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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Maureen Child

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Trinta dias de paixão, n.º 2097 - octubre 2016

Título original: Thirty Day Affair

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em português em 2009

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9199-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

– Hunter – murmurou fracamente Nathan Barrister enquanto contemplava a impressionante mansão de pedra na margem do lago Tahoe, – matava-te se estivesses aqui agora.

Mas Hunter Palmer não estava ali e ele não podia matar aquele que tinha sido o seu melhor amigo porque já estava morto.

A fria capa de gelo que envolvia o coração de Nathan derreteu-se um pouco ao recordá-lo, mas após muitos anos de prática, não lhe foi difícil ignorar aquela pontada de dor. Os remorsos eram uma perda de tempo.

«Uma perda de tempo tão grande como o próximo mês», pensou.

Ao sair do carro que tinha alugado, enfiou o pé num montículo de neve e, suspirando de desgosto, sacudiu o sapato.

Teria de ter dado ouvidos à empregada da agência de aluguer de carros. Ela tinha tentado dizer-lhe que alugasse um carro com tracção às quatro rodas, em vez do desportivo que tinha escolhido. Mas quem poderia esperar um nevão a meio de Março?

Nathan esboçou um sorriso amargo.

Teria de tê-lo previsto. Tinha crescido no leste e sabia bem que a neve podia cair a qualquer momento, sobretudo estando a tanta altitude. Mas tinha passado tanto tempo tentando esquecer o seu passado, que já nem sequer se lembrava das inclemências do tempo.

Os ares estavam frios e frescos; o céu tão azul que lhe ardiam os olhos ao olhá-lo. Um vento gelado castigou os pinheiros circundantes, agitando as suas copas e sacudindo a neve que repousava sobre elas.

Nathan estremeceu e fechou bem o casaco de couro. Não queria estar nesse lugar, e muito menos passar um mês inteiro ali. De facto, ele nunca ficava num mesmo lugar mais que uns poucos dias seguidos. Além disso, estar ali fazia-o pensar em coisas que tinha expulsado da sua mente muitos anos antes.

Com pouca vontade, dirigiu-se à entrada da casa. O ranger da neve sob os seus pés era o único ruído que se ouvia naquelas paragens.

Não deveria estar ali, mas sim no hotel da sua família, no Tahití, a examinar a contabilidade e a procurar novas opções de expansão. No mês seguinte passaria uma semana em Barbados e depois dirigir-se-ia à Jamaica.

Nathan era um homem inquieto. Nunca dava a si próprio a oportunidade de criar raízes e por isso passava tão pouco tempo num mesmo lugar… até agora.

Se tivesse havido alguma forma de livrar-se daquilo, ele tê-la-ia encontrado. Tinha tentado encontrar uma qualquer armadilha no testamento do seu amigo; um subterfúgio que lhe permitisse manter o juízo sem faltar à sua última vontade, mas até os advogados da família Barrister lhe tinham dito que o documento não dava nenhum lugar a dúvidas. Hunter Palmer tinha-se assegurado de que os seus amigos não pudessem escolher, mas sim satisfazer os seus próprios desejos.

– Estás-te a divertir, não estás? – sussurrou dirigindo-se ao seu defunto amigo.

Nesse momento o vento sacudiu os pinheiros e ouviu-se o que parecia o eco de uma gargalhada.

– Bom… Estou aqui, não estou? E tratarei de aguentar o mês inteiro – murmurou Nathan.

Com um pouco de sorte, Hunter deixaria de aparecer nos seus pesadelos uma vez que a sua última vontade fosse cumprida.

Havia um envelope branco pegado à porta principal. Nathan subiu os degraus cobertos de neve para dele retirar a mensagem. No seu interior encontrou uma chave e uma folha de papel.

 

Olá. Sou a sua governanta, Meri. Estou muito ocupada pelo que não pude vir recebê-lo. Não me parece que possamos ver-nos antes de se ir embora, mas aqui tem a chave da casa. A cozinha está bem sortida de provisões e a povoação de Hunter’s Landing fica a uns vinte minutos, para o caso de necessitar mais alguma coisa. Espero que o senhor e os restantes convidados desfrutem da vossa estadia.

 

Sem pensar, apertou o punho, enrugando a nota.

Os restantes…

Nathan recordou aqueles anos loucos em Harvard. Tinham sobrevivido a um árduo curso numa universidade de prestígio e tinham terminado sendo mais do que irmãos. Diante deles espraiava-se o caminho para o sucesso…

Naquela noite de farra tinham jurado construir uma casa juntos e reunir-se dez anos depois. Cada um teria de passar um mês ali e, ao cabo do sétimo mês, reunir-se-iam todos para falarem dos bons velhos tempos.

Sim. Era suposto ter de ser assim, mas então…

Nathan abanou a cabeça e afugentou as memórias do passado. Introduziu a chave na fechadura e entrou no vestíbulo. Dali podia-se avistar uma ampla sala com paredes de madeira. Na flamejante lareira de pedra, ardia um lume acolhedor e os móveis pareciam confortáveis e suaves.

Pensou na tal governante e na povoação próxima. Oxalá ninguém o incomodasse, pois já era suficiente estar encurralado nesse lugar. O último de que precisava era companhia.

Não tinha ido até ali para fazer amigos, mas para honrar a memória daquele que tinha perdido há muito tempo atrás.

 

 

Uma hora depois, Keira Sanders agarrou a enorme cesta que estava no banco de passageiros e saiu da camioneta, batendo fortemente com a porta. Mesmo calçando botas, escorregou na lama e teve de afundar os calcanhares para manter o equilíbrio. O último que queria era conhecer os convidados de Hunter Palmer cheia de lama e de neve.

– Não causaria muito boa impressão – murmurou dando uma olhadela à fachada principal.

Aquela mansão resplandecia como uma jóia na penumbra. A luz que se filtrava pelas janelas caía sobre o soalho em charcos dourados e a coluna de fumaça que saía pela chaminé inclinava-se na direcção do vento gelado que vinha do lago. O telhado a duas águas e as árvores circundantes estavam cobertos por um manto branco. O Inverno resistia a ir-se embora, mas Keira adorava que assim fosse.

Havia algo no frio e na quietude da neve que sempre lhe tinha parecido… mágico. Nesse momento teria gostado de estar de volta à sua casinha de Hunter’s Landing, encolhida ao lado da lareira, com um copo de vinho e um bom livro.

No entanto, estava ali para receber o primeiro dos seis homens que passariam trinta dias na mansão junto ao lago. Keira sentiu borboletas no estômago. Aquilo era muito importante para a terra, e para ela também.

Duas semanas antes tinha recebido uma carta formal da parte do advogado de um homem chamado Hunter Palmer. Nela tinham-lhe feito um estranho pedido.

Se cada um dos homens ficasse um mês inteiro, depois de seis meses destinariam vinte milhões de dólares a obras benéficas, e uma grande parte desse dinheiro iria parar a Hunter’s Landing. Também doariam a casa, que seria transformada num centro de férias para pacientes convalescentes de cancro.

Keira respirou fundo tentando acalmar-se um pouco. Como presidente do município, cabia-lhe comprovar que aqueles homens seguiriam a última vontade do defunto, e não podia desperdiçar essa oportunidade, que permitiria a construção de uma nova clínica, um tribunal e…

Agarrou a cesta com força e endireitou a gola do casaco. Muito direita e com um sorriso de plástico, preparou-se para conhecer o primeiro dos homens que mudaria o destino de Hunter’s Landing.

Keira tinha jeito para as relações humanas e estava firmemente decidida a fazer com que tudo corresse da melhor maneira. Fá-los-ia ficar um mês completo e far-lhes-ia saber o grande valor que aquilo significava para a sua cidade natal e para ela.

Com essa ideia em mente, inalou uma baforada de ar gélido e dirigiu-se à porta de entrada. As botas faziam ruído ao pisar a neve, mas não demorou a deslizar sobre uma placa de gelo.

Agarrou a cesta com todas as suas forças e balançou os braços para se equilibrar, mas não encontrou um ponto de apoio e, ao cambalear para a frente, percebeu que perderia não só o equilíbrio, mas também a dignidade.

– Ai! – gritou ao cair ao chão.

Aterrou sobre o traseiro e o embate foi tão forte que os dentes lhe rangeram. A cesta caiu para um dos lados e Keira acalentou a esperança de que o conteúdo estivesse bem seguro.

– Bom, isto não é perfeito.

A porta abriu-se de repente e tudo se encheu de luz. Ela pestanejou diante do homem que apareceu no umbral.

Aquela não era a forma como tinha planeado conhecer Nathan Barrister.

– Quem é a senhora? – perguntou-lhe ele, sem se incomodar em ajudá-la.

– Estou bem. Obrigada – disse ela.

Tinha as calças empapadas e frias.

– Se por acaso está a pensar em processar alguém, fique desde já a saber que eu não sou o proprietário.

– Caramba! – Por um momento Keira esqueceu-se de se levantar.

Ficou estupefacta e olhou-o fixamente.

– Grande imbecil! – exclamou a jovem.

– Desculpe?

– Não o disse bem alto?

– Sim.

– Desculpe.

– Está ferida?

– Não. Só no meu orgulho – disse, apesar de lhe doer o corpo todo e estar literalmente gelada.

Não obstante, pensou tirar partido da situação, portanto levantou uma mão.

– Poderia ajudar-me?

Ele murmurou algo ininteligível e desceu os degraus com sumo cuidado. Então agarrou-lhe a mão fazendo-a levantar-se de repente.

O tacto daqueles dedos fortes e cálidos foi muito… agradável. Keira não esperara uma coisa assim e ele baixou a mão bruscamente, como se se tivesse queimado. Ela perguntou-se se também teria sentido aquela chispa ao tocá-la.

Keira sacudiu as calças olhando-o com muita curiosidade. Por alguma razão tinha esperado que fosse um homem de mais idade, mas não era o caso. Era alto, esbelto, de costas largas, cintura estreita e longas pernas. Além disso, a julgar por como a tinha levantado do chão, era um homem bastante forte.

Noutras circunstâncias, esse encontro teria sido amor à primeira vista para ela, mas aquela expressão carrancuda era suficiente para desanimar até as mais namoradeiras. Tinha o cabelo preto e o corte que usava chegava-lhe mesmo acima do colarinho da camisa. No entanto, tinha um gesto rígido no rosto e aqueles olhos azuis olhavam-na com desconfiança. Os seus lábios desenhavam um sério trejeito que lançava uma mensagem clara: não era bem-vinda naquela casa.

– Ena… está zangado ou é por minha causa?

Ele soprou com força.

– Quem quer que seja, eu não a convidei e não estou interessado em conhecer os vizinhos.

– Ainda bem – disse ela com um sorriso irónico, – porque não tem nenhuns. A casa mais próxima fica a duas milhas para o norte.

Ele franziu a testa.

– Então, quem é a senhora?

– Keira Sanders – disse ela estendendo-lhe uma mão.

As normas de educação finalmente fizeram-no apertar-lhe a mão e… algo tornou a suceder… uma pequena descarga de electricidade. Será que ele também a tinha sentido?

Keira estava a começar a gostar da situação. Há muito tempo que não se sentia atraída por ninguém e tinha de admitir que era muito agradável voltar a sentir essa chispa.

Ao estreitar-lhe a mão, ela esboçou um sorriso perante aquele gesto arredio. Era um tipo difícil, mas ela tinha lidado com gente muito pior no passado, e não estava disposta a deixar que o seu mau humor se interpusesse entre o bem da povoação e aquele testamento.

– Sou a presidente do município de Hunter’s Landing e venho dar-lhe as boas-vindas.

– Não precisava de se ter incomodado.

– Não é incómodo nenhum – deu meia volta e apanhou a cesta. – É um presente de boas-vindas, cortesia da Câmara de Comércio.

Dito isto, Keira dirigiu-se para a porta.

– Se não se importa… – começou a dizer Nathan e foi atrás dela.

– Absolutamente nada – disse ela entrando na casa. – Devo confessar que estava desejosa de ver esta casa desde que começaram a construí-la há um ano.

Um segundo mais tarde ouviu-o entrar e fechar as portas com resignação.

– Senhorita Sanders…

– Trate-me por Keira – virou-se para ele brindando-o com um sorriso.

– Muito bem, Keira então – enfiou as mãos nos bolsos.

– Não se preocupe – disse ela, entrando na sala. – Não o entreterei muito. Só queria dar-lhe as boas-vindas para que saiba que não está sozinho.

– Prefiro estar – disse-lhe ele sem quaisquer rodeios, do vestíbulo.

Ela deteve-se, virando-se para ele.

– Porquê? – Ele ficou ainda mais tenso. – Em qualquer caso, trouxe-lhe algumas coisas que lhe tornarão a estadia mais agradável.

Pôs a cesta sobre uma mesa trabalhada à mão que teria custado certamente mais do que o seu salário de todo um mês.

– Não é necessário.

Ela ignorou-o e começou a tirar coisas da cesta.

– Um frasco de compota caseira. Margie Fontenot, a viúva do ex presidente, faz as melhores compotas do estado. Uma garrafa de vinho da adega do Stan. Pão fresco e um pacote de café da Jamaica – prosseguiu ela. – Um frasco de molho de tomate do restaurante Clearwater. Deveria ir jantar lá todos os dias. O terraço proporciona uma maravilhosa vista do lago e não há um lugar melhor para ver o pôr-do-sol…

– Senhorita Sanders…

– Keira.

– Keira, se não se importa…

– E – ela prosseguiu como se nada fosse – há mais algumas coisas, mas deixarei que o senhor as veja por si próprio.

– Obrigado.

– Bom, há mais alguma coisa que possa fazer para lhe tornar esta visita mais interessante?

– Ir-se embora?

Keira abanou a cabeça como se estivesse muito decepcionada. Deu um passeio por aquela enorme sala e deslizou uma mão pela pedra da lareira. O calor que emitia era muito agradável. Examinou o resto da divisão e reparou na vista do lago que se possuía através daquelas enormes vidraças. A lua estava a aparecer e a água resplandecia timidamente.

Tentou acalmar-se um pouco, pois não era boa ideia insultar aquele homem. Porque estava a ser tão desagradável com ela?

Quando por fim o encarou, perguntou-se outra coisa: porque lhe parecia tão intrigante apesar da sua grosseria?

Capítulo Dois

 

Nathan já tinha aguentado o suficiente. Não estava nem há uma hora na mansão e já tinha uma convidada não desejada. Além disso, Keira Sanders não ligava nenhuma às suas indirectas.

Olhou-a de alto a baixo. Vestia umas calças de ganga justas e gastas que lhe assentavam como uma luva, e uma camisola preta de manga comprida até às ancas que realçava as suas curvas. O cabelo, de um ruivo acobreado, caía-lhe sobre os ombros formando ondas que pareciam dançar ao mais mínimo movimento.

Nathan nunca tinha visto uma mulher tão desassossegada. Não estava quieta nem um segundo e não parava de tocar em tudo. Tinha de tirá-la dali quanto antes, embora resultasse grosseiro.

– Obrigado por vir – disse-lhe, e esperou que deixasse de olhar para as estantes cheias de livros antes de prosseguir. – Mas se não se importa, gostaria que se fosse embora.

– Caramba! – exclamou ela com suavidade. – Ninguém lhe ensinou como tratar um convidado?

Ele engoliu em seco com dificuldade.

– Você não é minha convidada. É uma intrusa.

Ela desatou a rir.

– Mas sou uma intrusa que lhe trouxe presentes!

Nathan saiu do vestíbulo ao perceber que ficar ali não seria suficiente para expulsá-la. Nunca tinha conhecido ninguém assim. Parecia imutável perante a grosseria e essa atitude alegre devia de aborrecer muito aqueles que a conheciam.

– Olhe – disse-lhe aproximando-se. – Tentei ser amável.

Ela pestanejou de perplexidade e forçou o sorriso.

– De verdade? Estou a ver como tentou…

Nathan franziu o sobrolho e ignorou a insinuação.

– Agradeço-lhe os presentes. Obrigado por ter vindo até cá, mas realmente prefiro estar sozinho.

– Oh, com certeza que quer acomodar-se – disse Keira agitando uma mão. – E não ficarei muito mais tempo. Prometo. Só queria dizer-lhe que Hunter’s Landing está à sua disposição para qualquer coisa de que necessite.

Aproximou-se da televisão panorâmica, agarrou o comando à distância e ficou a olhar para ele durante uns bons segundos, mas Nathan arrebatou-lho das mãos.