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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2010 Lucy Gordon

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Obsessão implacável, n.º 1299 - maio 2018

Título original: The Greek Tycoon’s Achilles Heel

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-300-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

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Prólogo

 

 

 

 

 

O resplendor das luzes de Las Vegas perdia-se no céu nocturno. Os hotéis e os casinos buliam com a agitação de sempre, e o dinheiro corria sem parar. No entanto, o Palace Athena brilhava mais do que qualquer outro. Nos seis meses desde que abrira, ganhara a fama de ser mais ostentoso do que a concorrência e, naquele dia, consagrava-se como um dos maiores, com a celebração do casamento de Estelle Radnor, a estrela de Hollywood. O dono do Palace, mais inteligente do que os outros, recebera a honra de organizar o evento oferecendo tudo e a bonita Estelle, que também não era parva quando se tratava de dinheiro, tinha aceitado sem pestanejar.

Os convidados acabaram no casino e a noiva tirou muitas fotografias a jogar aos dados com o seu novo marido, a abraçar uma jovem magra e anódina, e, novamente, a tentar a sorte nos dados. O dono observava tudo com uma expressão de satisfação.

– Aquiles, meu amigo… – disse, virando-se para um jovem que contemplava a cena com uma expressão de sarcasmo.

– Já te disse. Não me chames assim.

– Mas o teu nome trouxe-me sorte. Os teus conselhos de transformar este lugar num sítio autenticamente grego…

– Mas não seguiste nem um desses conselhos.

– Bom, os meus clientes acham que é grego e isso é que importa.

– Claro! A aparência é tudo. Nada mais importa – murmurou o jovem.

– Estou a ver que hoje estás um pouco pessimista. É o casamento? Sentes inveja deles?

Aquiles virou-se, com um olhar feroz.

– Não digas tolices! – exclamou. – Tudo o que sinto é aborrecimento e repulsa.

– As coisas não te correram bem?

O jovem encolheu os ombros.

– Perdi um milhão e antes que acabe a noite provavelmente terei perdido outro. E depois?

– Anda e junta-te à festa.

– Não fui convidado.

– Achas que vão rejeitar o filho do homem mais rico da Grécia?

– Não vão ter oportunidade. Vai ter com os teus convidados.

Afastou-se uma figura esbelta e solitária, seguida de dois pares de olhos, os do homem que acabava de deixar e os da adolescente feia que a noiva tinha abraçado pouco antes. Sem se afastar muito da parede, para não chamar a atenção, escapuliu-se até aos elevadores e subiu até ao quinquagésimo segundo andar para contemplar a vista.

Lá em cima, tanto as paredes como o tecto eram de vidro grosso e os visitantes podiam olhar à sua volta sem perigo. Lá fora havia uma passagem para os empregados e o serviço de limpeza de vidros, mas os clientes não podiam aceder a ela, a menos que soubessem o código.

Maravilhada, a jovem contemplava a vista aos seus pés quando, de repente, ouviu um ruído atrás de si. Ao virar-se, reconheceu o jovem que estava na festa. Escondeu-se entre as sombras e viu-o a aproximar-se dos vidros.

A divisão era iluminada apenas por algumas luzes, para que se pudesse apreciar melhor a vista. No entanto, a penumbra desenhava os rostos que por ali passavam. A jovem olhava para ele, intrigada. Os seus traços eram finos e bem definidos, sérios e sombrios. Era o rosto de um rapaz, mas havia uma tristeza neles que quase roçava o desespero, a agonia de quem carregava um cruz pesada, um fardo insuportável…

De repente, o jovem fez algo imprevisível que a fez tremer de medo. Introduziu um código no controlo de segurança e a porta de vidro deslizou, até se abrir por completo. Não havia mais nada que o protegesse de uma queda terrível.

O gemido abafado de Petra fê-lo virar-se.

– O que está a fazer aqui? – perguntou-lhe, claramente incomodado. – Está a espiar-me?

– Claro que não! Volte para dentro, por favor – rogou-lhe ela. – Não o faça.

Ele recuou um pouco, mas não se afastou muito da beira.

– O que raios quer dizer? Não ia fazer nada. Precisava de respirar um pouco de ar fresco.

– Mas é perigoso. Pode cair sem querer.

– Sei muito bem o que estou a fazer. Vá-se embora e deixe-me em paz.

– Não – disse ela, desafiante. – Eu tenho o mesmo direito que você de apanhar ar. Está-se bem aí fora?

– O quê?

Apanhando-o de surpresa, a jovem passou-lhe à frente e situou-se ao seu lado. Ao pôr um pé lá fora sentiu a força do vento e ele teve de a agarrar.

– Mulher estúpida! – gritou-lhe. – Eu não sou o único que pode ter um acidente. Quer morrer?

– E você?

– Vamos para dentro.

Fê-la entrar com um puxão e, então, pela primeira vez, olhou-lhe para a cara.

– Não nos vimos lá em baixo?

– Sim. Estava no Zeus Room – disse ela, indicando o casino. – Eu gosto de observar as pessoas. Não podiam ter-lhe dado um nome melhor.

– Então, sabe quem é Zeus? – perguntou ele, levando-a para um sítio onde pudessem sentar-se.

– Era o rei dos deuses gregos – disse ela. – Vigiava o mundo desde a sua cadeira, situada no cimo do monte Olimpo, dono e senhor de todas as coisas. Suponho que seja assim que se sentem os jogadores quando começam a apostar, mas os pobres idiotas não demoram muito a dar-se conta da realidade. Perdeu muito?

Ele encolheu os ombros.

– Um milhão. Deixei de contar depois de algum tempo. E o que faz você num casino? Não creio que tenha mais de quinze anos.

– Tenho dezassete anos e sou… uma das convidadas do casamento.

– Ah, claro… – disse ele, fingindo não ter reparado naquela pequena hesitação na sua resposta. – Vi a noiva a tirar uma fotografia contigo. És uma das damas de honor?

Ela olhou para ele, com sarcasmo.

– Tenho aspecto de dama de honor? – perguntou-lhe, levantando os braços e olhando para o vestido que, embora caro, não era muito bonito.

– Bom…

– Eu não gosto muito de tirar fotografias e muito menos diante de toda aquela gente.

O jovem olhou-a fixamente. Ela falava com uma resignação implacável. Não havia o mínimo sinal de autocompaixão naquele tom irónico.

Não usava maquilhagem, usava o cabelo muito curto e era evidente que não se incomodara em melhorar a sua aparência de alguma forma.

– E chamas-te…?

– Petra. E tu és Aquiles, não és?

Ao ouvi-la, ele franziu o sobrolho.

– O meu nome é Lysandros Demetriou. A minha mãe queria chamar-me Aquiles, mas o meu pai pensou que era demasiado sentimental. Por fim, chegaram a um acordo e Aquiles é o meu segundo nome.

– Mas o homem que estava contigo lá em baixo chamou-te assim.

– Para ele, é importante que eu seja grego, porque se supõe que neste lugar tudo seja grego.

– Que parvos! – comentou ela, rindo-se suavemente.

De repente, os seus olhares encontraram-se.

Ele era tal como tinha imaginado. Olhos profundos, traços perfeitos e um toque de orgulho e intransigência que só podia reflectir-se no rosto de alguém habituado a que lhe fizessem as vontades. No entanto, também havia uma escuridão naquele olhar impenetrável que não parecia encaixar.

– Estaleiros Demetriou?

– Sim.

– A maior empresa da Grécia – disse ela. – Se não os quiserem, então, não valem a pena. Se não os comprarem hoje, fá-lo-ão amanhã. Se alguém se atrever a contrariá-los, então, espreitam entre as sombras, à espera do momento para atacar.

– Algo parecido – disse ele.

– Ou, caso contrário, atiram-nos às Fúrias.

Ela referia-se às três deusas gregas da raiva e da vingança, com o cabelo de serpentes e olhos que choravam sangue. Esses temidos demónios atacavam as suas vítimas sem piedade.

– Porque tens de ser tão melodramática?

– Não consigo evitá-lo, neste sítio grego prefabricado. Mas porque não estás em Atenas, a dar cabo dos teus inimigos?

– Já me fartei disso – disse ele, num tom brusco. – Que se desenrasquem sem mim.

– Ah, não me digas que estás zangado!

– O quê?

– Durante a guerra de Tróia, Aquiles apaixonou-se por uma rapariga. Ela pertencia à outra facção. Era sua prisioneira. Mas teve de a libertar, portanto, retirou-se da batalha e encerrou-se na sua tenda. Por fim, voltou para a luta, mas acabou morto. Tu podias ter acabado da mesma forma quando foste lá para fora.

– Já te disse que não tinha intenção de morrer, embora, sinceramente, me seja indiferente viver ou morrer. Aceito o que vier.

– Ela fez-te sofrer muito?

Na penumbra, mal conseguia ver o seu rosto, mas sabia que a fulminava com o olhar. Os seus olhos frios refulgiam na escuridão, lançando-lhe uma advertência.

«Chega!», ouviu as Fúrias a gritarem-lhe. «Foge antes que te mate!»

Mas ela não era dessas.

– Ela? – perguntou ele, num tom ameaçador.

A jovem pôs-lhe a mão sobre o braço, com suavidade.

– Desculpa – sussurrou. – Não devia ter dito isso.

Ele levantou-se de repente e foi até à janela aberta. Contemplou a escuridão infinita da noite. A jovem seguiu-o em silêncio.

– Fez-me confiar nela – disse ele, com um fio de voz.

– Mas, às vezes, é bom confiar.

– Não. Ninguém é tão bom como pensamos e, mais tarde ou mais cedo, a verdade acaba por aparecer. Quanto mais se confia em alguém, pior é quando nos traem. É melhor não criar ilusões.

– Mas isso é terrível. Não acreditar em nada, nem em ninguém. Não amar, nem ter esperança. Não ser feliz… Nunca.

– E nunca sofrer – disse ele, num tom mordaz.

– E não voltar a estar vivo. Seria como estar morto em vida. Não percebes, libertar-te-ias da dor, mas também perderias todas as coisas pelas quais vale a pena viver.

– Nem todas. Resta sempre o poder. Podes sempre tê-lo se renunciares a tudo o resto. É a única coisa que importa. O resto não passam de fraquezas.

– Não – disse ela, com brusquidão. – Não deves pensar assim se não quiseres arruinar a tua vida.

– E o que sabes da minha vida? – perguntou-lhe ele, zangado. – Não passas de uma menina. Alguma vez te fizeram sentir vontade de partir tudo, até não restar nada, nem sequer tu mesma?

– E o que ganhamos ao destruirmo-nos?

– Não nos transformamos… Nisto – disse-lhe, apontando para o coração.

Petra não teve de lhe perguntar o que queria dizer. Apesar de ser jovem, parecia estar à beira do desespero e não seria preciso muito para o fazer saltar para o vazio.

A pena e o terror apoderaram-se dela. Uma parte do seu ser queria fugir daquela criatura que acabaria por se transformar num monstro se ninguém se interpusesse no caminho dele. No entanto, a outra parte dela queria ficar e salvá-lo.

De repente, sem aviso de nenhum tipo, ele fez o que a fez decidir-se, algo terrível e maravilhoso ao mesmo tempo. Baixou a cabeça e deixou-a cair contra o ombro dela, várias vezes, como se batesse contra uma parede, sem esperança. Aflita, ela apertou-o entre os braços e segurou com uma mão aquela cabeça atormentada, obrigando-o a ficar quieto. Podia sentir a agonia, o desespero… Era como se só ela pudesse consolá-lo naquele mundo cruel.

Por cima do ombro dele conseguia ver o abismo que se abria aos seus pés. Nada se interpunha entre o chão e ele, nada excepto ela mesma. Agarrou-o com força e, em silêncio, ofereceu-lhe tudo o que tinha para dar. Ele não resistia. Parecia que ficara sem forças.

A pouco e pouco, fê-lo recuar e, então, olhou-lhe para a cara. A acritude e a agonia tinham-se desvanecido e no seu lugar tinha aparecido uma profunda tristeza misturada com resignação, como se tivesse encontrado alguma paz, embora incerta e efémera.

Finalmente, Lysandros esboçou um leve sorriso. No seu interior crescia o desejo de a proteger, tal como ela tinha feito com ele. Ainda restava bondade no mundo e estava ali, naquela rapariga, demasiado inocente para entender o perigo que corria por estar ao seu lado.

Acabaria por se corromper, como todos os outros.

Mas, naquela noite, não. Ele não o permitiria. Marcou um código e a porta de vidro fechou-se.

– Vamos – disse, conduzindo-a para os elevadores.

Pouco depois, estava à frente da porta do seu quarto.

– Entra, vai para a cama e não abras a porta a ninguém.

– E tu, o que vais fazer? – perguntou ela.

– Vou perder mais dinheiro e depois vou pensar um pouco.

Não quisera dizer aquelas últimas palavras, mas já era tarde.

– Boa noite, Aquiles.

– Boa noite.

Também não queria fazer o que fez de seguida, mas, antes que pudesse ter consciência disso, inclinou a cabeça e beijou-a nos lábios.

– Entra e tranca a porta.

Ela assentiu com a cabeça e fechou a porta. Pouco depois, ouviu-a a trancá-la. Resignado a continuar a perder, voltou para as mesas. No entanto, a sua sorte mudou de forma misteriosa e, uma hora mais tarde, já tinha recuperado tudo.

Outra hora mais tarde, já tinha ganhado o dobro. Um amuleto… Era o que ela era. Tinha-lhe lançado um feitiço e a sua sorte tinha mudado de repente.

«É uma pena nunca mais voltar a vê-la», pensou, sem saber que estava enganado.

Sim, voltaria a vê-la.

Quinze anos depois.