sab1627.jpg

5495.png

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2011 Elizabeth Power

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Culpas do passado, n.º 1627 - Agosto 2015

Título original: Sins of the Past

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Dreamstime.com

I.S.B.N.: 978-84-687-7082-6

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Prólogo

Não conseguia acreditar. Era ela.

Damiano respondeu à mulher que estava do outro lado da mesa, que acabara de dizer alguma coisa, mas os seus olhos pretos continuaram fixos na jovem que parara no corredor, atrás do biombo de vidro.

O cabelo era muito vermelho, como sempre, embora agora fosse curto, e não perdera a expressão travessa que a fazia parecer uma espécie de duende. No entanto, Damiano recordou que essa expressão era apenas a máscara do seu oportunismo, da sua avareza.

– Senhor D’Amico?

Impecavelmente vestido com um fato escuro, que não escondia o corpo perfeito de um homem na posse das suas plenas faculdades, Damiano virou-se para a mulher da mesa. Afinal, havia coisas mais importantes do que um fantasma do passado. Começando pela reunião com a diretora da Redwood Interiores, que ia decorar a sua casa no Reino Unido. Contudo, a curiosidade era mais forte.

– Aquela rapariga… – começou por dizer.

A mulher de cabelo preto e lábios pintados de vermelho seguiu o olhar de Damiano, e perguntou:

– Refere-se à menina Singleman?

Assentiu e tentou fingir uma indiferença que estava longe de sentir.

– Sim.

– Riva é uma das nossas novas aquisições – explicou a mulher. – É jovem e entusiasta. Às vezes, é pouco convencional, mas tem imenso talento.

Damiano pensou que, para além de ter talento, Riva Singleman era uma mentirosa sem escrúpulos. De facto, quase suspendera a reunião e saíra dali, porque lhe parecera que uma empresa que contratava pessoas como ela não podia ser digna de confiança. Mas contivera-se. Por um lado, por causa da lembrança dos beijos e, por outro, porque queria saber o que fizera para conseguir um emprego na Redwood Interiores.

A diretora da empresa, uma executiva de cinquenta e muitos anos, mudou de conversa e assegurou-lhe que estava tudo como o previsto e que a sua equipa de decoradores se encarregaria de fazer com que ficasse satisfeito.

Damiano olhou para ela e esboçou um dos seus sorrisos devastadores, que tantos êxitos lhe tinham dado com as mulheres ao longo dos seus trinta e dois anos de vida. O destino oferecera-lhe a oportunidade de se vingar de Riva Singleman. E não ia desperdiçá-la.

Capítulo 1

Riva parou o carro à entrada do que parecia ter sido uma quinta próspera, noutros tempos. Conseguia ver a mansão velha e desabitada que se encontrava ao fundo do caminho, mas não lhe interessou tanto como o edifício das cavalariças antigas, a Old Coach House, que tinham transformado numa casa. Aquele seria o seu primeiro trabalho importante. E tinham-lhe dado carta-branca para fazer o que quisesse.

Entrou na quinta, passou à frente do utilitário e do desportivo preto e reluzente que estavam estacionados a pouca distância, e tocou à campainha, tão contente quanto nervosa. O seu trabalho devia ter chamado a atenção de alguém, porque o dono da casa perguntara especificamente por ela na Redwood Interiores. Era a oportunidade de que precisava. Se corresse tudo bem, daria um grande passo para realizar o seu sonho, de ter o seu próprio estúdio.

A porta abriu-se e apareceu uma mulher loira, que usava um fato cinzento-escuro.

Madame Duval? – perguntou Riva.

– Não, receio que madame Duval tenha saído. O que deseja?

– Sou a menina Singleman, a decoradora.

– Ah, sim, entre. Estão à sua espera.

Riva assentiu e seguiu-a para dentro de casa, coibida com a elegância e a estatura da mulher, que superava o seu metro e sessenta. Ao fim de alguns instantes, a mulher abriu uma porta e disse:

– Se tiver a amabilidade de esperar aqui…

– Sim, claro.

Riva ficou sozinha numa sala grande e ensolarada, que dava para um jardim. Não sabia quem a decorara, mas achou-a impecável, de muito bom gosto, tanto na escolha dos móveis como das cores.

– Ena, ena… É a menina Singleman.

Ficou tão nervosa ao reconhecer aquela voz, que se virou muito depressa e a mala bateu numa mesinha estilo georgiano. Felizmente, a jarra que estava em cima dela não chegou a cair.

– Não me digas que és propensa a acidentes, Riva. Quase partiste essa jarra.

Riva olhou para o homem alto, de cabelo preto e pele morena, que entrara na sala. Não parecia estar surpreendido por a ver ali. Os olhos escuros e penetrantes fixaram-se nela com um humor que também aflorava aos lábios.

– Damiano!

Perturbada, levou a mão ao colar que aparecia pelo decote do vestido, por cima dos seios pequenos, e brincou com ele. O que estaria a fazer ali? Segundo a imprensa, vivia num dos bairros mais elegantes de Londres e não numa casa de campo, longe de tudo.

– Não entendo – murmurou. – A mulher que me abriu a porta…

– A mulher que te abriu a porta é a minha secretária – informou.

Riva pensou que, certamente, seria algo mais. Damiano D’Amico tinha fama de ser um perfeito mulherengo. O nome dele aparecia com frequência na imprensa cor-de-rosa, quase sempre associado a um escândalo amoroso. De facto, acabara de ler um artigo sobre o fim da sua relação com Magenta Boweringham, uma milionária que, no seu despeito, o acusara de ir para a cama com qualquer uma.

– Mas, madame Duval…

Madame Duval é a minha avó. Não sabias que não está em casa?

– Não, não sabia – respondeu. – E tu? Sabias que a Redwood Interiores me encarregou deste trabalho?

Ele encolheu os ombros.

– Sim, claro. Embora não saiba como é possível que uma rapariga com tão pouca experiência tenha chegado tão alto.

Corou, zangada.

– Como cheguei tão alto? A trabalhar, Damiano – replicou. – Mas não te preocupes com isso. Não tenciono trabalhar para ti. Falarei com a senhora Redwood e direi que foi um erro. Agora, se não te importares, será melhor ir-me embora.

Riva saiu da sala, profundamente dececionada. No entanto, deteve-se, ao ouvir a voz de Damiano.

– Se estivesse no teu lugar, não diria isso à senhora Redwood.

Riva virou-se e olhou para ele. Tinha um rosto perfeito, nariz arrogante, maçãs do rosto bem marcadas e testa larga.

– Porquê?

– Porque te enviaram para fazer um trabalho e espero que cumpras o teu dever. Caso contrário, falarei com a tua patroa pouco tolerante e direi que mudei de opinião, e que vou contratar os serviços de outra empresa de decoradores.

Nesse momento, ouviram um carro que se afastava da casa. Riva soube que era a secretária de Damiano e tremeu ao pensar que ficara a sós com ele.

– Serias capaz de fazer com que me despedissem?

Ele fixou o olhar nos seus olhos verdes.

– Não me tornes responsável pelas tuas próprias decisões. Se rejeitares este trabalho, vais ser tu a despedir-te.

Riva achou que estava a falar a sério. Era perfeitamente capaz de a destruir. Como destruíra a sua querida mãe. Não se esquecia que, se ele não tivesse interferido, Chelsea Singleman não teria morrido.

– Volta para a sala! – ordenou ele.

Riva obedeceu, entrando na sala. Esforçara-se muito para conseguir aquele trabalho e não queria perdê-lo. Mas, orgulhosa como era, bateu-lhe com o ombro ao passar junto dele.

– Se voltares a tocar em mim, chegarei à conclusão de que estás a oferecer-me mais do que os teus dotes como decoradora – avisou Damiano. – E ambos sabemos o que aconteceu da última vez, não é verdade?

Não precisava que lho recordassem. Damiano aproveitara-se da sua ingenuidade e da sua falta de experiência.

– Não estou a oferecer-te nada. Vou ficar porque me obrigas.

– Sim, claro – troçou, com ironia. – Suponho que também pensarás que aquilo que aconteceu há cinco anos foi uma imposição minha.

Riva voltou a corar, mas de vergonha. A sua mente encheu-se de imagens tórridas, que achava que estavam esquecidas, imagens de uma relação amorosa que a devastara por completo.

– Não, não foi uma imposição tua – admitiu. – Foi por culpa da minha estupidez.

Ele inclinou a cabeça e sorriu, sem rasto de humor.

– Bom, não podes culpar-me por querer saber a verdade.

– A verdade? Não terias reconhecido a verdade, mesmo que ganhasse forma e te agarrasse pelo pescoço!

– É possível. Mas não foi necessário. As provas falaram por si.

Riva não pôde negá-lo. Mentira-lhe, escondera-lhe factos importantes, mas só porque se sentia terrivelmente envergonhada. Em qualquer caso, isso não era nada, em comparação com o que ele fizera a Chelsea.

– Devastaste a vida da minha mãe – acusou.

– Porquê? Porque impedi que se casasse com o meu tio? Teria falhado às minhas obrigações, se não o tivesse feito. Além disso, tenho a certeza de que superou. Mulheres como Chelsea e como tu não choram durante muito tempo por uma oportunidade perdida. Não tenho a menor dúvida de que, se ainda não encontrou um homem rico para caçar, o encontrará, em breve.

Riva sentiu-se como se lhe tivessem dado uma punhalada.

– A minha mãe está morta! – gritou.

Olhou para ela com surpresa e, depois de alguns segundos de silêncio, disse:

– Lamento muito.

– Não, não lamentas.

– O que aconteceu?

– Não é um assunto teu.

Ele respirou fundo.

– Diz-me.

Riva não tinha vontade de falar da mãe, mas sabia que Damiano ia insistir, portanto, acedeu ao seu desejo.

– Está bem, se tanto te interessa… Morreu com uma overdose acidental. Por causa dos compridos contra a depressão que estava a tomar.

– Há muito tempo?

– Há mais de um ano.

Ele assentiu.

– Lamento, Riva.

Ela soltou uma gargalhada.

– Não mintas, Damiano. Não, não lamentas. Afinal, foste tu que a impulsionaste para a depressão, pois destruíste a relação com o homem por quem estava apaixonada.

– Achas que sou culpado da sua morte? – perguntou, revelando espanto.

– Acho que és culpado, porque és.

Damiano abanou a cabeça.

– Quem está a mentir agora, Riva? Sabes perfeitamente que Marcello rompeu o noivado com a tua mãe porque vos investigou e descobriu as vossas mentiras.

– Se não tivesses interferido, ele não teria investigado nada – recordou-lhe. – Foi culpa tua.

– Eu só sou culpado de ter feito com que abrisse os olhos. Estava tão cego com a cara bonita e os olhos azuis da tua mãe, que não se apercebeu daquilo que se passava.

– Mas tu percebeste, claro.

– Com efeito – confirmou. – Além disso, o meu tio poderia ter ignorado as mentiras da tua mãe, mas as tuas eram tão grandes que não podiam ser perdoadas.

Riva não disse nada, porque Damiano tinha razão. Inventara uma história absolutamente incrível sobre a sua origem e fora suficientemente ingénua para pensar que nunca a descobririam. No entanto, o mal já estava feito. Já não podia mudar o que acontecera. E não queria dar explicações.

– Agora, que tal retomarmos o assunto que te trouxe a esta casa? – continuou ele. – Acompanha-me, por favor.

Riva não se fez rogar. Qualquer coisa parecia ser preferível a continuar a falar do passado.

Damiano observou-a com atenção, enquanto a acompanhava à divisão que queria redecorar. Andava com as costas direitas e o queixo erguido, num gesto orgulhoso. Indubitavelmente, tinha caráter.

Depois, sentiu o cheiro fresco e floral do perfume que usava e desejou-a, apesar de tudo. Riva não encaixava no tipo de mulheres de que gostava. Não era loira, alta ou espetacular nas suas formas, mas sentira-se atraído por ela desde que a vira pela primeira vez, em casa de Marcello, irmão do seu falecido pai.

Quando o tio lhe dissera que ia casar, Damiano alegrara-se com a notícia. Há dez anos que era viúvo e pensara que seria bom para ele. No entanto, tivera uma surpresa quando chegara a casa do tio e descobrira que Chelsea Singleman era muito mais nova do que Marcello e que, para além disso, tinha uma filha adulta.

Ao princípio, pensara que eram irmãs. Eram tão parecidas que, à primeira vista, só se distinguiam pela cor do cabelo. Loiro no caso de Chelsea e ruivo no de Riva.

Damiano desconfiou imediatamente de algo. De onde tinham saído? Não conseguia acreditar que uma mulher com trinta e tal anos quisesse casar com um homem que tinha o dobro da sua idade, por muito atraente que fosse. E chegara à conclusão de que ela não estava apaixonada por Marcello, mas sim pela sua posição social, pelo seu dinheiro. Afinal, o tio era o patriarca de uma das famílias mais ricas e poderosas de Itália.

Quando Marcello lhe contara que as conhecera na costa, onde elas se dedicavam a vender joias feitas à mão, sentira necessidade de saber mais e entrara em contacto com uns detetives privados.

Segundo Riva, a mãe era uma mulher educada, de boas famílias, e o pai era um oficial da Marinha britânica, condecorado pelos serviços prestados ao país, que falecera num acidente de viação e lhes deixara uma pequena fortuna e uma casa linda, embora a tivessem vendido depois da sua morte, porque era demasiado grande para elas.

No seu afã em descobrir a verdade, Damiano chegara ao extremo de ir para a cama com Riva, de lhe tirar a virgindade. Não se sentia orgulhoso disso, mas a investigação dos detetives confirmara os seus temores.

Em primeiro lugar, a mãe de Riva era uma mulher solteira e sem estudos, que sobrevivia com trabalhos mal pagos e que mal tinha dinheiro para pagar a renda. Em segundo lugar, o pai não fora um oficial da Marinha britânica, mas sim um delinquente que passara vários anos na prisão, depois de ter sido condenado por um crime de fraude.

O acidente de viação era a única parte da história que era real.

Damiano amaldiçoou-se, ao recordar tudo isso. Naturalmente, lamentava que Chelsea Singleman tivesse falecido, mas não se arrependia de nada. Se Marcello tivesse casado com ela, a sua fortuna teria acabado nas mãos de uma oportunista como Riva.

– E então? O que te parece? – perguntou, ao chegar à sala que queria decorar. – Suponho que te terão informado de que a minha avó gostaria de a transformar num estúdio. Achas-te capaz de enfrentar o desafio?

Riva deu uma olhadela à divisão, cujos móveis estavam tapados com lençóis, para que não acumulassem pó. Sob o seu ponto de vista, a única coisa que valia a pena salvar era as portas da varanda, que dava para um pequeno pátio.

– Porque perguntas? – replicou. – Não tenho escolha. Se não aceitar este trabalho, perderei o meu emprego.

– Eu sei. Mas preciso de saber se estarás à altura.

Contrariada, Riva dirigiu-se para o centro da sala e observou-a com atenção.

– O que é que a tua avó faz?

– A minha avó?

Olhou para ele e franziu o sobrolho.

– Quem haveria de ser? Se o estúdio é para ela, preciso de saber o que faz.

Ele encolheu os ombros.

– Bom… Lê muito e também gosta de costura.

– Ah, compreendo. Quer uma sala para costurar.