não estarão sempre disponíveis para te resolver os problemas.»

Ela corou. Sim, bom, pedira-lhes ajuda algumas vezes. E daí? Toda a gente tem problemas.

– «Não terás empregados, nem cozinheira, nem motorista à tua disposição.»

Nadia sentiu que a sua cabeça começava a dar voltas. Não contando com o facto de que iria, provavelmente, morrer à fome, ela não tirara a carta antes do acidente e também não houve qualquer razão para a tirar depois. Nervosa, levantou-se da cadeira e começou a andar de um lado para o outro no salão.

– «Aprenderás a conduzir e aprenderás a sobreviver com uma pensão mensal de dois mil dólares…»

– Uma pensão de dois mil dólares? – gritou. Ela gastava mais do que isso num só vestido.

– «Como não terás de pagar renda, essa quantia será mais do que suficiente para as tuas necessidades. Depender de um orçamento mensal ajudar-te-á a compreender melhor os teus empregados e os clientes da empresa Kincaid.»

O seu pai achava que ela não era capaz de viver com um orçamento tão baixo? Nunca tivera necessidade de controlar as suas despesas, mas não podia ser assim tão difícil. Enfim, tinha uma licenciatura em Economia e geria, diariamente, milhões de dólares da empresa.

– Isto é uma loucura. O meu pai perdeu a cabeça ou quê? Como é que ele foi capaz de me fazer uma coisa destas, Richards?

As grossas sobrancelhas do advogado levantaram-se como dois telhados bicudos sobre os óculos.

– Uma pessoa pode fazer o que quiser com os seus bens e o teu pai não te está a pedir que faças nada ilegal ou imoral. É preciso repetir que se não respeitares os termos do testamento, tu e os teus irmãos perdem toda a herança do vosso pai? A linha de cruzeiros Kincaid, a mansão, todas as propriedades em seu nome e todas as acções serão vendidas à linha de Cruzeiros Mardi Grass, o seu maior concorrente, por um dólar. E vocês ficarão apenas com os vossos bens pessoais.

O que ela tinha era… zero. Devido à sua obsessão por manter diariamente o corpo e a cabeça ocupadas até cair na cama, Nadia gastava todo o salário que a empresa lhe pagava mensalmente e nunca economizou um cêntimo sequer.

– Não, não é preciso repetires. O meu pai deixou bem claro que se algum de nós não cumprir as suas condições, perdemos tudo. Mas porquê a linha de cruzeiros Mardi Grass em concreto? O meu pai odiava de morte essa empresa. E eu também. As suas técnicas de concorrência desleal custaram-nos uma boa parte do mercado.

Richards encolheu os ombros.

– O Everett nunca me explicou porquê.

Rand bateu na mesa com as pontas dos dedos.

– Nadia, ainda que me agrade a ideia do papá a dar voltas no túmulo ao ver o logotipo da Mardi Grass pintado nos seus navios, eu não quero que esse canalha volte a ganhar outra batalha.

Mitch assentiu com a cabeça.

– Eu concordo. Temos de lutar. Há muito em jogo.

Nadia sabia muito bem que estavam milhões em jogo, não era preciso que lhe explicassem essa parte.

Resolveu analizar os seus irmãos: Rand tinha construído a sua vida noutro lugar, mas Mitch vivia e respirava para a Cruzeiros Kincaid. Tal como ela, nunca tinha trabalhado para outra empresa. A Kincaid era o seu universo e ela não queria ser a responsável pela sua perda.

Podia ver pela expressão resignada nos seus rostos que tanto Rand como Mitch, calculavam que seria ela a não cumprir as condições do testamento. E isso magoou-a. Mas, o que é que ela tinha feito pelos seus irmãos? Rand e Mitch sempre lhe tinham feito todos os favores sem esperar nada em troca.

O seu pai tinha-a tramado novamente e estava ali a prova. Everett Kincaid tinha gozo em colocar os filhos à prova, especialmente a ela, porque lhe fazia lembrar a sua defunta esposa. E sempre pensara que, tal como a sua mãe, acabaria por ir abaixo. Se assim não fosse, não a teria obrigado a aguentar mais de uma década de terapia e, agora, um ano de reclusão.

Mas iria demonstrar-lhe que estava errado. Demonstraria a todos o quanto estavam errados.

Sobreviveria um ano em Dallas, sem o seu trabalho, sem os seus amigos e sem a segurança da sua família. Que alternativa tinha? Os seus irmãos tinham estado ao seu lado quando a sua vida tomara um rumo perigoso onze anos antes. Agora, chegara a hora de ser ela a fazer alguma coisa por eles.

Era óbvio que o seu pai a considerava o elo mais fraco, mas iria ter uma surpresa. Ou teria se estivesse vivo. Não iria fracassar. Demonstraria a toda a gente que a única filha de Everett Kincaid não se deixava ir abaixo. Iria demonstrar que não só tinha herdado a capacidade para os negócios do seu pai como também a sua obstinação.

Era capaz de o fazer.

Não. Iria mesmo fazê-lo.

Tinha apenas de encontrar uma forma de evitar lembrar-se do seu trabalho ou das festas.

De modo que, com a cabeça erguida e os joelhos trémulos, Nadia olhou para o advogado.

– Quando é que tenho de ir?

Capítulo Um

 

Tão silencioso como um túmulo. Depois de oito semanas a brincar às casinhas, Nadia Kincaid sentia-se como se tivesse sido enterrado viva naquele luxuoso apartamento no topo do edifício.

Era um belo túmulo, mas não deixava de ser isso mesmo, um mausoléu.

Nem sequer tinha vizinhos com quem se distrair. Os do apartamento ao lado estavam ausentes desde que ela chegara a Dallas e o resto dos apartamentos do arranha-céus estavam ocupados por escritórios… que não pareciam ficar lá muito satisfeitos com visitas extemporâneas de outros vizinhos.

Nadia dobrou o pano do pó, colocou as mãos na cintura e observou as estantes cheias de livros e filmes que Rand lhe tinha enviado. Tinha prometido a si mesma que iria aguentar aquele ano em Dallas sem a ajuda dos irmãos, mas também não queria morrer de tédio. Por isso, acabou por aceitar os presentes.

Os filmes e os livros permitiam-lhe passar o tempo e, graças à televisão por satélite, tinha aprendido a cozinhar. E como se sujava imenso a cozinhar, tinha aprendido a limpar. Enfim, tinha aprendido a fazer todas aquelas pequenas tarefas que alguém tinha feito por ela. E estava orgulhosa por apenas ter cometido um ou outro erro menor.

«Pois é, papá, já lá vão dois meses e ainda aqui estou. Aposto que não estavas à espera que eu conseguisse.»

Tinha visto e lido os maiores sucessos dos últimos cinco anos, mas o melhor mesmo foi ter descoberto um supermercado que fazia entregas ao domicílio. O que era bastante mais barato do que ir e vir de táxi.

O único desafio a que ainda não se tinha atrevido era conduzir. Ainda não estava preparada para se sentar ao volante de um carro.

Depois dos estragos que tinha feito do lugar ao lado do condutor…

Essa recordação levou-a a procurar de imediato uma distracção, uma reacção típica sempre que o passado saía do seu túmulo.

Voltou a pegar no pano do pó, passou-o pela estante e dirigiu a sua fúria para o pai.

Everett Kincaid voltara a subestimá-la, obrigando-a a viver fechada naquele apartamento para que «se encontrasse a si mesma», enquanto os irmãos podiam fazer quase tudo o que lhes desse na real gana.

Bom, Rand tivera de voltar para Miami para gerir a linha de cruzeiros Kincaid depois de cinco anos de auto-exílio. E Mitch seria, em breve, o pai do filho ilegítimo do seu pai. Mas, pelo menos, isso não o tinha obrigado a abandonar o emprego.

Enquanto isso, ela entretinha-se a ver como lhe cresciam as unhas.

Sim, estava furiosa com o pai por tratá-la como a uma criança, mas a verdade era que lamentava não poder voltar a discutir com ele. Não haveria mais discussões por causa do jornal durante os pequenos-almoços na mansão Kincaid, nem mais sermões, nem mais brigas por ele ter tomado uma decisão no seu departamento sem a consultar. Já não teria de levantar o olhar durante um evento social sabendo que ele a estava a vigiar.

A vigiar e à espera que ela metesse a pata na poça.

Três meses antes ficaria furiosa por causa desse mesmo controlo e, sim, tinha de admitir que nos últimos anos tinha feito alguns disparates apenas para o irritar. E, no entanto, agora sentia a falta de saber que pelo menos alguém gostava dela a sério. Os irmãos gostavam dela, mas tinham as suas vidas e se ela desaparecesse durante um ano isso não seria um grande problema para nenhum dos dois.

«Mas não queria amar ninguém a sério. Amar significa perder e perder significa sofrer.»

«E a autocomiseração é patética. Cala a boca já.»

Estava já farta das tarefas domésticas. O seu cérebro começava a ficar atrofiado. O testamento estipulava que não podia procurar um trabalho, mas precisava de fazer mais alguma coisa para além de cozinhar, limpar o pó e ver filmes enquanto ficava à espera de ouvir algum ruído no corredor de acesso aos apartamentos.

O segurança e Ella, a empregada dos vizinhos, já deviam estranhar aquele assédio que a levava a abrir a porta para um minuto ou dois de conversa sempre que ouvia o elevador.

Nadia olhou pela janela, mas apenas conseguia ver o seu próprio reflexo no vidro pintado e não os vasos com flores e tomateiros que Mitch lhe tinha enviado. Depois olhou para o relógio de parede. Já eram onze? Em que é que tinha gasto o tempo? Sem um trabalho para ocupar os dias nem eventos sociais para ocupar as noites, o tempo parecia escapar-lhe das mãos.

Lentamente, como uma eternidade.

Deveria arranjar qualquer coisa para fazer, algo que a divertisse. Mas isso teria de esperar pela manhã seguinte. E não contava pedir a ajuda de ninguém. Tinha de resolver o problema sozinha.

O que é que podia fazer para ocupar o tempo antes de ir para a cama? Tendo em conta as três horas de diferença, já era muito tarde para ligar aos irmãos e questioná-los sobre os seus namoros.

Ambos tinham-se apaixonado durante a sua lunática clausura e pareciam não ter qualquer problema em cumprir as condições que lhe tinham cabido no testamento. E a felicidade deles só servia para lhe lembrar que não podia fracassar. O pai e os irmãos estavam à espera que ela não conseguisse, mas a última palavra seria a dela.

Nadia respirou fundo, com mais confiança do que na realidade sentia, antes de ir à procura de um DVD de ginástica. Se fizesse os exercícios pelo menos duas vezes, certamente acabaria por adormecer do cansaço físico.

Tentando reunir algum estímulo, dirigiu-se para o leitor de DVD quando um ruído lhe chamou a atenção. Um ruído nas escadas de segurança? Era demasiado tarde para ser a empregada dos vizinhos, que ia duas vezes por semana, e como a segurança naquele prédio era superior à do Pentágono, era quase impossível que fosse um assaltante.

Então, quem poderia ser? Resmungão, ou seja Gary, o segurança que fazia as segundas-feiras à noite? Ela não gostava lá muito de Gary. Na verdade, não gostava de nenhum dos seguranças.

Mas o Resmungão não costumava fazer a ronda àquela hora. Nadia dirigiu-se para a porta e espreitou pelo óculo.

De costas para ela, um tipo alto, louro e de fato cinzento, estava a enfiar a chave na fechadura do outro apartamento. Tinha uma pequena mala em pele de avestruz na mão esquerda e, pousada no chão, uma mala de viagem Louis Vuitton.

Seria o seu vizinho? Aleluia! Alguém novo com quem podia falar. Quando abriu a porta, o homem voltou-se, surpreendido…

Não. Não podia ser.

Nadia deu um passo atrás e as suas costas chocaram contra o puxador da porta, mas quase nem se deu conta. O seu coração batia a tal velocidade que começava a sentir-se zonza.

Não.

Não podia ser o Lucas.

O Lucas estava morto.

Mas o homem que estava à sua frente era muito parecido com o seu falecido marido.

– Nadia?

De repente, ela começou a ver uns ponto de luz e sentiu que a sua testa ficava coberta com um suor frio. Abriu a boca para encher os pulmões de ar e agarrou-se ao puxador da porta.

– Nadia, estás bem?

Não era capaz de se mexer, não conseguia respirar, nem sequer conseguia pestanejar. Transfigurada, apenas olhava para a aparição que estava à sua frente…

– Baixa a cabeça.

Uma mão forte empurrou-lhe suavemente a nuca, obrigando-a a colocar o queixo contra o peito. Mas as pernas não aguentaram e ela caiu de joelhos com a testa apoiada no tapete.

«O que é que te aconteceu? Por fim, tal como esperava, a tua sanidade mental foi-se.»

«Quando abrires os olhos apenas verás um estranho e não o teu defunto marido. Ou talvez nem sequer aqui esteja alguém.»

Mas a mão segura, cálida e masculina parecia-lhe tão real.

E tão familiar.

Quando as paredes deixaram de andar à roda, Nadia afastou-lhe a mão e, apoiando-se na parede, levantou-se um pouco.

Mas pestanejar várias vezes seguidas não mudou absolutamente nada. O homem que estava ajoelhado ao seu lado continuava a parecer o Lucas Stone. O cabelo louro escuro estava mais curto do que ela se lembrava e o seu rosto mais magro e com algumas rugas à volta dos olhos, mas aqueles eram os olhos cinzentos de Lucas. Aquele era o seu nariz, ligeiramente virado para a direita e aquele era o seu queixo anguloso.

– Tu estás… morto.

Os lábios que tinha beijado inclinaram-se sobre ela.

– Que eu saiba, não.

– O meu pai disse-me… eu não pude ir ao funeral. Eu… ele disse-me que tinhas morrido no acidente.

Com a testa franzida, Lucas agachou-se.