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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1998 Rita Clay Estrada

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um casamento por amor, n.º 374 - maio 2018

Título original: Everything About Him

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-342-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

As gravidezes não desejadas eram uma experiência dura para todos, mas especialmente para a futura mãe.

Elizabeth Jean Gallagher acariciou a loura cabeça da jovem, deixando-a chorar nos seus braços, esperando que desabafasse assim a dor, o temor e a humilhação que a tinham torturado nos últimos meses. Chamava-se Barbie Damati. Tinha dezasseis anos e estava grávida de quatro meses, condição que tinha ocultado até à semana anterior, quando o seu pai tinha descoberto. Então, a sua vida tinha mudado drasticamente.

O pai de Barbie tinha marcado uma consulta com Elizabeth para que ela o informasse das alternativas. Como psicóloga, Elizabeth tinha-se especializado nas gravidezes de adolescentes e em guiar as jovens atemorizadas pelo labirinto moral e legal de alternativas. O pai de Barbie devia ter ido, mas uma reunião de negócios tinha-o impedido. Outro pai cheio de ternura, pensou, ironicamente, Elizabeth.

Barbie tentou falar, mas um soluço impediu-a.

– Shiu… Calma, temos tempo – tranquilizou-a Elizabeth.

Os pensamentos da rapariga, como as suas palavras, eram uma mistura caótica de emoções desde a primeira vez que tinha enfrentado a realidade do seu estado. Por agora, Elizabeth só podia acalmá-la e mostrar o seu apoio. Barbie tinha que falar antes de ser capaz de ouvir um adulto.

– Não sei o que fazer! Pensava que comia muito porque estava nervosa e que isso me engordava. Mas continuava a ficar cada vez mais gorda e a minha amiga Marsha disse-me que pensava que eu estava grávida. Eu sabia que tinha razão, mas não queria ouvi-la. Gritei com ela e chamei-lhe tudo. Nem sei o que é que lhe disse, mas deve ter sido horrível, porque já não me fala – Barbie tentou respirar, mas as palavras fugiam do seu coração. – Mesmo quando lhe pedi desculpa, não quis falar comigo e sinto tanto a sua falta. E o meu namorado também não me fala desde que lhe disse o que se passa. Vou ter um bebé e ninguém quer ajudar-me! E quando os meus colegas souberem vão gozar comigo e serei o bobo da corte da escola!

– Vá, querida – interrompeu-a Elizabeth. – Cada crise na sua altura. Vamos falar do que se passa agora e esqueçamos o futuro. Está bem?

– Já não posso pensar, senhora Gallagher! – soluçou Barbie. – Estou tão mal! Como é que pode negar que é o pai? É o único homem da minha vida e sempre foi. E gosto tanto dele!

– É teu colega? – perguntou Elizabeth.

– Sim – Barbie engoliu um soluço e assoou-se. – Mas não posso dizer quem é. O meu pai iria matá-lo se soubesse quem é.

Elizabeth acariciou a cabeça de Barbie.

– Não achas que ele devia estar ao teu lado em tudo isto?

– Não! Sim! – Barbie ocultou o rosto entre as mãos. – Não sei. Estou tão confusa. Se digo quem ele é, se calhar não muda de opinião e ainda é pior.

– E achas mesmo que vai mudar de opinião? – Elizabeth insinuou a verdade sem dureza, sabendo que as possibilidades eram quase nulas. A maior parte dos jovens, salvo os que eram obrigados pelos pais, negavam qualquer tipo de responsabilidade e punham a culpa na rapariga. Era um triste argumento que se repetia várias vezes.

– Não sei, mas não posso acreditar que me faça isto. Gosta de mim! E se não gostar, vou morrer!

– Não vais morrer, Barbie. Mas não te vou mentir. O próximo ano não vai ser fácil. Decidas o que decidires, a tua vida vai mudar.

– Só sei que quero sair daqui. Mas o meu pai vai matar-me! – voltou a estremecer, suspirando entre lágrimas, sem separar-se do abraço de Elizabeth. – E se ficar, vai matar-me também. Está tão zangado comigo que nem olha para mim. E se chegar a saber quem é o meu namorado, vai matá-lo também!

– Não conheço o teu pai, mas posso jurar que é um homem sensato.

– Sim, é! O meu pai é arquitecto e tudo o que faz é preciso, racional. E nada disto é assim! – Barbie afundou a cabeça no ombro de Elizabeth. – Já o vi zangado antes, mas nunca assim.

– Está preocupado porque gosta de ti.

– Vai ficar ainda pior, senhora Gallagher. Juro-lhe que não sei o que fazer – a ideia fê-la chorar novamente, abraçada à psicóloga.

Elizabeth continuou a acariciá-la e a embalá-la, sabendo que a esperava uma época muito dura. Por culpa de um erro, Barbie ia ter que amadurecer muito depressa.

Ajudar jovens na situação de Barbie era o seu trabalho. Quase todas vinham da escola pública do distrito e a sua situação era quase sempre dramática. Uns meses antes, Elizabeth tinha vivido uma cena parecida, só que dessa vez a jovem, chamada Jennifer, não tinha exagerado. O seu pai tinha-lhe batido com o cinto até cair, bateu com a cabeça num passeio de cimento do jardim e morreu. Elizabeth estava ainda demasiado afectada para não deixar de levar a sério as palavras como matar, embora viessem de uma jovem em plena crise emocional.

– Olha, Barbie, vamos ver o que se pode fazer – Elizabeth afastou-se e olhou para o rosto transtornado da sua jovem paciente, dando-lhe um lenço. – Já passa das sete e os teus pais devem estar preocupados. Posso telefonar à tua mãe e falar-lhe no assunto e combinarmos para amanhã.

Barbie voltou a soluçar.

– Não lhe disse, mas não tenho mãe. Morreu quando eu tinha onze anos – novamente o seu rosto convulsionou-se. – Oxalá tivesse uma mãe. Oxalá pudesse ouvir-me e ajudar-me e pudéssemos ser uma família outra vez.

Elizabeth respirou e tentou ser profissional e não se deixar influenciar pela piedade.

– Posso telefonar ao teu pai e esperar que ele venha. Depois de falarmos, vais ver como se vai acalmar.

– A única coisa que quer é que lhe diga quem é o pai para lhe dar uma tareia e continuar com o seu curso!

– Ora, Barbie, não será assim tão mau – Elizabeth falou com paciência. – Traz o teu pai amanhã e falarei com ele.

Barbie levantou a cabeça e olhou para ela, com os olhos azuis brilhantes de lágrimas.

– Não percebe, senhora Gallagher. Está furioso. Aceitou esta consulta porque não sabe o que fazer comigo. Para ele, só cá vêm os malucos.

– A sério? – Elizabeth ficou direita. – É isso o que pensa?

– Só sei que estou morta de medo – Barbie fechou os olhos e um arrepio fê-la tremer.

Elizabeth analisou as alternativas.

– Há mais alguma mulher na casa? Uma tia? Uma madrasta? A tua avó?

– Não. Só nós dois – Barbie parecia tão afundada que o coração de Elizabeth deu um salto.

– Dá-me o número de telefone dele – era uma ordem. Lentamente, a menina obedeceu. Elizabeth apontou-o rapidamente e marcou o número. Falou com uma recepcionista, uma secretária e uma assistente pessoal. Claramente, era um homem ocupado. A assistente explicou-lhe que o senhor Damati estava reunido e perguntou-lhe se era uma emergência.

O que é que Elizabeth podia dizer? Ele já conhecia a situação da sua filha, o seu receio e angústia e no entanto estava numa reunião que podia durar horas.

Canalha!

– Permite-me que deixe uma mensagem no atendedor? – perguntou, contendo com dificuldade a sua ira. Quando ouviu o sinal, gravou o seguinte: – Senhor Damati, fala Elizabeth Gallagher, a psicóloga com quem tinha uma consulta esta tarde. A sua filha está no meu gabinete, muito afectada, e com razão. Pelos vistos, está muito ocupado para poder vir buscá-la, por isso vou levá-la comigo para casa. Se me telefonar, devolvo-lhe a chamada imediatamente. Entretanto, encarregar-me-ei de que jante e descanse – deixou o seu telefone e desligou secamente.

Os olhos de Barbie olhavam-na como se tivesse visto aparecer um anjo.

– Vai levar-me para casa consigo?

– Sim – pegou na sua mala. Acabava de atravessar uma linha que não devia ter atravessado, mas era tarde. – Vamos. Não te esqueças da tua carteira.

Pela primeira vez na tarde, Barbie sorriu.

– Sim, senhora – e murmurou em voz baixa: – Parece que o meu pai encontrou forma para o seu sapato.

A caminho da sua casa, pararam para comprar uns hamburgueres. Elizabeth tinha o frigorífico vazio e andava há várias semanas a adiar umas compras necessárias.

Barbie parou de chorar finalmente, enquanto comia batatas e olhava pela janela do carro, ouvindo uma emissora que passava velhas canções de rock. Parecia tranquila e até trauteava de vez em quando.

Era de noite quando chegaram a casa de Elizabeth e estava frio. Elizabeth sentiu que estava com pele de galinha ao abrir a porta e disse:

– Vamos beber um chocolate quente.

– Óptimo – murmurou Barbie, estremecendo. Observou as casas baixas, com alpendre, do bairro popular e as folhas das árvores que forravam os pequenos jardins da frente. Elizabeth pensou que teria que contratar alguém para lhe limpar o jardim, tarefa atrasada como muitas outras…

Assim que entraram e ligou as luzes, perguntou:

– Tens trabalhos de casa, Barbie?

– Alguns, mas não creio que me consiga concentrar agora – novamente o seu humor tinha variado.

– Claro que podes – replicou Elizabeth com seriedade. – Tenho que fazer uma série de coisas, por isso podes sentar-te na mesa da cozinha e fazer os teus trabalhos de casa. Depois podes tomar um banho e dormir.

O sorriso da jovem foi como uma sombra.

– Bom.

– Vou deixar-te uma camisa de dormir e uma escova de dentes no quarto de hóspedes, que é na segunda porta à direita – disse Elizabeth enquanto avançava pelo corredor.

Sem se virar, entrou no seu quarto. Precisava de estar sozinha uns minutos e esquecer a tensão. E a julgar pela sua expressão, a jovem também precisava de um descanso.

Procurou uma camisa de dormir grande no seu armário e tirou uma escova de dentes nova. Numa inspiração, pegou no seu roupão cor-de-rosa e em tudo o resto e foi ao quarto de hóspedes.

Não era um quarto luxuoso, mas era acolhedor e decorado com mimo, com um aparador antigo e uma secretária, cortinas coloridas, um tapete aos pés das duas camas iguais.

Em vez de quadros, as paredes estavam cobertas por um vidro, velhas fotografias a preto e branco e outras modernas a cores.

Enquanto Barbie fazia os trabalhos de casa, Elizabeth tomou um banho e vestiu uma camisola velha e grande, por cima de uns calções. Aquilo, unido a um sofá e a uma série televisiva que a fizesse rir e esquecer, era a sua ideia de paraíso.

– Já está. E agora o que é que faço?

– Vai tomar um banho, enquanto faço o chocolate quente.

Um quarto de hora mais tarde, as duas estavam sentadas num sofá, partilhando uma suave manta de cores vivas.

Barbie parecia estar à-vontade, bebendo o chocolate quente com leite e rindo, enquanto contava a Elizabeth histórias da sua infância.

Esta sentia-se aliviada. Tinha chegado a temer que o pai de Barbie fosse um ogre de frieza, mas parecia mais um homem obcecado por partilhar a vida da sua filha.

– E então disse-me que, se queria fugir de casa, achava bem, mas não tinha a sua autorização para atravessar a rua.

Elizabeth riu-se.

– E o que é que lhe respondeste?

– Dei-lhe razão. Sabia que a minha mãe me iria defender se precisasse, mas também sabia o que é que a tinha feito seguir-me. A minha rebelião tinha começado porque queria brincar no parque da frente.

Era preciso levar a conversa para o presente.

– Sentes muito a falta da tua mãe, não é?

Barbie fez um esforço visível para não chorar. Olhou para o seu copo de chocolate e disse lentamente:

– Muito. Quando morreu acabou-se a alegria lá em casa. Ela era o cimento que nos unia e nos dava segurança, sabe? – olhou-a e voltou a afastar o olhar. – A mãe tinha uma resposta ou uma explicação para tudo. Nunca me senti só, enquanto foi viva, mesmo quando já estava muito doente.

– E agora sentes-te sozinha?

– Sempre – fechou os olhos um instante. – Até que encontrei… o pai do meu bebé.

Aquilo era positivo. Começava a aceitar que havia um bebé pelo meio, não uma coisa que podia deixar de lado e esquecer.

– Já falaste ao teu pai sobre isto?

Barbie riu-se, amargamente.

– Diz sempre que é o meu pai e que não me devo sentir sozinha. Que ele está ali para tudo – dedicou um olhar suplicante para Elizabeth. – Mas, se quero falar com ele do período, ou de rapazes, ou de coisas assim, fica corado e diz-me que é muito cedo para falar de rapazes e que a minha mãe me deixou uma cassete gravada com indicações sobre a menstruação e outras coisas.

Elizabeth encheu novamente a chávena vazia de Barbie e olhou-a para que continuasse.

– Mas não posso.

– Porquê?

– Porque oiço a sua voz e sei que estava a morrer quando gravou tudo aquilo. Tentou deixar-me todos os conselhos que sabia que não me poderia dar. E custa-me tanto ouvir.

Barbie começou a chorar como se o seu coração estivesse partido. Elizabeth abraçou-a novamente, permitindo que as suas próprias lágrimas caíssem. Não sabia se chorava pela tristeza da jovem ou pela sua própria juventude.

A perda de um ser querido era algo terrível para um adulto. Pior ainda para uma criança que não compreendia por que é que a privavam de amor.

Barbie demorou uns minutos a acalmar-se e, por fim, separou-se e procurou sorrir.

– Obrigada, senhora Gallagher.

– Chama-me Elizabeth, está bem?

As duas sorriram timidamente. Naquele momento tocou a campainha. Elizabeth olhou pela porta e preparou-se para um confronto. Do outro lado estava o pai de Barbie e parecia cansado e zangado. Estava vestido com um caro e elegante fato de alfaiate, o seu cabelo muito negro brilhava sob a luz do alpendre e os seus olhos ainda mais negros pareciam cheios de desespero. Um queixo forte e um nariz partido acrescentavam personalidade ao seu intenso atractivo. A sua atitude tornou-se agressiva ao perceber que alguém o observava do outro lado.

Quando Elizabeth abriu a porta, pareceu surpreender-se. Levantou automaticamente o olhar para ver o número da porta.

– Senhora Gallagher? – o seu olhar percorreu as pernas nuas e os seios erguidos por baixo da sua camisola.

Elizabeth reconheceu a voz que tinha ouvido pela manhã.

– Sim. Senhor Damati?

– O próprio – a sua voz endureceu. – Decidi vir directamente a sua casa. Espero não a ter incomodado.

Elizabeth negou-se a mostrar-se branda.

– Mesmo que me incomodasse, já está feito.

– A minha filha está aqui? – olhou por cima do seu ombro até descobrir a cabeça de Barbie atrás do sofá. A expressão de alívio e amor que inundou literalmente o seu rosto fez com que Elizabeth esquecesse todo o receio. – Querida?

– Olá, pai – disse Barbie, com um tom rancoroso. – Pensei que tinhas uma reunião importante e que não querias que te incomodassem.

O pai de Barbie atravessou a porta que Elizabeth mantinha aberta e beijou a cabeça da sua filha.

– Expliquei-te que era muito importante para o nosso futuro, filha. Tentei mudar o dia, mas foi impossível.

– Pois – a jovem não o olhou e tapou-se com a manta. – Não vieste para me levar para casa?

– Sim.

Barbie olhou-o, finalmente, com o rosto trémulo.

– Não quero ir para casa, pai. Não estou preparada – novamente os seus olhos encheram-se de lágrimas.

A irritada resposta do homem foi imediata:

– Queres preparar-te para quê? Estamos a dez minutos de casa.

– Não estou preparada para ir para casa! – Barbie falou entre lágrimas e levantou-se, correndo para o quarto de hóspedes. – Estragas sempre tudo!

– Barbie! – ordenou. – Volta aqui!

Elizabeth apareceu ao seu lado.

– Está zangada com o mundo. Não tem nada a ver consigo.

O homem franziu o sobrolho.

– E como é que sabe? Só teve uma sessão com ela e nem sequer lá estava eu para quebrar o gelo.

Elizabeth levantou uma sobrancelha.

– Sou psicóloga e sou mulher. E, além disso, tenho estado a tarde toda e a noite a falar com a sua filha.

O homem olhou-a longamente antes de suspirar.

– Desculpe. Estou cansado – passou a mão pelo pescoço, para relaxar a sua tensão. – Ando a falar com ela há dias e continuo sem perceber quando é que está triste, magoada, zangada comigo ou zangada no geral.

Elizabeth teve pena dele.

– A gravidez faz com que as suas emoções sejam mais instáveis. Acha que não pode com os seus problemas.

– Os seus problemas? Parece-me que é um problema de todos, até do rapaz que fez isto.

– O vil sedutor?

O homem encolheu os ombros, indiferente à sua ironia.

– Chame-o como quiser.

– Senhor Damati, deve olhar aos factos. Isto faz-se a dois. A jovem estava de acordo e participou de boa vontade.

Damati olhou-a, zangado:

– Vai-me dizer que esse canalha se vai sair com a sua?

– Não – olhou-o directamente nos olhos. – E você vai assumir que a sua filha é responsável?

A chama do seu olhar metia medo, mas pouco a pouco, a ira diminuiu.

– Em parte.

– Bom, pois estamos de acordo em algo – começou Elizabeth com calma, embora se sentisse tensa e nervosa. Oxalá não se tivesse vestido de forma tão pueril. – Por que é que não fala com ela? É a segunda porta.

– Obrigado – dedicou-lhe um sorriso rápido.

– De nada. Eu estarei no meu quarto, do outro lado.

O pai de Barbie seguiu Elizabeth até à porta e bateu. Quando a sua filha murmurou um «entra» cheio de lágrimas, ele abriu a porta, não sem antes dedicar um olhar de gratidão a Elizabeth.

Esta fechou-se no seu quarto, fechou a porta e suspirou. O pai de Barbie tinha muita personalidade. Elizabeth sentia-se como se tivesse absorvido todo o ar da casa.

Era uma sorte que ela estivesse tão convencida da sua vida de solteira. Aquele homem podia seduzir uma freira só com um sorriso. Ou pelo menos, Elizabeth achava isso, pois, na realidade, ainda não tinha sorrido.

Acendeu um candeeiro e sentou-se na cadeira de baloiço junto da sua cama. Fechou os olhos, reclinou a cabeça e, com as mãos no regaço, deixou-se embalar, procurando acalmar o seu agitado coração. O quarto tinha uma cor dominante, o pêssego das paredes, a condizer com a colcha cor tostada, o tapete vermelho e verde, a nobre madeira da cama e do armário. Era um quarto simples e feminino e muito acolhedor. Elizabeth amava-o, pois nele encontrava a paz que precisava. De facto, passava horas naquela cadeira de baloiço, expulsando pouco a pouco as tensões e os problemas da sua vida e da vida dos outros.

E ali estava novamente, a embalar-se.

Uma batidela na porta trouxe-a novamente à realidade.

– Entre.

Abriu-se um pouco a porta e o pai de Barbie disse:

– Senhora Gallagher? – os seus olhos procuraram-na na semi-penumbra do quarto, mostrando a sua curiosidade. – Que quarto tão interessante – disse.

O riso de Elizabeth mostrava que tinha recuperado a calma.