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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Olivia Gates

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O rei ilegítimo, n.º 1038 - setembro 2017

Título original: The Illegitimate King

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-315-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

– Não sabia que existiam homens tão perfeitos!

Clarissa D’Agostino franziu a testa ao escutar a sua amiga e continuou a esfregar a nódoa de ameixa do vestido de noite.

– De que estás a falar?

– Estou a falar… daquele ali.

Clarissa levantou a cabeça, não para procurar o objecto da admiração da amiga, mas para comprovar se esta estava bêbada.

– Eu pensei que era imponente de perfil… De frente está muito melhor – comentou Luci, abanando-se.

Clarissa olhou-a fazendo uma careta. Luciana Montgomery, convencida feminista e educada nos Estados Unidos, não costumava babar por nenhum homem. De facto, ela nunca a tinha ouvido elogiar o físico de um homem, nem nos Estados Unidos, onde andaram na universidade juntas, nem em Castaldini, um país cheio de homens imponentes.

Era estranho, pensou Clarissa. E começou a parecer-lhe absurdo quando a sua amiga lhe agarrou no braço com excitação.

– Está a olhar para aqui! – exclamou Luci.

– Achei que só tinhas bebido um copo de champanhe, Luci – comentou Clarissa e virou-se para observar o homem que transformara a jovem mais séria que conhecia numa adolescente namoradeira.

A sala estava cheia de homens que Clarissa não conhecia. Embora fosse a princesa de Castaldini, tinha estado fora do seu país muito tempo e nunca tivera uma vida social muito activa na corte. Mas, entre todos eles, Luci só podia estar a referir-se a um, pensou.

Não era perfeito, mas mais do que isso. Ultrapassava todos os adjectivos que Clarissa conhecia. Mal podia crer que fosse de carne e osso.

Embora fosse. E estava a olhar para elas. Para ela.

Clarissa sentiu que o coração lhe saía do peito. O tempo pareceu deter-se. Tudo o que a rodeava se desvaneceu. Só uma coisa existia para ela. Os olhos daquele homem. Como céus de tormenta iluminados por relâmpagos. E estavam a olhar para ela.

Clarissa estremeceu ao ler naqueles olhos as mesmas sensações que a percorriam a ela. Uma corrente invisível ardia entre os dois.

De repente, ele pestanejou e desviou a vista. Clarissa deu conta do porquê. O pai dela chegara.

O rei Benedetto aparecera por trás dele, com um amplo sorriso.

O homem olhou para o rei como se não o reconhecesse. O rei falou, o homem escutou. Guiada por uma força misteriosa, Clarissa aproximou-se deles. Precisava de estar perto. Então, o homem virou-se de novo e voltou a olhá-la nos olhos.

Ela deteve-se. Deixou de respirar. O coração deixou de bater. Sentiu-se como se lhe tivessem atirado um balde de água gelada.

O olhar dele era inconfundível. Estava cheio de frieza. Hostilidade. O que só podia significar uma coisa, pensou Clarissa. Tinha-se enganado há uns minutos. O que vira nos seus olhos não podia ter sido atracção.

Antes que pudesse dar meia volta, sentindo-se mortificada pelo seu erro, o homem virou-se e afastou-se do rei.

Clarissa ficou ali parada, sentindo-se como se lhe tivessem cravado um punhal no peito. A voz de Luci fê-la regressar ao mundo real.

– Santo céu! Quem era aquele?

Clarissa era incapaz de pensar. Nem de falar.

– O selvagem homem de ferro – disse Stella, irrompendo entre as duas.

Desde que eram meninas, Stella tentara sempre fazer a vida impossível a Clarissa. Por sorte, eram só primas terceiras, de modo que ela não tinha de vê-la com muita frequência. Embora tivesse gostado de não a ver nunca.

– Eh? – disse Luci, sem entender.

– É Ferruccio Selvaggio, armador multimilionário. Aos trinta e dois anos, é um dos homens mais ricos do mundo. É cruel e imparável e não consente que nada nem ninguém se interponha no seu caminho. Daí lhe vem a alcunha, que também resume o significado do seu nome e apelido.

– Isso dizes tu – disse Luci com uma careta.

– Di-lo todo o mundo. É malvado. Mas, a julgar pelo entusiasmo do rei, parece que está disposto a ignorar esse detalhe, bem como o facto de Ferruccio ser um filho bastardo, em troca de que o multimilionário invista o seu dinheiro em Castaldini.

– Céus, Stella, que língua… Espero que não te tomem como exemplo da realeza – comentou Luci. – Seria muito injusto que por tua culpa todas as princesas ganhassem a reputação de cadelas perversas.

– Já que tu és uma cadela cruzada, Luciana, não tens de te preocupar com isso. Mas isso torna-te na mercadoria perfeita para ele. Embora o sangue azul nas tuas veias esteja muito diluído, pode bastar para que ele obtenha o seu título de nobreza. Com todo o dinheiro que tem, pode ser uma boa troca.

Luci continuou a discutir com Stella, enquanto Clarissa se afastava delas. Não podia suportar as vis palavras de Stella.

Clarissa caminhara um bom bocado entre a multidão quando algo a fez virar-se.

Ele estava a dirigir-se para onde ela tinha estado. «Estaria à sua procura?», perguntou-se Clarissa e começou a voltar atrás, emocionada.

O homem em questão deteve-se junto de Luci e Stella. «Estar-lhes-ia a perguntar por ela?», indagou Clarissa.

Ao estar bastante perto, pôde ouvir a profunda voz dele com um inconfundível tom de sedução.

Algo se retorceu dentro de Clarissa, como um papel a ponto de se tornar em cinzas pelas chamas. Os seus pés mudaram de direcção imediatamente, até que quase desatou a correr para a saída. Ao chegar à esplanada do salão, obrigou-se a respirar.

Que tonta era.

Tinha imaginado tudo. Achava que ele podia sentir a mesma atracção que ela sentia. Mas ele tinha reparado em Luciana, não nela. Ou, talvez, olhasse para todas as mulheres com o mesmo gesto sedutor com que tinha olhado para ela.

Tentando conter as lágrimas de frustração e desengano, Clarissa ocultou-se entre as sombras.

Não servia como princesa, pensou ela. Mas o seu pai tinha-lhe pedido que tomasse parte activa na corte e no reino, ao seu lado, ocupando o lugar da sua mãe. Era a primeira coisa que o seu pai lhe tinha pedido. E ela não o decepcionaria.

Clarissa tentou endireitar as costas, virou-se e chocou contra um muro de forte e fogosa masculinidade. Ele.

Ela deu um tropeção para trás, começou a desculpar-se, tentou passar ao seu lado, tomada pela comoção.

Mas ele bloqueou-lhe a passagem. Sem tocá-la, a sua mera presença envolveu Clarissa num abraço do qual não podia escapar. E quando os seus olhos se encontraram, ficou petrificada.

Ele olhava-a com a mesma intensidade que ela percebera a primeira vez.

Clarissa estremeceu, o mundo começou a dar voltas ao seu redor. Então, viu como os lábios dele se moviam. A sua voz era profunda e bem tépida, hipnótica e irresistível.

– Vou-me embora. Tu também não estás a gostar da festa. Vem comigo.

Ela levantou a vista para o olhar nos olhos. Era demasiado… perfeito. Alto, com rasgos de deus do Olimpo, cara de anjo, corpo de ouro, bronze e ferro…

Era perigoso, matutou Clarissa, sem respiração. Se aquele homem a podia afectar desse modo com um só olhar, era realmente letal.

Os olhos dele irradiavam uma atitude possessiva indiscutível. A mesma que mostrara na primeira vez que ela o tinha visto. E depois? Por que a tinha olhado com tanta frieza? Por que usava os seus encantos com as outras duas mulheres?

«A que estaria a jogar?», perguntou-se Clarissa. Na volta, ele esperava que todas as mulheres se rendessem a seus pés e, depois de ter conquistado Luci e a víbora da Stella, decidira ir atrás dela. Mas porquê?

Ele deu um passo para ela, cheio de segurança. O seu corpo, além do mais, vibrava com algo parecido a… desejo?

Clarissa ficou extasiada, incapaz de reagir, esperando que ele falasse de novo.

– Não sabes se podes confiar em mim? – perguntou ele. – Deves saber que podes.

Clarissa continuava a olhar para ele, muda.

– Pensei que podíamos obviar os formalismos, que podíamos desfrutar desta… – começou a dizer ele e exalou. Tocou o coração e assinalou o coração dela – desta ligação, sem interferências exteriores. Porventura é pedir demasiado – acrescentou e suspirou. – Vamos para dentro. Encontraremos o teu pai. Ele poderá falar a meu favor.

Ele sabia quem ela era, reflectiu Clarissa.

Por isso estava ali e não com as outras mulheres. Não era por ela. Só estava à procura da princesa Clarissa D’Agostino, a filha do rei. Era como todos os demais, pensou.

Stella dizia que procurava alguém de sangue azul com quem se casar para conseguir um título real. Quiçá tivesse razão.

Caso contrário… por que iria reparar nela?

Nunca ninguém a tinha querido deveras, pensou Clarissa.

– Não será necessário, senhor Selvaggio – disse ela por fim, abatida pela humilhação.

– Conheces-me?

– Falaram-me de si. Ferruccio Selvaggio, armador e potencial investidor em Castaldini.

– Neste momento, sou só um homem que quer desfrutar do prazer da tua companhia durante o resto do serão. Senta-te comigo ao jantar.

Não era um convite, mas uma ordem, observou Clarissa. E ela aceitaria sem pestanejar se não fosse porque sabia que a aproximação dele não era nada desinteressada.

Ela inclinou a cabeça, tentando agir como os professores de etiqueta lhe tinham ensinado a comportar-se para sair de situações indesejadas.

– Obrigada pelo convite, senhor Selvaggio. Mas a minha… situação não me permite… estar consigo. Estou certa de que poderá encontrar outra pessoa que o acompanhe.

Ele ficou tenso, como se acabasse de receber uma bofetada na cara. Ela tinha-lhe dado a provar o seu próprio remédio. Se ele a queria pelo seu título real, ela tinha-lhe feito ver que não o queria a ele pela mesma razão.

Por fim, ele encolheu os ombros.

– É uma pena. Mas talvez chegue um dia em que a tua… situação não te deixe outra opção senão estar comigo – assinalou ele, inclinou a cabeça, virou-se e, antes de ir, olhou-a por cima do ombro para murmurar: – Até lá.

Capítulo Um

 

Seis anos depois.

Finalmente, pensou Ferruccio Selvaggio, sorrindo num misto de amargura e satisfação.

Tinha conseguido ter Clarissa D’Agostino onde desejava.

Ferruccio esperara demasiado tempo pela chegada daquele momento. Seis anos. Ela tinha-o andado a evitar durante todo aquele tempo. A princesa que achava que toda a sua riqueza e poder não bastavam para o tornar digno de si e da sua linhagem. Não era mais do que uma mulher de sangue azul que achava que os bastardos, por muito influentes e ricos que fossem, não mereciam ser tratados com dignidade.

Naquele dia, apesar de todo o seu desprezo, a princesa tinha descido da sua altivez para pedir para se reunir com ele.

E, se tudo saísse como previsto, Ferruccio faria com que ela se inclinasse perante ele de outras formas para além daquelas que ela imaginava.

Possuí-la-ia, para começar.

Ele tinha andado a fantasiar com a forma como a iria possuir desde a primeira vez que se tinham cruzado. Não conseguia esquecer o olhar dela…

Tinha sido a primeira vez que Ferruccio tinha estado presente num acto da corte. Tinha-se sentido um pouco inseguro, sem saber o que pensar. A maioria dos que ali estavam reunidos pertencia ao clã D’Agostino.

Supostamente, da sua família.

Mas ele não tinha o mesmo apelido que eles. Os seus pais não o tinham reconhecido como filho e outra família tinha-lhe dado o nome que tinha naquele momento.

Ferruccio tinha descoberto há muito que era um D’Agostino. Naquela altura, ele tinha exigido o reconhecimento público da sua origem. Os seus pais, no entanto, tinham estado dispostos a tudo menos àquilo. Ele dissera-lhes, então, o que podiam fazer com as suas mostras de amor e de apoio. Conseguia sobreviver sem eles. Traçara o seu caminho só, sem a ajuda deles.

Com o passar do tempo, atingira o sucesso e achava que estava na altura de conhecer o lugar que deveria ter sido o seu lar por direito próprio: a corte. Tinha curiosidade em saber como eram as pessoas ali, aqueles que deveriam ter sido a sua família. Queria saber se tinha perdido alguma coisa, se estava a tempo de recuperar as raízes que nunca tivera.

Depois, Ferruccio fora à corte do rei e todos lhe tinham dado as boas-vindas, começando pelo próprio rei. No entanto, ele não recordava mais ninguém após tê-la visto por entre a multidão.

Tinha-a visto de costas, com a cabeça inclinada, concentrada em esfregar algo no vestido violeta que envergava. E a partir daquele momento, ele não conseguira desviar os olhos dela.

Surpreendido e cativado, Ferruccio sentia a necessidade de vê-la de perto, de olhá-la nos olhos. Naquela altura, ela tinha-se virado para ele. Os olhares tinham-se cruzado e uma atracção irrefutável fluíra entre eles. Ele sentia aquela mulher como a materialização de todas as suas fantasias.

Fisicamente, ela reunia todos os principais requisitos: tinha o cabelo da cor das praias de Castaldini, pintado com raios de sol. O seu corpo era, ao mesmo tempo, exuberante e esbelto, e mostrava a feminilidade mais extraordinária. E o seu rosto era perfeito.

Mas tinham sido os seus olhos violetas e o que tinha visto neles que conquistaram Ferruccio.

Acreditava ter descoberto uma última qualidade naqueles olhos, algo que o tinha atraído por completo: uma imperceptível fragilidade.

Mas estava enganado. Clarissa D’Agostino era tão frágil como um icebergue de gelo.

No entanto, Ferruccio continuava a recordar a forma como, naquele momento, tinha sentido uma intensa ligação a ela. E tinha ardido de humilhação ao recordar o que tinha conseguido por se ter deixado levar pela sua intuição, quando ela o tinha olhado como se estivesse louco e o tinha aconselhado a procurar alguém mais apropriado para… a sua classe.

Desde aquela noite, Clarissa tinha-lho repetido dúzias de vezes. Tinha-o feito de forma implícita de cada vez que recusava os convites que ele não parava de lhe enviar. A sua rejeição não fazia outra coisa senão aumentar ainda mais a frustração e a raiva dele, que podia ter tudo o que quisesse, excepto ela.

Mas, finalmente, aquilo ia mudar, pensou Ferruccio. De uma forma ou de outra.

Dar-lhe-ia uma boa lição. Muitas lições. E desfrutaria com aquilo.

Ferruccio apoiou-se no corrimão e deteve o olhar no horizonte. O sol estava a começar a descer sobre o imenso azul do mar.

Além da vista espectacular, a partir daquela esplanada conseguia vislumbrar-se a estrada ondulante pela qual ela iria chegar…

No entanto, algo nublava a sua satisfação. Ela não o ia ver por vontade própria. Não corria para ele desejando estar ao seu lado, como Ferruccio tinha sonhado em inúmeras ocasiões.

O que é que iria acontecer se ela corresse para ele com o olhar repleto de paixão? Ferruccio cerrou os lábios e desviou o olhar da estrada.

Devia aceitar a realidade, pensou ele. Ela tinha deixado bem claro quais eram os seus sentimentos naquela primeira noite e tinha-os confirmado ao longo de seis intermináveis anos.

Mas apenas uma coisa importava naquele momento: ela não tinha escolha. Não podia recusá-lo novamente. E ele tencionava saborear cada segundo da sua rendição.

Ferruccio olhou para o relógio. Faltavam dez minutos.

Estava na altura de dar os últimos retoques ao seu plano.

 

 

– Até lá.

Aquelas palavras, ditas por um homem tão perigoso como Ferruccio na sua primeira conversa, nunca tinham abandonado Clarissa.

Não as tinha conseguido esquecer ao longo de seis anos.

Há vinte e quatro horas, Clarissa descobrira que tinha chegado o momento.

Ferruccio Selvaggio tinha-a encurralado.

Ela respirou fundo e olhou através dos óculos de sol para a paisagem que estavam a percorrer de limusina.

O sol estava a descer e, em breve, o mar tingir-se-ia de centenas de tons coloridos, até ficar azul-escuro.

Mas ela olhava para a paisagem sem a ver. Os pensamentos estavam centrados no seu interior, onde tudo era cinzento, caótico.

Devia acalmar-se. Respirar.

Lentamente, respirou o ar fresco que entrava pela janela.

No entanto, Clarissa não conseguiu recuperar a calma. Tinha-a perdido no dia anterior, quando o seu pai interrompera a sua primeira visita oficial aos Estados Unidos para lhe dar a notícia. Uma notícia que a tinha perturbado profundamente.

Clarissa não conseguia acreditar que o seu pai estivesse tão desesperado para encontrar um príncipe herdeiro.

A coroa dos Castaldini não passava de pai para filho, embora a sucessão dependesse do mérito do candidato. Com a aprovação do conselho real, o rei devia eleger o seu herdeiro dentro da família D’Agostino. Devia ser um homem de reputação impecável, saúde de ferro, sem vícios, de sólida linhagem, um líder com carisma e carácter e, sobretudo, alguém que procurasse o seu próprio sucesso no mundo.

Quando o rei anunciou o primeiro candidato, Clarissa não tinha ficado surpreendida. Leandro, o príncipe que o seu pai tinha exilado do reino há sete anos, deixando-o sem título e nacionalidade.

Ela acreditava que Leandro era o melhor candidato à coroa. E que estava na altura de esquecer as velhas quezílias e pensar no melhor para Castaldini. Mas quando lho tinham oferecido, Leandro fizera algo inesperado: tinha recusado a oferta.

Depois, o rei tinha escolhido outro candidato ainda mais difícil: o seu filho mais velho, Mario. E, marcando uma meta sem precedentes na história de Castaldini, tinha conseguido que o conselho aceitasse uma correcção à lei que não permitia que o filho do rei herdasse a coroa.

Clarissa tinha ficado emocionada com a ideia. Ela sempre tinha pensado que as leis de sucessão eram injustas e que, embora pudessem proteger o reino de herdeiros inapropriados, no caso de Mario estavam a impedir que subisse ao trono quem melhor podia reinar.

Quando Mario chegou a Castaldini com a sua noiva, Clarissa esperava que o seu pai e o seu irmão pudessem, finalmente, resolver os seus conflitos. Tudo apontava para que houvesse um final feliz para a sua família e para Castaldini.

O rei e o filho tinham feito as pazes, mas para surpresa de todos, Mario também recusara a coroa.

Clarissa tinha tentado falar com ele, mas Mario andava demasiado ocupado a preparar o casamento e, depois, desaparecera com a sua esposa de lua-de-mel.

Principessa