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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Lynn Raye Harris

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Herdeiro perdido, n.º 1301 - maio 2018

Título original: Cavelli’s Lost Heir

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-301-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

O príncipe herdeiro Nico Cavelli, do reino de Montebianco, sentou-se a uma secretária do século XIV e analisou uma pilha de documentos que a sua secretária lhe trouxera. Uma olhadela ao seu relógio indicou-lhe que faltavam duas horas até ter de se vestir e assistir a um jantar de Estado para celebrar o seu noivado com a princesa de um país vizinho.

Nico desabotoou o colarinho da camisa. Porque é que a ideia de se casar com a princesa Antonella o fazia sentir-se como se estivesse a afogar-se?

Recentemente, tinham mudado muitas coisas na sua vida. Até há alguns meses, era um jovem príncipe playboy. Um príncipe com uma amante todas as semanas e com nada mais interessante para fazer do que decidir a que festa ir todas as noites. Embora não fosse totalmente verdade, era assim que a imprensa gostava de o descrever. Tinha permitido que o fizessem para que tivessem escândalos para publicar. Tudo para desviar a atenção do seu irmão.

Gaetano era o mais velho, o delicado, o legítimo, o irmão que Nico passara a infância a proteger. Por fim, não tinha conseguido protegê-lo de si mesmo, da sua decisão de se atirar de uma falésia com o seu Ferrari.

Sentia muito a falta de Gaetano. Por outro lado, estava zangado com ele por ter escolhido aquele fim, por não ter conseguido enfrentar os seus demónios e por não ter confiado a Nico aquele segredo que guardara durante anos. Nico teria movido montanhas por Gaetano se tivesse sabido.

– Basta! – exclamou Nico em voz alta e concentrou-se nos papéis.

Nada lhe devolveria Gaetano. Agora, ele era o príncipe e, embora fosse ilegítimo, a Constituição de Montebianco permitia-lhe herdar. Agora, com a medicina moderna, não havia nenhuma dúvida da sua origem: os homens Cavelli eram sempre muito parecidos.

Só a rainha Tiziana se mostrava contrária ao novo estatuto de Nico. Embora sempre tivesse reprovado a sua vida. Nada do que fizesse lhe parecia bem. Tinha tentado agradar-lhe em criança, mas sempre o ignorara. Agora, em adulto, entendia-a. A sua presença recordava-lhe que o marido lhe tinha sido infiel.

Depois da morte da sua mãe, Nico tinha-se mudado para o palácio e a rainha vira-o como uma ameaça. O facto de agora ser o príncipe herdeiro intensificava a dor, recordando-lhe o que tinha perdido. Em homenagem ao seu irmão, estava disposto a cumprir o seu dever como príncipe herdeiro o melhor que pudesse. Era a melhor maneira de honrar a memória do seu irmão.

Bateram à porta.

– Entre.

– O comandante da polícia enviou um mensageiro, Alteza – disse a sua secretária.

– Recebê-lo-ei – replicou Nico.

Um minuto mais tarde, um homem fardado apareceu e fez uma reverência.

– Sua Alteza, o comandante envia-lhe os seus cumprimentos.

Nico conteve a sua impaciência enquanto o homem recitava os cumprimentos e os desejos de saúde e felicidade da praxe.

– Qual é a mensagem? – perguntou, irritado, uma vez cumpridas as formalidades.

Apesar de fiscalizar as forças policiais ser um dos seus deveres como príncipe herdeiro, era um cargo mais simbólico do que outra coisa. Havia qualquer coisa estranha no facto de o comandante querer comunicar-lhe alguma coisa.

Ridículo. Devia ser a perda da sua liberdade que o fazia ter aquela sensação de desconforto.

O homem enfiou a mão no bolso interior do casaco e tirou um envelope.

– O comandante ordenou-me que lhe dissesse que recuperámos algumas estátuas antigas que tinham desaparecido do museu. E que lhe desse isto, Alteza.

Nico pegou no envelope e o homem ficou atento enquanto o príncipe o abria.

Esperava encontrar uma folha no interior, mas no seu lugar havia uma fotografia de uma mulher e uma criança. Ao ver o cabelo loiro, os olhos verdes e as sardas no nariz, reconheceu imediatamente a mulher e lamentou que a sua relação não tivesse durado mais. O seu olhar parou na criança.

De repente, a fúria consumiu-o. Não era possível. Nunca tinha sido tão descuidado. Ele nunca faria a uma criança o que lhe tinham feito a ele. Nunca conceberia um filho que abandonaria. Devia ser uma armadilha, uma manobra para o envergonhar nas vésperas do seu noivado, um plano para se conseguir dinheiro. Aquela criança não podia ser dele.

A sua cabeça começou a andar à roda. Tinha passado pouco tempo com ela e só tinham feito amor uma vez. Lembrar-se-ia se alguma coisa não tivesse corrido bem? É claro que sim, embora a criança tivesse o físico inconfundível dos Cavelli. Nico não conseguia desviar o olhar daqueles olhos iguais aos seus enquanto desdobrava o papel. Por fim, conseguiu fixar a atenção nas palavras manuscritas do comandante.

– Leve-me à esquadra. Já!

 

 

Lily Morgan estava desesperada. Supunha-se que só passaria dois dias em Montebianco e já tinham passado três. O seu coração ecoava com tanta força nos seus ouvidos que quase esperava ter um ataque de coração. Tinha de voltar para casa, para o seu filho, mas as autoridades não pareciam dispostas a deixá-la partir e os seus rogos para falar com o consulado americano tinham sido ignorados. Há horas que não via ninguém. Sabia-o porque ainda tinha o seu relógio, embora lhe tivessem tirado o telemóvel e o computador portátil antes de a trazerem para ali.

– Olá! – gritou. – Está aí alguém?

Ninguém respondeu. Só ouviu o eco das suas palavras na fortaleza.

Lily deixou-se cair no colchão da cela fria e húmida, e levou a mão ao nariz. Não ia chorar, outra vez, não. Tinha de ser forte pelo seu filho. Sentiria a falta dela? Nunca o tinha deixado. Não devia tê-lo feito, mas o seu chefe não lhe dera outra opção.

«Julie está doente», tinha-lhe dito sobre a jornalista de viagens do jornal. «Temos de ir a Montebianco e acabar a reportagem em que estava a trabalhar para a edição de aniversário.»

«Mas eu nunca escrevi um artigo de viagens!»

A verdade era que nunca tinha escrito nada mais interessante do que algum obituário nos três meses que trabalhava no jornal. Nem sequer era jornalista, embora esperasse chegar a sê-lo um dia. Tinham-na contratado para trabalhar no departamento de publicidade, mas, dado que o jornal era pequeno, desempenhava outras funções quando era necessário.

A única razão pela qual o Port Pierre Register tinha uma jornalista dedicada a escrever artigos de viagens era porque não só Julie era sobrinha do editor, como também os seus pais eram os donos da única agência de viagens da cidade. Se estava a escrever sobre Montebianco, seria porque em breve haveria alguma oferta para viajar para aquele destino.

Mas a simples ideia de viajar até Montebianco fazia com que as pernas de Lily tremessem. Como poderia ir para aquele reino mediterrânico sabendo que Nico Cavelli vivia lá?

«Não tens de o escrever, querida. Julie já fez o trabalho quase todo. Vais, tiras algumas fotografias, escreves o que se sente ao estar lá, tu sabes, esse tipo de coisas. Passas alguns dias no país e depois, quando voltares, acabem juntas o artigo. Esta é a tua oportunidade de demonstrar o que vales.»

Lily não podia arriscar-se a perder o emprego. Não sobravam empregos em Port Pierre e não tinha a garantia de conseguir encontrar outro em pouco tempo. Precisava do salário para pagar a renda e o seu seguro médico. Quando ficara grávida, tivera de deixar a universidade. Tinha passado os últimos dois anos a saltar de um emprego para outro, fazendo tudo para poder cuidar do seu bebé. O seu trabalho no jornal era uma boa oportunidade e um passo em frente. Talvez um dia pudesse acabar os estudos.

Não podia pôr em perigo o futuro de Danny ao recusar-se. Em criança, perdera muitas coisas quando a sua mãe ficara sem emprego e mais ainda quando tinha deixado tudo para voltar a fugir com o seu pai, um mulherengo. Não faria isso ao seu filho. Tinha aprendido a não confiar em ninguém.

Não tivera outro remédio senão aceitar o trabalho e convencera-se de que a probabilidade de se cruzar com o príncipe era mínima. Deixaria o seu filho com a sua melhor amiga, passaria dois dias em Castello del Bianco e depois apanharia um avião de regresso a casa. Tão simples quanto isso.

Mas nunca imaginara acabar na cela de uma prisão. A sua única esperança era que alguém reportasse o seu desaparecimento e que o consulado americano rastreasse os seus passos no reino.

Um estrondo fez com que Lily se levantasse. O seu coração pulsou com força. Lily agarrou-se às grades e olhou para a escuridão do corredor. Ouviam-se passos. Uma voz disse alguma coisa e foi silenciada em seguida por outra. Engoliu em seco e ficou à espera. Ao fim do que lhe pareceu uma eternidade, um homem apareceu entre as sombras, mas não conseguia distinguir-lhe os traços na escuridão. O homem parou sob a luz fraca que entrava por uma racha na parede e não disse nada.

O coração de Lily parou, enquanto as lágrimas voltavam a ameaçar cair. Não podia estar ali. O destino não podia ser tão cruel.

Não conseguiu articular uma palavra enquanto ele se aproximava da luz. Estava tão bonito como aparecia nas revistas e como o recordava. Usava o cabelo preto mais curto e vestia umas calças escuras e uma camisa de seda por cima de uma t-shirt. Os seus olhos azuis fixaram-se nela.

Acreditara realmente que era apenas um estudante de Tulane quando o conhecera no Mardi Gras? Como tinha sido tão inocente? Não havia forma de aquele homem poder ser confundido com o que não era. Tratava-se de uma pessoa privilegiada que se movia num círculo diferente do dela.

– Deixa-nos – disse ao homem que tinha ao lado.

– Mas, Alteza, não creio que…

Vattene via!

Si, mio principe – respondeu o homem no dialecto italiano que se falava em Montebianco e afastou-se pelo corredor.

– Foi acusada de tentar tirar antiguidades do país – disse ele, friamente.

– O quê?

De todas as coisas que tinha imaginado que diria, aquela não figurava entre as possíveis.

– Duas estatuetas, signorina. Um lobo e uma mulher. Foram encontrados na sua bagagem.

– Eram lembranças – disse, incrédula. – Comprei-as a um vendedor ambulante.

– São peças de valor incalculável do património do meu país, que foram roubadas há três meses do museu.

Lily sentiu que os joelhos lhe falhavam.

– Não sei nada sobre isso! Quero ir para casa.

A sua pulsação ecoou nos seus ouvidos. Era muito estranho, tanto a acusação como o facto de parecer não a reconhecer. Como podia olhar para ela e não se aperceber?

O príncipe Nico aproximou-se mais. Tinha as mãos enfiadas nos bolsos enquanto olhava para ela. Os seus olhos frios não transmitiam nada. Não havia neles sinal de amabilidade, apenas arrogância e um sentimento de autoridade que a surpreendia. Passara realmente horas a conversar com aquele homem?

Recordou-se deitada debaixo dele, sentindo o corpo dele dentro do dela. F

ora uma novidade para ela. Tinha-a tratado com grande ternura, fazendo-a sentir-se querida e especial.

Agora, aquela lembrança parecia uma ilusão distante.

Desceu o olhar, incapaz de manter o contacto visual. Não conseguia olhar para ele, porque se sentia triste pelo seu filho. Não se tinha dado conta disso até estar cara a cara com o príncipe e reparar que Danny era igual ao pai.

– Receio que seja impossível.

Levantou a cabeça e os seus olhos voltaram a encher-se de lágrimas. Não, tinha de ser forte.

– Tenho de voltar para casa. Tenho obrigações, pessoas que precisam de mim.

– Que pessoas, signorina? – perguntou o príncipe.

Lily sentiu um vazio no estômago. Não podia falar-lhe de Danny naquele momento.

– A minha família precisa de mim. A minha mãe depende de mim.

Há mais de um ano que não via a sua mãe, mas ele não sabia.

– Não tem marido, Lily? – perguntou, estudando-a, interessado.

Ouvir o seu nome foi como sentir a carícia dos dedos dele na sua pele. Pensou que devia tê-la reconhecido, mas nada no comportamento dele indicava que o tivesse feito. Devia ter obtido a informação através da polícia.

Sentia-se tola por ter pensado outra coisa. Mas porque estava ali? Um príncipe visitava a prisão quando alguém era acusado de roubo? Havia qualquer coisa que não conseguia compreender.

– Não – disse ela.

Não podia mencionar Danny. Se Nico descobrisse que tinha um filho, tirar-lhe-ia o seu bebé? Não havia dúvida de que tinha o poder e o dinheiro para o fazer. Agarrou-se às grades, depositando todos os seus sentimentos nas suas palavras.

– Por favor, Ni… Alteza. Por favor, ajude-me.

– Porque espera que a ajude?

Lily engoliu o nó que tinha na garganta.

– Conhecemo-nos em Nova Orleães, há dois anos. Então, foi amável comigo.

Se esperava que se lembrasse, sentiu-se decepcionada. Ele manteve-se distante, indiferente.

– Sou sempre amável com as mulheres.

A sua voz soou suave e intensa como o chocolate e fria como o gelo.

Lily sentiu que o rosto lhe ardia. Como podia estar ali a falar com o homem que era o pai do seu filho sem saber? Fizera bem ao deixar de o procurar ao saber que era mais do que um homem normal chamado Nico Cavelli. Ainda recordava a surpresa ao descobrir quem era realmente. O príncipe Nico de Montebianco não era outra coisa senão um playboy, um membro da alta sociedade internacional que uma vez se tinha infiltrado em Nova Orleães. Não se lembrava dela, nem sentia nada por ela, por isso, Danny não lhe importaria.

Tal como o seu pai, que não se preocupara com a sua mãe, nem com ela. Era impressionante como tinha sido ignorante, como estava cega com o encanto dele. A verdade era que não lhe mentira sobre a identidade dele, mas não lhe tinha dito a verdade. Dissera-lhe o nome e de onde era, mas só descobrira mais tarde que era um príncipe. Depois de ter o que queria dela, tinha-a abandonado à sua sorte. Naquela última noite, passara duas horas à chuva, à espera dele. Prometera-lhe que iria, mas nunca tinha aparecido.

Antes que pudesse pensar no que dizer, ele tirou uma coisa do bolso da camisa e deu-lha. A máscara fria desapareceu e no seu lugar apareceu uma expressão de raiva que a teria assustado se não fossem as grades que os separavam.

– O que significa isto? Quem é esta criança?

O coração de Lily disparou. Enfiou uma mão por entre as grades e tentou agarrar a fotografia de Danny e ela, mas o príncipe afastou-a. Um lamento escapou da sua garganta antes que pudesse evitá-lo. Tinham aberto as suas malas como se fosse uma ladra e tinham revistado as suas coisas. O pior de tudo era que conhecia o seu segredo.

– Quem é? – perguntou o príncipe, novamente.

– É o meu bebé. Dê-me isso – rogou-lhe, colocando a mão entre as grades. – É minha.

– Não sei o que pensa que acontecerá agora que vi isto, mas não resultará, signorina. Esta é uma maneira rude de tentar chantagear-me e não lho permitirei – disse, com voz ameaçadora.

– Chantageá-lo? Porque haveria de o fazer? Não quero nada de si. A única coisa que quero é ir para a minha casa.

Lily fechou os olhos, tentando acalmar-se. A sua cabeça andava à roda. Nico não tinha a certeza de nada. Tinha de lhe deixar claro que não queria nada dele. Se não se sentisse ameaçado, talvez a ajudasse a sair daquele sítio.

Porque a tinha preocupado que lhe tirasse o seu bebé? Ele não era o tipo de homem que se interessava pelo filho. Tinha muitas amantes e já teria vários filhos. Costumava ignorar as revistas cor-de-rosa, mas, quando via um título sobre Nico, não conseguia evitar prestar atenção. Era por isso que sabia que estava prestes a casar-se.

Uma sensação estranha invadiu-a. Como se sentiria a sua futura esposa sobre as suas aventuras amorosas? Estava convencida de que tinha tomado a decisão correcta ao não entrar em contacto com ele nos últimos dois anos. Danny merecia um pai melhor do que ele. Não queria que o filho dela crescesse como ela tinha feito, com um pai que só aparecia quando lhe convinha.

– O que está a fazer em Montebianco? – perguntou-lhe, com tom de desconfiança e suspeita. – Porque veio cá, senão para tentar chantagear-me?

– Estive a recolher informação para um artigo de um jornal – respondeu, tentando controlar o seu temperamento. – Porque haveria de querer chantageá-lo?

– Não brinque comigo, signorina – disse, guardando a fotografia no bolso. – Espero que esteja confortável, Lily Morgan, porque vai passar tanto tempo nessa cela como o que eu levarei a descobrir a verdade.

– Já disse que foi o meu chefe que me enviou. Não há mais nenhuma razão pela qual tenha vindo!

– Veio dizer-me que esta criança da fotografia é minha? Veio até aqui para isso, para me pedir dinheiro?

Lily abraçou-se. Estava a tremer e desviar o olhar.

– Não. Quero ir para casa e esquecer que o conheço.

– Não sei qual é o seu jogo, menina Morgan, mas garanto-lhe que descobrirei a verdade.

Quando se afastou pelo corredor, ela permaneceu em silêncio. Não teria servido de nada dizer alguma coisa. O príncipe Nico não tinha coração.

 

 

Nico chegou aos seus aposentos do palácio e mandou chamar o seu assistente. Depois de lhe ter ordenado descobrir tudo a respeito da menina Margaret Lily Morgan, saiu para o terraço e contemplou a cidade que se estendia sob os seus pés. Tinha sido uma surpresa descobrir que usava o segundo nome em vez do primeiro. Isso explicava porque não encontrara rasto dela quando o tinha tentado alguns anos antes.

O encontro tinha-o afectado mais do que estava disposto a admitir. Lily Morgan não era o que esperava. Não era a rapariga doce e tímida que recordava. A sua Liliana era pura e delicada como uma flor. A noite na prisão devia tê-la assustado e mostrara-se feroz e decidida.

Mas decidida a quê?

Não sabia, mas não a deixaria ali outra noite. Sentia-se consternado por ter passado ali a noite, sem o seu conhecimento. Nico franziu os lábios, aborrecido. Fazia sentido que a velha fortaleza continuasse a ser usada como prisão, mas as condições podiam ser melhoradas. Era outra das coisas que devia mudar agora que era príncipe herdeiro.

Tirou a fotografia do bolso. A fotografia tinha sido manipulada, não havia dúvida. Não era a primeira vez que lhe mostravam uma mentira como aquela. A imprensa costumava mostrá-lo em sítios onde não tinha estado ou com gente com quem não estivera.

Mesmo assim, fora a vida que tinha escolhido para proteger Gaetano. Nico passou uma mão pelo cabelo. Conseguiria suportá-lo, sempre tinha conseguido. Mandaria a menina Lily Morgan para a América.

Não era a primeira vez que lhe apresentavam um pedido de paternidade, embora nunca daquela maneira. Lily só tinha mencionado a criança depois de lhe ter mostrado a fotografia. Mas devia ser a sua intenção, não era?

Pegou na fotografia, estudou-a e sentiu uma sensação que nunca experimentara. Ao contrário das crianças que duas das suas ex-amantes tinham afirmado serem seus filhos e cujas exigências tinham sido desprezadas, aquela tinha uma grande parecença com os Cavelli.

Recordava muito bem que se encantara com ela, mas não ao ponto de se esquecer de fazer amor com precauções. Era tão necessário para ele como comer ou dormir. Tinha sido fruto de um deslize e não queria ser o motivo pelo qual uma criança sofreria como ele sofrera. Quando tivesse filhos, seriam legítimos, desejados e amados.

Mas e se as precauções tivessem falhado por algum motivo? Seria possível? Seria ele o pai daquela criança? Se assim fosse, como podia tê-lo mantido afastado do seu filho durante tanto tempo? Não, não era possível. Se tivesse acontecido alguma coisa ao preservativo, lembrar-se-ia. A criança não podia ser dele, por muito que fossem parecidos. Tinha de ser um truque fotográfico.

Deixou a fotografia num vaso de barro. Não se deixaria enganar por aquela mulher. Em breve, saberia a verdade. Naquela noite, formalizaria o seu noivado com a princesa Antonella, numa tentativa de unir Montebianco e Monteverde, honrando o compromisso que a sua família tinha assumido com os Romanelli quando Gaetano era vivo. Antonella Romanelli era uma mulher muito bonita e seria feliz com ela como esposa.

Nico virou as costas à paisagem e dirigiu-se para as portas que davam para o terraço. Apenas tinha dado alguns passos quando parou, hesitante. Praguejando entredentes, voltou a pegar na fotografia e guardou-a junto do seu coração.