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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Maisey Yates. Todos os direitos reservados.

HERDEIRO DO DESERTO, N.º 1408 - Dezembro 2013

Título original: Heir to a Desert Legacy

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-3772-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Sayid al-Kadar observou a rua vazia e fechou o casaco para se proteger da chuva. Na opinião dele, a chuva de Portland era insuportável.

Mesmo na melhor zona da cidade, tudo parecia opressivo. O chão, a calçada, os edifícios que se erguiam até ao céu. Uma prisão de vidro e aço. Não era um lugar para um homem como ele.

Não era um lugar para o herdeiro do trono de Attar. No entanto, segundo a informação que reunira durante as últimas vinte e quatro horas, era ali que estava o herdeiro do trono de Attar.

Desde que encontrara os documentos no cofre do irmão, decidira descobrir se havia alguma possibilidade de o herdeiro ter sobrevivido. Em tempo recorde, Alik confirmara que o menino sobrevivera e qual era o seu paradeiro. Claro, Sayid não se surpreendera com a eficiência do amigo. Alik nunca falhava.

Sayid atravessou a rua ao mesmo tempo que uma mulher se aproximava do mesmo edifício.

Sorriu, tentando mostrar o encanto que não usava há muito tempo. Um encanto que já nem sequer se incomodava em fingir. Funcionou. Ela introduziu a chave e segurou a porta aberta para que ele entrasse, sorrindo de forma sedutora.

Não estava à procura daquele tipo de convite.

Dirigiu-se para um elevador diferente do que ela escolhera e subiu até ao último andar. Sentia-se deslocado, mas, ao mesmo tempo, sentia-se aliviado por estar fora do palácio.

Cerrou os dentes e observou o corredor estreito. A humidade do ar colava-se à sua roupa e à sua pele. Era outra das consequências daquele clima tão desagradável.

Fazia-o pensar na cela de uma prisão. Nunca tivera motivos para visitar os Estados Unidos. O seu lugar era em Attar, num deserto extenso. E, embora o seu dever o obrigasse a permanecer perto do palácio, nele sentia-se quase tão estranho como naquele lugar frio e húmido.

Desde que o avião aterrara, o frio apoderara-se dele. Ainda que, na verdade, devesse admitir que estava gelado há mais de seis semanas. Desde que soubera da morte do irmão e da cunhada.

E, depois, a notícia do bebé.

Fizera o possível para evitar ter relação com crianças e sobretudo com bebés, mas não havia forma de conseguir evitar relacionar-se com aquela.

Parou à frente da porta e bateu. Não recordava quando fora a última vez que batera a uma porta.

– Um segundo – ouviu-se um barulho e o pranto de um bebé.

Apercebeu-se de que alguém se apoiava contra a porta. Provavelmente, estaria a ver quem era.

Nesse caso, duvidava que o deixasse entrar. Algo que também não lhe acontecera nos últimos tempos.

– Chloe James? – perguntou.

– Sim – respondeu ela.

– Sou o xeque Sayid al-Kadar, regente de Attar.

– Disse «regente»? Interessante... Attar. Dizem que é um país bonito. No norte de África, perto de...

– Conheço a geografia do meu país tão bem como a menina e sei muito mais do que aparece nos livros. Ambos o sabemos.

– A sério? – o pranto do bebé tornou-se mais agudo e insistente. – Estou ocupada – declarou Chloe. – Acordou o bebé e agora tenho de o adormecer outra vez, portanto...

– É por isso que estou aqui, Chloe. Pelo bebé.

– Agora, não está de bom humor. Verei se consigo encontrar tempo na rotina diária.

– Menina James – insistiu. – Se me deixar entrar, poderemos falar dos detalhes da situação em que nos encontramos.

– Que situação?

– A do bebé.

– O que quer dele?

– Exatamente o que o meu irmão queria. Foi assinado um acordo legal e, visto que uma das assinaturas é a sua, deve conhecê-lo. Tenho-o em meu poder. Posso levá-la a tribunal ou falamos disso agora.

Ele não desejava envolver os tribunais dos Estados Unidos, nem os de Attar. Queria solucioná-lo em silêncio e não queria que as coisas se descobrissem antes de os seus conselheiros conseguirem investigar a história a respeito de como o menino sobrevivera e porque permanecera escondido durante as semanas posteriores à morte do xeque.

Contudo, antes de fazer tudo isso tinha de descobrir qual era a situação. Se os documentos que tinham redigido mostravam a verdade ou se a relação do seu irmão com Chloe James fora mais especial do que estava documentado.

Isso poderia complicar as coisas. Poderia evitar que ele levasse o menino. E isso não era aceitável.

Ela abriu a porta, mas não tirou a corrente.

– Identificação? – perguntou a mulher, olhando para ele através da fresta.

Reparou nos olhos azuis dela e suspirou antes de tirar o passaporte que tinha na carteira dentro do casaco.

– Satisfeita? – perguntou, depois de lho mostrar.

– Sim – fechou a porta para tirar a corrente. – Entre.

Ele entrou na sala e sentiu-se imediatamente encurralado. As paredes estavam cheias de estantes com livros, fazendo com que a divisão parecesse mais pequena. Sobre uma mesa de apoio havia um computador portátil e uma pilha de livros. Num canto, outra pilha de livros no chão. Apesar de estar tudo arrumado de uma maneira lógica, a falta de espaço fazia com que a sala parecesse um caos ligeiramente organizado. Não tinha nada a ver com a precisão militar com que ele organizava a sua vida.

Olhou para Chloe. Era uma mulher pequena, com o cabelo avermelhado, a tez pálida e sardas. Tinha um busto generoso e a cintura um pouco larga. Encaixava com o aspeto de uma mulher que acabara de dar à luz e que passara várias semanas a dormir poucas horas.

Mexeu-se e ele reparou que, sob a luz do candeeiro, o cabelo dela parecia dourado. Se o bebé fosse dela, seria muito parecido. Era muito diferente do seu irmão, que tinha a pele bronzeada, e da noiva, uma mulher de cabelo escuro.

– Suponho que saiba que quase não tem segurança aqui – indicou. O pranto parara e o apartamento estava calmo. – Se quisesse entrar à força, poderia tê-lo feito. E qualquer pessoa que quisesse magoar o bebé, também. Não lhe faz nenhum favor ao mantê-lo aqui.

– Não tinha outro lugar para onde o levar – defendeu-se.

– E onde está o bebé?

– Aden? – perguntou. – Não é necessário vê-lo agora, pois não?

– Gostaria de o ver – indicou.

– Porquê? – pôs-se à frente do sofá, como se quisesse bloquear-lhe o caminho.

Irrisório. Ela era pequena e ele era um soldado bem treinado que conseguia afastar um homem com o dobro do seu tamanho sem se cansar.

– É meu sobrinho. Do meu sangue – disse.

– Eu... Não sabia que pensava que tinha alguma relação com ele.

– Porquê?

– Nunca era alguém próximo da família. Quer dizer, Rashid disse...

– Ah... Rashid – a maneira de nomear o seu irmão era esclarecedora. E podia complicar as coisas. Se ela fosse a mãe biológica daquele menino, seria muito mais difícil usar os documentos legais contra ela. Difícil, mas não impossível.

E, se não o conseguisse, poderia causar um incidente internacional e levar o menino com ele. À força, se fosse necessário.

– Sim, Rashid. Porque o disse desse modo?

– Tento verificar a natureza da sua relação com o meu irmão.

Ela cruzou os braços.

– Eu tive o filho dele.

Uma espécie de fúria apoderou-se dele. Se o seu irmão fizera algo para comprometer o futuro do país...

Porém, o seu irmão estava morto. Não haveria consequências para Rashid, independentemente das circunstâncias. Ele perdera a vida. E Sayid devia certificar-se de que Attar não sofria. De que a vida continuava o mais tranquila possível para os milhões de pessoas que consideravam que aquele país era o seu lar.

– E também redigiu este documento – tirou um molho de papéis dobrados do casaco – para que, se alguém se apercebesse de que não tinha sido Tamara a ter Aden, pensassem que fazia parte do plano desde o princípio?

– Espere... O que disse?

– Conspirou para inventar a história da barriga de aluguer para esconder a relação que teve com...

Ela levantou as palmas das mãos.

– Eh! Não. Oh... Não. Eu tive o filho dele, fiz de barriga de aluguer. Para ele e para Tamara – tremeu-lhe ligeiramente a voz e baixou o olhar.

– E porque não me procurou?

– Não... Não sei. Estava assustada. Eles estavam a caminho quando aconteceu. A caminho do hospital do aeroporto. Eu já estava em trabalho de parto, foi um pouco mais cedo do que esperava. Iam mudar-me para um hospital particular e o médico estava com eles durante o... Todas as pessoas que eu conhecia estavam com eles.

Olhou à sua volta e franziu os lábios.

– Portanto, trouxe-o para aqui, para o apartamento, quase sem segurança, para o proteger?

– Ninguém sabia que estava aqui.

– Os meus homens demoraram menos de vinte e quatro horas a descobrir onde estava. Teve sorte por ter sido eu a encontrá-la e não um inimigo do meu irmão, de Attar.

– Não sabia se era inimigo de Aden.

– Pode ter a certeza de que não sou.

Chloe levantou a vista e encontrou o olhar penetrante dos olhos escuros dele. Não podia acreditar que Sayid al-Kadar estivesse na sala da sua casa. Estivera atenta às notícias sobre Attar desde o nascimento de Aden. Vira como aquele homem assumira o poder com elegância e de uma maneira tão calma que podia ser inquietante, enquanto a nação continuava emocionada com a tragédia.

O xeque e a esposa tinham falecido. E também o herdeiro que esperavam.

Ou, pelo menos, era o que todos pensavam.

Contudo, o que ninguém sabia era que os xeques tinham contratado uma barriga de aluguer. E que a mulher e o futuro herdeiro estavam a salvo.

Não soubera o que fazer. O médico particular dos xeques não aparecera no parto e Tamara e Rashid também não...

Ainda conseguia sentir o pânico que se apoderara dela. Tinha a certeza de que acontecera alguma coisa. Pedira à enfermeira para ligar a televisão e verificara que davam a mesma notícia em todos os canais. A perda da família real de Attar, e do médico particular, por causa de um acidente de viação que acontecera numa autoestrada no Pacific Northwest.

E a única coisa que pudera fazer fora abraçar o bebé. Um bebé que não era dela e que nunca seria. Um bebé que não tinha ninguém, apenas a ela.

Durante as semanas seguintes, estivera atordoada. A chorar pela morte da sua meia-irmã Tamara, apesar de mal a conhecer, e a tentar decidir o que devia fazer com Aden. A tentar decidir se devia confiar no tio. Porque, se revelasse que Aden estava vivo, Sayid já não seria o governador de Attar, seria apenas o regente.

E a ideia de que fizesse qualquer coisa para manter o cargo assustava-a. Sabia que era pouco provável ou mesmo ridículo. Rashid nunca falara mal do irmão mais novo e Tamara também não.

No entanto, Chloe sentia-se invadida por um sentimento forte de proteção. Aden era seu sobrinho e, portanto, era normal que sentisse uma certa ligação com ele, mas havia mais. E nunca imaginara que seria assim. Afinal de contas, não queria ter filhos. E nunca se considerara uma mulher maternal.

Porém, tivera-o no ventre. E, por muito que pensasse o contrário, era um laço que não podia quebrar-se com facilidade.

– E não pensou em contactar o palácio? – perguntou Sayid.

– Rashid pediu-me que fosse confidencial. Assinei uns documentos em que declarava que nunca divulgaria a minha participação. Se eles quisessem mencioná-la, tê-lo-iam feito.

– Então, isto é tudo uma questão de lealdade?

– Bom... Sim.

– E quanto lhe pagaram?

Ela corou.

– O suficiente – aceitara uma determinada quantia e não ia desculpar-se por isso. As mulheres que engravidavam para dar o filho a outra pessoa cobravam pelo serviço e, embora o tivesse feito porque Tamara era sua meia-irmã, também precisava do dinheiro.

Apesar das bolsas de estudo, os estudos académicos eram caros. E a independência era necessária para ela, o que significava que o dinheiro era muito importante no seu mundo.

– Por lealdade, estou a ver.

– É óbvio que me pagaram – declarou. – Eu queria fazer-lhes o favor, mas, sinceramente, ficar grávida e dar à luz? Não é fácil e foi o que percebi nos últimos dez meses. Não me sinto culpada por aceitar o que eles me ofereciam.

– E porque queria fazer-lhes o favor? – olhava para ela de forma tão intensa que lhe deu a sensação de que não acreditava que não tinha nenhuma relação com Rashid.

– Por Tamara. É minha meia-irmã. E não me surpreende que não o saiba. Só nos conhecemos há alguns anos e nunca tivemos oportunidade de manter uma relação estreita.

Descobrir que tinha uma meia-irmã fora um momento extraordinário. Tamara encontrara-a graças aos meios de que dispunha como esposa do xeque.

Chloe ficara surpreendida ao conhecê-la. A esposa do xeque era sua meia-irmã, mas não fora a beleza nem o poder que cativara Chloe, fora o facto de ter uma nova oportunidade em relação à família. Algo real e tangível, quando apenas tivera dor e arrependimento.

Não tinham tido a oportunidade de passar muito tempo juntas. Viviam muito longe e os seus encontros tinham sido esporádicos, mas maravilhosos. Algo de que nunca antes desfrutara. E de que nunca mais desfrutaria, visto que aquela ilusão maravilhosa também fora destruída. Nunca conseguiria uma família. Exceto com Aden.

Ao pensar no bebé que dormia no seu quarto, sentiu um aperto no coração. Não sabia o que sentia por ele. Não sabia o que fazer com ele. Também não sabia se devia entregá-lo. Ou ficar com ele. Não se imaginava a fazer nenhuma das duas coisas.

Um ano antes, começara os estudos para se doutorar em Física Teórica e, de repente, estava a viver uma vida que parecia impossível ser a dela.

Estava a chorar a morte de uma irmã que mal conhecia, a possibilidade de algo que não podia ser e a tentar acabar os trabalhos do curso. Estava a criar um bebé.

E, naquele momento, imaginou-se a entregar o pequeno Aden ao tio e a pedir-lhe para cuidar dele.

Respirou fundo e tentou desfazer o nó que sentia na garganta.

Sayid olhava para ela, impassível, mas com uma pontada de remorso.

– Lamento a sua perda.

– Também lamento a sua.

– Não só a minha – corrigiu-a. – A do meu país. A do meu povo. Aden é o futuro governador. A esperança para o futuro.

– É um bebé – indicou. Aden era tão pequeno e indefeso... E perdera a verdadeira mãe. A que estava pronta para o criar. A única capaz de o fazer.

A única pessoa que tivera durante as primeiras seis semanas de vida fora Chloe. Antes de dar à luz, nunca pegara num bebé ao colo e, no entanto, tivera de encontrar uma maneira de cuidar dele durante todo o dia. Estava cansada. Sentia vontade de chorar. E, às vezes, fazia-o.

– Sim – concordou Sayid, – é um bebé. Um bebé que nasceu para ser muito mais importante do que é agora, mas ambos sabemos que esse era o propósito do seu nascimento.

– Em parte. Rashid e Tamara desejavam-no muito.

– Tenho a certeza disso, mas o único motivo pelo qual era importante terem um laço de sangue e a adoção não era uma possibilidade era a necessidade de ter um herdeiro da linhagem al-Kadar.

Ela sabia-o. Parecia que passara uma eternidade desde aquele dia. Tamara fora visitá-la e o olhar dela brilhava por causa das lágrimas. Contara a Chloe que sofrera outro aborto. Que acabava sempre por perder o bebé que esperava. Que desejava ter um filho próprio e que precisava de ter descendência para o trono.

E, depois, fizera o pedido.

«Serás recompensada e, é óbvio, assim que o bebé nascer, regressará a Attar connosco. E tu serás a responsável por o trazer ao mundo. Mais família. Para ambas.»

Chloe desejava uma família. Uma rede de apoio como nunca tivera.

E, assim, convencera-se de que estar nove meses grávida não seria um trabalho árduo. Depois, Tamara e Rashid teriam tudo o que desejavam e Chloe teria ajudado a criar uma nova vida. Além disso, poderia solucionar muitos dos seus problemas económicos.

Parecera-lhe simples. Um pequeno gesto a favor da única família que parecia preocupar-se com ela.

Como é claro, quando começara a ter náuseas e a ganhar peso, quando lhe tinham inchado os seios e lhe tinham aparecido estrias, «simples» deixara de ser a palavra adequada para descrever o que estava a fazer. E, depois, o parto.

Nada fora simples.

Contudo, assim que dera à luz, mesmo antes de descobrir que Tamara e Rashid tinham falecido, olhara para o pequeno bebé que tinha no colo e sentira-se como se todos os fragmentos da sua vida se juntassem para formar uma bonita imagem. Como se tivesse feito o que tinha de fazer. Como se Aden fosse o acontecimento mais importante da sua vida.

Isso fora antes de o seu mundo ser destruído mais uma vez. Antes de ficar devastada e sem saber como poderia recuperar.

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A presença de Sayid era uma maldição e uma salvação.

– Eu sei, mas agora... O que quer fazer com ele?

– Quero fazer o que estava planeado. Levá-lo para casa. Para o povo. Para o palácio. É o seu direito e é o meu dever proteger os seus direitos.

– E quem o criará?

– Tamara já tinha contratado as melhores amas do mundo. Assim que anunciar que o bebé está vivo, tudo prosseguirá tal como estava planeado.

– Quando o descobriu?

– Ontem. Estava a rever os documentos particulares do meu irmão e encontrei o contrato de barriga de aluguer. Pela primeira vez nas últimas seis semanas, senti alguma esperança.

– Encontrou-nos muito depressa.

– Tenho recursos. E, além disso, não estava muito bem escondida.

– Tinha medo – declarou num sussurro.

– De quê? – perguntou ele.

– De tudo. Temia que não gostasse de ter um adversário. Que não quisesse perder o seu lugar.

Sayid olhou fixamente para ela.

– Não fui criado para governar, Chloe James, fui criado para lutar. No meu país, essa é a função do segundo filho. Sou um guerreiro. O xeque deve ter energia e compaixão. E ser neutro. Não me treinaram para isso. Treinaram-me para obedecer, para ser desumano na hora de proteger o meu povo e o meu país. E é o que farei agora, a qualquer preço. Não se trata do que eu quero, mas do que é melhor.

Acreditou nele. A verdade percebia-se na voz dele. Era um guerreiro, uma máquina criada para obedecer com eficácia e rapidez.

E queria levar Aden com ele.

Sentiu-se enjoada.

– Então, basicamente é o carrasco da família al-Kadar? – perguntou, sem pensar.

– O meu caminho foi marcado assim que nasci.

– Tal como o de Aden – disse ela e tremeu. Sempre soubera que o menino que dormia no seu quarto tinha um destino que nada tinha a ver com ela, mas durante as últimas semanas experimentara algo novo e maravilhoso que a fizera ignorar a realidade.

– Tem de regressar a casa. Poderá recuperar a sua vida, tal como planeara.

Poderia acabar o doutoramento. Conseguir um lugar como professora na universidade ou um emprego num instituto de investigação. Seria uma bonita e simples existência em que passaria o tempo a tentar analisar os mistérios do Universo para os quais esperava encontrar uma solução, algo que parecia impossível no que se referia às suas relações pessoais. Esse era um dos motivos pelos quais mal se esforçava para as manter, pelo menos aquelas que fossem além da amizade.

Esse era o futuro que Sayid lhe oferecia. A oportunidade de continuar como se nada tivesse mudado.

Olhou para a barriga arredondada e pensou no bebé que dormia no quarto contíguo. O bebé a que dera à luz. Tudo mudara. Tudo.

Não podia voltar atrás.

– Não posso permitir que o leve.

– Ia permitir que Tamara e Rashid o levassem.

– Eram os pais dele e deviam estar com ele.

– O seu lugar em Attar é mais do que tudo isso – insistiu.

– Vai sentir-se confuso. Eu... sou a única mãe que conhece.

Até àquele momento, nunca verbalizara aquela ideia, mas cuidara do bebé. Dera-lhe de mamar. E, embora geneticamente não fosse seu filho, era muito especial.

– Não deseja regressar à sua vida de antes?

– Acho que não consigo – confessou. – Nunca mais será igual.

– Então, o que quer? – perguntou ele, cruzando os braços.

Naquele momento, Aden acordou e o seu pranto invadiu o apartamento. Sentiu um aperto no coração.

– Leve-me para Attar.