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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Penny Jordan

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Mestre do prazer, n.º 1514 - Janeiro 2014

Título original: Master of Pleasure

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2008

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5007-1

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Sasha virou-se para olhar para os filhos gémeos, que pulavam na praia como dois cachorrinhos, lutando e saltando entre as ondas que banhavam a costa solitária da Sardenha.

– Tenham cuidado – avisou e, dirigindo-se ao mais velho, acrescentou: – Sam, não sejas bruto.

– Estamos a brincar aos bandidos – justificou-se.

Aquele era o seu jogo preferido daquele verão, desde que Guiseppe, o irmão de Maria, que trabalhava na cozinha do pequeno hotel que fazia parte da cadeia do falecido marido de Sasha, lhes contara histórias da ilha e dos seus lendários bandidos.

Os meninos tinham herdado o cabelo escuro, espesso e sedoso, e a pele bronzeada do pai. Dela, só tinham a cor dos olhos, que denunciava a sua dupla nacionalidade. Uns olhos da cor do mar, que passavam do azul ao verde conforme a luz que se refletia neles.

– Disse-te que me soltarias – Nico riu-se, libertando-se com habilidade do braço do irmão.

– Tenham cuidado com as rochas! – protestou Sasha, enquanto Sam se lançava contra Nico, derrubando-o. Ambos se riram e rolaram na areia.

– Olha, Sam, uma estrela-do-mar – gritou Nico e baixaram-se um ao lado do outro para a observar. – Olha, mamã!

Obediente, Sasha aproximou-se dos filhos e ajoelhou-se entre eles, rodeando-os com os braços.

– Vá, vamos – disse Sam a Nico, já aborrecido com a poça de água e os seus habitantes. – Lembra-te de que sou o chefe dos bandidos.

«Crianças», pensou Sasha, com melancolia. Porém, o seu coração encheu-se de amor e orgulho, ao vê-los a correr para uma parte mais segura da praia. Sem deixar de lhes prestar atenção, virou-se para olhar para o hotel, situado num monte escarpado. Aquele era, na sua opinião, o mais bonito de todos os hotéis que o seu falecido marido possuíra. Como presente de casamento, dera-lhe um cheque em branco para empregar na sua renovação. O dinheiro que ela gastara fora recompensado pelos louvores dos hóspedes, que voltavam várias vezes e elogiavam as suas ideias inovadoras, e a sua determinação em manter a exclusividade do hotel.

Contudo, quando Carlo morrera, Sasha descobrira, com espanto, que os outros hotéis do grupo não tinham o mesmo sucesso que aquele. Sem que ela soubesse, Carlo contraíra dívidas enormes, com o objetivo de manter o negócio à tona e usara os hotéis como garantia dos empréstimos. Tomara decisões erradas, talvez devido à sua saúde delicada. O marido fora um homem amável, generoso e afetuoso, porém, não acreditava nela no que dizia respeito aos assuntos financeiros. Para Carlo, ela tinha de ser protegida e mimada.

Tinham-se conhecido nas Caraíbas, onde Carlo estava a estudar a possibilidade de adquirir um novo hotel para a sua cadeia. Agora, além de sofrer a dor de o ter perdido, tinha de aceitar o facto de, da noite para o dia, ter deixado de ser a esposa de um homem rico, para se tornar numa viúva sem um cêntimo. Menos de uma semana depois da morte de Carlo, o contabilista dissera a Sasha que o marido devia enormes quantias, milhões, de facto, a um investidor privado e anónimo, a quem pedira ajuda económica. E, embora ela tivesse suplicado aos assessores financeiros que encontrassem uma forma de ela ficar com aquele hotel, tinham-na informado de que o investidor privado não estava disposto a aceder sob nenhuma circunstância.

Sasha voltou a olhar para os filhos. Iam sentir saudades da Sardenha e dos maravilhosos verões que ali tinham passado, mas iam sentir muito mais saudades do seu progenitor. Embora fosse um pai já com alguma idade, incapaz de se juntar aos jogos dos seus enérgicos filhos, adorava-os e eles adoravam-no. No seu leito de morte, Carlo fizera com que Sasha prometesse que não esqueceria a importância da Sardenha na vida dos gémeos.

– Lembra-te – dissera-lhe, com cansaço – de que tudo o que fiz foi por amor aos meninos e a ti.

Sasha devia tanto a Carlo... Ele dera-lhe tudo. Encarregara-se da menina magoada que ela era na altura e, com amor e compreensão, curara as suas feridas. Dera-lhe presentes que não tinham preço: Amor-próprio, independência emocional e a capacidade de dar e receber um amor saudável, carente de dependência destrutiva. Para ela, fora muito mais do que um simples marido.

Os seus olhos brilharam com determinação, adquirindo o tom escuro do interior de uma esmeralda. Fora pobre no passado e sobrevivera. Claro que, na altura, não tinha de sustentar dois filhos. Nessa manhã, recebera um e-mail da escola dos rapazes, onde lhe recordavam discretamente que tinha de pagar o novo trimestre. A última coisa que desejava fazer era causar mais transtorno nas suas jovens vidas, afastando-os de uma escola onde eram tão felizes.

Sasha olhou para os seus anéis de diamantes. Nunca quisera ter joias caras, fora Carlo que desejara que as tivesse. Decidiu que teria de as vender. Pelo menos, os meninos tinham onde viver durante as férias de verão. Fora humilhante ter de suplicar aos advogados de Carlo, que os deixassem ficar ali até que a escola começasse, em setembro. Sasha mostrara-se agradecida, quando lhe tinham dito que lhe tinham concedido esse seu desejo. A sua própria infância tivera tanta falta de amor e segurança, que no momento em que descobrira que estava grávida, prometera a si mesma que os filhos nunca teriam de sofrer como ela sofrera. Por isso...

Sasha virou-se para olhar para os filhos. Sim, Carlo conseguira sarar muitas das suas feridas. Todas, menos uma. Uma ferida sentimental, persistente, que ainda não cicatrizara.

A preocupação dos últimos meses consumira-a, deixando-a, na sua opinião, demasiado magra. O relógio dançou no seu pulso, enquanto apanhava o cabelo.

Tinha dezoito anos quando se casara com Carlo e dezanove quando os meninos tinham nascido. Sasha, que era uma rapariga sem formação académica, mas inteligente, aceitara a proposta de casamento de Carlo, apesar de ele ser muito mais velho do que ela. O casamento dera-lhe tudo o que nunca tivera e não apenas no que dizia respeito à segurança económica. Carlo dera-lhe também estabilidade e um ambiente seguro.

Fizera os possíveis para corresponder à sua amabilidade e, ver a cara de Carlo da primeira vez que vira os gémeos nos berços do hospital privado em que ela dera à luz, fizera-a compreender que dera ao marido um presente que não tinha preço.

– Olha, mamã!

Sasha, obediente, olhou para os meninos que davam cambalhotas. «Um dia», disse para si mesma, «vão pedir-me que não olhe tanto para eles». Mas ainda não estavam conscientes de como ela estava sempre atenta ao que faziam. Com uns filhos tão inquietos e inteligentes, por vezes, era difícil não ser superprotetora, a típica mãe que via perigo onde as crianças só viam possibilidades de viver uma aventura.

– Muito bem! – elogiou.

– Olha, também sabemos fazer o pino – exclamou Sam, orgulhoso.

Eram rapazes ágeis e corpulentos, muito altos para os seus nove anos de idade.

– Deste-me uns meninos fortes, Sasha – elogiava Carlo, com frequência. Sorriu, recordando aquelas palavras. O casamento proporcionara-lhe o tempo e o espaço necessários para deixar de ser a menina que fora e transformar-se na mulher que era agora. Um raio de sol refletiu-se no seu fino anel de casamento, ao mesmo tempo que se virava para olhar para o hotel, sobre as rochas.

O marido e ela tinham viajado por todo o mundo, visitando a cadeia de pequenos e exclusivos hotéis que ele possuía, porém, o seu preferido era o da Sardenha. Originalmente, fora uma residência privada, propriedade de um primo de Carlo que, ao morrer, a deixara como herança. Carlo prometera a si mesmo conservá-la para sempre.

 

 

Gabriel, de pé, à sombra das rochas, baixou o olhar para a praia. Torceu a boca num gesto de desprezo.

Interrogou-se como ela se sentiria agora, que sabia que o destino estava contra ela e que a segurança que comprara com o seu corpo não ia durar a vida toda. Agora que sabia que não ia ser uma viúva rica, rodeada de comodidades.

Quanto aos meninos... Sentiu o fel a correr-lhe nas veias, rasgando-o por dentro. Vê-los, fizera com que recordasse a sua própria infância ali, na Sardenha. Como poderia alguma vez esquecer a infância cruel e dura que tivera? Com a idade daqueles meninos, tivera de trabalhar muito, arduamente. Os maus-tratos e insultos que sofrera tinham-lhe ensinado a evitar os golpes da vida. Fora um filho não desejado, por parte da sua família materna, rica, abandonado pelo pai e criado por uma família adotiva. «Quando era um menino», recordou Gabriel, amargamente, «passei mais noites a dormir à intempérie com os animais da quinta, do que dentro de casa, com a família que sabia do desprezo que a família da minha mãe sentia por mim».

Gabriel pensava que uma infância como aquela ou fortalecia, ou estragava o espírito humano. E, no seu caso, endurecera-o até o transformar em aço. Nunca permitira que nada, nem ninguém o afastasse do caminho que escolhera, nem que ninguém se interpusesse entre ele e a sua firme determinação de se situar por cima daqueles que o tinham desprezado.

O avô materno fora o patriarca de uma das famílias mais ricas e poderosas da Sardenha. O passado dos Calbrini estava inextrincavelmente unido ao da ilha. Tratava-se de uma família muito orgulhosa e dividida pelo ódio, traição e vingança.

A mãe fora filha única. Aos dezoito anos, saíra de casa, fugindo do casamento que o pai lhe arranjara e casara-se com um jovem agricultor, pobre mas bonito, por quem pensara estar apaixonada.

Aquela rapariga teimosa e mimada demorara menos de um ano a dar-se conta de que cometera um erro e que odiava o marido, quase tanto como a pobreza em que viviam. Contudo, nessa altura, Gabriel já tinha nascido. Suplicara ao pai que a perdoasse e lhe permitisse voltar para casa. Ele consentira, com a condição de que se divorciasse do marido e deixasse o menino com o pai. Segundo as histórias que tinham contado a Gabriel, a mãe não hesitara. O avô entregara uma boa quantia em dinheiro ao pai de Gabriel, considerando que esse único pagamento eximiria a família Calbrini de toda a responsabilidade para com o fruto do então extinto casamento.

O pai de Gabriel, vendo-se com mais dinheiro do que alguma vez tivera, partira para Roma, deixando o filho de três meses aos cuidados de um primo, a quem prometera que enviaria dinheiro para as necessidades do menino. Contudo, em Roma conhecera a mulher que se tornaria a sua segunda esposa, que não entendia porque tinha de suportar um menino que não era dela, nem porque deviam esbanjar o dinheiro do marido com ele.

Os pais adotivos de Gabriel tinham recorrido ao avô materno, pois eram pobres e não podiam alimentar um menino faminto. Porém, Giorgio Calbrini recusara-se a ajudá-los. Aquele menino não significava nada para ele. Além disso, a filha voltara a casar, dessa vez com o homem que escolhera para ela, e esperava que em breve lhe desse um neto da linhagem que o seu orgulho exigia.

Mas isso não aconteceu e, quando Gabriel tinha dez anos de idade, a mãe e o seu segundo marido tinham morrido num acidente de helicóptero. Então, Giorgio Calbrini não tivera outro remédio senão conformar-se com o único herdeiro que tinha: Gabriel.

«Foi uma vida austera e desprovida de carinho», recordou Gabriel, «com um avô que não me amava e que desprezava o sangue que herdara do meu pai». Mas, pelo menos, sob o teto do avô, fora bem alimentado. Enviara-o para as melhores escolas e certificara-se de que recebia a formação necessária para que, chegado o momento, lhe sucedesse como patriarca da casa Calbrini. Na verdade, o avô não depositara nele grandes esperanças e deixara-o bem claro, muitas vezes.

– Faço isto porque não tenho opção, porque és o único neto que tenho – dissera-lhe, amargamente, inúmeras vezes.

No entanto, Gabriel estava empenhado em demonstrar-lhe que estava enganado, mas não para ganhar o amor do avô, visto que não acreditava no amor. Queria demonstrar-lhe que era o melhor, o mais forte. E foi exatamente o que fez. Ao princípio, o avô recusara-se a acreditar naquilo que os professores diziam sobre o quanto sabia acerca do mundo financeiro. Mas a verdade é que, aos vinte anos, quadruplicara a pequena quantia que o avô lhe oferecera quando fizera dezoito.

Um dia, três semanas depois de fazer vinte e um anos, o avô morrera de repente e Gabriel herdara a sua enorme fortuna e posição social. Aqueles que tinham dito que Gabriel nunca seria capaz de seguir os passos do idoso, tinham tido de engolir as suas próprias palavras. Era um verdadeiro Calbrini e possuía um instinto para os negócios, talvez até mais sagaz do que o seu avô. Mas, para ele, havia coisas mais importantes na vida do que ganhar dinheiro. Tinha a necessidade de ser um homem invulnerável, sentimentalmente.

«E foi exatamente nisso que me transformei», refletiu. Nunca permitiria que uma mulher o rejeitasse, como a mãe fizera, sem receber um castigo.

Especialmente, aquela mulher.

Gabriel ouvia Sasha a falar com os filhos. A brisa trazia o som da sua voz, mas não as suas palavras.

Sasha... Com vinte e cinco anos, Gabriel já era milionário. Um homem rico que não confiava em ninguém e que não deixava que as mulheres que escolhia para aquecer o seu leito fossem mais do que simples companheiras de cama. Criara uma série de regras, simples e inegociáveis, sobre como deviam ser as relações. Era proibido falar de amor, do futuro ou de compromisso. Exigia fidelidade incondicional enquanto a relação durasse e respeito absoluto pelo seu princípio de sexo seguro. E, para se certificar de que a última regra não era quebrada «acidentalmente ou de propósito», Gabriel ocupava-se desse tipo de coisas, pessoalmente.

Ao longo dos anos, presenciara cenas de aborrecimento e amargura, protagonizadas por mulheres histéricas que tinham achado, erroneamente, que conseguiriam fazer com que mudasse. Aquelas lágrimas desapareciam como que por arte de magia, quando Gabriel lhes oferecia um generoso presente de despedida. A sua boca torceu-se, numa expressão cínica. Por acaso, era de estranhar que se tivesse tornado um homem desconfiado e, sobretudo, um homem que desprezava as mulheres? Segundo Gabriel, não existia uma mulher que não pudesse comprar. A mãe demonstrara-lhe como era o sexo feminino e todas as mulheres com quem lidara depois disso, apenas tinham corroborado o que aprendera com a mãe, quando esta o abandonara por dinheiro.

Isso não queria dizer que não gostasse da companhia das mulheres, ou melhor, do prazer que os seus corpos lhe proporcionavam. Herdara a aparência do pai e encontrar uma mulher disposta a satisfazer as suas necessidades sexuais nunca fora um problema.

– Sam, não vás tão longe. Fica aqui, onde eu possa ver-te – dessa vez, as palavras de Sasha chegaram a ele, porque elevara o tom de voz, para que o filho conseguisse ouvi-la. Uma mãe preocupada? Sasha?

Não podia fugir do seu passado. Atingira-o com tanta força, que quase podia sentir dor física.

Depois da morte do avô, fechara a solitária casa que ele deixara na Sardenha e comprara um iate. Como investidor imobiliário, tinha de viajar para descobrir possíveis aquisições, tanto materiais como sexuais. E, se alguma mulher o convidava para a sua cama, porque não haveria de ir? Desde que compreendesse que, uma vez satisfeito o seu apetite, não havia lugar para ela na sua vida...

Aos vinte e cinco anos, decidira que, quando o momento certo chegasse, pagaria a uma mulher para que lhe desse um herdeiro. Uma criança sobre quem teria direitos exclusivos.

Gabriel olhou para Sasha com um desprezo frio. Tinham passado apenas seis semanas, justamente depois do seu trigésimo quinto aniversário, desde que estivera junto do leito de morte do primo em segundo grau, ouvindo como Carlo lhe suplicava, a ele, que ajudasse os seus dois filhos, que eram quem mais amava no mundo.

A mesma brisa que brincava sensualmente com a longa cabeleira de Sasha, pôs para trás o seu próprio cabelo escuro, deixando a descoberto uma estrutura óssea típica da Sardenha, de nariz reto, romano, uns traços masculinos que recordavam certas esculturas de Leonardo e Miguel Ângelo, e a musculatura de um homem jovem e forte. Os sarracenos tinham invadido a Sardenha há séculos, deixando a sua marca na história da ilha e nos seus habitantes, através das mulheres que tinham possuído. Fora Carlo quem lhe contara a lenda de que os varões nascidos de tais uniões tinham no sangue a força física e a crueldade lendária dos seus pais. Gabriel sabia que tinha sangue árabe nas veias e que isso se revelava na sua atitude perante a vida. Não tinha compaixão por aqueles que o traíam.

Estudou os dois meninos com o olhar vigilante e mortífero de uma águia. Meninos privilegiados, adorados por um pai idoso e afetuoso. Que infância tão diferente da sua. Pensou no que Carlo lhe suplicara. Que tratasse dos seus dois filhos, dando a entender que não confiava na mãe. No seu leito de morte, Carlo finalmente reconhecia que ela não era de confiar.

Contudo, as últimas palavras que Carlo dirigira a Gabriel tinham sido sobre Sasha.

– Tens de compreender que Sasha... – murmurara a Gabriel.

A sua fraqueza impedira-o de acabar a frase, mas não fora preciso. Gabriel sabia tudo o que precisava de saber sobre Sasha. Tal como a mãe, ela abandonara-o. Recordá-lo, não fazia mais do que exacerbar os seus sentimentos sombrios. Ela fora a causa de uma ofensa ao seu orgulho e agora chegara o momento de cobrar a dívida...

O grito de protesto de um dos gémeos fez com que Sasha se virasse para eles, ansiosa.

– Parem de discutir, meninos.

Algo ou, melhor dizendo, alguém se interpusera entre o sol e ela. Pôs a mão à frente dos olhos, para ver de quem se tratava.

Havia momentos na vida que aconteciam tão rápida e lentamente, ao mesmo tempo, que era impossível ignorá-los ou esquecê-los. Sasha sentiu que o seu coração parava e, em seguida, experimentou uma sensação sufocante de incredulidade e terror, algo tão doloroso que nem tentou compreender. Ouviu o ecoar surdo do seu coração, ao longe, como se não lhe pertencesse, vagamente consciente de que o sangue corria pelas suas veias, mantendo-a viva, enquanto sentia dor em cada nervo do seu corpo. Não conseguiu dizer mais do que uma palavra:

– Gabriel!