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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2010 Sarah Mallory

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Ventos da paixão, n.º 6 - Dezembro 2014

Título original: Wicked Captain, Wayward Wife

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), acontecimentos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Internacional e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5504-5

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezesseis

Capítulo Dezessete

Capítulo Dezoito

Capítulo Dezenove

Capítulo Vinte

Capítulo Vinte e Um

Volta

Capítulo Um

 

Mansão Makerham, Surrey… Julho,1783

 

– AI!

Evelina se assustou quando o espinho de uma rosa furou seu dedo. Na hora certa, refletiu, olhando para a pequena gota de sangue. Estivera justamente pensando que aquela era a atividade mais perigosa que assumira: cortar flores. Suspirou. Aqueles jardins ornamentais em Makerham resumiam sua vida: organizados, seguros, protegidos. Limpou o sangue do dedo e reprimiu firmemente qualquer sentimento de insatisfação. Tornara-se ciente de tal sensação nos últimos tempos, da impressão de estar sendo sufocada. Ora, estava feliz, não estava? Cuidando das tarefas domésticas para seu avô? Ele tinha prometido cuidar dela, provê-la com todo o necessário. Não precisava se preocupar com mais nada.

Evelina pegou a cesta cheia de flores de verão e estava andando de volta para casa quando ouviu cascos de animais no caminho de acesso à mansão. Olhou para cima e viu um cavaleiro se aproximando, montado num cavalo preto, alto e elegante. À ponte de pedra que dava acesso à casa antiga, Evelina parou, inclinando a cabeça com curiosidade quando o homem se aproximou. Ele soltou as rédeas e desmontou.

Era muito alto. Forte também, era visível pela largura dos ombros sob o casaco escuro de montaria e pelas pernas poderosas cobertas por camurça e botas altas de verniz brilhante. Os cabelos pretos estavam presos com uma fita, e havia uma expressão arrojada em seus sorridentes olhos azuis. Pa-recia um aventureiro, pensou ela. Alto, imponente e…

– Você deve ser Evelina. – A voz dele era rica e doce como mel. – Muito prazer.

Sem esperar por resposta, aproximou-se, puxou-a para seus braços e a beijou. Eve ficou tão chocada que derrubou a cesta. Entretanto, não fez esforço nenhum para se afastar; e com aqueles braços a segurando com tanta firmeza, seria quase impossível, mesmo se quisesse. Nunca havia sido beijada por um homem antes e a sensação era surpreendente e prazerosa, acordando seus sentidos, de modo a deixá-la ciente do cheiro daquela pele, uma mistura de sabonete com alguma coisa que Eve não sabia o quê. Com aroma de homem, supunha. Então ele levantou a cabeça e lhe deu um olhar arrependido, embora Eve achasse o brilho nos profundos olhos azuis positivamente malicioso.

– Oh, Deus – exclamou ele, dando um passo atrás. – Isso não era para acontecer.

Eve o fitou, trêmula, e perguntou-se o que uma jovem lady bem-criada deveria fazer nessa situação. De forma deliberada, levantou uma das mãos e lhe deu uma sonora bofetada. O homem recuou um pouco, mas continuou sor-rindo, a travessura reluzia nos olhos azuis.

– Suponho que mereci.

Foi necessário algum um esforço para que Eve desviasse a atenção daquele olhar hipnótico. Sua cesta estava caída no chão: rosas, íris e margaridas comuns espalhadas pelo caminho de acesso à casa. Com mãos trêmulas, começou a reuni-las. O homem ajoelhou-se ao seu lado, desconcertando-a com a proximidade.

– Você não parece muito contente em me ver – observou.

Eve se concentrou em coletar as flores e colocá-las de volta na cesta. De maneira tensa, murmurou:

– Eu não o conheço, senhor.

– Oh, seu avô não lhe contou? – Uma risada tremeu na voz profunda. – Sou Nick Wylder. – Ele pegou uma flor e estendeu-lhe. – Sou o homem com quem você irá se casar.

Eve se levantou num sobressalto. O homem fez o mesmo, num único movimento ágil, e a estudou com puro divertimento nos olhos. Um homem extravagante, pensou ela. O rosto magro era muito bonito. Perigoso, também. Instintivamente, Eve se afastou.

Sua brincadeira não tem graça, Sir. Sobrancelhas pretas se uniram um pouco.

Seu avô não lhe contou? Então, eu lhe peço desculpas, srta. Shawcross. Observou o sorriso dele com desconfiança.

– Não vejo sinceridade em seu gesto, Sir. Não acredito que saiba como se desculpar. Ele deu um passo atrás, o sorriso se suavizando em alguma expressão mais gentil quando falou com seriedade:

– Se realmente a ofendi, por favor, senhorita, perdoeme. Eu não pretendia. Eve não tinha forças contra aquele olhar sedutor e se sentiu enfraquecendo. Fez um esforço para manter a atitude desdenhosa.

– Parece-me, Sir, que você faz muitas coisas que não pretende fazer! Ele lhe deu novamente aquele sorriso devastador e, desta vez, Eve notou a covinha no rosto bonito, o que a distraiu muito.

– Ah, você não está tão zangada, afinal de contas. Vejo um brilho nos seus olhos, srta. Shawcross. Riria se não estivesse determinada a me colocar no meu lugar? Estou perdoado?

Eve se virou, de modo que ele não pudesse ver seu sorriso.

– Depende de sua conduta futura, sr… Wylder. Devo entender que você veio falar com meu avô?

– Na verdade, vim, se estiver bem o bastante para me receber. Enviei meu representante para cá esta manhã, a fim de avisar vocês de minha chegada. Ela inclinou a cabeça.

– Não vejo vovô desde que tomamos o café da manhã juntos, de modo que não sei nada sobre sua mensagem. Todavia, não significa que você não é bem-vindo. Por favor, entre, Sir, e irei verificar se ele pode recebê-lo.

Eve deixou o visitante no grande salão, com suas paredes alinhadas com os brasões. Entre escudos, espadas e armas antigas que competiam por espaço perto das janelas longas, um lembrete do período turbulento quando o salão tinha sido construído. Enquanto subia a escada correndo, Eve olhou para trás. Estava ainda parado diante da enorme lareira, estudando o topo entalhado na cornija. A cabeça inclinada para trás, dava-lhe uma excelente vista do perfil bonito, com seu nariz reto e maxilar forte, poderoso, confiante. Eve pensou em como aquele estranho homem se encaixaria bem naquele período de disputas. Assim que estava fora de visão, no topo da escadaria, Eve parou e se inclinou contra a parede. Seu coração bombeava desconfortavelmente no peito. Então aquilo acontecera; seu avô sempre lhe prometera que um dia lhe traria um marido, pedindo-lhe que confiasse nele para encontrar um cavalheiro adequado, um que cuidasse dela como fosse devido. Um que a fizesse feliz. Pressionou as mãos no rosto. Tinha esperado que seu avô levasse para casa alguém como Squire Amos do vilarejo de Makerham, uma pessoa sólida e respeitável. Não havia dúvida de que o cavalheiro agora parado no grande salão era sólido… quando ele a pressionara contra si, parecera realmente sólido… mas Eve duvidava muito que fosse respeitável. Estava ciente que levara uma vida muito protegida, mas sabia que cavalheiros respeitáveis não beijavam jovens ladies antes mesmo de terem sido apresentados! E jovens ladies não ficavam no mesmo lugar para trocar brincadeiras com tais patifes. Eve perguntou-se por que não tinha fugido quando o homem a liberara. De alguma maneira, para sua surpresa, percebeu que não se assustava com aquele homem. Ficou chocada, sim, e ultrajada, mas nunca com medo. Respirou fundo e passou as mãos sobre o vestido para amaciá-las. Se ao menos pudesse amaciar seus nervos descontrolados. Se seu avô descobrisse a causa de sua agitação, ficaria alarmado; poderia até mesmo mandar o visitante embora. Com uma pequena ponta de surpresa, percebeu que não queria realmente que aquilo acontecesse.

 

EVE ENCONTROU o avô no salão matinal. A poltrona wing tinha sido movida para a janela, e ele estava sentado com um cobertor sobre os joelhos, olhando para o parque do lado de fora.

– Vovô?

Sir Benjamin Shawcross fora um homem bonito em sua juventude, mas a falta de saúde o envelhecera prematuramente, e, embora não tivesse muito mais do que sessenta anos, possuía a pele pálida e flácida no corpo grande. Ainda assim, apesar do grande esforço que lhe custava todas as manhãs, insistia que seu pajem, Rooney, o ajudasse a sair da cama e se vestir em roupas limpas, sempre com o casaco de veludo. Os escassos cabelos grisalhos estavam escondidos por uma peruca cacheada no velho estilo, e havia sempre um brilho nos olhos azuis-claros. Este mesmo que estava em evidência agora, enquanto olhava para a neta.

– Eve, minha querida, entre. Rooney me deixou confortável aqui, onde posso olhar pela janela. Tenho um visitante, sabe?

– Sim, Sir, eu sei. – Eve pôs sua cesta no chão e atravessou a sala para o lado dele.

Quando se inclinou para lhe beijar a testa, olhou pela janela, que dava vista para o pátio de acesso, mas felizmente a vista da pequena ponte de pedra estava bloqueada pela maior parte da torre da mansão. Seu avô não tinha visto seu primeiro encontro com o convidado. Ela abaixou para se sentar no banquinho de apoio para os pés ao lado da poltrona dele, e pegou as mãos enrugadas de seu avô entre as suas.

– Sr. Wylder já está no grande salão, vovô.

– Capitão, meu anjo; é capitão Wylder. Navegou com o almirante Howe contra os franceses e cumpriu muito bem o seu dever, sem sombra de dúvida.

Pode ser, mas antes que seja encaminhado para cá, quero que o senhor me diga por que exatamente ele está aqui.

Desde quando, criança, devo lhe dar satisfação sobre quem convido para vir à minha própria casa?

Eve não foi enganada pelo tom de voz irritado. Viu a consternação nos olhos claros de seu avô, mas ela não seria desviada de seu objetivo.

– Por favor, vovô, conte-me.

– Conheço a família há anos. Nick Wylder é o irmão mais novo do conde de Darrington. É claro que nós não nos conhecemos bem, uma vez que ele é muito mais novo que eu e passou a maior parte de seu tempo no mar. Sei que deixou seu trabalho no navio com Howe em 1778. Nenhum deles pensou muito em como o governo lidaria com a Guerra Americana, mas antes que pudessem retornar à Inglaterra, foram capturados na defesa da Ilha de Rhode. Trabalho inteligente aquele. – Sir Benjamin riu. – O jovem Nicholas venceu os franceses, foi homenageado por sua bravura, mencionado nos jornais. Você deve lembrar…

– Isso foi cinco anos atrás, vovô – interrompeu Eve suavemente, porém com firmeza. – E não me recordo de o senhor alguma vez ter chamado a minha atenção para um capitão Wylder.

– Não, bem, talvez não. Na verdade, também não me lembrava muito disso, até que o jovem Nicholas me procurou em Tunbridge Wells no mês passado. Foi Percy Anderton quem me contou a história. Percy perdeu o filho na guerra, e o capitão Wylder veio visitá-lo assim que retornou à Inglaterra, a fim de prestar seus respeitos. Percy ficou muito impressionado. Parece que capitão Wylder tem amigos no governo, também… o jovem Pitt e lorde North…

– Mas o senhor disse que capitão Wylder o procurou, vovô – persistiu Eve, franzindo o cenho. – Por que faria isso?

– Por que não o faria? Um velho amigo da família, afinal de contas.

– Sim, mas por que esperaria até agora para procurá-lo?

– Não faço ideia, mas fico muito satisfeito por ter acontecido. É um bom jovem, Eve, muito atencioso comigo. Eu o convidei para nos visitar…

– Mas o senhor não me falou uma palavra sobre ele, vovô.

Sir Benjamin movimentou-se desconfortavelmente em sua poltrona.

– Não. Bem, o momento não me pareceu propício, e, afinal de contas, não sabia se ele realmente viria.

– O senhor o trouxe aqui como um marido para mim? – questionou ela de maneira direta.

– Ele mencionou para mim que estava procurando uma esposa, e…

– E o senhor quer que eu tenha um marido.

– Apenas se você estiver disposta, Evelina.

– Eu lhe disse, vovô, ainda não tenho desejo por um marido.

– Precisará de alguém para cuidar de você, quando eu me for.

– Vovô!

– Não se faça de ultrajada, Eve. Ambos sabemos como está a minha saúde. O dr. Scott nos avisou que meu coração está muito fraco agora; o fim não pode estar longe…

– O senhor não deve falar essas coisas – disse ela com ferocidade.

– Ignorar o inevitável não impedirá que aconteça, minha querida. Se Nick Wylder quer se casar com você, recomendo que o aceite. Não irei insistir, é claro, mas pedirei que considere o assunto muito cuidadosamente – Ele apertou-lhe os dedos e os liberou. – Agora, não devemos deixar nosso convidado esperando mais tempo. Traga o capitão Wylder aqui para cima, Evelina.

– Mas, vovô… Ele gesticulou uma mão no ar de maneira impaciente.

– Acha que sou mal-educado, criança? Peça que Green o envie para cima.

A ordem foi dada, e Eve voltou para se posicionar de pé ao lado de seu avô. Ele lhe pegou a mão.

– Confie em mim em relação a isso, meu anjo. Estou pensando somente em você. Ah… – Ele se virou na direção da porta quando o mordomo anunciou seu visitante. – Meu caro Sir, seja muito bem-vindo! Perdoe-me por não me levantar para recebê-lo, mas minhas pernas estão fracas hoje. Os banhos em Tunbridge não me ajudaram muito naquela ocasião.

– Sinto muito em saber disso, Sir Benjamin.

Evelina observou o capitão Nick Wylder entrar na sala, o vigor saudável ainda mais em evidência quando contrastado com a debilidade de seu avô. Ele se aproximou e fez uma reverência para seu anfitrião, exalando energia. Sir Benjamin sorriu e assentiu com um gesto da cabeça.

– Você conheceu minha neta, Evelina?

Eve encontrou aqueles olhos azuis fixos em seu rosto. Tinha a estranha impressão que podia ler seus pensamentos mais secretos. Ergueu o queixo e retornou o olhar dele de maneira desafiadora.

– Na verdade, sim. – Nick Wylder virou-se. – Isto é, nós nos apresentamos, mas eu estou contente pela oportunidade de ser apresentado mais formalmente, Sir. – Os olhos dele lhe sorriram. – Temo que a srta. Shawcross me desaprova.

Ela se curvou numa reverência, suas faces queimando. Como era possível querer rir e ficar furiosa ao mesmo tempo? Eve não possuía experiência com cavalheiros como o capitão Wylder, mas o instinto lhe dizia para tomar cuidado. Eve ficou determinada a não se dirigir ao capitão, mas sua resolução foi desnecessária. No momento em que endireitou o corpo, após a reverência, Nick Wylder tinha engajado Sir Benjamin numa conversa, discutindo com facilidade diversos assuntos, tais como a eficácia de banhos quentes, o prazer de caçar e de viajar. Não havia nada para fazer, exceto arranjar as flores no vaso que Green lhe providenciara. Sem motivo, estava zangada por não poder tratar o cavalheiro sorridente com desdém.

Eu o vi chegando a cavalo, capitão – disse Sir Benjamim. – Presumo que sua bagagem o segue?

Sim, Sir. Richard Granby, meu lacaio, traz a bagagem na minha carruagem.

– Você vai ficar aqui? – exclamou Eve.

Mais uma vez, aqueles perturbadores olhos azuis a estudaram.

– Lamento, mas sim. Será uma inconveniência para você?

– N… não – gaguejou ela. – Isto é, você não ficará mais de uma noite, espero. Sir Benjamin riu.

– Não dê atenção ao que minha neta fala, capitão Wylder. Ela gosta de fazer piadas.

– Assim notei, Sir Benjamin. – Ele sorriu para ela de um jeito que fez Eve querer socá-lo.

– O capitão Wylder está nos fazendo uma visita prolongada – explicou Sir Benjamin.

– Verdade? – Eve forçou um frágil sorriso adocicado.

– Estou em grande débito com seu avô por ter me permitido ficar com vocês. – Nick fez uma mesura para ela. – Terei muito tempo para me acostumar com suas brincadeiras.

Eve se virou para o arranjo de flores. Seus movimentos zangados e abruptos quebraram um dos caules e foi obrigada a respirar profundamente para se acalmar, antes que continuasse. O mordomo entrou com uma garrafa de vinho, e dois cálices depois disso, os cavalheiros não lhe deram mais atenção, envolvidos em suas discussões sobre caça e linhagens sanguíneas, então, assim que terminou com as flores, Eve pediu licença e escapou. Nick a observou sair da sala, os pequenos saltos movendo suas saias, enquanto atravessava o piso. Uma leve tosse de Sir Benjamin o fez se virar e encontrar seu anfitrião estendendo sua taça vazia, indicando, com o arquear de uma sobrancelha, que esta deveria ser completada. Nick hesitou, e o homem mais velho lhe piscou.

– Vamos lá, meu rapaz. Meu mordomo e minha neta podem discutir que bebida alcoólica não me faz bem, mas você não ouviu meu médico dizendo isso. A vida é para vi-ver, Sir, e pretendo apreciar o pouco tempo que me resta.

– Não posso discordar desta filosofia, Sir Benjamin. – Nick sorriu, e serviu ambas as taças de vinho. – A srta. Shawcross parece um pouco agitada – observou ele. – Eu realmente espero que minha visita não seja inoportuna…

Sir Benjamin riu.

– Está irritada porque não lhe contei sobre sua vinda para cá.

– Imaginei isso. – Nick sorriu para si mesmo ao se recordar de seu primeiro encontro com Evelina Shawcross. – Sinto, mas talvez eu a tenha irritado ainda mais.

– Não importa, a irritação de Eve irá passar. – Sir Benjamin deu um gole de seu drinque. – Minha neta é uma boa garota. Sensata e com uma natureza tão doce quanto qualquer homem poderia desejar. Não é leviana e nunca mostrou desejo de ir embora para explorar o mundo. – O homem idoso deu um pequeno suspiro. – A mãe de Evelina era o oposto. Nunca se sentia mais feliz do que quando estava viajando. Levou meu filho para todos os lugares quando se casaram. Eve é diferente, uma garota tranquila. Precisa de um marido que possa lhe dar todo o conforto que ela apreciou aqui em Makerham. Um homem que cuidará dela propriamente. Você pode fazer isso, capitão? Nick subitamente encontrou aqueles olhos claros fixos nos seus de maneira feroz. Ele retornou o olhar com firmeza.

– Você sabe as circunstâncias, Sir Benjamin. Acredito que posso manter uma esposa com conforto apropriado.

– Sim, sim, mas você a fará feliz? Nick reprimiu um sorriso.

– Nunca recebi reclamações, Sir.

– É isso que me preocupa… um homem de tão boa aparência como você. Vi as mulheres em Tunbridge o olhando, tentando seduzi-lo… e algumas delas nem sequer têm idade para este tipo de comportamento!

– O que o senhor não viu foi a mim respondendo a quaisquer daquelas tentativas de… sedução – replicou Nick. – Vamos ser claros e honestos, Sir Benjamin. Não sou um monge; houve muitas mulheres na minha vida, mas nenhuma delas passou de um flerte. Se obtiver uma esposa, ela não terá nada a temer a esse respeito.

– Fico contente em saber. Bem, Sir, se deseja se casar com minha neta, então vá em frente. Mas, atenção, deve ser uma decisão de Eve. Não irei forçá-la a nada. Nick ergueu sua taça.

– Pelo pouco que vi da lady, Sir, acho que irá tomar a própria decisão.

 

– QUANDO EVE foi para o quarto, a fim de trocar de roupa para jantar, sua criada Martha estava pondo seu vestido sobre a cama.

– Meu vestido azul de seda? – exclamou ela. – Não é um pouco sofisticado demais para um jantar em família?

– Nós devemos deixá-la em sua melhor aparência para seu visitante, senhorita.

– Não tenho certeza se a ocasião justifica tanto esplendor – protestou Eve suavemente, mas Martha não seria dissuadida.

– O capitão Wylder é um cavalheiro fino, senhorita. Filho de um conde. É o que diz o mensageiro.

– Sei disso, Martha.

– Ah, mas você também sabe que ele é um herói? Nas Américas, foi um herói, lutando contra os rebeldes. Capitão Wyldfire, eles o chamavam. – Ela estendeu a anágua para que Eve vestisse.

– Martha, o que lhe disse sobre repetir fofocas dos criados?

– Não é fofoca, senhorita – corrigiu-a Martha. – É uma informação. Era um capitão ousado e destemido, sr. Granby me contou, sempre encontrado onde havia as maiores lutas. Por isso o nome de Wyldfire, dizem, porque usava armas de fogo para invadir territórios inimigos.

– E quem diz isso? Os servos dele, eu não duvido.

– Sim, bem, sr. Granby me contou algumas histórias, mas William, o cocheiro, ouviu a mesma coisa do cavalariço, que está com a família desde sempre. Eve bufou com incredulidade.

– Acho que estão todos influenciados pelo seu amo. Escreverei para minha antiga colega de escola, Maria Scott… lady Gryfford, agora. As cartas dela são sempre cheias de fofocas da sociedade, e tenho certeza que será capaz de me contar coisas verdadeiras sobre nosso hóspede.

– Tenho certeza que sim, senhorita – replicou Martha, confortavelmente. – E estou certa que irá confirmar o que foi dito. Afinal, você só precisa olhar para ele, alto e bonito, como é. Capitão Wyldfire é um herói de verdade.

– Bem, não precisará ser um herói nesta casa – retorquiu Eve, mal-humorada. Olhou para a caixa de couro vermelha sobre a penteadeira. – O que é isto?

– As safiras de sua santa mãe – replicou Martha. – Sir Benjamin ordenou que elas fossem enviadas para você. Quer que as use esta noite.

Eve levou uma das mãos ao pescoço desnudo.

– Vovô… as enviou?

– Sim, senhorita. E insiste que você as use. Olhou para a caixa. Finalmente, murmurou baixinho:

– Então, é claro que devo usá-las.

 

NICK ESTAVA de pé perto da lareira na pequena sala de estar e olhou para baixo, vendo as chamas se moverem alegremente no centro. Uma das achas de lenha tinha caído para a frente, e resistiu à tentação de usar o pé para devolvê-la ao lugar. Richard trabalhara arduamente para convencê-lo a vestir aquela sobrecasaca azul-marinho, e a calça na altura do joelho, que era requerida para um jantar formal, e sabia que seu servo confiável consideraria seus esforços desperdiçados se Nick acabasse com cinza em seus sapatos de couro macio ou, pior ainda, em suas meias brancas de seda. Em vez disso, pegou a pinça apropriada para a tarefa e rearranjou as toras de madeira, até que as chamas estivessem começando a consumi-las, avidamente. Endireitou o corpo quando a porta se abriu e srta. Shawcross entrou. Depois do encontro no caminho de acesso, pensou que estivesse sob controle, mas foi um esforço impedir que sua boca se abrisse quando a olhou. Era uma visão em azul-esverdeado e renda prateada, os cabelos gloriosos presos no topo da cabeça, com um cacho preto brilhante caindo sobre o ombro. Nick sorriu para si mesmo. Tinha ido a Makerham determinado a cortejar Evelina Shawcross, mesmo se fosse corcunda e estrábica. Aquela criatura gloriosa era como um presente dos deuses. Despertava nele tudo que era bom… e ruim! Havia uma expressão perturbada no rosto de Eve quando ela entrou na sala, e ele disse apressadamente:

– Presumo que é aqui que vocês se encontram antes do jantar…

– Está perfeitamente correto, senhor. Lamento apenas que não havia ninguém para recebê-lo. Ele sorriu.

Você está aqui agora e isto é tudo que importa. – Ele deu alguns passos à frente para lhe oferecer o braço. As safiras ao redor do pescoço dela brilhavam, realçando a beleza daquele colo elegante. Nick ansiava por tocar aquela pele de aparência sedosa, mas ela era como um animal selvagem, tensa e pronta para brigar. Deveria agir com cautela.

Srta. Shawcross, você não está feliz com a minha presença aqui.

– Oh… não, eu…

A mão de Eve agitou-se em seu braço, e Nick cobriulhe os dedos com os seus. Ela estava tremendo.

– Por favor – murmurou ele –, enquanto estamos a sós, deixe-me dizer isso. Se você prefere que eu vá embora, darei uma desculpa para Sir Benjamin… Eve parou, abaixando os olhos, os longos cílios pretos contra as faces alvas. Nick observou as emoções brincarem naquele rosto bonito, viu a expressão dela se tornar resoluta.

– Você é convidado de meu avô, Sir. É desejo dele que fique, e para mim, o desejo de meu avô está acima de qualquer coisa.

– Serei guiado pelos seus desejos, lady. Diga-me o que você quer que eu faça – continuou ele suavemente. – Nós tivemos um começo lamentável. Perdoe-me por aquilo, srta. Shawcross, e permita-me mostrar que posso ser um cavalheiro. Viu o rubor delicado tingir o rosto dela, leu a incerteza nos olhos que encontraram os seus, então sua gentileza foi recompensada com um sorriso tímido.

– Muito bem, capitão Wylder, estou disposta a ser persuadida.

Havia um brilho naqueles olhos castanhos suaves, uma expressão travessa. A tentação de roubar outro beijo era muito forte, mas Nick resistiu. Não seria a atitude de um cavalheiro! Em vez disso, escoltou-a para um sofá. Pretendia se sentar ao seu lado, mas quando Eve se sentou, espalhou as saias azuis, cobrindo completamente o assento. Com um sorriso irônico, Nick moveu-se para a poltrona do lado oposto da lareira. Conquistá-la seria um trabalho lento, mas descobriu que gostaria do desafio.

 

EVELINA ESTAVA cônscia de um desapontamento irracional. Estivera convencida de que Nick a beijaria novamente, e seu coração disparou só com esse pensamento. O homem possuía um ar de perigo ao seu redor, uma deliciosa sensação do desconhecido que fazia sua pulsação acelerar. Agora estava, no entanto, determinado a ser um cavalheiro. Ela ficou satisfeita por isso, é claro. Movimentou-se de maneira agitada no sofá, sua anágua de seda se ondulando ao seu redor.

– Seu avô me explicou que vocês moram aqui sozinhos – observou o capitão, acomodando sua grande forma numa poltrona. – Ele me contou que seus pais faleceram quando você era criança. Eu sinto muito.

– Obrigada, mas você não precisa ter pena de mim; isso aconteceu mais de dez anos atrás. Meus pais gostavam muito de viajar e eu era deixada em casa com vovô, de modo que nunca os conheci muito bem. Acho que eram um casal muito inquieto. – O silêncio compassivo de Nick encorajou-a a falar mais. – Foi uma febre; eles estavam no Continente quando foram infectados. – Ela pausou brevemente, então forçou um sorriso. – E sou muito feliz, vivendo aqui com vovô. Nada me falta.

– Você fica muito isolada aqui. Não acha um pouco… solitário?

– Vovô é companhia suficiente para mim – respondeu ela sem demora. – Não tenho desejo por companhia feminina… e já passei da idade de precisar de uma dama de companhia. Os cantos da boca dele se curvaram num pequeno sorriso.

– Considerando nosso primeiro encontro, tenho de discordar de seu último ponto, srta. Shawcross.

Eve enrubesceu. Ficou aliviada quando a entrada de seu avô proporcionou a distração na hora certa. Sir Benjamin entrou, apoiando-se em sua bengala e declarando que deveriam ir diretamente para a sala de jantar.

– Se me sentar aqui, talvez não consiga levantar novamente – explicou ele com uma risada. – Não, não, minha querida, não preciso de seu braço; deixe Wylder escoltá-la.

Andaram lentamente para a sala de jantar, onde Eve encontrou-se sentada do lado oposto de Nick Wylder.

– Pedi que Green rearranjasse a mesa – disse Sir Benjamin, interpretando corretamente o olhar de surpresa da neta. – É tolice você se sentar à outra cabeceira, e Wylder aqui, no meio da mesa entre nós. Muito melhor tê-los perto de mim, onde posso ver os dois. Será apenas um jantar aconchegante, Wylder – continuou ele. – Nós não temos nenhum tipo de cerimônia aqui. A comida é simples, mas você não encontrará melhor no município, e isso é graças à Evelina.

– Vovô! – Ela balançou a cabeça para ele.

– Por que a modéstia, querida? É correto que nosso hóspede saiba o tesouro que você é. Ela cuida da casa desde que terminou a escola. – Sir Benjamin riu. – Eve só tinha 17 anos na época, Wylder. Eu preferia que ficasse em Londres com as amigas, mas ela não quis. Insistiu em vir para casa, morar comigo. Não que Eve precisasse cuidar da casa, porque temos uma governanta muito eficiente na sra. Harding, mas minha neta estava determinada a cuidar de mim. E assim tem feito, de forma magnífica.

– Não duvido – retornou capitão Wylder. – E quantos anos atrás foi isso, Sir?

– Sete – respondeu Sir Benjamin instantaneamente.

Enquanto seu avô voltava a atenção para o prato, Eve olhou do outro lado da mesa para Nick Wylder. Ele lhe encontrou o olhar com um sorriso reluzente.

– Vinte e quatro anos – murmurou ele. – Muito velha para uma dama de companhia.

– Assim como para me casar! – retorquiu Eve, antes de sinalizar para o lacaio encher os copos. – Então, capitão, você esteve em Tunbridge Wells. Estava aproveitando as águas medicinais? – acrescentou ela docemente: – Um pouco de artrite, talvez?

Os olhos dele reconheceram o ataque, mas Nick meramente disse:

– Não, estava lá a negócios.

– Oh? E agora que seus negócios estão concluídos, você tem tempo para uma permanência prolongada aqui em Makerham? Mais uma vez, aquele brilho travesso brilhou nas profundezas dos olhos azuis de Nick.

– Espero concluir os meus negócios enquanto estou aqui.

– E que negócio seria este, Sir? Eve pegou sua taça de vinho.

– Casamento. Eve engasgou.

– Oh, meu Deus – murmurou Sir Benjamin. Então deu um olhar reprovador para seu hóspede. – Eu não planejava abordar este assunto delicado antes de um ou dois dias, Sir.

– Então, peço perdão, Sir Benjamin, mas considerando a idade avançada de sua neta, não gostaria de perder tempo.

Evelina, ainda se recuperando de um acesso de tosse pelo engasgo, pôde somente arfar. A boca de Sir Benjamin se abriu, então o rosto dele se enrugou num sorriso.

– Ah, você está brincando, Sir! Eve, minha querida, acho que encontrou alguém à sua altura, aqui. O capitão Wylder é tão brincalhão quanto você!

Evelina forçou um sorriso nos lábios, mas o olhar que deu a Nick Wylder prometia terrível revanche.

Nick voltou a atenção para seu jantar. Estava se divertindo, e muito mais do que havia antecipado. Sir Benjamin era um anfitrião atencioso e, apesar de estar confinado a casa por causa de sua saúde precária, era notavelmente bem informado, e a conversa fluía bem. Então havia a srta. Shawcross. Era um misto de força e adorável inocência; um bônus não previsto para seus planos. Nick percebeu, com uma onda de surpresa, que queria saber mais sobre ela.

 

EVE PEDIU licença após o jantar, e foi para seu quarto, escrever uma carta para sua antiga colega de escola. Ouvi dizer que o capitão Wylder é uma espécie de herói, escreveu no fim da carta. Todavia, por mais que seja respeitado como marinheiro, espero que você possa me contar algumas informações sobre o caráter dele como homem.

Pronto – disse para si mesma quando selou a carta. – Se conheço um pouco Maria, ficará encantada em descobrir tudo que há para saber sobre o capitão Nick Wylder.

 

SIR BENJAMIN não permitia que os residentes de Makerham ficassem acordados até tarde da noite, então não foi até a manhã seguinte que Eve viu o hóspede deles novamente. Era seu costume, durante as manhãs de verão como aquele, passear pelos jardins ornados que cercavam Makerham. Abrigada e isolada na base de um vale reflorestado, a mansão era sempre convidativa, mas ficava mais bonita no verão. Eve adorava o modo como as pedras velhas pareciam brilhar, e como a luz dourada do sol reluzia nas janelas, o que dava à casa antiga uma qualidade de conto de fadas. Estava andando pelos caminhos alinhados por lavandas quando ouviu passos no chão de cascalho atrás de si. Virou-se para encontrar o capitão Wylder se aproximando.

– Bom dia, srta. Shawcross. Você acorda cedo.

– Sim. Frequentemente faço uma caminhada a esta hora; os jardins ficam muito bonitos com orvalho ainda nas flores.

– Então me juntarei a você, se me permite?

Após uma breve hesitação, Eve assentiu. Não pegou o braço dele, mas andou ao seu lado, mantendo uma distância segura entre os dois. A pedido de Nick, apontou para as flores mais incomuns e descreveu-lhe a história da construção dos jardins. Quando chegaram ao final, pararam e se viraram, olhando de volta para a velha mansão.

– Este lugar é magnífico – comentou Nick. – Está claro que você ama Makerham.

– É o meu lar.

– Mas é transmitido por herança. – Diante das palavras dele, Eve o fitou, e Nick abriu as mãos. – Seu avô me contou.

– Sim. Quando vovô falecer, a propriedade passará para meu primo, Bernard Shawcross.

– E você terá de ir embora.

Evelina pensou em seu primo, com mãos pegajosas e ar de dominador. Parecia assumir que estava incluída em sua herança. Eve sabia que faria tudo que estivesse em seu poder para evitar tal destino.

– Sim – murmurou ela, calmamente. – Terei de ir embora. – O toque do sino na torre do relógio a fez levantar a cabeça. – Está na minha hora de entrar. Meu avô irá descer em breve.

Nick acompanhou-a de volta para a casa, mas quaisquer planos para cortejar sua pretendente foram destruídos quando ela anunciou que se encontrariam novamente durante o jantar.

– Você não vai tomar seu café da manhã agora, srta.

Shawcross? Ela meneou a cabeça.

– O café da manhã será servido para você e vovô muito em breve, capitão. Irei até o vilarejo de Makerham.

– Não pode esperar por mim? Gostaria de escoltá-la.

Mais uma vez, ela balançou a cabeça em negação. Nick estava convencido que havia um brilho travesso nos olhos dela.

– Levarei um pouco de comida para os pobres. Não me agradeceriam por levar um estranho para dentro de suas casas. Vovô ficará muito contente em ter sua companhia para o dia – acrescentou ela com um sorriso ensolarado. – E ficarei feliz em saber que ele está entretido.

Nick observou-a partindo, um pequeno sorriso curvando a própria boca. Ela se esquivara, por Deus. Srta. Evelina Shawcross podia ser inocente, mas não lhe faltava inteligência. Conquistá-la seria um desafio. O sorriso de Nick se ampliou. Nunca resistia a um desafio.