des267.jpg

 

HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1998 Jennifer Greene

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A minha bela adormecida, n.º 267 - novembro 2017

Título original: Her Holiday Secret

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-630-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Quando Maggie Fletcher abriu os olhos, tudo à sua volta lhe parecia branco. Barulho branco, dor branca, paredes brancas, lençóis brancos.

A última lembrança era a de uma explosão, com cores vivas. Algumas imagens surgiam na sua mente. Maggie tinha quase a certeza de que estivera a conduzir sozinha. Nevava e a noite era escura. E então, de repente, metal bateu contra metal e todas as cores explodiram. Depois, nada mais.

Ela percebeu que estava deitada numa cama de hospital, o corpo tão dorido que era tolice preocupar-se com o facto de o seu cérebro não estar a funcionar. Não perdera a consciência, apenas a memória. Não sabia o seu nome, nem quem era. Tinha a sensação de que a sua cabeça se esvaziara, mas tinha a desagradável impressão de que algo terrível acontecera e que era culpada.

– Muito bem. Finalmente, acordou – a enfermeira tinha rosto redondo e cabelos castanhos. O sorriso era doce, mas o olhar, preocupado. – O meu nome é Gertrudes, mas todos me tratam por Gert. Não tente fazer muito esforço, querida. Vou verificar o seu pulso e a sua tensão.

Tinha a garganta seca e a voz tão fraca que teve dificuldade em comentar:

– Aconteceu algo. Acho que foi um acidente…

– Sim.

– Fui eu que o causei? Oh, meu Deus, está alguém ferido?!

– Bem, não conheço os pormenores. Ninguém nos conta bem o que aconteceu, mas, quando Berta a trouxe de ambulância, disse que a menina tinha batido com a cabeça. Não me pareceu que fosse culpa sua– Gert dirigiu um feixe de luz para os olhos dela e depois apagou-o. – Está a sentir-se um pouco confusa e desorientada?

– Não me consigo lembrar…

– Isso é normal, querida. Seja paciente. Um acidente é sempre um choque e, quando o organismo liberta adrenalina, algumas vezes a mente fecha-se, como se quisesse descansar um pouco – Gert colocou-lhe dois dedos no pulso e depois mediu-lhe a tensão. – Pode ficar tranquila. Não poderá participar em nenhum concurso de beleza nos próximos dias, mas não partiu nenhum osso, nem houve danos internos. Aposto que tem a impressão de ter sido atropelada por um camião. Tem um enorme galo na testa e algumas escoriações, mas ficará boa em pouco tempo. O doutor Howard virá vê-la mais tarde. Estávamos à espera que acordasse. E o xerife também quer falar consigo. Conhece Andy Gautier? É um amor. Se concordar, Andy gostaria de lhe fazer algumas perguntas sobre o que aconteceu.

– Não imagino em que é que posso ajudar… – a sua voz tornou-se mais forte e conseguiu visualizar melhor o quarto. – Bolas! Não me consigo lembrar de nada!

– Tenha calma. Se está preocupada, vamos tentar algumas perguntas fáceis. Sabe como é que se chama?

Aliviada, respondeu:

– Maggie Fletcher.

– Acertou. E a sua carta de condução diz que tem vinte e nove anos, cabelo loiro, olhos verdes, cinquenta quilos. Reconhece-se?

Maggie teria abanado a cabeça, mas qualquer movimento a fazia sofrer.

– Acho que menti sobre o peso.

– Todas nós mentimos, querida – comentou, rindo. – E quanto à sua morada? Pode dizê-la.

– 302 River Creek Road.

– Muito bem, mas vamos tentar algo mais difícil. Sabe que dia é hoje? Onde é que está?

– Sim, hoje é quinta-feira, depois do dia de Acção de Graças. Nunca estive aqui, mas deve ser o hospital de White Branch.

A preocupação no rosto da enfermeira desapareceu e Maggie achou que também deveria ficar tranquila. Estava tudo na sua memória, como se alguém tivesse acendido uma lâmpada e as suas recordações voltassem aos poucos. Lembrava-se da sua casa, do trabalho, do jantar em casa da irmã, na véspera. Estava tudo em ordem.

Excepto pelo facto de ainda não recordar um único pormenor após o jantar na residência de Joana. O que acontecera nas vinte e quatro horas anteriores ao acidente? Isso não teria importância se não experimentasse a sensação de ter feito algo de muito errado.

– Vê, Maggie? O que é que eu lhe disse? Está a começar a lembrar-se. Teve um acidente grave e é bastante normal que se sinta um pouco confusa. Afinal, bateu com a cabeça.

– Mas ainda há coisas que não recordo. Não sei aonde ia. Não me lembro de nada do que fiz nesse dia. Porque é que conduzia à noite? Como se deu o acidente? Não me está a mentir? Houve feridos? Foi culpa minha?

– Se soubesse mais alguma coisa, dir-lhe-ia. A verdade é que não sei, mas faremos um acordo. Feche os olhos por alguns minutos. Está a soro e não quero que saia da cama sem me chamar. Vou procurar o médico e, se ele concordar, chamarei Andy. Vocês poderão conversar por alguns minutos e saberá mais pormenores. Está bem assim?

Assim que Gert saiu, o doutor Howard entrou, examinou Maggie e saiu também. Eram parecidos. Apertavam onde lhe doía, davam-lhe ordens e afirmavam: «Você está bem. Não se deve preocupar. Uma falta temporária de memória é normal após um acidente traumático».

Ao ficar sozinha, Maggie recostou-se na almofada, exausta de tantos cuidados.

Do outro lado da porta, ouvia-se o barulho de cadeiras de rodas, telefones a tocar e vozes. A única vez que estivera num hospital fora para tirar as amígdalas, aos seis anos de idade.

Maggie detestava hospitais. A cama era desconfortável, o quarto, asséptico e impessoal. Além disso, não gostava que tomassem conta dela. Queria ir para casa.

Doía-lhe a cabeça e as costelas e tinha o corpo repleto de hematomas. Maggie acreditava que, se ao menos estivesse no seu próprio leito, se iria sentir melhor. Poderia descansar e reflectir.

 

 

Maggie abriu os olhos, após uma breve soneca, consciente do sentimento de culpa que a perturbava. Devia haver uma razão para isso. Tinha que se lembrar…

– Maggie Fletcher? Maggie?

Esquecera-se de que o xerife também viria falar com ela. Quando viu o homem parado à porta, duvidou que pudesse cometer o mesmo erro uma segunda vez.

Havia ocasiões em que Maggie não se importava de conhecer um homem atraente. Aquela noite, porém, com certeza, não era uma delas. Sentia-se ferida e abatida demais para que as suas hormonas funcionassem, mas parecia que algumas mais teimosas estavam atentas. Ocorreu-lhe que o estranho poderia excitar até uma mulher em coma sem fazer nenhum esforço.

– Maggie, sou o xerife, Andrew Gautier… Andy – aproximou-se da cama e estendeu-lhe a mão.

O cumprimento durou menos de dois segundos, mas Maggie adorou sentir a palma da mão forte e quente, o gesto directo como ele parecia ser.

– O médico disse-me que poderíamos conversar. No entanto, se não se estiver a sentir bem, deixaremos para mais tarde. Há sempre alguns formulários a serem preenchidos após um acidente. Não é a minha actividade favorita, mas estava por aqui e tenho tendência a adiar essa parte burocrática, se não a fizer logo. E Gert acha que a menina se sentirá melhor, se eu a ajudar a recordar alguns pormenores do acidente.

– Seria óptimo.

– Está bem… – Andy puxou uma cadeira, tirou um pequeno bloco do bolso do casaco e esticou as pernas.

Ele era mesmo muito bonito, com os seus cabelos e olhos pretos. Não usava farda. Estava vestido como se lhe tivessem telefonado para casa e tivesse tido que sair a correr a meio da noite, com um blusão de couro e umas calças de ganga velhas e confortáveis. A pele era morena e o queixo possuía linhas fortes.

Andy era encantador. Contudo, os olhos deixavam-na inquieta. Profundos, escuros, perspicazes. Se representava a lei, deveria estar a olhar para Maggie de modo impessoal. Porém, fitava-a com mais interesse masculino do que Maggie estava acostumada.

Ela suspirou. Deveria estar louca, a imaginar coisas. O xerife não podia estar interessado. O acidente deixara-a confusa, apenas isso.

– Estou toda estropiada. Devo parecer um trapo que o gato encontrou no beco e levou para casa.

– Vejo alguns hematomas – sorriu Andy. – Se o meu gato a tivesse levado para casa, dar-lhe-ia atum para o resto da vida. Bolas, perdi a caneta outra vez! Acho que, se eu comprar uma dúzia delas, conseguirei perdê-las todas.

Andy levantou-se da cadeira e apontou-lhe o dedo.

– Fique onde está. Nada de andar a trepar pelos prédios até eu voltar, certo? Vou pedir uma caneta a Gert. Ela já está habituada.

Um minuto depois, Andy voltou, sentou-se outra vez e esticou as pernas.

– Está bem, Maggie. A primeira pergunta que lhe quero fazer é a seguinte: a quem devo telefonar a avisar do acidente? Conseguimos os seus dados e o número do seguro médico nos documentos que encontrámos na sua mala, mas não havia nenhuma indicação sobre parentes e não encontrei ninguém com o apelido Fletcher na lista telefónica.

– A minha irmã mora cá. É Joana Marks. Não temos o mesmo apelido, porque ela é casada. De facto, viúva – ao mencionar o nome da irmã, lembranças tristes afloraram-lhe à mente. – Não quero que lhe telefone. Falarei com Joana de manhã. Entraria em pânico se um polícia lhe telefonasse a meio da noite, além do mais, eu estou bem.

– Foi o que o doutor Howard disse, mas não a deixará ir embora até amanhã. No entanto, precisará de alguém para a levar a casa. E de algumas roupas. Suponho que a sua irmã gostaria de saber que sofreu um acidente para a poder ajudar.

– Claro, mas não quero preocupá-la.

Joana estava muito fragilizada naquele momento, mas não adiantaria tentar explicar os seus problemas a um estranho. Além disso, Maggie não tinha forças para falar muito.

– Bem, talvez haja outra pessoa. Marido ou namorado?

O brilho nos olhos dele fê-la questionar-se se haveria algo mais na pergunta do que o simples interesse em preencher formulários.

– Não, xerife. Tenho alguns amigos, mas estamos a meio da noite. Não pretendo assustá-los por nada. Telefonarei à minha irmã pela manhã. Quanto ao acidente, tento recordar o que aconteceu, mas não consigo. Tenho a sensação de ser culpada. Gert acredita que não foi culpa minha, porém, não sei se estava a dizer a verdade. Oh, meu Deus… Diga-me que não havia nenhuma criança no acidente…

– Tenha calma – inclinou-se para a frente, esquecendo o bloco. – Um motorista embriagado despistou-se e embateu no seu carro. Não o poderia ter evitado.

– Tem a certeza?

– Não vi o acidente. Cheguei dez minutos depois. Mas ocorreu na rua principal e quatro testemunhas presenciaram o incidente. Contaram-me todos a mesma história e as marcas dos travões e a posição dos veículos, enfim, todas as evidências, apontam na mesma direcção. Na verdade, vim até cá só para completar os formulários. Não tenho dúvidas quanto ao ocorrido. A culpa não foi sua.

Maggie observou-o com atenção. As pessoas mentiam por tantas razões… Algumas vezes eram bem-intencionadas, como o médico e a enfermeira, que teriam escondido a verdade para a tranquilizar. Andy fitou-a e ela compreendeu que ele não era o tipo de homem que modificaria a verdade.

Maggie acreditou no que acabara de ouvir, mas, ainda assim, sentia-se culpada.

– O homem que bateu no meu carro… Ele está bem?

– Não estará depois das penalidades que lhe imputarei e depois de ver o juiz Farley. Quanto a ferimentos, está melhor do que a menina. Lamento não lhe poder dar boas notícias sobre o seu automóvel. Acho que será irrecuperável. Ainda não conversei com o mecânico, mas ficou muito amassado. Quando o vi, achei que não conseguiríamos tirá-la de lá inteira.

– Não estou preocupada com o carro, tenho seguro. E isso não tem a menor importância, comparado com a possibilidade de alguém estar ferido. Diga-me só mais uma coisa, está bem? Não há mais feridos?

– A menina não teve culpa. E não houve mais feridos – ao perceber dúvida nos olhos dela, Andy esfregou o queixo e perguntou: – Ainda não acredita? Nunca ninguém lhe disse que pode confiar num homem da lei?

– Acha que deveria confiar num homem que não conheço? – sorriu.

– Claro que não. Só em mim. Sou fiável como um escuteiro. Juro.

– Pois… Bem, na verdade, xerife…

– Andy.

Maggie percebeu um brilho de humor nos olhos dele. Decidiu deixar as formalidades de lado e chamá-lo pelo primeiro nome. Andy parecia ser um bom tipo e, por ser xerife, era fiável. Mesmo sem o conhecer, poderia apostar que era íntegro e honesto.

O problema era outro. A velha questão homem-mulher. Um homem capaz de excitar uma mulher que acabara de sofrer um acidente parecia-lhe muito perigoso. Talvez até fascinante. Porém, Maggie sabia que estava perturbada com os últimos acontecimentos e que deveria estar enganada ao imaginar que o olhar intenso e o sorriso sedutor significavam alguma coisa.

Tentou ajeitar-se melhor e sentiu dor no corpo e na cabeça.

– Bem, o que eu estava a tentar dizer, Andy, é que o mais perto que cheguei de um polícia foi quando bati no pára-choques de outro carro, quando tinha dezasseis anos. Foi o único acidente que tive, até hoje. Estou a enlouquecer por não me lembrar do que aconteceu. Quero ir para casa. Tenho a certeza de que me sentirei melhor na minha cama.

Andy pareceu compreender o que ela queria, pois meneou a cabeça.

– Pelo que ouvi, menina Fletcher, não a deixarão sair daqui antes de amanhã.

– Sim, já tentei argumentar com eles, mas se a lei estivesse do meu lado…?

– Estou a tentar, mas do lado deles. Confie em mim, Gert tomará conta de si melhor que a sua própria mãe. Ela é incansável. Já estive aqui algumas vezes. No meu trabalho, é comum haver feridos. Gert enlouquecê-la-á com tantos cuidados.

– Esse é o problema. Detesto que cuidem de mim.

– Foi o que pensei. Não gosta de se sentir vulnerável?

– Posso cuidar de mim mesma.

– Aposto que sim, mas hoje, não. Fique tranquila, não morrerá por ser mimada durante uma noite.

– Pois é…

Andy sorriu outra vez. Era uma reacção inusual na maioria dos homens, quando Maggie falava sobre a sua autoconfiança.

– Não entendo como não nos conhecemos antes, menina. Numa cidade pequena como White Branch, costumo esbarrar com toda a gente, mais cedo ou mais tarde.

– Mudei-me para cá há cerca de quatro anos, mas não costumo andar por aí a assaltar bancos ou a armar confusão, excepto nas horas livres, é claro. E acidentes de trânsito não têm sido o meu passatempo favorito – Maggie levou a mão à cabeça dorida. – É horrível não recordar o que aconteceu. Não costumo ficar abalada com os problemas. Muito pelo contrário. No entanto, não me lembro de nada do que aconteceu nas últimas vinte e quatro horas.

– Talvez se lembre depois de um boa noite de sono.

– Ou quando estiver em casa.

Gert apareceu à porta do quarto.

– Andy! Disse que poderia ficar dez minutos, no máximo!

– Já estou de saída – pegou no bloco e pôs-se de pé. Piscou um olho a Maggie antes de se virar. – Gert, a menina estava a tentar convencer-me a tirá-la daqui.

Maggie ficou surpresa com a traição de Andy e Gert aproximou-se imediatamente dela.

– Não pode sair, querida. Um acidente é coisa séria. Precisa de ficar sob observação.

A enfermeira continuou o seu trabalho, verificando o soro e a agulha.

Maggie e Andy fitaram-se. Ela murmurou:

– Se o voltar a ver, mato-o!

– Vá em frente, Gert – ao chegar à soleira, Andy virou-se. – Pode ter a certeza, Maggie, ver-nos-emos outra vez.