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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Jennie Lucas

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma paixão no esquecimento, n.º 1298 - maio 2018

Título original: Bought: The Greek’s Baby

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-299-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

Talos Xenakis ouvira muitas mentiras ao longo da sua vida, em particular sobre a sua bonita e cruel ex-amante, mas aquela ganhava o prémio.

– Não pode ser verdade – disse, escandalizado, enquanto observava o médico. – Está a mentir.

– Senhor Xenakis, garanto-lhe que é verdade – replicou o doutor Bartlett, num tom grave. – Ela tem amnésia. Não se lembra de si, nem de mim, nem sequer do acidente que teve ontem. No entanto, não tem qualquer lesão física.

– Porque está a mentir!

– Tinha o cinto de segurança quando bateu com a cabeça no airbag – prosseguiu o doutor Bartlett. – Não há traumatismo craniano.

Talos observava o doutor Bartlett com o sobrolho franzido. O médico tinha uma grande reputação na sua profissão, era considerado um homem muito qualificado e com uma integridade sem mancha. Era rico, dado que passara toda a vida a atender a pacientes aristocráticos e de grandes fortunas, o que significava que não podia ser comprado. Homem de família, estava casado há cinquenta anos com a sua esposa, tinha três filhos e oito netos, o que significava que não podia ser vítima de uma sedução. Portanto, devia estar plenamente convencido de que Eve Craig tinha amnésia.

Talos fez uma careta. Dada a sua astúcia, esperaria mais dela. Há onze semanas, depois de o apunhalar pelas costas, Eve Craig desaparecera de Atenas como por arte de magia. Os seus homens tinham estado à procura por todo o mundo sem sucesso até há dois dias, quando, de repente, Eve reaparecera em Londres para o enterro do seu padrasto.

Talos abandonara as negociações de um contrato milionário em Sidney para ordenar aos seus homens que não lhe perdessem o rasto até ele chegar a Londres no seu avião privado. Kefalas e Leonidas tinham ido atrás dela no dia anterior à tarde, quando ela abandonara uma clínica privada em Harley Street. Tinham visto como cobria o cabelo escuro, sedoso e comprido sob um lenço de seda, como punha uns enormes óculos de sol e umas luvas brancas para conduzir e se afastava num Aston Martin descapotável prateado… Para acabar por chocar contra uma caixa de correio que havia na calçada.

– Foi tão estranho, chefe – explicara Kefalas, quando Talos chegara naquela mesma manhã procedente de Sidney. – No enterro parecia bem, mas ao sair do consultório do médico começou a conduzir como se estivesse bêbada. Nem sequer nos reconheceu quando a ajudámos a entrar novamente na clínica depois do acidente.

O doutor Bartlett parecia igualmente perturbado.

– Tive-a em observação, mas não consegui descobrir nenhum dano físico nela.

– Porque não tem amnésia, doutor – disse Talos, cerrando os dentes. – Está a enganá-lo!

O médico ficou tenso.

– Não penso que a menina Craig esteja a mentir, senhor Xenakis. Conheço-a desde que tinha catorze anos, quando veio aqui pela primeira vez dos Estados Unidos com a sua mãe. Todos os testes foram negativos. O único sintoma parece ser a amnésia. Isto leva-me a pensar que o acidente foi simplesmente um catalisador e que o trauma foi simplesmente emocional.

– Quer dizer que ela própria o causou?

– Eu não diria isso exactamente, mas este assunto está fora do meu campo. Por isso, recomendei um colega, o doutor Green.

– Um psiquiatra.

– Sim.

– Nesse caso, se não se passa nada fisicamente, pode sair do hospital.

O médico hesitou.

– Fisicamente, está bem, mas como não tem memória, talvez seja melhor que um familiar…

– Não tem família – interrompeu Talos. – O seu padrasto era o seu único parente e morreu há três dias.

– Sim, soube do falecimento do senhor Craig e lamentei muito a sua morte, mas esperava que Eve pudesse ter tios ou até algum primo em Boston…

– Não é assim – disse Talos, embora realmente não tivesse ideia. Só sabia que nada ia impedi-lo de levar Eve com ele. – Eu sou o seu…

O quê? Um antigo amante decidido a vingar-se dela?

– Namorado – acabou. – Ocupar-me-ei dela.

– Isso foi o que me disseram os seus homens ontem quando me explicaram que vinha a caminho – comentou o doutor Bartlett, olhando para ele como se não gostasse do que via, – mas, a julgar pela maneira como fala, não parece que acredite que ela precisa de cuidados especiais.

– Se diz que ela tem amnésia, não tenho outro remédio senão acreditar.

– Chamou-lhe mentirosa.

Talos sorriu.

– As mentiras fazem parte do seu encanto.

– Então, têm uma relação íntima? Tenciona casar-se com ela?

Talos sabia qual era a resposta que o médico procurava, a única que podia pôr Eve no seu poder. Portanto, disse a verdade.

– Ela é tudo para mim. Tudo.

O doutor Bartlett examinou cuidadosamente a expressão do rosto de Talos e assentiu.

– Muito bem, senhor Xenakis. Dou-lhe alta e deixá-la-ei a seu cuidado. Cuide bem dela. Leve-a para casa.

Para Mithridos? Talos morreria antes de ela poluir o seu lar daquela maneira, mas para Atenas… Sim. Podia fechá-la lá e fá-la-ia lamentar profundamente o facto de o ter traído.

– Poderei levá-la hoje mesmo, doutor?

– Sim. Faça com que se sinta amada – avisou. – Com que se sinta segura e querida.

– Segura e querida – repetiu ele, quase sem conseguir evitar uma expressão de brincadeira.

O doutor Bartlett franziu o sobrolho.

– Tenho a certeza de que conseguirá compreender, senhor Xenakis, o que as últimas vinte e quatro horas significaram para Eve. Não tem nada a que se agarrar. Carece de lembranças de familiares ou de amigos para se apoiar. Não tem sentimento algum de pertença nem lembranças do seu lar. Nem sequer sabia o seu nome até eu lho dizer.

– Não se preocupe. Cuidarei bem dela.

Então, quando Talos começara a virar-se, o médico fê-lo parar.

– Há mais uma coisa que devia saber.

– O quê?

– Em circunstâncias normais, nunca revelaria este tipo de informação, mas este é um caso único. Penso que a necessidade de a paciente receber cuidados adequados excede o seu direito à intimidade.

– De que se trata? – perguntou Talos, com impaciência.

– Eve está grávida.

Ao ouvir aquela palavra, Talos ficou tenso. Sentiu que o seu coração parava literalmente no peito.

– Grávida? De quanto tempo? – perguntou, com muita dificuldade.

– Quando fiz a ecografia ontem, estimei a data de concepção em meados de Junho.

Junho. Talos passara quase todo esse mês ao lado de Eve. Trabalhara o mínimo possível visto que só queria estar na cama com ela. Pensara que podia confiar nela. O desejo embargara por completo a sua mente e o seu pensamento.

– Sinto-me culpado – continuou o médico, num tom de voz triste. – Se soubesse que ia ficar tão incomodada com a notícia da sua gravidez, nunca a teria deixado sair de carro do hospital, mas não se preocupe – acrescentou rapidamente, – o bebé está bem.

O seu bebé.

Talos olhou para o médico quase sem conseguir respirar. O médico, de repente, deu uma gargalhada sonora e alegre e deu-lhe uma palmada nas costas.

– Parabéns, senhor Xenakis! Vai ser pai.

 

 

À sua volta, Eve começou a ouvir um murmúrio suave de vozes. Sentiu que alguém, talvez a enfermeira, lhe passava um pano fresco pela testa. Cheirava o aroma suave da chuva e do algodão dos lençóis que a cobriam, mas manteve os olhos fechados.

Não queria acordar. Não queria abandonar a paz escura do sono, o calor que lhe proporcionavam sonhos que mal recordava e que ainda a embalavam entre os seus braços. Não queria regressar ao vazio de uma existência da qual não tinha lembrança alguma. Não tinha identidade. Nada a que se agarrar. Aquele vazio era muito pior do que qualquer dor.

Há três horas, o médico dissera-lhe que estava grávida. Não conseguia recordar o facto de ter concebido aquele filho. Nem sequer recordava o rosto do pai do seu filho, embora o conhecesse naquele dia. Ele chegaria a qualquer instante.

Tapou a cabeça com a almofada e fechou os olhos com força. Sentia-se embargada pelos nervos e pelo receio de se encontrar com ele pela primeira vez, com o pai do seu filho.

Que tipo de homem seria?

Ouviu que a porta se abria e se fechava. Susteve a respiração. Então, alguém se sentou sobre a cama ao seu lado, fazendo com que se inclinasse para ele sobre o colchão. Uns braços fortes rodearam-na de repente. Sentiu o calor do corpo de um homem e inalou o cheiro masculino do seu perfume.

– Eve, estou aqui – sussurrou, num tom profundo, com um sotaque exótico que não era capaz de identificar. – Vim buscar-te…

Uma excitação profunda percorreu-a da cabeça aos pés. Respirou fundo e afastou a almofada. Ele estava tão perto dela, que a primeira coisa que viu foram as suas maçãs do rosto marcadas. A barba escura que começara a nascer no queixo forte. A cor bronzeada da sua pele. Então, quando ele se afastou do seu lado, viu o seu rosto inteiro.

Era, simplesmente, arrebatador.

Como era possível que um homem fosse ao mesmo tempo tão masculino e tão bonito? O seu cabelo preto tocava-lhe suavemente a pele. Tinha o rosto de um anjo. De um guerreiro. O nariz recto fora partido, pelo menos, uma vez, a julgar pela pequena imperfeição do seu perfil. Tinha uma boca de lábios carnudos e sensuais, com um ar que revelava uma certa arrogância e, talvez… crueldade.

Os olhos que a observavam eram tão escuros como a noite. Sob aquelas profundidades escuras, pareceu-lhe ver durante um instante o fogo do ódio, como se desejasse que ela estivesse morta.

Então, Eve pestanejou e, de repente, viu que sorria com um ar terno de preocupação. Devia ter imaginado aquele sentimento tão desagradável. Não era de estranhar, tendo em conta como se sentia perturbada com o acidente, um acidente que nem sequer era capaz de recordar.

– Eve – sussurrou, enquanto lhe acariciava suavemente a face, – pensei que nunca te encontraria.

O toque dos seus dedos aquecia a sua pele. Sentia-se a arder desde o rosto até aos seios. Os mamilos ergueram-se ao mesmo tempo que a barriga ficava tensa de um modo estranho. Respirou fundo e examinou o seu rosto. Quase não conseguia acreditar no que os seus olhos viam.

Aquele… Aquele homem era o seu amante? Não se parecia nada com o que ela esperava.

Quando o doutor Bartlett lhe dissera que o seu namorado estava a caminho da Austrália, imaginara um homem de aspecto amável, carinhoso e com sentido de humor. Um homem simples, com quem pudesse partilhar os seus problemas enquanto lavavam a loiça juntos ao fim de um longo dia. Imaginara um companheiro. Alguém igual.

Nunca teria imaginado um deus grego como o que tinha à frente dos seus olhos, de formosura cruel, masculina e tão poderosa que, sem dúvida, conseguiria partir um coração em dois apenas com um olhar.

– Não te alegras por me ver? – perguntou-lhe ele, em voz baixa.

Olhou para o seu rosto e susteve a respiração. Não tinha nenhuma lembrança daquele homem, nem da dureza dos seus traços nem daqueles lábios tão sensuais. Não tinha lembrança alguma das intimidades próprias dos amantes. Nada!

Ele ajudou-a a levantar-se. Eve lambeu os lábios nervosamente.

– Tu és… Tu deves ser… Talos Xenakis… – sussurrou, esperando que ele o negasse. Esperando que o seu namorado a sério, o do aspecto terno e amável, entrasse naquele momento pela porta.

– Vejo que me reconheces…

– Não. Dois dos teus empregados… E o médico… Disseram-me o teu nome. Disseram-me que vinhas a caminho.

Ele olhou para ela, estudando o seu rosto.

– O doutor Bartlett disse-me que tinhas amnésia. Não acreditei, mas é verdade, não é? Não te lembras de mim.

– Lamento – disse ela, esfregando a testa. – Não paro de tentar, mas a primeira coisa de que me lembro é do teu empregado, Kefalas, a tirar-me do meu carro. Ainda bem que iam no seu carro atrás de mim!

– Sim, foi uma sorte – disse ele. – Vão dar-te alta hoje mesmo.

– Hoje?

– Agora mesmo.

– Mas… Mas continuo sem recordar nada! Esperava que quando te visse…

– Esperavas que o facto de me ver te devolvesse a memória?

Eve assentiu. Não havia razão para se sentir desiludida ou fazer com que ele se sentisse pior do que já devia sentir-se. No entanto, não conseguiu evitar o nó que sentiu na garganta. Efectivamente, contara com o facto de que, quando visse o rosto do homem que amava, o homem que a amava a ela, a sua amnésia acabar.

A menos que não se amassem. A menos que tivesse ficado grávida de um homem que era pouco mais do que uma aventura de uma noite.

– Tenho a certeza de que deves sentir-te magoado… – disse ela, tentando afastar o repentino receio que se apoderou dela. – Imagino como deves sentir-te ao amar alguém que nem sequer se lembra de ti.

«Ama-me?», pensou desesperadamente, tentando ler o seu rosto. «Amo-te a ti?»

– Chiu, não importa – sussurrou ele. Baixou a cabeça e beijou-a meigamente na testa. O calor da sua proximidade era tão agradável como o sol do Verão num dia de Outono. – Não te preocupes, Eve. Com o tempo, recordarás tudo…

Ao olhar para o seu rosto novamente, Eve apercebeu-se de que a primeira impressão que tivera dele fora completamente errada. Não era um homem cruel. Era amável. De que outra forma conseguiria explicar o facto de se mostrar tão paciente e tão carinhoso com ela, apesar da dor que devia estar a sentir?

Respirou fundo. Seria tão valente como ele era. Afastou os lençóis.

– Vou vestir-me para que possamos ir-nos embora.

– Espera um momento. Há uma coisa de que devemos falar.

Eve soube imediatamente a que se referia. Sentia-se tão vulnerável com a camisa de dormir do hospital que voltou a cobrir-se com os lençóis.

– Disse-te, não foi?

– Sim.

– Estás contente com a notícia? – perguntou, num tom de voz trémulo.

Eve susteve a respiração ao ver como ele olhava para ela. Quando finalmente falou, tinha a voz carregada com uma emoção que ela não soube reconhecer.

– Surpreendeu-me.