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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Robyn Whitehead

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Desejos perigosos, n.º 826 - Julho 2016

Título original: The Magnate’s Marriage Demand

Publicado originalmente por Silhouette® Books

Publicado em português em 2008

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas

registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8574-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Tamara Kendle não conseguia tirar os olhos do atraente homem moreno que estava sentado na primeira fila da igreja. Parecia como uma rocha, imóvel, olhando obsessivamente para a frente.

Sentia-se um pouco incomodada sempre que afastava o olhar do altar. Estava ali para dizer o último adeus a alguém muito especial. Uma pessoa de quem sentia tanto a falta que só de pensar nela já lhe doía o coração. Sentia-se confusa, como se flutuasse entre a realidade e o inferno.

Mesmo assim, aqueles ombros largos à esquerda do caixão, coberto de lírios perfumados, continuavam a intrigá-la.

Apesar de nunca se terem visto, Tamara já tinha ouvido falar da sua reputação.

Armand De Luca, o magnata australiano do aço, o último da sua linhagem.

Ou, pelo menos, era isso que ele pensava.

Tamara já estava sentada quando De Luca entrou na igreja. Durante a cerimónia fúnebre, o seu perfil clássico exibia a segurança que conquistava a admiração dos homens e a paixão nas mulheres. Queixo anguloso, lábios bem proporcionados e aqueles olhos… de um azul claro como o céu, semicerrados mas tão perspicazes…

– Obrigado a todos por se terem vindo despedir do Marc – Tamara voltou a olhar para o padre. – Já de seguida, haverá um pequeno encontro no edifício anexo à igreja para aqueles que o quiserem recordar.

Tamara fez o sinal da cruz, recitou uma reza e deixou escapar um suspiro. Marc fora o seu melhor amigo. Tantas vezes tinham rido juntos, tantos segredos tinha trocado... E, uns meses antes, quando uma série de acontecimento ameaçaram arruinar a sua vida... Marc esteve sempre a seu lado.

Os olhos de Tamara ficaram rasos de água.

Ela era uma lutadora, sempre o fora. Mas, naquela noite, ela precisava de alguém e Marc não a desiludiu.

Enquanto os outros saíam da igreja, Armand De Luca levantou-se para se aproximar do caixão e estendeu uma mão para tocar na madeira brilhante…

Nesse momento, Tamara sentiu uma vaga de náuseas. Afastou o cabelo longo e escuro do rosto, fechou os olhos por um momento e colocou uma mão no abdómen. Quando as náuseas passaram, abriu os olhos e voltou a olhar para o caixão. De Luca tinha desaparecido.

Depois de ter saído da igreja, colocou os óculos de sol como se fosse uma protecção contra os rostos sem nome que se movimentavam como fantasmas ao ritmo da música do órgão.

Duas das amigas de Marc aproximaram-se. Idênticas em tudo excepto na cor do cabelo, as gémeas Kristin e Melanie costumavam pedir ajuda ao seu vizinho para resolver pequenos problemas domésticos e agora pareciam perdidas.

Kristin agitou a sua longa cabeleira loura.

– Ainda mal posso acreditar. Vê lá que eu cheguei a dizer-lhe para não comprar a mota...

Os caracóis ruivos de Melanie tremeram enquanto assoava o nariz.

– Estas coisas não deviam acontecer a pessoas tão boas como o Marc. – suspirou. – Nem sei como tu consegues aguentar, Tamara. Primeio foi a ruína do teu negócio, depois o incêndio e agora isto.

Enquanto Tamara tentava encontrar alguma coisa para dizer, Kristin deu uma cotovelada à irmã:

– Francamente, Mel… a última coisa que ela precisa é que tu lhe lembres disso.

– Apenas quis dizer que três golpes tão fortes, de seguida… Deve ser horrível.

Três golpes?

Mais precisamente, quatro.

Outras pessoas começaram a aproximar-se, então, mas Tamara mal as ouvia. Normalmente, os arranha-céus de vidro, como sentinelas gigantes em torno da baía de Sidney, davam-lhe vitalidade. Mas não naquele dia.

Quando voltou a sentir náuseas e enquanto as pessoas iam entrando numa sala, onde havia sanduíches e bebidas, Tamara foi à casa de banho e, minutos depois, estava dobrada sobre a sanita. Estava prestes a vomitar outra vez. Mas, pelo menos, estava sozinha, pensou, levando uma mão ao estômago.

Lembrava a reacção de Marc quando soube que ia ser pai. Tinha dito que a amava, que queria casar-se com ela. Como é que lhe iria confessar que também ela o amava, mas não daquela maneira?

O cheiro a avenca e gladíolos recém cortados fez com que recuperasse um pouco, um segundo depois de se ter levantado... ouvira alguma coisa?

Não, deviam ser os nervos. Deixando escapar um suspiro, lavou o rosto no lavatório…

– Desculpe… menina Kendle?

Ao ouvir aquela voz masculina, o coração de Tamara deu um pulo. Quando se voltou, deu de caras com a alta figura de Armand De Luca.

– Pregou-me cá um susto!

– Desculpe – pediu ele, arquenado uma sobrancelha. – Como estava a demorar tanto, pensei que pudesse ter saído por outra porta e tenho alguma urgência em falar consigo. Sou Armand De Luca, irmão do Marc.

«O irmão perdido de Marc», pensou ela.

Por acaso, não eram nada parecidos. Marc também tinha os olhos azuis, mas enquanto os seus transmitiam confiança, os daquele homem eram… como os de um predador. Mas isso não a deveria surpreender, tendo em conta o que sabia da sua infância. Uma infância dominada por um pai bastante rígido e extremamente ambicioso… e sem uma mãe. Tinha todas as condições para poder sentir pena dele, mas De Luca não era o tipo de homem que precisasse da compaixão alheia. A sua inteligência e o seu célebre encanto eram suficientes para perceber que ele não precisava de ninguém.

– O Marc falou-me de si.

– Fico contente. Eu pensei que talvez pudéssemos conversar um pouco.

Olhava-a nos olhos. A sua expressão era amistosa, mas ao mesmo tempo exigente. Porém, qualquer conversa mais demorada seria impossível. Pelo menos, não aquele dia em que se sentia prestes a desmaiar a qualquer momento. O seu mundo tinha-se desmoronado completamente.

– Foi um dia extenuante, mas tenho certeza que o resto das pessoas adorariam falar com o senhor.

– Eu não tenho muito tempo, menina Kendle. E é só mesmo consigo que eu quero falar.

– Dito dessa maneira… parece-me um pouco preocupante.

– O Marc disse-me que era uma mulher muito inteligente.

O coração de Tamara começou a bater acelerado com a força do seu olhar. Parecia querer analisá-la e tentar descobrir todos os seus segredos. Como se suspeitasse já da notícia que ela ainda não estava disposta a dar-lhe.

– Não me parece que seja o tipo de homem que goste de brincar às adivinhas – suspirou, pegando na mala. – Portanto, vá direito ao assunto: que quer falar comigo?

Durante um momento, ele olhou para ela e depois deu um passo em frente. Armand De Luca não era apenas um homem atraente. Tinha um magnetismo animal que o seu elegante fato não conseguia esconder totalmente. Parecia um homem perigoso.

– Você está grávida do meu irmão.

A frase deixou-a sem fôlego e começou a sentir os joelhos a fraquejar. Teria De Luca poderes divinatórios?

– Como é que sabe? Eu só contei ao Marc e foi apenas uma hora antes do acidente…

– Telefonou-me para dar a notícia. Desde que nos reencontrámos, mantivemos sempre o contacto.

Tamara não conhecia muito bem a história dos irmãos De Luca, apenas que os seus pais se tinham separado quando eram pequenos. Marc nunca lhe contou porque é que a sua mãe o tinha levado a ele e não ao Armand ou porque é que não tiveram contacto durante metade da sua vida… até à morte do pai, um ano antes. Marc não costumava falar do passado. Outra razão para que gostasse dele. Problemas familiares, esqueletos nos armários… não eram assuntos que interessassem a Tamara.

Mas, naquele dia, o passado de Marc tinha apanhado o presente, enquanto o futuro de Tamara crescia dentro dela.

– Sim, estou grávida – disse por fim. – Mas não era preciso perseguir-me. Eu não vou sair do país.

– Mas eu sim. O meu avião parte para Pequim dentro de poucas horas. E estarei fora durante duas semanas.

– Então falaremos quando voltar.

Quando terminou a frase, ocorreu-lhe uma ideia. Não havia nada que a obrigasse a permanecer em Sidney. Talvez Armand De Luca tivesse receio de que ela desaparecesse. Mas a última coisa que ela queria era afastar a criança da sua família, tal como os irmãos De Luca tinha sido afastados um do outro.

O seu maior desejo era dar ao filho uma vida feliz e um lar cheio de carinho. Talvez um dia aparecesse um homem que a amasse, a ela e ao seu filho, e com quem acabaria por casar

– Olhe, se está preocupado que eu não o deixe ver a criança, pode ficar totalmente descansado. Eu quero que o meu filho se relacione com o tio. A família é importante… mais importante do que tudo.

– Por favor, dê-me cinco minutos, menina Kendle. Mas noutro lado qualquer, não aqui.

Já tinha tido a sensação de que alguma coisa se passava, mas, quando ouviu aquilo, teve a certeza. Por que quereria falar a sós com ela? Haveria alguma doença hereditária na família da qual tivesse que ser informada? Epilepsia, alergias, algum problema cardíaco… algo que fosse realmente urgente?

– Seja o que for, se tiver a ver com meu filho eu quero sabê-lo. E quero sabê-lo já.

– Tem a ver com o bebé, menina Kendle – disse ele, aproximando-se mais um pouco, deixando-a quase meio zonza com a sua presença. – E também tem a ver connosco. Quero casar consigo.

 

 

Quinze minutos depois, Armand e Tamara estavam sentados num banco do jardim que ficava perto da igreja, no passeio marítimo. Apesar da brisa que vinha do mar, o seu rosto estava mais pálido do que o copo de plástico que tinha na mão.

Obviamente, continuava sem acreditar. As pernas de Tamara cederam quando ele lhe disse que queria casar com ela e quando a segurou pela cintura... sentiu que o sangue lhe fervia nas veias. Apesar da sensação de culpa, aquela proximidade a Tamara Kendle provocou-lhe vários arrepios pelo corpo todo.

Tinha visto Marc, exactamente, oito vezes nos últimos catorze meses. E, agora, o irmão que ainda mal conhecia estava morto.

Casar com a mulher que Marc tinha amado poderia parecer insensível, talvez até mesmo absurdo ou imoral para algumas pessoas. Mas para Armand não. Ele vivia a vida segundo as suas próprias regras e não pelas regras dos outros. E desejar que as coisas fossem de outra maneira não adiantava rigorosamente nada. Nada podia mudar o passado. Só lhes restava o futuro e uma união que poderia ser bastante benéfica para os dois. Para Tamara, para a criança e para ele mesmo.

– Quer mais água ou podemos falar?

Era o pior momento possível. Se o problema que tinha de resolver na China não fosse tão urgente, ter-se-ia apresentado e marcaria um encontro para outro dia com ela. Mas talvez fosse melhor assim. Havia muitas coisas para tratar, principalmente os efeitos de um casamento nos seus negócios e no fideicomisso que o seu pai lhe tinha deixado.

Com cuidado, Tamara pousou o copo sobre o banco e afastou uma madeixa de cabelo do rosto.

– Se quer falar do casamento, não há nada a dizer.

– Eu conheço sua situação, menina Kendle.

– A minha situação?

– Está há dois meses sem trabalho, desde que o seu negócio fracassou.

– Graças a um empresário que negou pagar-me as facturas... E como é que sabe disso? Não me parece que o Marc lhe tivesse contado isso. A minha vida não lhe diz respeito.

– Agora sim – respondeu ele, olhando para os seus confusos olhos verdes. – Não tem um seguro médico privado…

– Pois não.

– Mas, evidentemente, vai precisar de cuidados médicos. E o parto? Se precisasse de uma cesariana, não gostaria de saber quem é que a iria fazer? Não gostaria que fosse um médico da sua confiança?

– Este país tem um bom sistema nacional de saúde.

– Mas teria de esperar em enormes filas, ser assistida por um médico diferente de cada vez... Hoje em dia, quem quer o melhor tem de pagar. E você não tem dinheiro.

Tamara olhou para ele, estupefacta.

– Pode explicar-me como é que sabe tantas coisas sobre a minha vida?

Ele encolheu os ombros.

– Fiz um ou dois telefonemas.

– E mandou que me investigassem?

– Olhe, você não tem investimentos nem família que a ajude. Mas eu quero ajudá-la.

– Propondo-me um casamento – suspirou Tamara. – Não lhe parece um pouco exagerado? Se está tão preocupado comigo, há formas muito mais simples e que se podem resumir à assinatura de um cheque. Apesar de eu não querer o seu dinheiro para nada.

– É uma atitude muito nobre da sua parte, mas muito pouco prática.

Mesmo não sendo rico, Marc tinha rejeitado o legado De Luca, chegando mesmo a rir-se da possibilidade de os dois irmãos virem a trabalhar juntos. Mas a situação de Tamara era diferente.

– Sou mais que capaz de arranjar trabalho – disse ela.