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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Catherine Schield

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Uma proposta delicada, n.º 1192 - Junho 2014

Título original: A Tricky Proposition

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5256-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo Um

 

Nem o gotejar de água da fonte nem as plantas no terraço do restaurante conseguiam acalmar a ansiedade de Ming Campbell, que tomava um chá de romã pensando que estava a ponto de cometer o maior erro da sua vida.

Debaixo da mesa, a sua diminuta Yorkshire terrier levantou a cabeça e começou a abanar o rabo, como quem dá as boas-vindas a alguém. Muffin não era um cão de guarda, mas sim um bom sistema de alarme.

Com o estômago encolhido, Ming levantou o olhar para ver o homem que se aproximava com umas calças caqui, polo de manga curta e sapatilhas de desporto. A sombra de barba, tão sexy, suavizando o seu queixo quadrado.

– Desculpa chegar atrasado.

Jason Sterling pôs-lhe uma mão no ombro e Ming sentiu um calafrio.

Desde que anulou o compromisso com o seu irmão, Evan, seis meses antes, cada vez que lhe tocava sentia essa sensação. Uma simples pancadinha no braço, o toque das suas mãos ou o das suas pernas quando se sentavam juntos num sofá e ficava com pele de galinha.

Os seus afáveis abraços deixavam-na nervosa e não podia evitá-los porque Jason lhe pediria explicações e não poderia dá-las. De maneira que suportava em silêncio, esperando que os seus sentimentos por ele se tornassem mais manejáveis.

Muffin pôs as patinhas no seu joelho e emitiu um som que era parcialmente latido parte espirro.

Jason levantou-a para que lhe pudesse lamber a cara e, feito isso, a cadelinha sentou-se sobre os seus joelhos, suspirando de contentamento.

– Porque não começaram a comer sem mim? – perguntou-lhe, fazendo um gesto à empregada.

Porque estava demasiado nervosa e não poderia ingerir nada, pensou ela.

– Disseste que só chegarias quinze minutos atrasado.

Jason era um solteirão empedernido, egocêntrico, preocupado com as suas corridas de carros e sempre à procura de novas aventuras, quer fosse uma rapariga bonita ou um circuito novo. Eram amigos desde o liceu e Ming adorava-o.

– Desculpa. Havia muito trânsito à entrada da cidade.

– Pensei que tinhas voltado ontem.

– Era esse o plano, mas os meus amigos fizeram questão de tomar umas cervejas depois da corrida e a celebração durou até de madrugada. Nenhum deles estava em condições de conduzir cinco horas até Houston – sorrindo, Jason pôs as pernas sobre uma das cadeiras livres.

– Como está a encarar o Max o facto de teres tantos pontos de vantagem?

Os dois amigos participavam em corridas de carros desde os dezasseis anos e competiam para ver quem conseguia mais pontos.

– Desde que se apaixonou, acho que lhe é indiferente.

Não tinha visto Jason tão desagradado desde que o seu pai se apaixonou por uma mulher vinte anos mais jovem do que ele.

– Coitadinho, o teu melhor amigo tornou-se adulto e deixou-te para trás – gracejou Ming. Já lhe ouvia as queixas desde que Max Case pedira a mulher da sua vida em casamento.

Jason inclinou-se para diante, olhando-a com intensidade.

– Talvez devesse descobrir porque é que as pessoas perdem a cabeça quando se apaixonam.

– Pensei que nunca te ias casar – disse ela, tentando dissimular a agitação. Se Jason se apaixonasse loucamente por alguém, a dinâmica da sua amizade mudaria. Já não seria a sua melhor amiga.

– Não te preocupes com isso – replicou ele, rindo.

Ming olhou pensativa a salada grega que a empregada tinha posto diante dela. No liceu tinha-se apaixonado por Jason... um amor impossível, claro. Salvo por um breve interlúdio no baile de finalistas, e ele tentou repetir mil vezes que fora um erro, nunca pareceu vê-la como mais do que uma amiga.

Quando foi para a universidade, o tempo e a distância não tinham matado os seus sentimentos por ele, mas tinham-lhe dado certa perspetiva. Ainda que por um milagre dos céus Jason se apaixonasse loucamente por ela, não faria nada a esse respeito. Tinha sublinhado muitas vezes a importância da amizade e que de modo nenhum queria perdê-la.

– Bom, desembucha – começou a dizer Jason, olhando-a por cima do hambúrguer. – Disseste que tinhas de falar de algo sério comigo.

E na meia hora de espera, Ming tinha começado a sentir pânico. Normalmente contava-lhe tudo o que lhe sucedia... bom, quase tudo. Quando começou a namorar com Evan, havia temas dos quais não falavam... dos seus sentimentos pelo seu irmão, sobretudo. Mas tinha aprendido a guardar coisas e custava-lhe mais trabalho do que o esperado abrir-lhe o coração.

– Vou ter um filho – disse por fim, contendo o respiração enquanto esperava a sua reação.

Jason, que ia levar uma batata frita à boca, ficou imóvel.

– Estás grávida?

Ming negou com a cabeça.

– Ainda não. Mas com um pouco de sorte, estarei em breve.

– Como? Não andas com ninguém.

– Vou a uma clínica de fertilidade.

– E quem vai ser o pai?

Ming cravou o garfo numa azeitona.

– Tenho três candidatos: um advogado, um atleta e um fotógrafo de vida selvagem. Cérebro, corpo e alma. Ainda não me decidi.

– Parece que andas há algum tempo a matutar nisso. Porque é que é a primeira vez que estou a ouvir alguma coisa a esse respeito? – Jason afastou o prato.

Ming suspirou. Sempre pudera falar com ele de qualquer coisa, mas namorar com o seu irmão tinha mudado tudo.

– Tu sabes porque é que o Evan e eu acabámos – disse-lhe. Desde o princípio, Evan tinha-lhe dito que não queria formar uma família, mas sempre pensou que mudaria de opinião. – Ter filhos é algo muito importante para mim.

Tinha decidido ser odontóloga precisamente porque gostava de crianças. Elas alegravam o mundo e faziam-na sorrir de maneira que, em troca, ela dava-lhes uns dentes perfeitos.

– Contaste aos teus pais?

– Não, ainda não.

– Porque sabes que a tua mãe não reagirá bem quando souber que vais ter um filho sem seres casada.

– Não gostará, mas ela sabe que desejo formar uma família e já aceitou que não me vou casar.

– Porque é que não te vais casar? Tens de superar a rutura com o Evan.

– Já superei a minha rutura com o Evan.

– Com certeza que há alguém perfeito para ti em alguma parte e mais tarde ou mais cedo encontra-lo.

Impossível, porque o único homem com quem se imaginava estava decidido a nunca se casar, pensou ela, frustrada.

– Quanto tempo devo esperar? Outros seis meses, um ano? Daqui a dois meses faço trinta e dois e não quero perder mais tempo a medir os prós e os contras ou a preocupar-me com a reação da minha mãe quando no meu coração sei perfeitamente o que quero. Estou decidida, Jason.

– Estou a ver – disse ele, estudando-a com os seus olhos azul-turquesa.

– E gostaria que tu estivesses de acordo com a minha decisão.

– És a minha melhor amiga – recordou-lhe ele, com expressão sombria. – Como não te vou apoiar?

Tinha decidido apoiá-la ainda que Ming suspeitasse que continuava a processar a notícia e ainda não tinha decidido se era um erro...

E até esse momento não sabia como era importante para ela a reação de Jason.

– Já terminaste de comer? – perguntou-lhe uns minutos depois, procurando a empregada com o olhar. – Devo voltar à clínica. Tenho um paciente daqui a quinze minutos.

Jason insistiu em pagar a conta apesar dos seus protestos.

– Mas se fui eu que te liguei para te convidar para almoçar...

Enquanto ele metia umas notas debaixo do saleiro, Ming teve de arrancar Muffin dos joelhos de Jason, onde parecia encontrar-se muito à vontade.

– Onde está o teu carro? – perguntou ele.

– Vim a pé. A clínica fica a dois quarteirões daqui.

– Eu levo-te – Jason deu-lhe a mão, fazendo com que sentisse um calafrio.

O aroma da sua colónia masculina infiltrou-se nos seus pulmões... era em momentos como aquele que sentia a tentação de cancelar todas as consultas para ir a casa de Jason e terminar de uma vez por todas com aquele desejo que a enlouquecia.

Naturalmente, nunca faria isso. Encontraria a maneira de domar a loba que se tinha instalado sob a sua pele. Ela sempre fora do mais conservador, a mais estudiosa, que fazia planos para o futuro; e Jason o que agia por impulso, o borguista e, ainda assim, conseguia graduar-se com as melhores notas. E aquele que gostava de ter uma vida pessoal sem amarras.

Jason abriu a porta do seu carro, um Camaro de 1969. Mesmo sendo só amigos, tratava-a sempre com a mesma gentileza com que tratava as restantes mulheres.

Para que se pudesse sentar, Jason teve de afastar um troféu do banco e, apesar da indiferença com que o atirou para a parte traseira, Ming sabia que era uma fonte de orgulho para ele e que terminaria junto a muitos outros na sua casa.

– Em que estás a pensar? – perguntou-lhe enquanto se sentava ao volante do poderoso carro.

– Em demasiadas coisas – respondeu Ming, acariciando a cabeça de Muffin.

– Dá-me uma versão resumida.

– Tanto faz, porque mudei de opinião.

– Sobre o quê?

– Sobre o que te ia pedir... Mas tanto faz.

– Andas há semanas a portar-te de forma muito esquisita. Pode-se saber o que se passa?

Ela suspirou, derrotada.

– Perguntaste-me quem ia ser o pai do meu filho e a verdade... tinha pensado que fosses tu. Mas entretanto decidi que não seria boa ideia.

Jason ficou em silêncio enquanto estacionava o carro em frente à clínica. O anúncio tinha sido como um murro. Que queria ter um filho não era uma surpresa, mas que queria um filho dele tinha-o apanhado completamente desprevenido.

Os sentimentos platónicos ter-se-iam convertido em sentimentos românticos?

Não, não lhe parecia.

Ming era a sua melhor amiga desde o liceu, a única pessoa com quem tinha partilhado os seus medos quando o seu pai se tentara suicidar. A única rapariga que o ouvia quando falava dos seus objetivos e que o chamava à razão quando tinha dúvidas.

No liceu, as namoradas iam e vinham, mas Ming sempre estivera presente, inteligente e divertida, com aqueles olhos amendoados cheios de humor. Ela tinha-lhe dado apoio emocional sem as complicações de uma relação. Se cancelava os seus planos, Ming nunca se zangava e nunca protestava quando tinha muito trabalho e não podia ir ao cinema ou quando se esquecia de lhe ligar. Graças a ela, mantinha os pés na terra.

Teria sido a namorada perfeita se ele tivesse querido arruinar uma amizade de tantos anos por um romance breve. Porque estava certo de que mais tarde ou mais cedo encontraria outra mulher e esse seria o final da relação.

Jason estudou o seu rosto ovalado durante uns segundos.

– Porquê eu?

Ming esboçou um sorriso, mas os seus olhos negros eram imperscrutáveis.

– Tu serias a escolha mais lógica.

Pretendia uma mudança na relação de ambos por meio de um filho? Ele nunca se tinha querido casar e Ming sabia e aceitava. Ou não?

– Porquê?

– Porque és o meu melhor amigo. Eu sei tudo sobre ti e a ideia de ter um filho com um estranho incomoda-me – Ming suspirou de novo. – Além do mais, não me importo de ser mãe solteira e tu és um solteirão empedernido, por isso não terás uma crise de consciência nem exigirás direitos de paternidade.

– Pois – murmurou ele, pensando que ter um filho os ligaria de uma forma que ia mais além da amizade. – Tens razão, não me quero casar nem formar uma família, mas ter um filho contigo... – algo no seu subconsciente o advertia que deixasse de fazer perguntas.

– Somos amigos e não quero que nada mude na nossa relação.

Demasiado tarde.

– As coisas entre nós mudaram assim que começaste a namorar com o Evan.

A Jason não lhe tinha agradado que andasse com o seu irmão. De facto, incomodara-o muito. Se Ming era só uma amiga, deveria ter ficado contente por Evan e ela se terem encontrado, não?

– Eu sei – disse ela. – Ao princípio foi um pouco incómodo, mas não teria namorado com ele se tu não nos tivesses dado a tua bênção.

Que outra coisa podia ter feito? Ele não tinha intenção de reclamar a Ming nada além da amizade, mas isso de nada tinha servido da primeira vez que vira o seu irmão a beijá-la.

– Não precisavam da minha bênção. Se queriam namorar, era assunto vosso, não meu.

Infelizmente, saber isso não tinha ajudado. Pelo contrário, desde então começou a ver Ming como uma mulher desejável.

– Mas voltemos ao assunto do filho que queres ter comigo.

– Não é que queira ter um filho contigo, mas um filho teu – corrigiu ela. – Só precisaria de uns quantos espermatozoides.

Pretendia gracejar sobre o assunto, mas Jason não estava disposto a permiti-lo.

– E porque mudaste de opinião sobre os meus espermatozoides?

Ming olhava para a frente, brincando com as orelhas da sua cadelinha.

– Porque teríamos de guardar segredo. Se alguém soubesse ... enfim, eu não quero magoar ninguém.

O seu irmão, claro. Evan tinha-a magoado a ela e, no entanto, Ming tinha em consideração os seus sentimentos quando se tratava de uma decisão tão importante.

– E se não guardássemos segredo? O meu pai adorava que um dos filhos o fizesse avô – disse Jason.

– Mas então esperaria que fosses um pai a sério – replicou Ming. – E eu não te pediria isso.

Jason fez uma careta. Incomodava-o que estivesse tão convencida de que não quereria saber do filho para nada. Até dez minutos antes nem sequer tinha considerado a ideia de formar uma família, mas que um filho seu não soubesse que ele era o seu pai...

– Calculo que não te posso convencer para que não o faças.

– Está decidido: vou ter filhos.

– Filhos, no plural? Agora queres formar uma equipa de futebol?

Ming soltou um risinho.

– A que achas tanta graça?

Ela abanou a cabeça, a cortina de ébano do seu cabelo emoldurando-lhe as exóticas feições asiáticas.

– Devias ver a tua cara.

– Pensei que só querias ter um filho.

– Com a fecundação in vitro nunca se sabe. Talvez tenha trigémeos.

– Trigémeos? – repetiu ele, atónito. Ainda não se tinha acostumado à ideia de um filho e de repente iam ser três?

– É possível – respondeu Ming, com um sorriso sereno.

Para um casal, ter trigémeos seria uma tarefa difícil, mas para uma mulher sozinha...

De repente, começou a imaginar Ming a sorrir misteriosamente enquanto punha uma mão sobre o avultado abdómen, os olhos escuros brilhando quando o médico pusesse o bebé nos seus braços pela primeira vez... e essas imagens fizeram ressoar um alarme no seu cérebro.

Depois da tentativa de suicídio do seu pai, Jason tinha decidido não ter filhos e nem uma só vez em todos esses anos tinha questionado tal decisão.

Ming levantou o pulso delicado para ver as horas.

– Tenho sete minutos antes que o meu primeiro paciente da tarde chegue.

– Temos de falar disto.

– Falamos mais tarde.

– Quando?

Sem responder, Ming saiu do carro e dirigiu-se à entrada da clínica. Com umas calças negras e um top de malha sem mangas que destacava os seus bem torneados braços, tinha um aspeto tão sexy...

De repente, Jason experimentou uma pontada de desejo surpreendente, aterrador.

Murmurando uma asneira, tirou a chave da ignição e foi atrás dela.

Com os sapatos de salto a repicar sobre o chão de mármore do vestíbulo, Ming dirigia-se para o elevador, mas Jason chegou antes dela e pôs a mão sobre o painel de botões.

– O reboque leva-te o carro se o deixares à porta – advertiu ela.

– Jantamos juntos esta noite? Assim podemos continuar a falar.

As portas do elevador abriram-se.

– Já tenho planos para esta noite.

– Com quem?

– Desde quando sentes tanta curiosidade pela minha vida social?

Jason entrou atrás dela no elevador. O consultório ficava no terceiro piso.

A rececionista levantou a cabeça.

– Ah, já estás aqui. O Billy acaba de chegar.

– Diz-lhe que vou já.

Ming deixou Muffin no chão e entrou no escritório para pôr a bata branca, mas quando ia passar ao lado de Jason, ele pegou-lhe no braço.

– Não podes fazer isto tu sozinha.

– Claro que posso.

Um miúdo de treze anos apareceu no corredor e Ming esboçou um sorriso.

– Olá, Billy. Que tal vai o campeonato de basebol?

– Genial. Ganhámos quase todos os jogos.

– Não esperava outra coisa de ti. Espera por mim no consultório, vou já a seguir.

– Ming...

– Ligo-te amanhã – interrompeu ela. E sem esperar resposta, seguiu Billy até ao consultório.

Ele fitou-a durante uns segundos, impaciente e consternado, mas sabia que não podia encurralá-la no trabalho.

De maneira que saiu da clínica e, depois de pôr os óculos de sol, arrancou o poderoso motor do seu carro.