desj812.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Peggy Bozeman Morse

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Mentiras e prazer, n.º 812 - Junho 2016

Título original: Tanner Ties

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2008

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises

Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8377-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

O cão parecia um enorme Benji, ou tê-lo-ia parecido se não estivesse coberto de pó e de sujidade. O cão parecia vaguear sem rumo pelo passeio.

Lauren sentiu um aperto no coração ao ver o estado em que o cão se encontrava mas rapidamente tentou não pensar naquilo. Não podia sustentar um cão que, pelo tamanho, seria capaz de comer numa semana todas as suas poupanças. E também não podia comportar a despesa do veterinário quando o levasse para ser examinado e para levar as vacinas.

Não, não podia permitir-se esse luxo. Obrigou-se a si própria a afastar o olhar do cão e olhou para a estrada. Além do mais, também não podia ter um cão em casa. Mesmo que o conseguisse sustentar, onde é que o guardaria? Ela e Rhena tinham espaço para as duas na cabana de caça mas não havia lugar para um cão, especialmente quando se tratava de um cão do tamanho de um pónei.

Um camião avançou para a estrada mesmo à frente dela. Lauren abrandou a velocidade e, instintivamente, olhou para o cão.

– Não te movas – rogou, em voz baixa. – Não faças nenhuma tolice.

Sem saber da preocupação de Lauren e do perigo que se aproximava, o animal escolheu aquele momento para atravessar a estrada.

Lauren, angustiada, olhou para a parte de trás do camião com a esperança de ver as luzes dos travões acesas, indicando que o condutor vira o cão e travara. Mas, ao ver que as luzes continuavam apagadas, pisou o travão e fechou os olhos enquanto rezava para que o cão tivesse conseguido atravessar a estrada sem ser atropelado. Quando abriu os olhos, o camião estava uns setenta metros à frente… e o cão estava estendido no asfalto.

Rapidamente, Lauren parou o carro à frente do cão para não permitir que qualquer outro veículo passasse por ali e saiu imediatamente para examinar o animal.

– Olá, amigo – murmurou ela, pondo-lhe uma mão no lombo. – Estás bem?

O cão levantou a cabeça do asfalto e emitiu um penoso som.

– Não te vou magoar, amigo. Só quero saber se estás magoado.

Lauren pestanejou ao ver o charco de sangue na estrada. Precisava de virar o cão para ver quão sérias eram as feridas, mas tinha receio de o mover e magoá-lo ainda mais.

Olhou à sua volta, à procura de alguma casa onde pudesse ir à procura de ajuda mas aquela estrada atravessava somente zonas de pastos e não havia nada durante quilómetros.

Ao ouvir o barulho de um motor a aproximar-se, Lauren pôs-se em pé no meio da estrada e abanou os braços para obrigar o veículo a parar. Durante alguns segundos, pensou que o condutor lhe ia passar por cima mas lá o viu abrandar e baixar o vidro.

– Por favor, preciso de ajuda – disse Lauren.

Com a cabeça baixa, o condutor baixou ainda mais a pala do chapéu, abriu a porta da carrinha e desceu.

– Qual é o problema?

– Um cão – Lauren agarrou o homem pelo braço e puxou-o. – Está ali, ferido.

Quando chegaram ao local onde estava o animal, ela afastou-se enquanto o homem se agachava ao lado do cão. Ouviu-o murmurar algo enquanto passava as mãos, sem nunca tirar as luvas, pelo corpo do animal. Não lhe conseguia ver o rosto porque o chapéu lho tapava mas via-lhe a boca, séria.

Lauren engoliu em seco e perguntou:

– Está muito mal?

– Bastante. Tem um golpe profundo no lombo e outro numa das pernas traseiras. Não consigo perceber se tem algum osso partido ou não.

Lauren olhou com insistência para as mãos do homem com as luvas de couro.

– Talvez, se tirasse as luvas, conseguisse perceber.

Ignorando a sugestão da mulher, ele apoiou as mãos nas pernas e levantou-se.

– Se tiver uma manta, posso ajudá-la a pôr o cão no seu carro.

Lauren deu um passo atrás, com os olhos cheios de terror.

– Não, não, não posso. O cão… não é meu.

– Bom, também não é meu.

– Você podia levá-lo ao veterinário – sugeriu ela, esperançada.

– E você também.

– Eu… não posso – Lauren indicou o seu carro. – Tenho as compras todas no porta-bagagem. Está cheio. Se voltasse à vila, a comida estragar-se-ia toda.

Ele encolheu os ombros e dirigiu-se para a carrinha.

– Nesse caso, imagino que as aves de rapina se hão-de encarregar dele.

A crueldade daquele homem deixou-a perplexa. Depois de o olhar durante alguns segundos, correu atrás dele.

– Não o pode deixar morrer assim!

Ele abriu a porta da carrinha.

– Porque não? Não é o que você tenciona fazer também?

Lauren olhou na direcção do cão.

– Eu acabo de vir viver para Tanner’s Crossing. Mesmo que não tivesse que me preocupar com a comida que tenho no carro, não saberia aonde levar o cão – Lauren meteu a mão no bolso. – Se o que o preocupa é o dinheiro, eu ajudo-o com a despesa.

Lauren deu-lhe umas notas e acrescentou:

– Tome cinquenta dólares. É tudo o que tenho.

Ele murmurou algo. Não parecia preocupado com o cão mas após um suspiro, tirou uma manta de trás do banco da carrinha.

– O que vai fazer com isso? – perguntou Lauren, seguindo-o enquanto ele se aproximava do animal.

– Metê-lo na carrinha.

Lauren viu-o pôr o cão em cima da manta e depois pegar nele ao colo. O animal gemeu. Lauren correu para abrir a porta do lado do passageiro e afastou-se para que o homem conseguisse pôr o cão dentro do carro.

– Vai tratar dele, não é? – perguntou Lauren, apreensiva.

Ele pousou o cão e fechou a porta.

– Vou deixá-lo em boas mãos.

Assentindo, Lauren voltou a oferecer-lhe o dinheiro.

– Eu sei que não é muito, mas ajudá-lo-á a pagar a conta do veterinário.

O homem afastou-lhe a mão e deu a volta à carrinha.

– Guarde o dinheiro. Use-o para comprar um coração novo.

 

 

Quinze minutos depois, Lauren chegou a casa furiosa. Foi imediatamente pousar os sacos das compras em cima da bancada da cozinha.

– E quando lhe ofereci dinheiro, rejeitou-o – disse Lauren a Rhena, continuando o relato do incidente. Disse-me para comprar um coração novo! Acreditas?

Rhena tirou os pacotes de leite de um dos sacos e foi até ao frigorífico.

– Não sei porque estás tão zangada. Afinal de contas, levou o cão, não foi?

– Sim, mas…

Rhena pôs o leite no frigorífico e voltou a aproximar-se da bancada.

– Então, qual é o problema?

– O problema é que ele foi muito mal-educado!

– Mas porque é que te importa o que ache de ti?

– Não me importa.

Rhena tirou as latas dos sacos.

– O que está a acontecer é que estás com sentimentos de culpa por não te teres encarregado tu própria do cão.

– Não me posso dar ao luxo de ter um cão. E mesmo que pudesse, não caberíamos todos aqui.

– Nesse caso, fizeste tudo o que pudeste. Conseguiste que outra pessoa se encarregasse dele.

Lauren baixou os ombros.

– Então, porque é que não me sinto bem?

– Porque achas que ele não vai tomar tão bem conta do cão quanto tu o farias.

Lauren sabia que Rhena tinha razão.

– Conheces-me muito bem.

– Não é de estranhar. Tomo conta de ti desde que usas fraldas.

Lauren suspirou ao lembrar-se do comportamento do homem da carrinha.

– Era um tipo muito estranho. Não me olhou nos olhos nem uma única vez. Esteve o tempo todo com a cabeça baixa para que eu não lhe visse a cara. Além disso, usava luvas e nem sequer as tirou para examinar o cão.

– É um homem esperto – disse Rhena. – O animal podia ter alguma doença contagiosa.

– Era muito estranho – repetiu Lauren, teimosamente. – Disse-te que usava a camisa apertada até ao pescoço? Tendo em conta que usava também luvas, eu diria que é incrivelmente modesto ou que pertence a alguma seita na qual é proibido mostrar a mais pequena parte do corpo.

– Talvez se estivesse a proteger do sol. Há muita gente que faz isso. O cancro da pele não é brincadeira.

– Porque é que estás tão empenhada em defendê-lo? – perguntou Lauren, frustrada.

– Porque é que estás tão empenhada em condená-lo? – respondeu Rhena. – Levou o cão, que era o que tu querias. Devias estar-lhe agradecida. E agora esquece esse animal e ajuda-me a guardar as compras. Temos muito trabalho e se continuarmos aqui a falar, não vamos fazer nada.

 

 

– Como está o cão?

Luke levantou os olhos ao ouvir a voz do seu chefe, a voz de Ry Tanner, e depois acabou de untar a pomada sobre os pontos com que cosera a ferida do cão.

– Melhor, mas ainda lhe falta muito para estar bem.

– Está em boas mãos-disse Ry. – Tens um dom especial com os animais.

Com a testa franzida, Luke pegou num trapo e limpou as mãos.

– Por vezes gostava que não fosse assim.

Ry olhou para ele com curiosidade.

– Porque dizes isso?

Luke indicou o cão com um gesto.

– Posso ter-lhe salvo a vida mas para quê? Não tem muitas probabilidades de sobreviver. Se não acabar atropelado nalguma estrada, algum fazendeiro ainda lhe dará um tiro achando que ele lhe poderá atacar algum dos animais.

– Os cães vagabundos são um problema para os fazendeiros – lembrou-lhe Ry. – Nós próprios já perdemos alguns bezerros por causa de cães selvagens. A nossa única defesa é disparar contra o cão.

– Devia era disparar-se contra as pessoas da cidade que, quando se cansam dos seus animais domésticos, os abandonam no meio do campo. A única coisa que estes pobres animais estão a tentar fazer é sobreviver.

– Nisso tens razão – respondeu Ry. – Mas até haver uma solução para este problema, as pessoas vão continuar a abandonar os animais no campo. Não há forma de o impedir.

Luke resmungou, tapou o frasco da pomada e pousou-o numa estante.

– Mas continua a estar errado – disse Luke, com um suspiro. – Querias alguma coisa? Estava para me ir embora. Tenho que ir ter com o Monty para ir arranjar a cerca.

– Sim, queria falar contigo de um assunto – Ry saiu com Luke da zona do estábulo. – Uma prima nossa mudou-se para uma cabana de caça e quer torná-la numa espécie de pousada. Não sei muito bem o quê. Eu e os meus irmãos oferecemo-nos para a ajudar mas ela rejeitou.

Ry encolheu os ombros ao sair do estábulo e acrescentou:

– Ela é muito teimosa, sempre o foi, mas estamos preocupados com ela. Ultimamente as coisas não lhe têm corrido bem.

Luke parou ao lado da carrinha e olhou para Ry sem entender.

– O que é que isso tem a ver comigo?

Ry tirou do bolso um recorte de jornal.

– Ela pôs um anúncio no jornal. Está à procura de alguém que faça trabalhos na casa e paga à hora. Nós gostávamos que tu te candidatasses ao lugar.

Enquanto olhava para o recorte, Luke sentiu um nó no estômago.

– Isto é uma forma muito diplomática de me dizeres que me despedes.

Ry deu uma gargalhada.

– De forma alguma. Sabes perfeitamente que não conseguiríamos gerir a fazenda Bar-T sem ti, Luke. Precisamos de alguém que dê uma vista de olhos à nossa prima e que a vigie. O trabalho é apenas algumas horas e imagino que seja por pouco tempo. Isso quer dizer que, se te contratar, trabalharás lá as horas que ela te pedir e o resto do tempo aqui. Quando ela já não precisar de ti, voltarás a trabalhar aqui a tempo inteiro.

Luke coçou o queixo.

– Não sei – disse, vacilante. – Eu não sou muito sociável.

– Eu não te pediria isto se não fosse importante – insistiu Ry, com uma expressão séria e pondo-lhe uma mão no ombro. – Precisamos que nos ajudes, Luke. Eu, o Ace, o Rory, o Woodrow e o Whit falámos sobre isto e decidimos por unanimidade que tu és a pessoa indicada. És habilidoso com as mãos, consegues arranjar praticamente qualquer coisa que te ponham à frente. Mas o mais importante, é a tua honestidade e a tua lealdade com a família Tanner. Sabemos que podemos confiar em ti e vais tomar conta da nossa prima.

Luke queria rejeitar. Aceitar significava ter que se relacionar com uma mulher, algo que ele evitava a todo o custo. Mas ele devia isso a Ry. Se não fosse por ele e pelo cirurgião ao qual ele o levara, poderia ter perdido o uso das mãos, e sem poder usar as mãos… enfiam, mais valia estar morto.

– De acordo – acedeu Lauren, contrariado. – Vou apresentar-me ao trabalho mas se ela me rejeitar, não me deites as culpas.

– Porque é que ela te iria rejeitar? – perguntou Ry. – És a pessoa mais adequada para o trabalho.

Luke pôs o chapéu para trás e indicou o rosto.

– A maioria das mulheres têm muita dificuldade em ver isso.

 

 

Luke adiou a visita à prima de Tanner até ao meio-dia do dia seguinte. E teria adiado mais se Ry não lhe tivesse perguntado durante o pequeno-almoço se já a tinha ido ver. Consciente que não fazia sentido continuar a evitar a entrevista, pôs-se a caminho da cabana de caça.

Depois da morte do pai de Buck e de Randall Tanner, o Bar-T, a fazenda do Tanner fora divida em duas metades, uma para cada irmão. Buck, o mais velho, herdara a maior parte das terras das fazenda, e Randall ficara com a cabana e os duzentos hectares de terreno que a rodeavam. Luke ouvira dizer que Buck, o pai de Ry, não gostara da divisão. Algo ridículo, pois ele herdara a maior parte das terras. Dizia-se que Buck tentara comprar as terras ao irmão e que lhe deixara de falar quando este se negara a vender-lhas.

Enquanto estacionava o carro à frente da cabana, Luke abanou a cabeça com tristeza. Buck Tanner fora um homem teimoso e dado ao melodrama. Talvez estivesse naquele momento a dar volta na tumba ao saber que a filha do irmão fora viver para a cabana.

Luke saiu da carrinha, baixou o chapéu e caminhou até à porta. A terra recém mexida entre o poço e a cabana sugeriam que estivera ali um canalizador recentemente a pôr tubagens de água. Pensou para si próprio que teria que informar Ry dos arranjos que eram levados a cabo, e depois bateu à porta.

A porta abriu-se ligeiramente e uma mulher perguntou:

– O que deseja?

Sem saber porquê, Luke surpreendeu-se que a mulher fosse mais velha do que imaginara.

Com o olhar baixo, tirou o recorte de jornal da camisa.

– Vim por causa do anúncio do jornal.

Ela olhou-o, apreensiva.

– Tem experiência neste tipo de trabalho?

– Sou muito hábil com as mãos – respondeu ele. – Tenho muito jeito para arranjar coisas.

– O senhor bebe? – perguntou a mulher, directamente.

Surpreendido com a pergunta, Luke abanou a cabeça.

– Bebo cerveja de vez em quando mas não sou alcoólico, se é a isso que se refere.