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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Olivia Gates

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A vingança do príncipe, n.º 1033 - setembro 2017

Título original: The Prodigal Prince’s Seduction

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-311-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezasseis

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

– Quero uma hora contigo.

O príncipe Mario D’Agostino ficou petrificado na entrada da sala de baile onde se celebrava o evento de beneficência. Ouviu aquela voz aveludada apesar do rumor da música.

Ouviu a sua suavidade com nitidez, como se por artes mágicas os demais sons que o rodeavam se tivessem calado. E toda a sua penugem se arrepiou, como se acabasse de entrar num campo de electricidade estática.

Mario franziu a testa e virou-se para ver de onde provinha a voz. Então, tudo o resto pareceu desaparecer. Sentiu que o seu coração deixava de bater e que a sua temperatura subia a ponto de entrar em ebulição.

Ainda nas sombras, aqueles olhos pareciam dois pedaços de céu. E olhava-o uma cara de anjo.

– Uma hora. Pago cem mil dólares pelo teu tempo – repetiu aquela criatura impossível.

Mario não pôde conter uma erecção instantânea. Ali mesmo. Só por umas poucas palavras e um olhar. Tentou respirar fundo para se acalmar, mas só conseguiu encher os pulmões com o aroma dela, limpo, com um toque de jasmim e uma overdose de feromonas.

Então, ela saiu das sombras e Mario percebeu que não poderia acalmar as reacções do seu corpo.

Talvez fosse apenas um sonho, pensou ele. Talvez continuasse na sua limusina a sonhar com aquela aparição. Estava há trinta e seis horas sem dormir e, sem dúvida, isso estava a afectar o seu sistema nervoso. Isso explicaria porque aquela mulher representava as suas fantasias mais íntimas. O seu cabelo era uma cascata de seda cor de fogo, a sua tez de azeitona e as suas feições estavam cheias de personalidade e de sensualidade, já para não falar de umas curvas capazes de deixar qualquer homem louco.

Mas ela não era fruto da sua imaginação. Era real.

E tinha-o excitado só ao sussurrar-lhe aquelas palavras, com a sua presença. Nesse instante, a imaginação de Mario transbordava de sons, imagens e aromas de lençóis de seda e membros entrelaçados, de gemidos de prazer.

«Que lhe estava a acontecer? Estaria a ficar louco?», perguntou Mario a si próprio. Sofrera demasiado stress nos últimos meses, talvez só precisasse de descarregar um pouco tanta tensão acumulada.

– Tenho o cheque aqui mesmo – disse ela, rebuscando na mala. – Para a organização de beneficência que tu escolheres.

Mario observou-lhe as mãos, com unhas curtas e por pintar, e imaginou-se a chupar-lhe cada um dos dedos até ela lhe suplicar que a lambesse noutros lados… por todo o lado…

Mario deu um passo para ela, com a intenção de confirmar que a mulher que lhe estava a falar não era uma miragem. Ela cambaleou para trás. Uma maré de pessoas interpôs-se entre eles.

– Príncipe Mario! Por fim chegou!

– Por aqui, príncipe Mario.

– Deve vir por aqui primeiro, príncipe Mario.

– Há alguém que está mortinho por conhecê-lo.

– Mas o meu convidado é mais importante e tem de o conhecer primeiro.

De repente, Mario lamentou ter deixado os seus guarda-costas lá fora para que pudessem dispersar as pessoas que, de forma tão grosseira, violavam a intimidade da sua conversa com ela. Mas talvez não fosse boa ideia. Os seus guarda-costas podiam agir com demasiada brusquidão, sobretudo depois de Jeremiah Langley o ter apunhalado há um mês atrás.

Apesar de lhe apetecer mandar toda a gente para o diabo, Mario não tinha outra opção a não ser escutá-los. Observou que ela retrocedia. Com o cheque na mão.

Mario ligou ao chefe dos seus guarda-costas e ordenou-lhe que a seguisse no caso de ela se ir embora. Não podia arriscar-se a perdê-la.

Então, começou a representar o seu papel de patrocinador da festa, deixando de lado o que realmente queria fazer. Pela primeira vez em anos, havia algo que desejava fazer deveras: vê-la, dar-lhe o que ela lhe pedisse e experimentar as sensações que ela lhe produzia, algo que não sentira… nunca.

 

 

Gabrielle Williamson ficou a olhar para o homem que a multidão arrastava, o homem que sobressaía em altura de entre todos eles.

Portanto aquele era o príncipe Mario D’Agostino.

Gabrielle julgara reconhecer a sua cara, após ter visto inúmeras fotos em jornais e revistas. Mas não. As fotos não faziam jus ao príncipe solteiro mais cobiçado do mundo.

Na realidade, ele parecia um… deus.

E ela abordara-o com uma oferta patética, pensou. Quanto podia valer uma hora com um deus?

Quando já não conseguiu continuar a ver os olhos dele, que pareciam estrelas, Gabrielle estremeceu. E começou a tremer.

O que lhe estava a acontecer? Pretendera surpreender com a sua oferta para que ele aceitasse escutá-la, sem perguntas. Queria poder falar com o príncipe sem lhe dizer quem era, livre dos preconceitos que o seu nome suscitaria nele.

Mas, ao vê-lo em carne e osso, tinha ficado em branco.

Gabrielle esquecera onde estava, o que pensara dizer, e só conseguira ficar estupefacta. Saíra das sombras quando ele a obrigou a fazê-lo, só com a força de atracção do seu olhar. Então, ele tinha-a examinado… de alto a baixo.

A seguir, uma maré de gente tinha-lho levado, evitando-lhe fazer figuras ridículas diante dele. Também impedira que ele aceitasse a sua oferta. E tinha estado a ponto de o fazer. Ou talvez ela o tivesse imaginado.

Mas era estranho. Gabrielle era uma divorciada de trinta anos, não costumava imaginar coisas e não acalentara fantasias nem sequer quando era criança. Era filha única de uns pais arruinados pela bancarrota e pela depressão, o que não a tinha ajudado muito a sonhar.

E isso fazia parte da agitada viagem que a levara até ali nesse dia, com a missão de salvar a sua empresa da bancarrota, para além de saldar a sua dívida para com o homem que apoiara a sua família durante aqueles anos desesperados: o rei Benedetto de Castaldini, pai do príncipe Mario.

Depois de o pai de Gabrielle ficar na ruína, o rei, amigo e antigo sócio, tinha-o convencido a mudar-se com a sua família para mais perto, para a Sardenha, para os poder ajudar melhor. E Benedetto tinha-os ajudado de sobra antes e depois de o seu pai morrer, seis anos depois. O rei tinha-as mantido, a ela e à mãe, e pagara a sua educação até ela acabar o curso de Jornalismo.

Desde então, Gabrielle tinha-se disposto a pagar as dívidas da família com juros. Mas a dívida emocional era maior do que a dívida económica.

Aproveitando os bons conselhos financeiros do rei, Gabrielle fizera investimentos na bolsa de Castaldini. Por isso, em parte, a sua empresa Publicações Le Roi estava em perigo. O país tinha-se sumido numa grave crise após o enfarte do rei há seis meses. O seu prognóstico não era muito favorável e, quando a notícia se propagou, o mercado de valores de Castaldini caíra em picado.

O rei tinha-lhe ligado há umas semanas e combinara falar com ela por videoconferência. Tinha-lhe dito que tinha a solução para todos os seus problemas.

Gabrielle recordou o telefonema…

Ela tinha estado a pensar como recusar a sua oferta de ajuda, pois não queria voltar a endividar-se com o rei. No passado, para lhe devolver o dinheiro que tinha emprestado à sua família ao longo dos anos, fizera algo tão estúpido como casar-se com Ed. Mas… poderia dar-se ao luxo de recusar a sua ajuda nesse momento, quando as centenas de empregados da sua empresa dependiam dela?

Então, um estranho aparecera no ecrã de videoconferência. Gabrielle demorara uns segundos a perceber que era o rei. O homem de setenta e quatro anos, antes em forma e forte, tinha-se transformado num idoso que parecia ter cem anos.

As lágrimas de Gabrielle transbordaram ao vê-lo.

– Fico contente por te ver, figlia mia.

– E… eu também fico contente por o ver, rei Benedetto.

– Não é preciso fingires, Gaby. Sei que deve ser um choque para ti veres-me assim. Mas tinha de falar contigo cara a cara porque tenho de te pedir um favor de valor incalculável.

«Ele ia-lhe pedir um favor?», perguntara Gabrielle a si própria. A mera possibilidade de ser útil ao rei infundiu-lhe energia.

– Pode-me pedir o que quiser, rei Benedetto.

– Uma vez quiseste propor ao meu filho Mario fazer um livro acerca da vida dele.

Ela assentira, franzindo a testa. Queria fazer uma biografia sobre o príncipe, mas ele tinha-se negado a falar da sua vida.

Isso acontecera antes da morte da sua mãe e, desde então, Gabrielle tinha-se esquecido do assunto. E tinha-se esquecido também dos seus sonhos, deixando-se afundar na depressão.

Desde que regressara a Nova Iorque, Gabrielle não fizera amigos, só inimigos. Tinha colegas e empregados, mas não tinha entabulado nenhum relacionamento próximo com nenhum deles. Os tios viviam no estrangeiro. Ao princípio, os homens tinham-se aproximado dela pensando que ela era rica; depois o seu casamento fora um falhanço, tal como as suas tentativas de o esquecer nos braços de outros homens. A morte da mãe fora o último elo na corrente da sua depressão.

A única coisa que a tinha feito não desistir era saber que o trabalho dos seus empregados dependia dela. Isso tinha-lhe dado forças para se ir mantendo à tona.

– Sinto-me responsável pelos teus problemas económicos – disse o rei, tirando-a das suas lembranças.

– Por favor, não, rei Benedetto. Não é culpa sua.

O declive da empresa de Gabrielle começara com a descoberta da doença terminal da mãe. Uma parte dela morrera com a mãe, uma parte que não sabia como ressuscitar. A crise de Castaldini fora só a gota que fizera transbordar o copo.

E ela não era a única afectada. Muitas empresas pequenas que tinham investido em Castaldini estavam a cambalear. Apesar de o novo regente, o príncipe Leandro D’Agostino, ter intervindo para salvar a sua economia, o golpe inicial fora muito grave. Para além disso, como regente, Leandro não podia prometer ao país a estabilidade a longo prazo de que precisava.

– O Mario poderia fazer ressuscitar a tua empresa, tanto com um best-seller como de outras formas, se ele quisesse.

Isso já os conselheiros de Gabrielle lhe tinham dito, que só um best-seller ou a fusão com uma companhia poderosa a poderia salvar. O príncipe Mario podia satisfazer ambas as opções. Mas ele já recusara a sua proposta anteriormente.

– Acha que o Mario estaria disposto a considerar a minha oferta agora?

– Eu não disse isso.

– Então, o que é que mudou?

– A tua situação. E a minha.

Gabrielle não entendia porquê mas, ao que parece, o rei pensava que ambos podiam obter algo de positivo com a sua aproximação a Leandro.

– Vou pensar…

– Estou a pedir-te que o faças, Gaby – interrompera-a o rei. – E não quero só que assines um contrato com ele. Faço questão de que te ofereças para lhe escrever o livro. Quero que trabalhes com ele o mais de perto possível, para que o possas convencer a voltar para Castaldini.

Gabrielle não conseguia compreender…

– Partiu há cinco anos, dizendo que não regressaria enquanto eu vivesse. E manteve a sua promessa. Nem sequer me ligou quando sofri o enfarte.

O coração letárgico de Gabrielle dera um salto e um cúmulo de sentimentos tinha despertado dentro dela: surpresa, indignação… raiva.

Que tipo de monstro faria isso ao pai e a um grande homem como Benedetto? Ela sempre admirara Mario pelo seu sucesso e pelas suas qualidades. Tinha-se transformado num dos homens mais ricos e poderosos do mundo.

– Porquê toda essa… animosidade?

– O Mario culpa-me de coisas terríveis; eu não lhe pude demonstrar que não sou responsável por elas.

Muito bem, pensou Gabrielle. Portanto era mais complicado do que parecia. Não devia formar uma opinião de antemão, pensara.

– Mas não importa o que ele pense. Tem de voltar, Gaby. Não sou a única pessoa que precisa do meu filho, Castaldini precisa do seu poder e influência.

«Mas que podia fazer ela a esse respeito?», tinha perguntado Gabrielle a si própria.

– Sei que podes fazer alguma coisa. Vais-te aproximar dele sob um novo ponto de vista, com preocupações legítimas sobre a tua empresa. Mas dá-me a tua palavra de como não lhe dirás que me conheces. Isso fá-lo-ia mandar-te directamente à fava. E não podemos permitir isso, nenhum de nós os dois. A situação é muito grave. Quero que faças o impossível para que o Mario volte, qualquer coisa.

Gabrielle continuava a recordar as palavras do rei, um tempo após a conversa. Estava claro o que Benedetto tinha insinuado, que recorresse a qualquer coisa. Inclusive à sedução.

Ela tinha-se resignado à sua reputação de mulher fatal. Mas magoava-a que até o rei pensasse que a sedução era uma das suas armas. Sem dúvida, Benedetto devia sentir-se muito desesperado para resolver o futuro do seu país.

E o que o rei lhe tinha proposto era uma causa justa. Se ela tivesse sucesso, toda a gente sairia a ganhar. O rei recuperaria o filho, Castaldini teria um homem forte para superar a crise e ela salvaria a sua empresa da bancarrota. Mas, decerto, não pensava utilizar artimanhas femininas para o conseguir.

No entanto, o maldito príncipe nem sequer respondia às suas mensagens. A Gabrielle só lhe ocorria uma razão. O mais provável era que ele já tivesse pesquisado sobre ela e tivesse dado com a mentira que toda a gente julgava sobre ela.

Furiosa, Gabrielle ligara a um amigo que lhe tinha proporcionado a agenda do príncipe para a semana seguinte. Por isso, tinha sabido daquele leilão de beneficência. E pretendia interceptá-lo e fazer-lhe uma oferta que ele não pudesse recusar.

Até ao momento, só conseguira enunciar cinco frases.

Mas precisava de resultados. Portanto entrou no salão de festas e, assim que o fez, encontrou-se com o olhar dele do outro lado do salão. Ao que parece, o príncipe tinha estado a procurá-la, esperando que ela entrasse.

Gabrielle ficou sem respiração enquanto ele a perfurava com os olhos e pensou que, depois de tudo, talvez não fosse assim tão mau não ter a oportunidade de falar com ele a sós.

Ela achava que conhecia todo o tipo de homens, mas o príncipe D’Agostino, por sua vez, parecia escapar a qualquer tentativa de classificação. Algo dentro dela advertiu-a que ele era perigoso.

Devia ir-se embora, pensou Gabrielle. Nesse instante.

Para isso, devia, primeiro, afastar os olhos dele.

Quando, por fim, conseguiu chegar à porta, escutou um grave sussurro nas suas costas.

– Não se vão embora ainda.

Ao ouvir aquela voz, Gabrielle teve a certeza de que ele se dirigia a ela. Então, virou-se e viu que ele estava diante do microfone, com o olhar posto nela.

– Senhoras e senhores, obrigado por terem pago a entrada de dez mil dólares – disse ele. – E, agora que já cá estamos todos, passaremos directamente a fazer a verdadeira angariação. Têm a lista do leilão mas, após determinado… incidente, decidi fazer algumas mudanças. O primeiro objecto pronto para licitação… sou eu próprio.