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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Maggie Cox

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um homem apaixonado, n.º 845 - Dezembro 2015

Título original: A Very Passionate Man

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2005

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7540-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Não sabia o que o tinha feito olhar pela janela.

Talvez um movimento repentino, algo branco que vira pelo canto do olho… a verdade era que tivera o pressentimento de que ia acontecer qualquer coisa.

Por alguma razão, a tensão acumulou-se-lhe no estômago, dificultando-lhe a respiração. Evan disse para si que eram os efeitos do excesso de trabalho, que o tinham deixado muito fraco. Depois de uma vida inteira a trabalhar arduamente, em que, primeiro, viera sempre o trabalho, dera-se conta de que não podia continuar àquele ritmo… a menos que quisesse morrer jovem, claro.

A última gripe estivera prestes a acabar com ele, por isso, não tivera outro remédio senão seguir os conselhos do seu médico, que lhe prescrevera um mês de baixa, passeios na praia, descanso e leitura.

Nada daquilo lhe dizia muito, pois estava acostumado a ter muita actividade, a dar sempre o melhor de si mesmo, tanto no ginásio, como no escritório, onde tinha gasto horas e horas para levar a bom porto a sua empresa.

Se tivesse sabido então que, um dia, ia ter que pagar por tantos excessos…

Estremeceu e entreabriu os seus olhos verdes perante o que estava a ver pela janela.

Tratava-se de uma mulher com um chapéu de palha e um vestido branco, que estava no jardim da casa ao lado, como se acabasse de sair das páginas de uma revista de decoração.

Tinha uma tesoura de podar numa mão, uma cesta de vime na outra e um olhar de cansaço incrível, como se se tivesse arrependido da tarefa que tinha pela frente.

Não era para menos, porque aquela casa estava vazia há três anos e precisava de umas boas reparações.

Deveria ter calculado ao ver que o cartaz a dizer «vende-se» tinha desaparecido, mas não tinha sido assim, porque não estava acostumado a ir muito para ali. Era mais a sua irmã Beth que usava aquela casa de praia.

Por alguma razão, a presença da mulher de branco incomodava-o. Evan queria paz. Embora não estivesse certo de conseguir suportá-la, era o que tinha ido procurar ali, tal como se repetira várias vezes no percurso de Londres no dia anterior.

A sua paz tinha ficado interrompida pela presença de uma vizinha inesperada. Evan massajou as têmporas e disse para si que, desde que aquela mulher não interferisse na sua vida, não tinha que transtornar os seus planos.

Talvez aquela não fosse a proprietária da casa, mas uma das vendedoras da agência imobiliária que a vendia. Talvez tivesse ido arranjá-la.

Evan voltou a olhar e deu-se conta de que não podia ser assim. Aquela mulher de figura frágil era um anjo ou um fantasma, mas não era, certamente, uma agente imobiliária.

Afastou-se da janela antes que o visse e foi à cozinha preparar um refresco com a ideia de dar um longo passeio pela praia para esticar as pernas.

Talvez isso o ajudasse a levantar o ânimo.

 

 

Rowan parou, de repente, no meio daquele pequeno jardim abandonado e não soube sequer como é que tinha uma tesoura de podar na mão.

Sempre que lhe acontecia aquilo era como entrar numa névoa ofuscante de um céu azul infinito.

Mordeu o lábio inferior e rezou para que voltasse à normalidade, para voltar a ser a mesma que tinha sido antes da morte de Greg.

Mas essa rapariga tinha morrido há tempo e a sensação de ficar afastada do resto do mundo tinha-se apoderado dela naquela manhã e não tinha feito senão aumentar desde então.

Sentiu que o seu coração se acelerava e que lhe faltava o fôlego, como se o oxigénio tivesse desaparecido do ar que a rodeava.

Em vez de lindas dálias amarelas, via a cara do seu marido mesmo antes de sair de casa naquela quente manhã de Agosto. Recordava-o com a câmara ao ombro, como sempre que saía de casa, atravessando a rua para se juntar ao resto da equipa do seu programa de televisão.

Rowan engoliu em seco e disse para si que tinha que se mexer se não queria criar raízes, como as ervas daninhas que estava a tirar. Tinha que se mexer se quisesse arranjar o jardim e a casa, aquela casa situada perto da praia e em pleno campo que já não ia partilhar com Greg, mas que tinha apaixonado ambos mal a encontraram.

Assim que saíram do carro para a ver, tinham começado a fazer planos para arranjá-la. Prometeram mutuamente que lhe devolveriam o seu esplendor passado de casa de campo inglesa, com rosas à volta da porta e tudo.

Não tinha sido uma ideia muito original, contudo, naquela altura, não queriam ganhar um prémio de criatividade, mas criar um lar.

Depois da morte de Greg, era o único lugar onde Rowan conseguia estar. Embora tivesse sido um sonho de ambos, o seu marido nunca tinha vivido naquela casa e, portanto, não estava cheia de recordações.

Oferecera tudo o resto à sua família, amigos e organizações de beneficência e, livre de qualquer lembrança material de quem tinha sido o seu marido, Rowan tinha a esperança de construir uma vida nova para si própria.

Essa era a sua esperança, mas, pelos vistos, não o estava a conseguir.

 

 

Evan passou diante da casa da sua vizinha e viu o chapéu de palha a voar por cima da cerca de madeira. Deu um salto para o agarrar e prendeu a camisola num dos picos da cerca. Praguejou e, quando levantou os olhos, encontrou a figura magra que avançava para ele.

Era interessante, mas não impressionante.

Quando a viu mais de perto, com as faces coradas pelo trabalho e o olhar tímido dos seus olhos castanhos, disse para si que era quase bonita.

Mesmo assim, não queria ter contacto com ela.

– Obrigada. Foi uma sorte que passasse neste preciso momento – disse-lhe a mulher com um sorriso.

– Não está tempo para usar um chapéu de palha – respondeu Evan, entregando-lho.

O sorriso transformou-se então num olhar cauteloso. Tinha entendido a mensagem. Impaciente por continuar com o seu passeio, Evan continuou a andar até que a sua voz aveludada o interrompeu de novo.

– Olhe para o céu – disse, com uma mão nos olhos. – Estamos na Primavera, depressa virá o Verão.

– Se fosse a si, vestia um casaco – respondeu Evan, reparando nos seus braços nus. – Vai apanhar uma boa gripe com este vento.

– O meu nome é Rowan Hawkins – Rowan apresentou-se, estendendo a mão, apesar de o olhar daquele homem não ser nada amistoso. – Mudei-me há umas semanas. Prazer em conhecê-lo. Já tinha vontade de conhecer os meus vizinhos. Esteve fora, de férias?

– Olhe… O que é que você quer de mim, exactamente?

Rowan molhou os lábios com nervosismo.

– Como?

– Aviso-a que não sou desses vizinhos encantadores e simpáticos, menina Hawkins, portanto guarde esse sorrisinho para os outros. Expressei-me claramente?

Sem dizer mais nada, Evan afastou-se pelo caminho, com as mãos nos bolsos.

«Que homem tão arrogante e desagradável!», disse para si Rowan, enquanto o via afastar-se.

Não estava acostumada a inspirar aquela animosidade nos outros e, naquele momento da sua vida, quando se sentia mais frágil, tinha sido um duro golpe.

Apercebeu-se que assim era melhor, que quanto mais cedo soubesse que o seu vizinho era um bruto, melhor.

Pelo menos, agora, poderia ignorá-lo quando o voltasse a ver.

Que sorte, viver ao lado de alguém que fazia com que Genghis Khan parecesse um homem de bem!

Rowan pôs o chapéu e perguntou-se como ia começar uma vida nova se nem sequer os seus vizinhos queriam conhecê-la.

Aflita e sem vontade de continuar a penosa tarefa de arrancar as ervas daninhas do jardim, meteu-se em casa a passos largos e bateu com a porta.

 

 

Naquela noite, Evan não conseguia dormir, ouvindo o abrir e fechar do portão de ferro perro da casa da sua vizinha.

Como não conseguia adormecer, levantou-se e olhou pela janela, como se a intensidade do seu olhar furioso fosse suficiente para incendiar aquele velho portão.

O problema era que não era somente o portão que o tirava do sério. Ultimamente, tudo lhe causava nervos.

Em qualquer caso, era de esperar que o seu marido ou o seu namorado lhe arranjassem o maldito portão. Ela, certamente, não parecia daquelas mulheres acostumadas a sujar as mãos. Quem raio se vestia de branco para tratar do jardim?

Zangado consigo mesmo por não deixar de pensar na sua vizinha, foi à cozinha para beber qualquer coisa. Ao descobrir que não tinha café, praguejou em voz alta.

Passou os dedos pelo cabelo e fechou os olhos para se acalmar, porém, não o conseguiu, porque, nesse momento, uma recordação da sua ex-mulher invadiu-lhe a mente. Se Rebecca não o tivesse arruinado ao divorciar-se, não teria que ter passado os últimos dois anos a trabalhar como um possesso para voltar a erguer a sua rede de ginásios.

Tinham sido dois anos em que tinha renunciado a tudo, à sua família, aos seus amigos, à sua vida social, mas tinha valido a pena, porque a empresa estava melhor que nunca. Com outros vinte ginásios por todo o país com o cartaz de Evan Cameron à porta, agora podia levar as coisas com mais calma.

Como não o tinha feito por vontade própria, uma gripe encarregara-se de o fazer. Tinha sido terrível. Nos seus trinta e sete anos de vida, nunca estivera tão doente nem tão fraco, mental e fisicamente. Para ser sincero, assustara-se realmente.

Era irónico que um homem que se dedicava a promover o desporto, a saúde e o bem-estar tivesse sucumbido à doença por não ter cuidado de si.

Evan obrigou-se a respirar mais devagar e começou a procurar um pacote de café de cevada, porque se apercebeu de que não era saudável ingerir cafeína a meio da noite.

Cinco minutos depois, mais calmo e com a sua chávena de café de cevada entre as mãos, foi para a sala e tentou concentrar-se, pela enésima vez, na Rainha de África, enquanto, lá fora, o portão velho e oxidado de Rowan Hawkins continuava a invadir a noite com o seu abrir e fechar.

 

 

Vestida com umas calças de ganga e uma camisola vermelha, Rowan tentava arranjar o portão oxidado, contudo, não estava a ser fácil, porque estava pendurado e não tinha força suficiente para levantá-lo e aparafusar as dobradiças ao mesmo tempo.

Além disso, apesar de brilhar um sol radiante, estava muito frio e as suas mãos estavam a congelar.

– Raios partam!

Teve vontade de se atirar para o chão e espernear como uma criança!

Primeiro, tinha descoberto que o seu vizinho era um Neanderthal e, agora, dava-se conta de que aquilo do «faça você mesmo» era uma bela peta.

Ia ter que gastar o pouco dinheiro que Greg lhe deixara a arranjar certas coisas da casa, por exemplo, aquele portão.

«Não parecia difícil, não deveria ser difícil», pensou Rowan, com o sobrolho franzido.

– Algum problema?

Rowan levantou o olhar, surpreendida ao ouvir uma voz masculina, e sentiu um imenso calor por todo o corpo.

Deparou-se com uns olhos verdes gélidos, que olhavam para ela com descaramento inusitado e, apesar de lhe dar raiva, não pôde impedir-se de ficar a olhar para ele também.

Aquele homem tinha um rosto muito masculino, que lhe agradou muito mais que da primeira vez que se tinham visto, quando se mostrara tão rude com ela.

Em qualquer caso, não estava disposta a que pensasse que era uma mulherzinha pobre e necessitada, que não sabia fazer nada por si própria.

– Não, obrigada – respondeu, deixando a chave de fendas no chão, esfregando as mãos para as aquecer e olhando-o com ar inexpressivo.

– Este maldito portão não me deixou dormir toda a noite – disse Evan, cruzando os braços.

– Por que acha que o estou a arranjar? Eu também não preguei olho.

O portão e a imagem horrível de Greg diante daquele carro tinham-na mantido desperta, era verdade.

– Então, sabe o que está a fazer?

Rowan julgou ver o lampejo de um sorriso nos lábios do seu vizinho, mas disse para si que se enganara, porque aquele homem não devia saber sorrir.

Em qualquer caso, o seu tom de superioridade incomodou-a.

– A verdade, senhor «lá como se chama», é que não acho que seja assunto seu, portanto faça o favor de se ir embora e de me deixar em paz.

– Evan Cameron.

– O quê?

– O meu nome é Evan Cameron.

«Mas não tenha ilusões. Embora lhe tenha dito o meu nome, não vamos ser amigos».

Aquelas palavras retumbaram na cabeça de Rowan, apesar de ninguém as ter pronunciado.

– Muito bem. Agora que já sei como se chama, se alguém vier a minha casa perguntar por si por engano, mandá-lo-ei para a sua.

Apanhou imediatamente a chave de fendas e voltou a concentrar-se na porta.

– Dê-ma.

– Como?

Num abrir e fechar de olhos, o vizinho tinha-lhe arrebatado a chave de fendas.

– Por que não vai para casa e deixa isto comigo?

Pretendia que acreditasse que se tornara numa boa pessoa de repente? Rowan sabia perfeitamente por que queria ajudá-la.

Passara toda a noite sem dormir por culpa daquele portão e não queria que se repetisse.

Talvez outras mulheres lhe tivessem agradecido pelo seu interesse, mas ela não. Rowan apreciava sinceramente os favores feitos de coração, mas não aquele tipo de atitudes.

Preferia passar três dias a arranjar o portão que aceitar o seu machismo.

– Não lhe pedi que me ajudasse nem preciso, senhor Cameron. Decerto que tem coisas melhores para fazer de manhã que morrer de frio e arranjar o meu maldito portão num domingo.

Rowan estendeu a mão, com o coração a bater-lhe rapidamente.

– Devolva-me a chave de fendas, por favor.

– Há algum homem em sua casa, menina Hawkins?

– Não lhe diz respeito e, por favor, não me trate como se, por ser mulher, não soubesse usar as ferramentas de trabalho porque…

– Sabe usá-las? – Evan sorriu com crueldade.

– Isto é ridículo! – exclamou Rowan, indignada. – Dê-me a minha chave de fendas e vá-se embora. Por favor, vá-se embora!

– Como queira – respondeu Evan, encolhendo os ombros.

Evan devolveu-lhe a chave de fendas, como se, realmente, tudo aquilo lhe importasse muito pouco, e afastou-se.

No entanto, poucos passos depois, virou-se e olhou para ela de cima a baixo, como se a achasse fisicamente atraente.

– Arranje esse portão, menina Hawkins, porque, caso contrário, esta noite virei a sua casa para partilhar consigo a minha tortura.

Dito isto, retomou a sua caminhada como se fosse o senhor daquelas terras e Rowan não fosse mais que uma pobre camponesa que as invadira.

Duas horas depois, morta de fome e de frio, Rowan deu-se por vencida.

Enquanto avançava pelo atalho que conduzia à sua casa, olhou na direcção da propriedade do seu vizinho e sorriu, encantada ao ver que ninguém a observava.

Dez minutos depois, com a lista telefónica numa mão e uma chávena de chocolate quente na outra, dispôs-se a procurar alguma alma caridosa que se dispusesse a arranjar-lhe o portão.

Estava prestes a pegar no telefone, quando tocaram à campainha.

– Reconheço que tem coragem.

– O que quer dizer com isso? – respondeu Rowan, tendo que fazer um esforço sobre-humano para não o esbofetear.

– Estive a observá-la durante as duas horas que não parou de tentar arranjar o portão e, embora me pareça uma louca teimosa, admito que é tenaz. Agora, deixe que a ajude e que arranje o seu portão. Prometo não voltar a incomodá-la.

Capítulo 2

 

– Quantas vezes tenho que lhe dizer que não necessito da sua ajuda? – perguntou Rowan. – Não quero que me arranje o portão. Asseguro-lhe que seria o último homem sobre a face da Terra a quem pediria que me arranjasse algo se eu não conseguisse fazê-lo!

Aquela mulher era realmente teimosa.

Evan sabia que era culpa sua que estivesse zangada, no entanto, tinha ido a sua casa com boas intenções.

Ao pensar nas suas palavras, perguntou-se se não tinha nem marido nem namorado. Tinha que haver uma boa razão para que estivesse a reparar o portão sozinha.

Evan olhou para ela com interesse.

Com o vestidinho branco do dia anterior, Rowan Hawkins achara-a uma mulher baixa e incrivelmente magra, contudo, com as calças pretas apertadas e a camisola vermelha que vestia naquele momento, estava a descobrir um mundo novo de curvas.