desj371.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2000 Amy J. Fetzer

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Ardente rendição, n.º 371 - maio 2018

Título original: Wife for Hire

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-340-1

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

Plantação de River Willow

Aiken, Carolina do Sul

 

Ela trazia uma galinha de plástico amarrada no porta-bagagens do carro!

A «coisa» saltava a cada movimento do veículo, parecendo uma espécie de caça capturada para a canja do jantar ou algo do género.

Os lábios de Nash curvaram-se num sorriso.

– Pelo menos ela tem bom humor – disse para si mesmo, antes de olhar para as filhas.

As duas mostravam sorrisos animados. «É um bom sinal», pensou ele, afastando o chapéu para trás e encostando o ombro no pilar da varanda. Em seguida, enfiou os polegares nos bolsos das calças.

Então era aquela a sua ama?

O carro empoeirado parou a uma certa distância e ficou ali durante um bom tempo, até ser finalmente desligado. Nash conteve o fôlego ao ver a perna esguia e perfeita que se insinuou para fora quando a porta do veículo foi aberta.

Primeiro ponto: ela era bonita.

Não, na verdade, era adorável. Os olhos estavam ocultos por um belo par de óculos escuros. Os cabelos de um tom escuro de vermelho, esvoaçavam ao vento, deixando-a ainda mais atraente. Como se não bastasse, estava vestida com uma camisa justa e uns calções muito curtos, delineando partes nas quais ele nem quis deter muito o olhar.

Segundo ponto: ela iria causar problemas.

Ele tinha solicitado à agência alguém que não distraísse a atenção dos seus empregados. E lá estava ela, a dirigir-se a ele com aquele corpo escultural, mais do que pronta para deixar os seus empregados boquiabertos. O movimento daqueles quadris era tão sensual que ele teve de se conter para não cobrir os olhos das meninas.

– Que bom, ela não é velha – disse Kim, como se fosse algum crime ter mais do que dez anos de idade. – Poderá brincar connosco.

Nash baixou a vista para as gémeas.

– A senhora Winslow sabe brincar – observou ele.

Elas fizeram um ar de desagrado.

– Ela tenta, mas não é muito animada – disse Kate. – Esta é bonita, não é, papá?

«Deslumbrante», pensou Nash.

– Sim, querida. Muito.

A visitante parou a alguns passos deles, provocando uma sensação de desconforto em Nash. Ele estreitou o olhar, tendo a impressão de já a ter visto em algum lugar.

– Nash? – disse ela, como se não acreditasse no que os seus olhos estavam a ver.

Ele conteve o fôlego. Claro que conhecia aquela voz. Era Hayley Albright.

– O que é que estás a fazer aqui? – perguntou-lhe ele.

Ela empinou um quadril, segurando a alça da bolsa com mais firmeza.

– Se Katherine queria fazer uma brincadeira com isto, não estou a achar graça nenhuma – disse Hayley.

– Nem eu.

Nash ficou muito atrapalhado. Há sete anos, tinha estado completamente apaixonado por Hayley, mas acabara por trair os próprios sentimentos e por se casar com outra mulher. Ela nunca tinha entendido bem o motivo.

No entanto, bastara olhar para Hayley para sentir o seu corpo todo acender-se como uma chama, a clamar por ela.

Hayley era do tipo de mulher que fazia os olhares voltarem-se na sua direcção, tanto pelo seu ar de autoconfiança como pela sua beleza. Era do tipo de mulher que fazia com que um homem sorrisse só por ela ter sorrido. O tipo de mulher com a qual ele tinha sonhado casar-se um dia.

Hayley apoiou os óculos escuros no alto da cabeça e encarou Nash, em busca do homem que ela tinha amado.

– Estás a trabalhar na empresa de Katherine? – perguntou ele.

– Toda a gente tem de ganhar a vida – disse ela.

Ele apertou os lábios.

– E quanto ao teu sonho de te tornares médica?

Hayley ajeitou a bolsa no ombro e respondeu:

– Continua firme. Terminei a parte teórica há poucos dias. Terei férias durante duas semanas e depois voltarei ao hospital de St. Anthony para começar o estágio.

– Isso é óptimo.

O sorriso dele foi cínico, amargo. Para ela, foi como se tivesse sido atingida por um balde de água fria. O desejo dela de ser médica e a exigência de Nash para que abandonasse a sua meta para se tornar esposa dele tinha sido o motivo do fim da relação deles, enviando-o directamente para os braços de outra mulher.

– Não sei porquê, mas isso não me pareceu muito genuíno.

Nash estreitou o olhar.

– Nunca desejei que tu fracassasses, Hayley.

– Não. Apenas que eu desistisse dos meus sonhos em favor dos teus.

A expressão de Nash tornou-se amarga. Aquele assunto era difícil demais para ser tratado em público. Havia muito para dizer: o que ele estava a sentir, o que precisava de explicar, o que queria fazer com ela… O mesmo aroma de jasmim do passado alcançou as suas narinas, fazendo-o sentir um desejo quase incontrolável de a ter nos braços.

– É mesmo muito bom ver-te outra vez.

O tom grave da voz dele fê-la sentir um arrepio pelo corpo, evocando a recordação de como era ser envolvida no calor e na segurança daqueles braços fortes.

Hayley examinou o rosto dele com atenção. Nash tinha mudado pouco e envelhecera de uma maneira que o deixara ainda mais charmoso. As linhas do rosto másculo tinham-se tornado mais acentuadas, dando-lhe mais força e carácter. Aos trinta e cinco anos, ele era tão atraente como da primeira vez em que ela o vira, numa festa no seu último ano do colégio. Nash tinha chegado com a sua amiga Katherine Davenport, colega de Hayley, proprietária e gerente da Wife Incorporated. Acompanhara-a apenas como um favor, logo, isso não o impediu de estar na companhia de Hayley ao sair de lá.

Ele tinha sido a pessoa mais impressionante que já se aproximara dela e isso deixara-a apaixonada quase de imediato. Soltando um suspiro, forçou aquela recordação a voltar para o fundo da sua memória, o seu verdadeiro lugar. Tinha sido uma parva ao apaixonar-se perdidamente por ele e não pretendia cometer o mesmo erro outra vez.

Os dois entreolharam-se em silêncio durante algum tempo, antes de Hayley fazer a pergunta que deveria ser feita, mesmo que aquela fosse a última coisa do mundo que ela quisesse perguntar.

– E então, como é que está Michelle?

A expressão dele tornou-se severa.

– Ela está morta, Hayley. Morreu num acidente de carro, há quatro anos.

– Sinto muito.

O que era verdade. Era verdade que guardava uma grande mágoa contra o que Nash e Michelle lhe tinham feito, mas nunca desejara vê-la morta.

– Tu conheces esta senhora, papá? – perguntou uma voz infantil.

Hayley deu um passo para o lado e olhou para as meninas que estavam de pé na varanda. Embora Kat tivesse omitido o nome do cliente, colocando apenas o endereço, a ficha de serviço continha uma descrição detalhada do tipo de trabalho, que incluía cuidar de duas crianças. Sorrindo e acenando para as duas, falou num tom suave e surpreendido ao mesmo tempo:

– Oh, Nash, elas são tão parecidas contigo!

Ele não deixou de a encarar em nenhum momento, admirando aquele sorriso amplo e sincero.

– Não sei se isso é bom ou mau.

– É bom. Com certeza, é bom – respondeu Hayley, enquanto as gémeas desciam os degraus da varanda para ficar ao lado do pai.

– Estas duas princesinhas – disse Nash, acariciando os cabelos escuros das meninas, – são Kim e Kate.

– Eu sou Hayley – disse ela, curvando-se e trocando um delicado aperto de mãos com cada uma delas. – E, sim, o vosso pai e eu somos velhos amigos.

Ao concluir, deu uma piscadela para as meninas, fazendo-as rir.

Nash sentiu um alívio imediato. Era evidente que, mesmo que Hayley tivesse alguma mágoa contra ele, não transferiria nada para as suas filhas. Mesmo assim, não sabia como solucionar aquele problema. Não poderia deixá-la ficar em sua casa ou acabaria por contar a verdade. Mas o que ocorrera tinha sido responsabilidade sua, uma humilhação com a qual ele próprio deveria arcar. E sozinho. Talvez a melhor opção fosse mandá-la embora.

Sentindo a tensão dele, Hayley franziu o sobrolho. Porque é que Nash estava tão furioso? Ela é que tinha sido dispensada e desprezada, enquanto ele conseguira tudo o que queria: uma bela esposa, com cultura, riqueza e uma tradição familiar compatível com a dele.

– Vejo que não estás satisfeito com esta situação – disse Hayley. – O que é que achas de eu telefonar para Kat, pedindo-lhe que ela mande outra ama amanhã de manhã?

A proposta soou como um desafio para Nash, o que fez a sua admiração por ela aumentar ainda mais. Contudo, cada vez que os seus olhares se encontravam, o remorso parecia querer consumi-lo um pouco mais.

– Você gosta do papá? – perguntou uma das gémeas.

A curiosidade delas era franca e encantadora, mas Hayley pôde ver a tensão de Nash aumentar no momento em que ela se baixou para falar com as meninas.

– Eu achava-o o homem mais bonito do mundo.

As meninas tornaram a rir e aproximaram-se. Nash olhou para ela e os sorrisos delas tornaram-se pálidos. Aquilo entristeceu-o. Depois de passar a semana toda a ralhar com elas, era normal que estivesse a surgir uma espécie de temor à sua presença. Mas a governanta, a senhora Winslow, estava doente, a repousar em casa. As tarefas da fazenda não tinham diminuído em nada, mas ele passara a ter de cuidar daquele pequeno par de «furacões» o dia inteiro.

– Eu posso lidar com a situação – disse Nash. Retornando o desafio de Hayley, acrescentou: – E tu?

– Não tenho problemas.

– Óptimo – respondeu ele, virando-se e rumando para dentro da casa.

– Oh… Tanta atitude.

Nash parou e virou-se, arqueando as sobrancelhas. Viu-a a sorrir com excessiva candura e gesticular para que ele prosseguisse, ladeada pelas duas meninas que já lhe sussurravam segredinhos.

«Que bom», pensou Nash. Hayley ainda mal tinha chegado e ele já estava em desvantagem numérica em menos de cinco minutos. Meneando a cabeça negativamente, abriu a porta da frente para as três, fechando-a atrás de si quando as seguiu casa adentro. As meninas correram para ligar a televisão e Hayley pareceu suspirar aliviada ao entrar no ambiente agradável, mantido fresco pelo sistema de ar condicionado.

– Bela casa – elogiou ela, após olhar para a gigantesca sala principal, que se dividia em três espaçosos ambientes bem definidos: sala de estar, sala de jantar e sala de televisão.

– Obrigado – agradeceu Nash.

– Então, por onde é que começamos?

Nash inclinou a cabeça na direcção da cozinha e começou a andar enquanto perguntava:

– O que é que te disseram na agência?

– Que tu precisavas de uma esposa temporária que pudesse tomar conta a tempo inteiro de duas crianças cheias de energia.

Ele parou de repente e olhou para ela com severidade por cima do ombro.

– Não preciso de uma esposa.

Hayley franziu o sobrolho e pestanejou, surpreendida.

– Eu estava a falar de uma maneira figurada, Nash.

Olhando-a de alto a baixo com um ar inquisidor, ele soltou o fôlego de maneira exasperada.

– Preciso de uma governanta que cuide da casa, cozinhe e tome conta das meninas o dia todo. Estas tarefas são da senhora Winslow, mas serão tuas por enquanto. As meninas também têm tarefas e a lista está fixada no frigorífico – Nash encarou-a. – Isto é um emprego temporário. Se eu pudesse dar conta disto sozinho, não chamaria ninguém para me ajudar. Fui claro?

– Claríssimo.

Qualquer idiota perceberia que não havia lugar na vida dele para mais nada além de ajuda doméstica.

– E a comida deve dar para alimentar também mais sete vaqueiros e ajudantes, todos funcionários da fazenda.

Hayley meneou os ombros.

– Dois, cinco ou dez, não há diferença. Desde que haja qualquer coisa para cozinhar.

Nash olhou para ela com cepticismo.

– Não me lembro de tu seres uma boa cozinheira.

– Muitas coisas mudaram nesses sete anos, meu caro.

O sorriso misterioso de Hayley deixou-o curioso a respeito de várias perguntas que não lhe cabia fazer naquele momento. Onde é que ela estivera e o que tinha feito, entre outras coisas. Mas aquela relação tinha de se manter estritamente profissional.

– Isso é o que iremos ver, está bem?

O tom sarcástico de Nash fê-la franzir o sobrolho.

– Não, acho que o certo é dizer que iremos «saborear». Mas, se duvidas de mim, porque é que concordaste que eu ficasse?

– Tenho pouco tempo e tu já estás aqui.

– Puxa, obrigada por me dares essa esmola!

Ele soltou um suspiro e passou a mão pelos cabelos de maneira impaciente.

– Não foi isso que eu quis dizer.

– Ouve, Nash. Tivemos uma relação no passado, mas isso está morto e enterrado. Não vejo razão para estares tão irritado comigo. Se vou mesmo trabalhar para ti, que tal diminuíres a dose de rancor?

A expressão dele mudou de repente e aqueles olhos demonstraram, pelo menos por um instante, o mesmo ardor de há muitos anos, fazendo-a lembrar-se de como tinha sido bom explorar cada centímetro daquele corpo másculo e bronzeado.

Pensar em coisas assim não fazia parte dos seus planos. Estreitando o olhar, gesticulou de maneira a fazê-lo prosseguir.

Depois de um instante de hesitação, Nash continuou a andar, mostrando a cozinha, seguindo então para mostrar o resto do rés-do-chão da casa.

– Aqui fica o meu escritório, que é área proibida. Ninguém entra aqui, excepto eu.

– Sim, senhor capitão – respondeu ela, num irónico tom militar.

Nash virou-se para olhar para ela e viu-a pestanejar com um ar inocente.

Meneando a cabeça negativamente, enquanto decidia se ria ou praguejava, ele dirigiu-se às escadas e rumou para o andar de cima e mostrou-lhe cada uma das divisões.

– …e este é o teu quarto – concluiu ele.

Ele parou à porta, como se estivesse à espera que ela não aprovasse o lugar. Era um quarto de hóspedes convencional, com decoração neutra e bastante espaço.

– Está óptimo – disse Hayley, colocando a mala sobre a cama e tirando os sapatos. – Imagino que tenhas trabalho a fazer. Vou começar as minhas tarefas.

Ela dirigiu-se às escadas.

– Não achas que precisas de mais…?

– Instruções? – completou Hayley. – Não fui contratada para ocupar o teu tempo. A agência deu-me uma descrição completa das tarefas. Podes ir cuidar dos teus afazeres e não te preocupes – disse ela, gesticulando na direcção da porta ao chegar à sala, seguida por ele. – Nós ficaremos bem aqui, não é, meninas?

As gémeas ajoelharam-se no sofá a olharem para ela por cima do encosto como se fossem dois esquilos. Hayley deu uma piscadela e as meninas pareceram vibrar. Aquela energia toda precisava de ser gasta de alguma maneira.

– Queres que eu prepare alguma coisa para comeres antes de saíres? – perguntou ela, olhando para Nash.

– Não – respondeu ele, tendo a nítida sensação de estar a ser dispensado na sua própria casa. – Cada um de nós leva um lanche para o almoço e a refeição forte do dia é o jantar, sempre ao pôr-do-sol.

– Terei tudo pronto até lá.

Ele olhou para ela com um ar de dúvida, mas não disse nada. Limitou-se a ir até ao sofá e a sentar-se entre as filhas, puxando-as para o seu colo e fazendo uma expressão exagerada de tristeza.

– Eu queria poder ficar com vocês.

As meninas riram.

– Os cavalos não teriam comida – disse Kate.

– E então ficariam fraquinhos demais para serem vendidos – completou Kim. – Nós ficaremos bem.

Elas pareciam tão maduras em relação àquilo que Nash sentiu um aperto no peito.

– Comportem-se. Nada de fazer travessuras como as de ontem.

As duas ficaram enrubescidas e responderam em coro:

– Sim, papá.

– Prometem? – perguntou ele, erguendo o dedo mínimo.

As duas entrelaçaram os seus mindinhos aos dele e balançaram a cabeça afirmativamente.

Nash sorriu, beijou as duas e tirou-as do colo para se levantar.