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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1999 Maureen Child

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Destinos cruzados, n.º 373 - maio 2018

Título original: Marine Under the Mistletoe

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-341-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

Ela reconheceu imediatamente a atitude dele. Marie Santini, de dentro da sua oficina de mecânica, observou o homem que estava em frente, na calçada. Na verdade, era uma tarefa um pouco difícil, já que o vidro da sua janela estava cheio de bonecos de neve e de enfeites de Natal. De qualquer modo, tentou fazê-lo.

Ele parecia ser alto, moreno e tinha os cabelos mais curtos do que o que a moda ditava. Usava óculos escuros, apesar de o dia estar cinzento e nublado, tinha o queixo firme e marcante, que indicava muita personalidade e muita teimosia.

«Perfeito!», exclamou ela, em pensamento.

Naquele momento, o que ela menos precisava era de outro homem que não confiasse nos seus serviços profissionais. Mas que coisa irritante! Quando o carro de uma mulher se avariava, o que é que ela fazia? Levava-o à oficina e ia buscá-lo quando estivesse pronto.

O mesmo não acontecia com os representantes do sexo masculino. Entravam ali, faziam-lhe mil perguntas, mexiam em tudo e ainda ficavam absolutamente estupefactos, quando viam que a pessoa responsável pelo local era uma mulher. Pior ainda, uma mulher jovem, que não aparentava ter vinte e seis anos de idade.

Ela era competente. Adorava o seu trabalho. E carro que passasse pelas suas mãos não teria problemas futuros. Azar do cliente que não acreditasse no seu talento profissional.

No entanto, ultimamente, tinha um problema que a preocupava: o negócio estava um pouco parado, mas o mesmo não acontecia com as contas que tinha de pagar no fim do mês. Essas teimavam em crescer a uma velocidade assustadora. Talvez a melhor coisa a fazer, no momento, fosse convencer o relutante cliente a entrar na oficina.

Vestiu o seu casaco impermeável azul-escuro por cima da camisa vermelha e dirigiu-se à porta.

– Isto aqui é uma oficina?

Davis Garvey olhou novamente para dentro da pequena garagem que mais parecia uma floricultura. Havia vasos de plantas e de rosas espalhados por todos os cantos, que faziam um estranho contraste com as ferramentas e com as caixas das baterias impecavelmente arrumadas numa prateleira. Ele esperava algo maior, mais imponente, talvez. Pelo que os seus companheiros do Forte Pendleton tinham dito da oficina, imaginava um local que exalasse experiência e profissionalismo.

De qualquer modo, uma placa azul, vermelha e branca onde se lia Marie Santini, cirurgiã de carros, indicava que estava no endereço correcto.

Franziu a testa, ao lembrar-se do que os seus companheiros tinham dito acerca daquele lugar:

– Se a Marie Santini não conseguir arranjar o teu carro, podes vendê-lo ao ferro-velho.

Mesmo assim, a ideia de ter uma mulher a mexer no seu precioso Mustang era algo difícil de aceitar. Porém, devido ao tipo de vida que levava, não tinha tido tempo para fazer o serviço pessoalmente.

Um ventinho frio, vindo do oceano, fez com que enterrasse as mãos nos bolsos das suas calças de ganga desbotadas. Olhando para cima, avistou nuvens negras no céu e tentou adivinhar o que tinha acontecido ao sol da Califórnia. Mas que chatice! Chegara ao Forte Pendleton há uma semana e só tinha apanhado chuva e frio. Só faltava nevar!

Uma porta abriu-se e Davis voltou a sua atenção para a rapariga que vinha na sua direcção. Os seus cabelos eram escuros e passavam ligeiramente dos ombros. Usava calças de ganga, uma camisa, ténis e um casaco impermeável azul-escuro.

– Olá! – cumprimentou-o Marie, sorrindo-lhe.

– Olá! – respondeu Davis, olhando para os olhos mais verdes que tinha visto na sua vida.

Ele não sabia se Marie Santini entendia de carros, mas contratar aquela beldade para receber os clientes já era um ponto a seu favor. Um verdadeiro golpe de mestre. Não que a rapariga fosse um espectáculo, no entanto havia alguma coisa no seu rosto que fazia com que as pessoas olhassem para ela uma segunda vez. Era algo que ia para além da aparência. Parecia que uma luz brilhava nos seus olhos, uma luz que falava de vida e de alegria.

Passaram-se alguns segundos. Então, ela perguntou:

– Posso ajudá-lo em alguma coisa?

Ele piscou os olhos, fazendo força para se lembrar do que fora ali fazer. Ah, sim, descobrir se a oficina da qual os seus companheiros tanto falavam era suficientemente confiável para arranjar o seu carro de estimação. O único que tinha, aliás. E isso só seria possível se conversasse com Marie Santini pessoalmente. Depois arranjaria forma de conhecer melhor aquela adorável recepcionista.

– Eu gostaria de conversar com a senhora Marie Santini. Podia chamá-la?

Ela já tinha passado por uma situação semelhante àquela pelo menos uma centena de vezes.

– Não.

Davis Garvey demonstrou a sua impaciência apenas com um rápido piscar de olhos.

– Não? Ela não está? Talvez eu possa voltar mais tarde e…

– Eu não posso chamá-la, porque sou Marie Santini – interrompeu-o ela.

Davis Garvey ficou boquiaberto.

– V… Você?! Quer dizer que a Marie Santini, a mecânica, é uma rapariga de vinte e poucos anos?

Ela afastou o cabelo da testa. Naquele momento, o vento soprava com mais força, anunciando uma tempestade.

– Exactamente. Há algum problema?

Davis Garvey ainda não conseguia acreditar. Examinou-a de maneira disfarçada. Não havia sequer um sinal de óleo debaixo das suas unhas. Como é que isso era possível? Será que usava luvas brancas para mexer nos motores e para mudar o óleo dos carros?

– Olhe, peço-lhe desculpa pela minha reacção, mas não se parece com o que eu esperava encontrar.

– Ah, não?! E do que é que estava à espera? Alguém que pesasse cento e cinquenta quilos e que usasse um macacão sujo de óleo? – Marie cruzou os braços. – Lamento muito por não corresponder às suas expectativas, mas quero que saiba que, apesar da minha aparência, sou uma excelente mecânica.

Uma excelente mecânica que tinha um corpo sensacional. Uma combinação estranha!

– Parece ter muita confiança nas suas capacidades.

– Claro. O que eu já não aguento é ser obrigada a dar satisfações a homens como o senhor.

– A homens como eu?

– A homens que não admitem que uma mulher possa ser uma boa mecânica.

– Então! Calma! – exclamou ele, cruzando os braços e encarando-a com os olhos cheios de seriedade. Ninguém o chamava chauvinista sem ouvir uma resposta.

Ele não era um homem machista. Trabalhava ao lado de mulheres no Forte, de dia e de noite, e todas elas eram excelentes fuzileiros navais. O seu problema não tinha a ver com o facto de entregar o seu precioso carro a um mecânico. O seu problema era entregar o seu precioso carro a um mecânico qualquer, independentemente do sexo. Se, ultimamente, não andasse tão ocupado, teria, ele mesmo, arranjado o seu Mustang e, assim, não precisaria de estar ali, naquele momento, a conversar com Marie Santini.

– Não! – interrompeu-o ela. – Espere! Não sei se já se esqueceu, mas não fui eu quem foi procurá-lo. Eu estava aqui, na minha oficina, quando recebi a sua visita. Correcto?

– Correcto.

– Então vai deixar-me o seu carro para que eu o arranje?

– Eu… ainda não decidi.

Ela aproximou-se do Mustang vermelho, estacionado em frente da garagem.

– Então decida depressa, porque eu tenho mais que fazer.

Davis seguiu-a.

– Costuma tratar assim todos os seus clientes?

– Só os teimosos – respondeu ela, virando ligeiramente a cabeça.

– Estou surpreendido com o facto de ainda permanecer nesta actividade – comentou ele, evitando olhar para o doce balançar das suas ancas.

– Deixará de estar, depois de ver o seu carro arranjado por mim.

Marie Santini já não sabia quantas vezes é que tinha tido aquele tipo de conversa com um cliente. Desde que passara a dirigir o negócio do seu pai, todos os novos clientes tinham tido reacções similares. Já estava farta daquela situação. Então, por que é que parecia estar a divertir-se tanto agora?

Parou diante do Mustang e, virando-se, encarou Davis Garvey. Nessa altura, reparou que ele possuía os olhos azuis mais lindos do mundo e um corpo atlético, esplêndido.

Tentou afastar certos pensamentos pecaminosos da sua cabeça. Ele era um possível cliente, não um futuro namorado. E toda a gente sabia que os homens em geral não costumavam achar muita graça a uma mulher que passava os dias a mexer em motores de carros e a limpar velas e carburadores.

Marie cruzou os braços.

– Então, já se decidiu, sargento? Vai ou não deixar-me pôr as mãos no seu lindo Mustang descapotável?

Ele encarou-a com uma certa surpresa no olhar.

– Como é que descobriu que eu sou sargento?

Aquela era uma pergunta fácil para quem tinha nascido naquela pequena cidade. O Forte Pendleton ficava a poucos quilómetros e as ruas estavam cheias de fuzileiros. Era fácil reconhecê-los, mesmo quando estavam vestidos à paisana.

– Bastou-me olhar para os seus cabelos – respondeu ela. – E reparar na sua postura. Está aí, de pé, como se alguém tivesse acabado de gritar: Sentido!

Que coisa incrível… Será que nada escapava aos olhos daquela rapariga? Disfarçadamente, ele descontraiu-se um pouco.

– Quanto ao seu cargo – continuou ela, – parece-me muito jovem para já ter sido promovido a oficial e orgulhoso demais para ser um soldado ou cabo. Portanto… é sargento. Acertei?

– Primeiro-sargento, na verdade.

Ela não podia ter ficado mais satisfeita.

– Viu como acertei? – então, olhou para aqueles lindos olhos azuis e, por um breve instante, pensou ter visto neles um certo brilho de interesse. Não. Devia ter sido apenas algo parecido com instinto. Certamente um homem como aquele estava habituado a andar com muitas mulheres. Ou melhor, com todas as mulheres que encontrava pela frente. Era melhor parar com aqueles devaneios e ir directamente ao que lhe interessava.

– Bom, qual é o problema?

– Você é a mecânica – desafiou-a ele. – Não sou eu que tenho a resposta para essa pergunta.

Apesar da ironia, Marie devia admitir que o sargento tinha razão.

– É verdade. Vamos dar uma volta para vermos o que é que se passa? – ela estendeu a mão. – A chave, por favor.

Davis Garvey olhou para aquela mão estendida durante algum tempo e, em seguida, levantou a cabeça, com a testa ligeiramente franzida.

– Não prefere que eu conduza?

– Não pode ser. Se eu não conduzir o carro, como é que me aperceberei do problema? Pode confiar em mim, sargento. Já tirei a carta de condução.

Davis tinha de admitir uma coisa: o sorriso de Marie Santini era muito atraente. Só o sorriso, não. Tentando afastar os pensamentos perigosos que começavam a surgir na sua mente, ele colocou a chave na palma da mão de Marie.

– Aqui está.

– Obrigada. Vamos, então?

Davis Garvey abriu a porta do lado do passageiro e observou-a a dar a volta e a entrar no carro.

Ele olhou para a oficina aberta.

– Então! Não vai…

– Shhh… – respondeu Marie, levando o dedo aos lábios.

Confuso e surpreendido, o sargento obedeceu. Ninguém o mandava calar há muito tempo.

Fechando os olhos, ela inclinou a cabeça em direcção ao motor e, com a concentração de um médico a auscultar o coração de um paciente, começou a estudar os estranhos ruídos que ouvia. Então, um minuto depois, voltou a sua atenção para o sargento.

– Ia dizer-me alguma coisa?

– S… sim. Será que não seria melhor fechar a oficina?

– Não, não é preciso. Não nos vamos demorar muito.

Então, meteu a primeira e arrancou, como se estivesse a disputar uma corrida de Fórmula 1.

Davis agarrou-se ao banco, sentindo que a sua surpresa aumentava a cada segundo que passava. Realmente, Marie Santini não se parecia nada com uma mecânica, muito menos agora, que ia com velocidade pelas ruas estreitas daquela pequena cidade, como se estivesse no Grande Prémio do Mónaco.

As pessoas que andavam pelos passeios e que faziam as suas compras de Natal acenavam-lhe e ela acenava-lhes, com um grande sorriso nos lábios. A sua atenção, porém, estava totalmente voltada para o carro que conduzia e para os problemas que ele apresentava.

– Acho que já sei qual é o problema – comentou ela, ao parar num semáforo. – O carburador está sujo.

Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, a luz verde substituiu a vermelha e o Mustang voltou a arrancar com uma velocidade espantosa. Será que aquela rapariga não sabia conduzir de outra forma?

Momentos depois, ela estacionava em frente à oficina, tirava a chave e virava-se para ele.

– Lindo carro, sargento. Parabéns!

Davis Garvey respirou fundo, dando graças a Deus por estar vivo. Que coisa incrível! Nem nas horas mais tenebrosas, passadas em zonas de combate, nos lugares mais perigosos e distantes do mundo, tinha tido tanto medo.

Abanou a cabeça.

– Já pensou em trocar a sua oficina pelas pistas de Fórmula 1?

O riso de Marie foi espontâneo.

– O meu pai costumava fazer-me essa sugestão, pelo menos, três vezes por dia.

– Homem sábio… Ele também é mecânico?

O sorriso desapareceu dos lábios de Marie.

– Era. Morreu há dois anos.

Davis apercebeu-se do tom doloroso com que ela pronunciara aquelas palavras e notou que ela ainda sentia a falta do pai.

– Eu… eu lamento muito.

– Obrigada – a alegria não demorou a voltar aos seus olhos. – Bem, o que é que resolveu? Vai contratar-me para arranjar o seu lindo carro ou não?

Davis Garvey já tinha tomado decisões mais difíceis na vida, por exemplo, como atacar ou recuar diante do inimigo. Não sabia dizer porquê, mas aquela rapariga perturbava-o. Despertava-lhe sensações estranhas que ele não conseguia compreender. Naquele momento, o sargento sentiu-se um perfeito idiota.

– Eu… ainda não decidi.

– Então, pense e depois volte a procurar-me – ela estendeu-lhe a mão. – Foi um prazer conhecê-lo.

Não. Ele não podia deixá-la ir-se embora. Se Marie Santini saísse do carro e desaparecesse da sua vida… talvez o dia ficasse ainda mais triste e cinzento.

– Espere um minuto… – Davis engoliu em seco, sentindo-se ainda mais imbecil. – Sabe mesmo lidar com carburadores sujos? Como é que posso ter a certeza de que fará um bom trabalho?

O vento começou a soprar com mais força, desmanchando-lhe o cabelo.

– Lamento muito, meu caro sargento, mas acho que não poderá ter a certeza de nada. Se quiser os meus serviços, terá de se arriscar.

Davis sorriu.

– Sabe uma coisa? Às vezes, tenho a impressão de já ter arriscado tantas coisas nesta vida… – naquele momento, porém, o que ele não queria era arriscar-se a perdê-la de vista. – Acabei de decidir. Está contratada. Vou deixar o meu precioso Mustang nas suas mãos.

Ela fez um gesto de concordância com a cabeça, como se não esperasse outra atitude de um homem inteligente.

– Sábia decisão. Não vai arrepender-se. Agora, vamos para a oficina. Preciso de preencher a sua ficha.

Davis observou-a a sair do carro. Marie Santini era uma mulher muito atraente, que tinha um corpo mais do que perfeito. Se não tivesse cuidado, poderia vir a interessar-se por ela. O seu sorriso era tão franco, tão aberto… Não. Não podia misturar as coisas. Tinha ido à oficina a fim de arranjar o carro. Não tinha a intenção de arranjar uma namorada. Não sabia nada a seu respeito e a sua vida pessoal não lhe interessava.

Então, por que é que olhava para as suas mãos para ver se ela tinha aliança?