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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Katherine Garbera

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A noite toda, n.º 700 - Julho 2015

Título original: Rock Me All Night

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7124-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Epílogo

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Prólogo

 

Fui um capo da máfia. O chefe dos chefes. Il Re, que significa «rei» em italiano. E acreditem quando lhes digo que me comportava como o dono do mundo. Cinco tiros no peito fizeram-me vir parar a este não-lugar que o padre Dom chamava de Purgatório. Não é como imaginava, mas o mesmo se passou com tantas e tantas coisas na minha vida.

Fiz um acordo com uma emissária de Deus, cujo nome é-me impossível lembrar. Eu chamo-a Didi. É todo um personagem e tem péssimo gosto a vestir-se, mas há qualquer coisa nela que eu adoro.

– Bem-vindo de novo, Pasquale.

O meu nome é Pasquale Mandetti, mas ninguém, excepto este anjo, nunca me chamou assim.

– Miúda, já te disse para me chamares Ray.

– Eu não gosto que me chamem «miúda».

– É um mau hábito que eu tenho.

Observava-me atentamente. Acomodei-me no maple de cabedal e esperei. Didi comportava-se como eu o fazia quando era chefe. Mas agora, era ela quem estava na chefia.

O acordo consistia em unir tantos casais como inimigos eu assassinara na minha vida. Fazem alguma ideia de quanto tempo ia levar naquela missão de casamenteiro?

Um monte de expedientes apareceu sobre a sua mesa. Eram de cores diferentes e, como pude confirmar mais tarde, não foi nada fácil unir aqueles casais.

– Escolhe uma cor.

– Fico com o primeiro – disse. Odiava quando se fazia simpática comigo.

Entregou-me o expediente e abri-o. Não era mau. Ia transformar-me num locutor de uma emissora de rádio em Detroit durante o mês de Fevereiro.

– Mas vou congelar.

– Isso é certo. Desta vez, vou contigo.

– Porquê?

– Vais precisar de uma produtora. Além disso, desta vez vais ter de fazê-lo com muito tacto.

Li os detalhes por alto. Tratava-se de Lauren Belchoir y Jack Montrose, cada um numa ponta da cidade e com vidas completamente diferentes. Jack era dono de uma editora de música e Lauren trabalhava no turno da noite de uma rádio. À primeira vista, parecia bastante simples.

– Porque é que vou precisar de ti ao meu lado?

– Porque vais fazer o programa da manhã e vais ocupar-te de organizar a primeira edição de Um Quilómetro de Homens.

– O que é isso?

– Um concurso do dia de São Valentim. Os homens vão fazer uma fila e as mulheres vão passar e escolher um deles.

– A Lauren vai escolher o Jack?

– Se te desse as respostas todas, não terias nada para fazer – respondeu, esboçando um daqueles misteriosos sorrisos seus, daqueles em que eu não confiava nem um pouco.

Senti que o meu corpo desvanecia. De repente, estava parado no meio da rua frente a um enorme edifício de cristal, com o nome da emissora de rádio: WCPD.

No que é que eu me fui meter?

Capítulo Um

 

A reunião foi longa e aborrecida. Lauren Belchoir apoiou as costas na cadeira e desejou estar em qualquer lugar menos ali. Gostava do seu trabalho como locutora nocturna na WCPD, já apresentava o programa Coração Solitário há anos. Mas agora tinham um novo director de programas e tudo tinha mudado. Ray King e a sua produtora, Didi Sera, iam levar a pequena rádio local WCPD até ao topo.

– O projecto é simples. O concurso Um Quilómetro de Homens vai atrair muitos solteiros. A Didi está a entregar-vos os folhetos com os homens que gostávamos que participassem.

Lauren abriu o seu folheto e respirou fundo. Jack Montrose era moreno e atraente e nunca mantinha nada por mais de seis meses. Era igual que fossem mulheres, hobbies ou casas. Mexia-se como um raio e vivia a sua vida como o seu pai, Diamond Dave Montrose.

Continuou a folhear a pasta e surpreendeu-se ao ver que o seu chefe, Ty Montrose, também estava lá. Ty e Jack eram irmãos.

– A cada um de vocês será indicado um solteiro ao qual vão ter de convencer. Queremos arranjar estes homens porque nos vão trazer muita publicidade.

Lauren folheou o resto das fotografias e viu Joe Brigg, o líder dos fabricantes de carros locais, o qual conhecia. Para dizer verdade, jantara com ele há apenas duas semanas. E embora não tivessem comunicado, Lauren sabia que podia convencer Joe a participar.

– Eu conheço o Joe Brigg, posso falar com ele.

Ray olhou para ela de soslaio, com um olhar subtil e calculista. Ou era ela que assim o imaginava? No fim de contas, mal conhecia aquele homem.

– A Didi e eu tratamos do Joe. Lauren, gostávamos que contactasses o Jack Montrose.

– Mas ele é o irmão do Ty, porque não fala o Ty com ele?

Ty parecia incomodado e Lauren arrependeu-se de ter sugerido aquilo. Todos sabiam que se não conseguissem aumentar a popularidade da emissora estariam acabados. Ty era o dono, e por isso estava na posição mais frágil.

– Era apenas uma sugestão.

– Acho que seria melhor que tratasses tu do Jack – disse Ray, olhando para ela.

– Está bem – disse Lauren percebendo que seria impossível fazer-lhe mudar de opinião.

– O que quero dizer é que o Ty vai estar muito ocupado a garantir que tudo corre bem e a preparar as biografias de cada participante – disse Didi. Ela estava sentada ao lado de Ray e a sua presença era reconfortante, ao contrário da de Ray. Tinha vestido um fato cinzento e a sua gadelha brilhante caía-lhe suavemente pelas costas.

Lauren assentiu com a cabeça.

– Isto é tudo por ora. Só mais uma coisa: vou alterar os vossos horários. Marshall, em vez de fazer o turno da tarde vais fazer o da meia-noite. Lauren, tu vais passar a fazer o horário da manhã.

Lauren não queria mudar de horário. Gostava do seu pequeno mundo no qual podia passar as canções que quisesse e falar com os ouvintes. Mas já metera o pé na poça várias vezes durante a reunião. Ty pegou na sua mão por baixo da mesa para reconfortá-la e ela sorriu.

A sala de conferências começou a ficar vazia, mas Lauren continuou por lá. Ray estava numa esquina a falar com Didi e com Marshall. Quando Marshall abandonou a sala, Lauren aproximou-se deles.

– Podemos falar?

– Sim, claro. O que se passa?

– Não quero mudar para o turno da manhã. Os meus ouvintes e eu temos uma ligação muito forte.

– Nós sabemos – respondeu Didi sem levantar o olhar dos seus papéis. – Tens o programa com as maiores audiências da WCPD. Na verdade, é no teu horário que ultrapassamos todas as outras emissoras.

Lauren não sabia que o seu programa tinha tanto sucesso. O anterior director de programas mal falava com ela.

– Por isso precisamos de ti na manhã – disse Ray.

Ela assentiu. Perdera a batalha e ia ter de mudar de horário.

– Espero que o meu estilo funcione de manhã.

– Tenho a certeza que sim – disse Didi pegando nos seus papéis e dirigindo-se à porta.

– Está tudo esclarecido? – disse Ray.

– Não. Ainda penso que devia ser o Ty a entrar em contacto com o irmão.

– Já lhe disse que lhe ias ligar, Lauren.

– Contigo e com o Jack podemos encenar a guerra dos sexos. Isso, se conseguirmos que o Jack participe – apontou Ray.

– O que queres dizer com isso?

– Tu és uma pessoa caseira e gostas de estar em família. Ele é diferente. Vive a sua vida como se fosse um jogo. Acho que é, precisamente, do que estamos a precisar.

– Não me dou nada bem com esse tipo de homens.

– Miúda, não se trata de vocês os dois. Trata-se das audiências.

Ela sabia muito bem que se as audiências não aumentassem, a emissora estava condenada. No fim de contas, tinha de fazê-lo pelo seu emprego.

Ray rodeou-a com um braço, aproximando-a dele por um momento.

– Não te teria dado esta tarefa se não achasse que eras a pessoa indicada.

Ele esboçou um amplo sorriso e Lauren intuiu certa malícia na sua expressão.

– Não desistes até que consegues que as coisas sejam feitas à tua maneira, pois não?

– Miúda, nem fazes ideia – disse ele piscando um olho.

Guiou-a até à recepção.

– Pat, o Ty precisa que o ajudes a preparar a sala de conferências para as entrevistas – disse Ray à recepcionista, enquanto se aproximavam da entrada do edifício.

A zona da recepção era de madeira. Ty dizia que assim dava a impressão de ser uma emissora de grande sucesso. Mas era precisamente o contrário; os níveis das audiências estavam de rastos e estavam dispostos a fazer fosse o que fosse para os aumentar. Por isso tinham decidido organizar o concurso Um Quilómetro de Homens para o Dia dos Namorados.

Pat Mallery trabalhava na emissora há mais tempo do que ninguém. Gostava do seu posto, onde ficava a saber de tudo o que acontecia e de todas as fofocas. Lauren simpatizava com dela.

– Claro, chefe. E o que faço com os telefonemas? – perguntou Pat.

Ray olhou para Lauren.

– Não. Eu… não posso – disse Lauren.

Ray encolheu os ombros e dispôs-se a sentar-se, sem deixar de olhar para ela.

– Não há problema. Eu trato de atender as chamadas.

Lauren apressou-se pelo corredor, afastando-se do novo estranho que agora era o director. De súbito, chocou com alguém e levantou o olhar para se desculpar. O homem que estava à sua frente tinha os olhos azuis e o olhar frio. O seu cabelo era negro, com alguns cabelos brancos. Os seus ombros eram largos e o seu fato parecia ser caro. Era Jack Montrose.

– Peço desculpa – disse ela, apercebendo-se de que ficara a olhar para ele fixamente.

– Foi culpa minha. Ia distraído – desculpou-se ele.

Aquela voz, suave e profunda, despertou os seus sentidos, como se de um raio de luz num dia nublado se tratasse. Sentiu cócegas na nuca. Adorava vozes profundas e masculinas.

Ele continuava a agarrá-la pelo braço, onde a tinha segurado para evitar que caísse. Lauren sentia o seu calor através da blusa de seda que tinha vestida. Desejava ter uma roupa mais grossa que a protegesse daquele calor e das sensações que percorriam o seu braço.

– O meu nome é Jack Montrose, e o seu? – disse, estendendo a mão.

Lauren apertou-a e reparou que tinha as unhas impecáveis. Tudo nele era atraente. Ele segurou a sua mão durante uns segundos e depois soltou-a.

Aquele homem era o irmão tão bonito do chefe, que nunca passava mais de seis meses com uma mulher. Tinha sido definido numa revista de Detroit como um solteiro de ouro, dos mais desejados da cidade. Não era o que Lauren esperava.

– Lauren Belchoir.

– É locutora de rádio? – perguntou ele.

Obviamente, ele não era um ouvinte seu. Às vezes pensava que as únicas pessoas que ouviam o seu programa eram os doentes de insónia ou os trabalhadores nocturnos das fábricas de carros.

– Sim. Sou a locutora do Coração Solitário, o programa que vai da meia-noite às quatro da manhã.

Ou, pelo menos, isso era o que fazia até então. Como ia ela pedir-lhe que participasse no Um Quilómetro de Homens?

Ele inclinou a cabeça para um lado enquanto a observava. Lauren pôs uma madeixa de cabelo atrás da orelha. O seu cabelo era encaracolado e rebelde.

– Tenho a certeza que parte muitos corações com essa voz.

– Qual voz? – perguntou ela.

Sabia que os homens gostavam das suas curvas. O seu corpo tinha forma de garrafa, com um peito grande, a cintura estreita e ancas generosas. Mas nunca antes nenhum homem tinha reparado na sua voz.

– Essa voz doce e sensual que tem. Parece que está a falar em sussurros num quarto escuro – disse ele.

Soava a cliché e, certamente, era. Provavelmente, estava a tentar namoriscar, tendo em conta a sua reputação. Sem saber porquê, sentiu-se desiludida e tirou a mão. Deu um passo para trás para se afastar dele. Que tipo de comentário era aquele?

– Não se assuste, não pretendo nada consigo – disse ele.

Passou a mão pelo cabelo e inclinou a cabeça para um lado, olhando para ela. A sua mandíbula era quadrada e tinha marcas de sol sob os olhos. A sua pele estava morena apesar de ser Inverno, o que significava que passava muito tempo ao ar livre. Talvez a esquiar?

– Pois a mim quis-me parecer que pretendia.

Quase todos os homens da emissora tratavam-na como a uma irmã ou como mais um homem. Naquele contexto sentia-se segura, mas Lauren pressentia que aquele homem não fazia parte desse mundo. Não queria sentir-se atraída por um quebra-corações.

– Estava a elogiá-la – disse ele, abanando a cabeça.

– Os homens não devem dizer essas coisas no local de trabalho.

– Isso é o que acontece por causa de tanta estupidez sobre como ser politicamente correctos. Os homens estão feitos para se sentiram atraídos pelas mulheres.

– Isso é óbvio.

– Então, estamos entendidos – disse ele, arqueando uma sobrancelha.

– Sobre o quê?

– Que eu agi segundo estou programado.

Ela começou-se a rir. Não pôde evitá-lo. Jack era encantador e desejava ficar ali com ele a manhã toda a discutir tolamente.

– Não tente dizer-me que tentava apenas ser amável. Estava a acariciar-me a mão.

– Gosto de mulheres bonitas.

– Já percebi. Mas não me interessa fazer parte das suas aventuras.

Ele deitou a cabeça para trás e começou-se a rir. Lauren sorriu.

– Bom, senhor Montrose. Foi um prazer conhecê-lo.

– O prazer é todo meu, Lauren.

Ela foi-se embora sem olhar para trás. Não lhe interessava o que o novo director dissesse, ela ia guardar as distâncias com Jack Montrose. Fazia parte do tipo de homens pelo qual sempre se sentia atraída, o que significava que não era indicado para ela.

 

 

Jack ficou a olhar para Lauren até que ela desapareceu, e sentiu-se invadido por uma sensação familiar: o desejo de ir mais longe. Normalmente, sentia uma forte atracção pelas mulheres com quem saía e pouco mais. Mas Lauren tinha feito com que a sua ânsia de se sentir completo na vida ressurgisse. Aquela parte dele ficara enterrada depois do seu breve matrimónio, quinze anos antes.

Lauren Belchoir não era como ele a tinha imaginado. O seu irmão não parava de elogiá-la desde que a tinha contratado, há dois anos. E Jack tinha uma grande debilidade: as mulheres, todas as mulheres. Amava de forma breve, mas apaixonada, assim como o seu pai.

O pai deles, Diamond Dave, vivera depressa, montado numa mota e a fazer acrobacias arriscadas, desafiando Even Knievel em atrevimento e coragem. Infelizmente, o destino deixara-o paralítico da cintura para baixo após uma acrobacia, o que mudara para sempre o matrimónio dos seus pais.

Jack imaginara que a afeição que Ty sentia por Lauren era como um raio, como noutras ocasiões. Do mesmo modo que as acrobacias do pai, as tentativas de Ty de ter relações tinham mais probabilidades de fracassar do que de se transformar em amor verdadeiro.

Lauren era do tipo de mulher com a que Jack tinha fantasias, mas ele já tivera demasiados troféus sexuais. Lauren tinha boas curvas e era atraente. O seu sorriso era doce e os seus olhos comunicavam humor e inteligência. E isso era o que realmente o atraía. Mexia-se com graça e harmonia.

Voltou a percorrer o corredor, apesar de estar prestes a sair do edifício. Ty estava a sair do elevador dos executivos com um homem largo e careca, e com uma mulher magra e loira que irradiava segurança em si própria. Jack aproximou-se deles.

– Olá, mano mais velho, anda conhecer a equipa que nos vai fazer aumentar as audiências – disse Ty.