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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Heidi Betts

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Deita as Culpas à Escuridão, n.º 685 - Julho 2014

Título original: Blame It on the Blackout

Publicado originalmente por Silhouette® Books

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises

Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5415-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

Volta

Capítulo Um

 

Lucy Grainger bateu, suavemente, à porta para anunciar a sua presença antes de entrar em casa de Peter Reynolds. Como era habitual fazer todos os dias, recolheu o correio e o jornal do chão e, depois de deixar a sua mala na sala que utilizava como escritório, foi directamente para a cozinha para fazer um café e lavar os pratos da noite anterior.

O seu trabalho não incluía lavar a louça. Peter tinha uma senhora que ia lá a casa uma vez por semana para limpar e tratar da roupa. Mas Lucy estava tão habituada a cuidar dele que fazer aquilo parecia-lhe uma coisa natural.

Depois subiu ao segundo andar, onde era o quarto de Peter. Deveria ter estado a trabalhar nalgum programa informático e devia ter-se deitado muito tarde. Ou talvez se tivesse esquecido de ligar o despertador... outra vez. Mas a cama estava vazia e os lençóis estavam remexidos.

Só faltava procurar num sítio. Lucy fechou a porta do quarto e dirigiu-se para o escritório.

Menos conservador que o resto da casa, Peter gostava daquele escritório porque estava decorado ao seu gosto. Ou seja: com as paredes pintadas de azul-escuro, uma escrivaninha que ocupava toda uma esquina e mesas cheias de computadores, equipamentos informáticos e uma colecção de bonecos da Guerra das Estrelas.

E, tal como tinha calculado, o seu chefe estava ali. Com a cabeça apoiada sobre a escrivaninha, a dormir profundamente. Tinha vestida uma velha camisa cinzenta e umas cuecas aos quadrados e o seu cabelo loiro escuro estava tão despenteado como sempre.

Lucy teve de fazer um esforço para não lhe passar os dedos pela franja...

Esse era o problema de trabalhar com um homem de quem se gostava. A linha entre o chefe e o potencial amante era cada vez mais difusa.

Mas só para ela. Peter não a via como uma possível namorada, nem sequer a via como uma mulher.

Como secretária, como ajudante pessoal, como a pessoa a quem recorria de cada vez que precisava de alguma coisa, sim. Como uma mulher de carne e osso, uma mulher atraente, não. Nunca levantava o olhar do computador o tempo suficiente para se fixar nela.

Mas essa era uma das coisas que adorava nele. A sua paixão pelo desenho de software que tinha feito com que começasse uma empresa do zero.

Peter Reynolds era uma pessoa muito inteligente e havia empresas em todo o mundo a solicitar os seus serviços para se livrarem de vírus informáticos ou para solucionar problemas. Mas o que ele gostava mesmo era de desenhar jogos e programas e tinha-se concentrado nisso durante os dois últimos anos, desde que Lucy tinha começado a trabalhar para ele.

Lucy tirou um saco de lixo para apanhar as várias latas vazias de Coca-Cola. O seu chefe bebia muita Coca-Cola, particularmente quando estava muito ocupado ou obcecado com algum projecto.

Duas das latas caíram-lhe das mãos e rolaram pelo chão. O ruído despertou Peter, que se levantou, sobressaltado, olhando à volta como se não soubesse onde estava.

– Desculpa – lamentou Lucy. – Não te queria acordar.

Ele passou uma mão pelo cabelo, bocejando.

– Que horas são?

– Pouco passa das nove. Há quantas horas estás a trabalhar?

– Comecei depois de jantar. Às nove, acho eu.

Peter levantou-se para se esticar e quase que roçou o tecto com as mãos. A posição fez com que o seu tronco se alargasse mostrando uma barriga plana...

Lucy teve de afastar o olhar.

– Estou a trabalhar no projecto da Globalcom. Demorei mais do que pensava, mas acho que o problema está resolvido.

Lucy guardou as latas no saco.

– Então, terás que lhes cobrar todas essas horas de trabalho. A que horas terminaste?

– Não faço a mínima ideia. A última vez que olhei para o relógio eram três da manhã.

Ela assentiu, perguntando-se se a Globalcom e os outros clientes de Peter calculariam quantas horas trabalhava ele em cada projecto. Era certo que os seus serviços eram caros, mas ele era o melhor. E como nunca controlava o tempo que gastava em cada projecto, as facturas eram feitas por estimativa.

– Porque não dormes um pouco? Pareces esgotado.

O sorriso de Peter fez com que o seu coração acelerasse.

– Não, agora que já estou acordado é melhor ir tomar um banho.

Peter no duche. Essa era a imagem que iria estar na sua cabeça durante toda a manhã. Como se não a mantivesse já acordada quase todas as noites...

– Além disso, quero ligar para a Globalcom para lhes dizer que o problema já está resolvido. E depois vou pôr-me a trabalhar nos Soldados da pouca sorte.

Soldados da pouca sorte era a última obsessão de Peter, um jogo de guerrilhas com sangue e vísceras que manteria os adolescentes agarrados ao computador durante horas. Lucy não gostava daqueles jogos, mas tinha de reconhecer que, de vez em quando, também ela jogava e acabava por se divertir. E, por enquanto, ainda não tinha comprado uma espingarda para desatar aos tiros do telhado.

– Não te esqueças de experimentar o fraque para ver se é preciso fazer algum arranjo.

Ele parou junto à porta.

– Tenho alguma coisa para amanhã à noite?

– O jantar da Associação de Mulheres Contra a Violência Doméstica – respondeu Lucy. – Vais fazer um discurso e receber um prémio pelo teu apoio à associação.

Peter doava computadores e programas informáticos aos refúgios onde as mulheres aprendiam um ofício para não terem de voltar para os maridos que as maltratavam.

Ele fechou os olhos.

– Tinha-me esquecido disso. Suponho que não haja forma de me escapar.

– Se quiseres dar um desgosto a centenas de mulheres...

Suspirou e pôs as mãos na cintura.

– Muito bem. Mas terei que ir com alguém.

Lucy afastou o olhar. Peter saía com dezenas de mulheres bonitas. Modelos, actrizes, apresentadoras... Era um homem bonito, divertido, encantador e ainda que trabalhasse muito para que a sua empresa pudesse competir com as maiores, era suficientemente rico para chamar a atenção de uma mulher bonita.

De uma forma geral, não a incomodava vê-lo com aquelas mulheres... excepto quando chegava de manhã e descobria que alguma delas continuava na sua cama ou estava de saída. Ou encontrava roupa interior feminina no chão.

– Vou ver na agenda para ver quem está livre.

– Não – disse ele. – Não me apetece ir com alguém que só quer aparecer na fotografia.

– Não tem importância. Podias ir sozinho.

– Tenho uma ideia melhor – anunciou Peter. – Podias vir comigo.

Tinha-o dito como se tivesse decidido comer frango em vez de filetes e Lucy não pôde evitar sentir-se como a desgraçada criatura com penas cujo pescoço ia ser cortado.

Ainda se fosse verdadeiramente um convite, como se alguma vez tivesse olhado para ela como uma mulher. Mas não. Isso não era verdade. Teria pulado perante a oportunidade de ir com ele a qualquer sítio, rezando para que ele não perdesse o interesse por ela.

Sacudindo a cabeça, Lucy saiu do escritório.

– Não, obrigada.

– Não? Porque não?

A sua voz, indignada, seguiu-a pela escada.

– Porque não.

– Lucy, não podes deixar-me sozinho. Já sabes que não gosto de multidões.

– Devias ter pensado nisso antes de teres dito que ias – replicou ela.

– Ah, café – disse ele quando entravam na cozinha. – Olha, a sério, não posso ir sozinho. Preciso que vás comigo. Vai lá estar gente importante, gente que poderia estar interessada na minha empresa...

– E?

– És a minha assistente. Conheces, tão bem como eu, os programas em que estou a trabalhar e os objectivos que tenho para a empresa. E ninguém se relaciona melhor que tu. As pessoas adoram-te.

Como ela não respondeu, Peter continuou, mais desesperado:

– Faz parte do teu trabalho. Além disso, pagar-te-ei as horas extras. Podes levar a agenda e combinar uma dúzia de reuniões com possíveis clientes.

Ah, sim. Sem dúvida que era sua assistente. Colocada assim a questão, não teria outro remédio senão ir com ele.

Mas não pensava facilitar-lhe a vida.

Lucy apoiou-se na bancada da cozinha, de braços cruzados.

– Calculo que não estejas interessado em que eu apareça de calças de ganga. Não tenho nada para vestir adequado a um jantar desse estilo.

Peter suspirou, aliviado.

– Isso não é problema. Eu trato disso. Ou, melhor, encarrega-te tu de tudo. Depois passas a factura... Compra o que quiseres.

Depois aproximou-se dela para lhe dar um abraço apertado.

– Obrigado, obrigado, obrigado – disse, beijando-lhe a testa.

Lucy sentiu os joelhos a fraquejar e teve de fechar os olhos quando uma onda de calor começou a subir desde os pés até ao peito.

Sim, era capaz, com toda a certeza, de poder passar a noite com aquele homem e pensar que não era mais nada que um jantar de trabalho. Nisso não havia qualquer problema. E, quem sabe, depois desse seu pequeno milagre, talvez conseguisse transformar a água em vinho.

 

 

Peter bebeu a sua sexta chávena de café desde que Lucy o tinha acordado naquela manhã e clicou no rato para enviar os e-mails que tinha redigido na última meia hora.

Começava a perceber que não era fácil cuidar de si mesmo. Lucy só tinha saído há duas horas, mas como estava habituado a tê-la ali toda a manhã a atender o telefone e a tratar de outras tarefas, era difícil para ele manter a sua rotina normal.

Por fim, tinha decidido não atender o telefone, deixando essa tarefa para o atendedor automático. Lucy encarregar-se-ia de responder assim que voltasse. E mesmo que às vezes ela também respondesse aos seus e-mails, ele podia perfeitamente fazê-lo sozinho. Não era um inútil.

Quanto ao correio tradicional, era outra coisa. Não se imaginava a abrir envelopes. Lucy saberia o que era importante e o que não era.

Entretanto, ouviu a porta e suspirou, aliviado. Agora podia concentrar-se no seu programa em vez de ocupar o seu tempo com coisas menos importantes.

Quando saiu do escritório, viu Lucy a tentar entrar em casa com um monte de sacos.

– O que é isso?

Ela levantou o olhar e soprou para tirar a franja da cara.

– Podias dar-me uma ajuda, não?

– Ah, desculpa.

Peter passava mais tempo com computadores do que com pessoas e Lucy não seria a primeira a dizer que, por vezes, não era propriamente uma pessoa atenta. Mas era um tipo estupendo.

– Parece que compraste um monte de coisas.

– Mais do que tu possas imaginar – sorriu ela, despindo o casaco.

Trazia vestida uma blusa branca, muito recatada, mas conseguia ver-se a silhueta do sutiã preto que trazia por baixo... e isso não o ajudou nada.

Peter sentiu um nó na garganta. Mas um momento depois, decidiu que era absurdo explorar coisas que ele não devia explorar.

Lucy era bonita, sem dúvida. Desde que se conheceram, quando a entrevistou para o cargo de secretária pessoal, que tinha ficado fascinado com o seu longo cabelo preto, a sua pele de porcelana, os brilhantes olhos azuis.

Certamente não havia qualquer possibilidade de haver alguma coisa entre eles. Peter jamais teria uma relação séria e muito menos com alguém que trabalhasse para ele. Não queria ser como o seu pai, não tinha intenção de fazer ninguém infeliz. Ele fizera a sua mãe muito infeliz. E, consequentemente, a ele também.

Mas tinha contratado Lucy, apesar da sua atracção por ela, simplesmente porque era a melhor candidata. Tinha quase tantos conhecimentos de informática como ele, era uma boa secretária e tinha uma voz que faria qualquer santo cair de joelhos.

Sendo assim, se ficava hipnotizado a olhar para aqueles lábios vermelhos ou se tinha que tomar uma absurda quantidade de duches frios assim que ela ia para casa, era somente por culpa sua porque a tinha contratado. Mas valia a pena.

– De que te estás a rir? – perguntou ela.

– Eu? De nada.

– Quando chegarem as facturas não te vais rir, amigo.

Peter encolheu os ombros.

– Não acho que seja caso para tanto.

Ela levantou uma sobrancelha.