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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2000 Jen M. Heaton

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A chegada do amor, n.º 369 - maio 2018

Título original: The Rancher and the Nanny

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-338-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

A carrinha preta e reluzente desceu a entrada do rancho Bar M, deixando uma nuvem de poeira no caminho.

Parada junto à porta dos fundos da casa, Eve Chandler virou-se, ao ver o veículo passar. O seu coração deu um salto, ao ver o homem moreno e forte atrás do volante.

Tinham-se passado oito anos desde que vira John MacLaren pela última vez, mas por um instante o tempo pareceu não existir. Era como se tivesse dezassete anos outra vez, sentindo as mesmas emoções de quando ele estava por perto. O estranho calor, o desejo e a ansiedade que tanto a perturbavam voltaram com toda a força.

Estremecendo, deu um passo na direcção das escadas, como se quisesse fugir, mas logo recuperou o bom senso.

«Pára com isso, Eve. Já não és uma adolescente inexperiente. Tens vinte e cinco anos, a mesma idade que John tinha naquela altura. Pelo menos, ele não sabe o que sentias. Pensa em como seria muito pior, se ele soubesse».

A lembrança do motivo que a trouxera ali atingiu-a como um balde de água gelada. E como se recusava a ceder à onda de pânico que tentava sufocá-la nas últimas semanas, reflectiu sobre a ironia da situação. Se alguém lhe dissesse, há seis meses atrás, que ela, a neta do maior fazendeiro de Lander County, seria forçada a pedir favores ao homem sexy e solitário que trabalhara nos estábulos dos Chandler, não teria acreditado.

Mas ali estava.

A poucos metros de distância, John estacionava a carrinha ao lado do pequeno carro vermelho que ela pedira emprestado para vir até ali.

Eve podia ouvir o seu próprio coração a bater fortemente, no silêncio. Determinada a não demonstrar o que sentia, assumiu uma postura casual, enquanto ele saía e fechava a porta. Caminhando na direcção dela, as longas pernas cobrindo a distância em passadas firmes, tirou as luvas de couro.

Se estava surpreso em vê-la, não o demonstrou.

Parando ao pé da escada, inclinou a cabeça para a cumprimentar.

– Eve.

Controlando as emoções contraditórias que a invadiam, ela forçou um sorriso confiante.

– Olá, John.

Houve um longo silêncio, enquanto se fitavam um ao outro.

À volta deles, o dia de Outono revelava o sol tímido e o céu claro de Montana. A temperatura era agradável e a brisa leve e contínua balançava a erva alta à volta do rancho.

Eve não tomava atenção a nada, além do homem alto à sua frente. Apesar de não falar, ele observava-a intensamente. O olhar dele percorreu os cabelos loiros, dourados do sol, a blusa de caxemira azul, as calças de lã cinzenta e os sapatos de couro italiano. O coração dela parecia bater ainda mais forte.

Eve escolhera deliberadamente roupas caras e elegantes. Ao fazê-lo, dissera a si mesma que queria apresentar-se do melhor modo possível. Mas agora percebia que, de certo modo, o fizera por se lembrar do passado. E quando os olhares de ambos se encontraram, por trás da frieza que ele tentava mostrar, ela imaginou ter visto um brilho de interesse e admiração.

Surpreendida, ergueu o queixo e fitou-o directamente. O tempo fora generoso com ele e aquilo nada tinha a ver com a fortuna recente que conseguira. Ele podia vestir calças de ganga surradas, botas gastas e uma camisa desbotada, que ninguém o confundiria com um simples trabalhador do rancho.

Com mais de um metro e noventa de altura, ele tornara-se mais corpulento e as feições másculas estavam mais definidas. Embora sempre tivesse exalado uma virilidade intensa, agora irradiava também força e poder. Era fácil ver por que motivo as mulheres, dos dezasseis aos sessenta anos, se viravam para o observar quando passava.

O queixo forte, os olhos muito azuis e os ombros largos, tudo irradiava masculinidade e energia.

A constatação de que o achava ainda mais atraente do que antes disparou um alarme dentro de Eve.

– Lamento muito sobre Max – disse ele, de repente.

Fitando-o nos olhos, ela sentiu o rosto corar, temendo que ele pudesse ler os seus pensamentos. Com esforço, tentou parecer calma e controlada.

– Recebi o seu cartão. Obrigada.

John encolheu os ombros, o que revelou ainda mais a força dos músculos poderosos sob a camisa.

– Ele era um bom homem.

Incapaz de pensar na morte inesperada do avô sem dor e tristeza, Eve apenas murmurou:

– Era, sim.

– Dizem que vai vender o Rocking C a um consórcio de criadores de gado.

– É verdade. O acordo deve ser fechado dentro de poucos dias.

– Não perdeu tempo, pois não? – disse ele, cruzando os braços.

Eve olhou para o rosto bonito e másculo, que expressava desaprovação. Era a oportunidade perfeita. Tudo que tinha a fazer era contar a verdade, que se não vendesse o rancho aos texanos, perdê-lo-ia para o banco ou para o estado, e ele saberia como a sua situação financeira era grave.

Mas não podia, não queria contar. Os investimentos desastrosos que o avô fizera no último ano de vida acabariam por vir à tona mais cedo ou mais tarde, já que a comunidade de Lander County era tão pequena e fechada. Mas não se saberia por ela. Assim como Max Chandler protegera a sua vida, Eve protegê-lo-ia, mesmo após a sua morte. Porque o amara muito. E porque lhe devia isso.

– Acho que isso significa que se irá embora daqui em breve – disse John, diante do silêncio dela. – De volta a Paris, ou Nova Iorque. Onde morava ultimamente?

– Londres – respondeu ela, automaticamente, tentando encontrar um modo de lhe dizer por que motivo estava ali.

Nem precisava de se ter preocupado. Com o seu modo directo e franco, John resolveu o problema.

– Então, vai dizer, ou não, porque está aqui?

– Sim, é claro. Gostaria de conversar. Há algo que gostaria de discutir consigo.

Olhando para o relógio de pulso, ele balançou a cabeça.

– Lamento muito. Tenho um compromisso. Podemos conversar outro dia.

– Mas isto não pode esperar!

Ele encolheu os ombros, sem demonstrar qualquer emoção.

– Terá que esperar. Tenho um compromisso dentro de quinze minutos.

Lutando para manter o controlo, viu-o subir os degraus, passando por ela e deixando no ar um cheiro de sol, cavalos e trabalho duro. Engolindo o orgulho, insistiu:

– Por favor, John. Prometo que não vai demorar.

A mão dele parou na maçaneta e ele virou-se, demonstrando um misto de relutância e curiosidade. E algo mais, que Eve não conseguiu definir, nos olhos azuis.

– Está bem – disse, finalmente. – Se não se importa de conversar enquanto me arranjo, posso dispor de alguns minutos – e, abrindo a porta, desapareceu dentro de casa.

Entrando atrás dele, e sentindo um misto de alívio e aborrecimento, Eve tentou convencer-se de que não deveria importar-se com o modo como a tratava. Afinal, estava apenas a fazer o que ela fizera com ele, quando eram mais jovens.

E, de repente, embora tentasse evitá-lo, a lembrança daquele tempo voltou com intensidade.

Era uma manhã de Verão. O ar estava impregnado com os aromas de feno e flores silvestres, e o sol brilhava, aquecendo-lhe a pele, enquanto estava parada à porta do estábulo do Rocking C, acariciando o pêlo macio da sua égua, Candy.

Tinha acabado de voltar de uma cavalgada e Eve lembrava-se nitidamente de como se sentira naquele momento: feliz, viva e completamente satisfeita com a vida.

E porque não deveria estar? Tinha dezassete anos, era mimada em casa, popular na escola, onde era líder da claque e óptima aluna. Não era difícil imaginar porque acreditava que o mundo lhe pertencia.

E então, ao entrar no corredor escuro, contrastando com a luz brilhante do sol, esbarrara com um estranho, moreno e forte. E, a partir daí, tudo tinha mudado.

Ele praguejara, mas ainda assim conseguira segurar tanto o saco de cereais que carregava sobre o ombro como Eve, evitando que caísse.

Surpreendida, ela erguera o olhar, encontrando os olhos mais azuis que já vira. E logo percebera os traços fortes, as maçãs do rosto bem delineadas, o nariz recto e os sedosos cabelos negros caindo sobre a testa. E algo novo acontecera com ela.

Um estranho calor percorreu-lhe o corpo. Os seus joelhos enfraqueceram e ela sentiu dificuldade para respirar.

Por um instante, não desejara nada mais do que se aproximar, apertar o seu corpo contra o dele, mergulhar o rosto na curva do pescoço forte, onde uma veia pulsava intensamente.

Queria tocá-lo, sentir o gosto daquela pele… em todos os lugares. E desejava aquilo com tanta intensidade que chegava a doer.

A descoberta foi um choque. Confusa e amedrontada, afastou-se num salto, livrando-se da mão forte e calejada que lhe segurava o braço.

– Quem é você? – perguntou.

Ele não respondeu de imediato, observando-a intensamente, percebendo que ela passava os dedos pelo braço, onde a mão dele a segurara. Os lábios dele apertaram-se, mas quando os olhares se encontraram, falou num tom frio, embora educado.

– John MacLaren.

– O que está a fazer aqui?

– A trabalhar.

Já era suficientemente mau perceber como o seu corpo ardia, como a garganta estava seca e o coração disparado. Mas o pior era que ele parecia completamente indiferente. Ela ergueu o queixo.

– Desde quando?

– Desde ontem, quando fui contratado. E se não se importa… – ele apoiou o peso numa das pernas, de um modo que ela achou tão arrogante como atraente. – Quem é você para fazer tantas perguntas?

– Eve Chandler – respondeu, erguendo a cabeça. – O meu avô é o dono do rancho.

Ele não pareceu ficar impressionado com a informação e, apavorada com as sensações novas que a dominavam, Eve disparou:

– E se quer manter o seu emprego, sugiro que, de agora em diante, tome atenção por onde anda.

Ajeitando lentamente o saco de cereais sobre o ombro, ele respondeu:

– Vou lembrar-me disso – e afastou-se, sem olhar para trás.

Eve observou-o até o ver desaparecer. Em qualquer outra ocasião, teria ficado envergonhada por ter agido de um modo tão rude, mas não naquele dia. Não com ele. Em vez disso, disse a si mesma que John MacLaren era arrogante e que não valia a pena perder tempo com ele.

Ainda assim, desde aquele dia, sempre que o encontrava, sentia uma forte atracção e uma estranha excitação, que não conseguia explicar. Aquilo envergonhava-a e deixava-a insegura. Era algo novo, com que não sabia lidar. Além disso, tinha medo que ele descobrisse os seus sentimentos. Não era de admirar que tivesse preferido agir com arrogância, para evitar que percebesse como a deixava vulnerável.

E já que não pretendia confessar-lhe a verdade, depois de todos aqueles anos, não podia esperar que a recebesse de braços abertos. Teria que agir do melhor modo possível. E lembrar-se que ele era a sua última esperança. Não importava o que sentia. Não podia desistir agora.

Virando-se, Eve caminhou para a porta e entrou na casa. Observou a divisão ampla, ensolarada, com piso de granito, cheia de cabides numa das paredes, com chapéus, casacos e equipamentos de montar. Num dos cantos havia uma máquina de lavar roupa e uma de secar. À esquerda ficava uma casa de banho espaçosa, onde se podia ver uma cabina de vidro transparente, abrigando o chuveiro.

Mas foi a visão de John, de costas para ela, parado junto ao lava-louças, que atraiu a sua atenção. Ele atirara o chapéu para um balcão próximo, puxara a camisa para fora das calças de ganga e despia-a pela cabeça, atirando-a ao chão.

Eve observava as costas morenas e os músculos a flexionar-se, enquanto abria a torneira e pegava no sabonete, começando a lavar-se. E quando se inclinou sobre o lavatório, uma faixa de pele mais clara ficou exposta na cintura.

Estava tão perturbada que não desviou o olhar quando ele agarrou na toalha e se virou, de repente.

– E então? – perguntou, esperando pacientemente.

Forçando-se a encará-lo, tentou fingir que não se abalava ao vê-lo sem camisa. Não era fácil, já que um estranho calor lhe invadira o corpo, ao vê-lo esfregar o pescoço e o peito com a toalha.

– Almocei com Chrissy Abrams na semana passada – começou ela, dizendo a si mesma para ficar calma. – Ela contou-me que tem uma filha de sete anos, que veio morar consigo há pouco tempo. E que está à procura de alguém para cuidar dela.

– E daí?

– Eu gostaria de ter esse emprego.

Ele ficou imóvel, mas logo um sorriso lhe curvou os lábios.

– Está a brincar, não é?

– Não.

O sorriso desapareceu. Ele fitou-a por um longo instante, antes de falar.

– E porque faria isso?

Já imaginava que ele iria perguntar e estava pronta para responder. Sem desviar o olhar do rosto dele, falou com uma serenidade que estava longe de sentir.

– Porque Lander é o meu lar. Senti a sua falta e gostaria de ficar por aqui. Agora que vendi o rancho, preciso de algo para fazer.

– E acha que trabalhar para mim resolverá o problema? – o rosto dele endureceu e, lentamente, balançou a cabeça. – Não penso assim, Eve.

Embora esperasse algo assim, a resposta dele atingiu-a. Engolindo em seco, perguntou:

– Porque não?

Atirando a toalha sobre o balcão, ele pegou numa camisa azul, quase da mesma tonalidade dos seus olhos. Franziu a testa e, vestindo a camisa, colocou-a dentro das calças de ganga.

– Digamos que não acho que sejas a mulher certa para esse trabalho.

– Mas eu sou – insistiu Eve, tentando não parecer desesperada. – Estou aqui, disponível, sei como cuidar de um rancho e tenho jeito com crianças.

Ele apoiou-se no balcão, não parecendo convencido.

– Talvez. Mas acho que Chrissy não lhe disse que preciso de alguém para ficar a morar aqui.

– Sim, ela disse-me.

Os lindos olhos azuis estreitaram-se, como se achasse difícil acreditar.

– E concorda com isso?

Não era a altura de dizer que a perspectiva de morar com ele fora decisiva ao pensar no emprego. Assim, tentou manter um tom neutro ao responder:

– Sim.

– Mas eu não. Acho que isso irá chocá-la, princesa, mas preciso de alguém que faça mais do que companhia a Lissy. Não tenho empregada e preciso de alguém que cuide da casa.

Eve recusou-se a perder a paciência, mesmo diante da ironia. Ainda assim, não conseguiu disfarçar a irritação ao responder:

– Acho que posso cuidar de tudo, John. Sei cozinhar, lavar e limpar uma casa. E mais importante que tudo, posso cuidar da sua filha. Sei que está a ter problemas de adaptação na escola – acrescentou, vendo os lábios dele apertarem-se e percebendo que tocara num ponto sensível. – Acho que posso ajudá-la.

– Chrissy Adams fala demasiado – disse ele, brusco.

– Talvez. Mas não muda o facto de que tenho algo especial a oferecer. Eu era um pouco mais velha que a sua filha quando perdi os meus pais e vim morar com o meu avô. Sei como é sentir-se só, perder a vida que se tinha e ter que se adaptar a outra, bem diferente.

– Mesmo que tivesse ainda mais qualidades, a resposta seria não, Eve.

– Mas… – por um instante, ela quase disse a verdade.

«Por favor, preciso deste trabalho. Vendi tudo o que tinha de valor. Tenho pouco mais de trezentos dólares e em quatro dias não terei onde morar.»

– Lamento muito – disse John, friamente, interrompendo-lhe os pensamentos. – Não resultaria.

O tom de voz dele não deixava dúvidas. Como uma bofetada, trouxe Eve de volta à realidade. Um arrepio percorreu-lhe o corpo, ao perceber como estivera perto de suplicar a ajuda dele e de envergonhar a memória do avô.

Mesmo assim, não pôde evitar que lágrimas quentes viessem aos olhos e virou o rosto, pestanejando para as afastar.

– Entendo.

Tudo daria certo, disse para si mesma. Era apenas mais um contratempo, não o fim do mundo. O mais importante era não fazer papel de tola. Engolindo as lágrimas, ergueu o queixo e forçou-se a encará-lo.

– Acho que não vai mudar de ideias – disse, forçando um sorriso.

– Não.

Percebendo que os seus lábios tremiam, Eve fingiu olhar para o relógio.

– Acho melhor despachar-se, ou chegará atrasado.

Para alívio dela, John olhou para o seu próprio relógio, dando-lhe a oportunidade de se ir embora. Queria sair dali a correr, mas forçou-se a andar até a porta. Com um sorriso forçado, olhou sobre o ombro.

– Foi bom vê-lo outra vez, John.

Ele assentiu, com uma expressão indecifrável no rosto.

– Também foi bom vê-la.

– Espero que encontre logo alguém.

– Com certeza.

Eve saiu e atravessou a varanda. Com passos deliberadamente lentos, caminhou até ao carro, entrou e ligou o motor, manobrando lentamente na direcção da saída.

Só quando chegou à estrada é que percebeu como as suas mãos tremiam. Incapaz de prosseguir, parou e encostou na berma. Mais uma vez, tentou convencer-se de que tudo se resolveria. Só que, no fundo, não conseguia acreditar naquilo.

Voltou a apertar os olhos, mas uma lágrima solitária escorreu-lhe pelo rosto, enquanto imaginava o que iria fazer da sua vida.

Capítulo Dois

 

 

 

 

 

Os pneus da carrinha rangeram, quando John diminuiu a velocidade. Olhando para Oeste, viu o autocarro amarelo da escola aproximar-se.

Suspirou, aliviado, contente por não estar atrasado. Baixando o vidro, desligou o motor e esperou. A tensão nos seus ombros era tão grande que mais parecia estar a carregar um rolo de arame farpado.

E sabia muito bem qual era o motivo.

Embora tivesse prometido a si mesmo que não pensaria nela, os pensamentos teimavam em voltar para Eve. No momento em que entrara no pátio e a vira, qualquer um poderia tê-lo derrubado com um sopro. Depois de todos aqueles anos, continuava tão bonita como antes. E ainda mais confiante. O que é que ela dissera sobre as suas qualificações?

«Acho que tenho algo especial para oferecer.»

Bem, ao menos, quanto a isso, estava certa, pensou John, com um sorriso irónico. Não era homem de alimentar vinganças, mas também não era tolo. Não esquecera o modo como ela o tratara há anos atrás, antes de ir para a faculdade. Esguia, com pernas longas e bem-feitas, pele dourada e olhos cinzentos, além dos dentes mais perfeitos que ele já vira, aos dezassete anos irradiava o seu encanto para todos. Menos para ele.

E já que ele nunca tivera problemas de autoestima, sabia que era atraente. Talvez a estatura, a constituição forte, um certo distanciamento que parecia torná-lo uma conquista difícil, tudo contribuía para que as mulheres se sentissem atraídas por ele, desde que era adolescente.

Mas não a adorável menina Chandler. Ela não gostara dele à primeira vista. Nada de sorrisos ou brincadeiras, como fazia com os outros vaqueiros. Em vez disso, apesar de ser sempre educada, costumava tratá-lo como se cheirasse mal.

É claro que não gostara daquela atitude, mas precisava do emprego, e fizera tudo para a ignorar. Dizia a si mesmo que ela não passava de uma criança e que lhe fazia um favor, já que Max Chandler o despediria de imediato se mostrasse qualquer interesse nela.

Ainda assim, não se esquecera. Quantas vezes desejara arrancar aquele ar de superioridade do rosto dela! E não por vingança ou ressentimento. Mas porque a desejava. Como desejara mergulhar as mãos nos cabelos loiros e sedosos, saborear a boca macia e rosada! E como quisera sentir o corpo dourado sob o dele, tocando-o em todos os lugares, até a fazer gritar o seu nome.

Mimada ou não, ela deixara-o louco de desejo.